Miserável. Não havia outra palavra para descrever como Elena se sentia naquele momento.
Como pudera ser tão tola? Revelar a Alec que sabia sobre seus planos era o mesmo que colocar um alvo sobre si mesma. Era quase como implorar para ser vista como uma ameaça. Ela sabia disso. Mas, ainda assim, não conseguira conter-se. Ele a levara ao limite, brincando com suas emoções e a provocando até que ela perdesse o controle.
Pior do que sua raiva era o misto de sentimentos que Alec lhe causava. Ver aquele lado cruel e calculista do homem que um dia fora o protagonista da sua história favorita era como ser traída por uma velha memória. Ele não se parecia em nada com o herói que ela admirava, aquele que enfrentara vilões terríveis e derrubara os mais corruptos com sua astúcia e força. Agora, ele era o vilão — e ela era a vítima de suas palavras afiadas.
Claro, na história original, Alec fizera o mesmo com personagens desprezíveis, figuras tão repulsivas que seu ódio por elas parecia justificável. Mas e ela? O que ela fizera para merecer aquilo? Desde que o recebera como cavaleiro, só tentara agir com sinceridade. Até criara uma condição para lhe dar mais segurança na convivência com ela. Mesmo assim, ele a atacara com palavras duras, desistindo de manter a fachada de lealdade.
Elena sabia que sua reputação — a de anos cometendo crueldades — não mudaria de um dia para o outro. Sabia que palavras e gestos pequenos não seriam suficientes para apagar os anos de abusos que a verdadeira Elena cometera. Mas, de alguma forma, ela esperava que pudesse avançar seu relacionamento com Alec. Só um pouco. Só o suficiente para começar a conquistá-lo.
E esse era o problema.
Como poderia se tornar a protagonista feminina da história se agora ele a odiava?
A pergunta reverberou em sua mente, sem resposta, deixando-a ainda mais exasperada. Elena soltou um suspiro pesado e forçou-se a olhar para o criado que permanecia parado à sua frente. Ele parecia ansioso, como se esperasse uma brecha para dar seu recado.
— Então? O que quer? — perguntou, cruzando os braços de forma automática.
O criado arregalou os olhos, a expressão dele carregada de desconforto. Elena percebeu o gesto um segundo tarde demais.
Merda, pensou, desfazendo a postura rapidamente. Por um momento, me esqueci de que não posso mais agir assim.
— V-Vossa Graça deseja vê-la — anunciou o criado, gaguejando ao tentar disfarçar o nervosismo.
Elena endireitou a postura, tentando parecer indiferente, mas o nervosismo a corroía por dentro. Se Magnus, seu pai, estava chamando por ela, não podia ser por um bom motivo. Depois de tudo o que acontecera naquele dia, ele provavelmente já sabia de algo — ou Merilda fizera questão de informar.
— Muito bem — respondeu, com firmeza, embora seu coração estivesse acelerado. — Diga a ele que estou a caminho.
O criado fez uma reverência apressada e partiu, deixando-a sozinha no jardim por alguns instantes. Elena ficou ali, imóvel, tentando ordenar os pensamentos. Não podia fraquejar agora. Se Magnus realmente soubesse o que ela estava fazendo — ou pior, o que sabia sobre Alec —, ela estaria em perigo.
Preciso ser cuidadosa, pensou, apertando as mãos contra as saias para conter o tremor.
Virou-se para o caminho que levava à mansão e começou a andar, sentindo cada passo pesar como se fosse em direção a uma sentença. O sol da tarde banhava o jardim em uma luz dourada, mas a beleza do cenário passava despercebida por ela. Sua mente estava presa às possibilidades. Magnus era um homem inteligente, e Merilda era sua espiã mais perigosa. Se os dois decidissem agir contra ela ao mesmo tempo, suas chances de escapar seriam mínimas.
Ao entrar na mansão, Elena foi recebida pelo silêncio opressivo dos corredores. Os criados pareciam se afastar dela, como se temessem ficar perto demais. Finalmente, parou diante das portas duplas do escritório de Magnus.
Elena hesitou, as mãos úmidas apertando a barra do vestido. O silêncio do corredor era sufocante, como se toda a mansão estivesse prendendo a respiração junto com ela.
Merilda deve ter contado tudo.
A criada provavelmente exagerara nos detalhes, transformando cada pequena desobediência em um relato digno de uma traição completa. Isso, somado à forma como Oscar deixara o jardim — quase em disparada, como se não pudesse suportar um minuto a mais naquele lugar —, era suficiente para Magnus chamá-la para uma conversa.
Embora houvesse pessoas andando pelo corredor, ela se sentia sozinha diante das imensas portas de madeira que pareciam ainda mais opressivas naquela tarde. Elena balançou a cabeça, numa tentativa falha de afastar a sensação amarga, e respirou fundo, forçando-se a endireitar os ombros antes de empurrar as portas e entrar.
Magnus estava de pé, próximo à janela, com as mãos cruzadas atrás das costas. O rosto impassível, mas os olhos, sombrios como a noite, a seguiram assim que ela passou pelo limiar.
— Feche a porta. — A voz dele soou baixa, mas carregada de autoridade. Elena obedeceu, o som das portas se fechando ecoando como um golpe. — Sabe por que a chamei aqui? — perguntou, sem se virar completamente.
Elena controlou o tremor em sua voz, mantendo um tom firme ao dizer:
— Imagino que Merilda tenha lhe contado algo... fora de contexto.
Magnus riu, um som baixo e vazio que fez sua pele arrepiar.
— Merilda apenas confirma o que já é óbvio. Você continua desafiando as regras, Elena. E agora, parece que Oscar saiu daqui jurando nunca mais considerar qualquer aliança com Ilhéus. — Ele se virou lentamente, a luz da tarde delineando a expressão severa em seu rosto. — Quer me explicar como isso aconteceu?
Elena prendeu a respiração por um instante, sentindo o peso do olhar dele como uma lâmina sobre sua pele.
— Foi um desentendimento entre cavaleiros — disse, tentando soar convincente. — Nada que não possa ser resolvido.
Magnus deu um passo à frente, aproximando-se dela com a lentidão de um predador cercando sua presa.
— Um desentendimento? — repetiu ele, a voz carregada de sarcasmo. — Você sabe muito bem que um “desentendimento” entre cavaleiros pode virar uma guerra entre ducados. — Ela não respondeu, o silêncio entre eles crescendo cada vez mais pesado. Ele se aproximou ainda mais, parando diante dela. — E Alec? — perguntou, estreitando os olhos. — Que papel ele teve nisso?
O nome foi como uma bofetada no rosto de Elena. Ela mordeu a língua para conter a resposta impulsiva que quase escapou. Não podia dar mais munição a ele.
— Nenhum — respondeu com firmeza. — Alec só fez o que um cavaleiro deve fazer: proteger sua dama.
Magnus inclinou a cabeça, como se estudasse cada nuance do rosto dela.
— Curioso. Merilda me disse outra coisa. Que você está... distraída demais com seu novo brinquedo.
A raiva queimou dentro dela. Merilda. Aquela mulher fazia de tudo para envenenar Magnus contra ela.
— Merilda vê o que quer ver — disse Elena, cruzando os braços para se proteger do olhar cortante de Magnus. — Alec é meu cavaleiro, e apenas isso.
Magnus sorriu, mas não havia humor em sua expressão.
— Espero que sim. Porque, se eu descobrir que você está escondendo algo, Elena…
Magnus deixou a frase pairar no ar como uma lâmina afiada, prestes a cair. Elena sentiu o coração disparar, mas manteve a postura ereta. Se cedesse à pressão, ele perceberia sua fraqueza, e isso seria um convite para ataques ainda mais incisivos.
— Escondendo algo? — respondeu, forçando um tom que soava quase desinteressado. — Não vejo o que haveria para esconder, pai.
Os olhos de Magnus brilharam com um misto de irritação e curiosidade. Ele a conhecia bem o suficiente para saber que aquela indiferença era um escudo, nada mais que isso.
— Então por que Oscar saiu daqui com ódio estampado no rosto? — perguntou Magnus, avançando mais um passo. — Você o insultou? Alec o insultou? Não me diga que o famoso temperamento da minha filha voltou a aparecer.
Elena sentiu o calor subir até suas bochechas. Era verdade que, no passado, a verdadeira Elena dera motivos de sobra para que essa acusação fosse plausível. Mas ela não era aquela pessoa. Ou, pelo menos, estava tentando desesperadamente não ser.
— Oscar é um homem temperamental — rebateu ela, mantendo a voz firme. — Não precisa de muito para se ofender.
Magnus arqueou uma sobrancelha, claramente cético.
— E o que Alec disse?
Ela hesitou, sabendo que qualquer coisa que dissesse poderia ser usada contra ela. Precisava medir cada palavra com cuidado.
— Ele defendeu o ducado, como esperado de um cavaleiro leal.
Magnus riu de forma seca.
— Cavaleiro leal? Alec? Você realmente acredita nisso? — Elena não respondeu. Não podia. Qualquer tentativa de defender Alec só levantaria mais suspeitas. — É melhor que saiba — continuou, a voz fria —, eu não tolerarei mais erros. Se Oscar retornar a Orinis com a ideia de que Ilhéus não é confiável, a culpa será sua.
A tensão aumentou, mas antes que Magnus pudesse dizer mais alguma coisa, um leve ruído veio da porta. Elena virou a cabeça e viu Merilda parada ali, com uma expressão de falsa submissão no rosto.
— Perdoe-me a interrupção, Vossa Graça — disse a criada, com uma reverência exagerada. — Mas pensei que deveria informá-lo... Alec está nos estábulos, e há rumores de que ele está se preparando para sair.
Elena congelou, sentindo o chão desaparecer sob seus pés. Sair? Para onde?
Magnus estreitou os olhos, voltando a atenção para ela.
— Isso é verdade, Elena? Seu cavaleiro está partindo sem minha permissão?
Ela abriu a boca, mas nenhuma resposta veio. Sabia que Alec estava tramando algo, e, se ele realmente estivesse indo embora, era porque pretendia agir sem ser controlado.
— Eu mesma vou verificar — disse Magnus, com frieza. Ele lançou um olhar para Elena, carregado de desdém. — E espero que, quando eu voltar, você já tenha resolvido essa situação.
Ele passou por Merilda sem sequer olhar para a criada, deixando Elena sozinha com a mulher.
— Você sempre se complica, não é? — murmurou Merilda, agora sem esconder o sorriso satisfeito.
Elena respirou fundo, encarando a criada com firmeza.
— Fique fora disso, Merilda.
A mulher deu de ombros, claramente se deliciando com a tensão no ar.
Assim que Merilda deixou o escritório e Elena ficou sozinha, ela sentiu a pressão em seu peito aumentar. Elena fechou os olhos por um momento, tentando acalmar a tempestade de emoções que rugia dentro dela. Magnus estava indo atrás de Alec, e ela sabia que nada de bom poderia sair desse encontro. O peso da situação recaía sobre seus ombros, sufocante, mas fugir não era uma opção.
Quando abriu os olhos novamente, eles brilhavam com determinação. Ela iria pensar em uma forma de não só contornar essa situação como também usá-la ao seu favor.
Afinal, como Alec, ela também sabia jogar.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Enaicaj.
essa cobra me deu nos nervos, se fosse uma princesa e criada me tratasse assim eu no mínimo tramava contra ela e a faria pagar caro, faria o próprio rei castiga-la
2025-04-12
0
Ingrid Ferreira Rodrigues
Elena vc está usando o método errado
2025-03-08
1
Ingrid Ferreira Rodrigues
acho que objetivo dela era ganha a confiança do Alec
mas acho que ela não tá sendo bem sucedida nisso
acho que ela tinha que ajuda-lo a derrubar o pai dela e ganhar a liberdade dela
ela tá sendo tola tentando impedi-lo de se vingar quando ela sabe que ele tem todo direito
2025-03-08
2