Alec estava no pátio, a espada repousando contra uma pilastra de pedra enquanto ajustava as tiras de couro de sua manopla. O sol começava a se despedir do horizonte, tingindo o céu com toques de laranja e violeta. Seus olhos estavam fixos em suas mãos, uma ansiedade estranha crescendo dentro dele, como se cada movimento estivesse se arrastando mais lentamente do que deveria.
E isso tinha um porquê. Um nome.
Elena.
Ele sabia que ela viria. Não havia um único dia, nas últimas duas semanas, em que ela não tivesse aparecido em algum momento, como se orientá-lo fosse mais importante do que qualquer outra coisa. E, de alguma forma, ele não sabia se isso o incomodava ou o intrigava. Talvez fosse um pouco dos dois.
O som de passos rápidos sobre o caminho de pedras cortou o silêncio e o tirou de seus pensamentos. Alec não se virou, mas sentiu a presença dela se aproximando, como uma marca registrada em sua rotina. Ele a conhecia o suficiente para saber que ela não tinha paciência para rodeios. Ela sempre ia direto ao ponto, embora houvesse algo de diferente naquele dia, algo que ele não conseguiu identificar.
— Então a senhorita veio com mais uma de suas ordens disfarçadas? — Alec provocou, a voz descontraída, mas sem olhar para ela enquanto se inclinava para pegar a espada.
— Não estou de humor para suas provocações, Alec — respondeu Elena, o tom afiado, mas a exaustão óbvia em sua voz.
Alec virou-se finalmente, erguendo o olhar para ela. Ele a encontrou em silêncio, as sombras do entardecer brincando com os traços delicados de seu rosto, mas seus olhos estavam intensos, carregados com algo entre irritação e frustração. Algo que ele não sabia como lidar. Ele arqueou uma sobrancelha, curioso, e mais uma vez não pôde evitar a provocação.
— Seu pai? — perguntou, com um sorriso torto, mal disfarçando a curiosidade. — O que ele fez dessa vez?
Elena bufou, os braços cruzados como um escudo, mas a tensão em sua postura era clara.
— Ele me convidou para tomar chá. Ou pelo menos fingiu que era um convite. — Sua voz soou mais amarga, o que deu a ele uma nova perspectiva sobre a situação.
Alec ergueu uma sobrancelha, agora totalmente interessado. Era raro que algo tão simples como um convite para chá causasse isso nela.
— E? — ele perguntou, aguardando com mais expectativa do que devia.
— E ele praticamente me jogou um baile na cara — Elena respondeu, o tom carregado de amargura. — Amanhã à noite, no condado de Ferlus.
Alec soltou uma risada curta, mas não havia humor nela. Sua expressão endureceu ao perceber o jogo político que se desenhava.
— Um baile? — Ele fez uma careta. — Deixe-me adivinhar: ele quer que você flerte com algum nobre desprezível para fortalecer a posição dele?
Elena franziu a testa, o olhar se tornando mais cortante.
— Algo assim — disse ela, com um suspiro. — Ele deixou claro que preciso atrair pretendentes. Segundo ele, tão logo o duelo acabe e eu esteja livre do acordo com Oscar, devo estar pronta para outro noivado.
Alec observou o rosto dela por um momento, analisando a expressão que ela tentava esconder. Era difícil não notar o quanto isso a incomodava. Ele apoiou a espada contra o ombro, o olhar fixo nela, mais atento do que nunca.
— E você aceitou isso tão facilmente? — A pergunta foi quase um desafio, mais do que uma simples dúvida. — Não parece seu estilo.
Elena apertou os lábios, os olhos brilhando com algo entre frustração e desespero. Ele podia ver a luta interna nela, a necessidade de não se submeter, mas ao mesmo tempo a pressão imensa que ela carregava.
— Argumentei — ela respondeu, a voz um pouco mais baixa, como se tentasse se convencer do que estava dizendo. — Disse que precisava de tempo para me concentrar no seu treinamento, mas ele foi irredutível.
Alec inclinou a cabeça levemente, uma expressão de compreensão, mas também de ceticismo.
— Obviamente — ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela. Ele estudou os detalhes do rosto de Elena, os sinais de que isso a incomodava mais do que ela queria admitir. Então, a encarou de novo, seu tom se tornando mais sério ao dizer: — E o que você espera de mim, senhorita Elena? Não acho que você esteja me contando tudo isso sem uma razão.
Elena respirou fundo, como se estivesse se preparando para revelar algo importante, mas também arriscado.
— Você vai me acompanhar — disse ela, sem hesitar.
Alec piscou, os olhos arregalados diante da informação, mas a surpresa logo deu lugar a compreensão.
— Como seu guarda, suponho. — Ele arqueou uma sobrancelha, sem esconder o tom sarcástico.
— Como meu acompanhante — corrigiu ela, a voz firme, sem dar espaço para discussões.
Alec soltou uma risada curta, sem humor, praticamente vazia. Ele a observava com um olhar mordaz, embora algo nos olhos azuis dela o fizesse questionar sua própria reação.
— Ah, claro. A dama e seu cavaleiro. — O sarcasmo transpareceu mais uma vez, mas a expressão de Alec era um misto de divertimento e desconforto. — Tenho certeza de que será um espetáculo encantador.
Ela não se intimidou. Na verdade, o olhar dela se endureceu ainda mais.
— Não me faça me arrepender disso, Alec — disse ela, com o tom firme e os olhos desafiadores. — Meu pai sabe o quanto essa empreitada pode destruir a frágil relação entre Ilhéus e Orinis. Mesmo assim, ele está irredutível. Não posso deixar que tudo acabe por causa disso.
Alec estreitou os olhos, o sarcasmo desaparecendo. Ele observou a determinação na expressão dela e, pela primeira vez, uma dúvida real surgiu, mas ele não a expressaria naquele momento — não quando ainda podia provocá-la mais.
— Isso é o mais óbvio — disse ele, com um leve sorriso cínico. — E ainda assim, você me pede para dançar no seu jogo?
Elena o encarou, sem hesitar.
— Não é um pedido — respondeu ela, a voz baixa, mas implacável. — É uma necessidade.
O silêncio entre eles cresceu, carregado de uma tensão palpável. Ele não sabia como responder a isso. O peso das palavras dela o atingiu de forma mais intensa do que ele imaginava. O que ele queria fazer e o que ele precisava fazer agora pareciam ser duas coisas bem diferentes.
Alec olhou para ela por um momento, um olhar que parecia pesar cada palavra não dita, cada implicação. Finalmente, ele deu um passo à frente, e sua voz baixou, carregada de uma ironia que ele sabia que ela entenderia.
— E se eu não quiser? Se eu decidir não jogar mais o jogo que você quer que eu jogue? — A pergunta foi dura, mas havia uma pitada de algo mais por trás dela.
Elena o olhou de volta, sem qualquer hesitação, apenas com um leve sorriso nos lábios, que não chegava a ser gentil.
— Você não tem escolha, Alec. — A voz de Elena soou como um lembrete, e talvez fosse isso mesmo.
Alec permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela e o peso das implicações. Ele sabia que desejava a liberdade prometida por Elena — uma oportunidade rara de agir com mais liberdade em prol de sua vingança. Mas, ao mesmo tempo, seu primeiro objetivo, desde que se tornara cavaleiro dela, era destruir a relação entre os dois ducados. Recusar seu pedido agora seria praticamente garantir que esse objetivo fosse cumprido.
Porém, ao olhar nos olhos dela e perceber uma vulnerabilidade que ele não conseguia identificar completamente, Alec hesitou. Esse breve momento de dúvida fez com que ele repensasse suas intenções e a verdadeira profundidade do jogo em que estava envolvido.
Ele soltou um suspiro profundo e a encarou com mais intensidade.
— Se eu me negar a acompanhá-la, você irá usar a marca para me obrigar? — Sua voz saiu mais dura do que ele imaginara, mas não se importou. A resposta dela, no final, seria o que realmente definiria sua decisão.
— Sabe que eu nunca faria isso, não sabe? — Elena sussurrou, sua voz frágil e até ofendida, como se suas palavras fossem o reflexo de algo mais profundo, algo que ela tentava esconder.
Alec a observou, sua expressão impassível, mas seus olhos carregavam uma intensidade difícil de decifrar. Ouvi-la mexeu com ele de uma forma desconcertante, algo que o incomodava, mas ele não sabia exatamente o motivo. Havia algo no tom dela, na fragilidade que ela tentava esconder, que despertava sentimentos que ele preferia não explorar.
Com um sorriso irônico, mas carregado de emoções não expressas, ele fez a pergunta que sabia ser necessária; uma que, de certa forma, refletia tudo o que se passava em seu interior:
— Tem certeza de que é Magnus quem me manipula?
Elena desviou o olhar rapidamente, e o rubor subiu por suas bochechas, como se a pergunta a tivesse atingido de uma maneira que ela não estava preparada para lidar.
— Apenas esteja pronto amanhã à noite. — Sua resposta foi breve, uma frase que cortou o ar e fez Alec perceber que, para ela, a decisão dele já estava tomada. E, embora não quisesse admitir, ele sabia que isso era, de fato, verdade.
Ela se virou, sem esperar uma resposta, caminhando de volta para a mansão com passos firmes e rápidos.
Alec ficou parado ali, os olhos fixos nela enquanto o céu escurecia lentamente, as sombras da noite tomando conta do pátio. Ele girou a espada entre os dedos, observando a lâmina brilhar suavemente na luz residual do sol que se despedia.
— Amanhã à noite, então — murmurou para si mesmo, quase em voz baixa, seu tom indiferente, mas sua mente já acelerando, ponderando sobre o que significava essa simples afirmação.
Elena estava jogando um jogo perigoso, ele sabia disso. Mas o que mais o perturbava era o quanto ele já estava envolvido, como se, de alguma forma, tivesse se tornado uma peça no tabuleiro dela.
Alec fincou a espada no chão com firmeza, pressionando as mãos com força sobre o punho da lâmina. O ar da noite começava a esfriar, mas ele mal percebeu. A sensação que o dominava era a de que algo muito maior estava prestes a acontecer, e ele, por mais que tentasse negar, já fazia parte disso.
— Cuidado, Elena — disse em um sussurro baixo, quase um aviso para si mesmo. — Você pode não gostar do que está despertando.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 142
Comments
Débora Rodrigues
Você que precisa tomar cuidado Alec. Os homens têm uma dificuldade terrível de admitir, que as mulheres movimentam o mundo. Eles sempre querem estar por cima. Em todos os sentidos. 🤣🤣🤣🤣
2025-01-22
1
Faby
cuidado Alec você pode não estar preparado para o que a Helena ta despertando 🤭🤭🤭🤭
2025-01-16
4
Souza França
espero que seja um animal faminto...de desejo e paixão 🥰🤤🤤🤤...,/Angry/
2025-01-07
12