O quarto improvisado de Felipe era um pequeno aposento no subsolo da mansão, iluminado por velas que projetavam sombras oscilantes nas paredes de pedra nua. Livros e pergaminhos estavam espalhados por toda parte, junto a frascos de líquidos misteriosos e ferramentas arcanas.
Alec entrou sem bater, a capa ainda úmida pela neblina da noite, e encontrou Felipe inclinado sobre uma mesa, murmurando palavras em um idioma antigo enquanto um cristal em suas mãos pulsava com uma luz arroxeada.
— Não sabia que você fazia sessões espíritas no seu tempo livre — disse Alec, a voz carregada de sarcasmo.
Felipe ergueu os olhos, um sorriso afetado surgindo em seus lábios finos.
— Ah, velho amigo, que honra a sua visita! Veio buscar conselhos ou apenas encher minha paciência?
Alec ignorou o tom provocador e fechou a porta atrás de si, lançando um olhar para a bagunça que preenchia o ambiente.
— Precisamos conversar. A sós.
Felipe arqueou uma sobrancelha, mas acenou para que ele se sentasse.
— Sempre tão direto. Vai me contar sobre seu grande plano para salvar o mundo ou só fazer algum pedido absurdo?
Alec soltou um suspiro exasperado, mas a tensão em seus ombros era evidente. Ele puxou uma cadeira, sentando-se de frente para Felipe.
— Não é sobre salvar o mundo, mas destruir uma parte dele. Preciso que você envie uma mensagem para Galen.
Felipe sorriu de canto, claramente interessado.
— Nosso amigo ex-cavaleiro? Você conseguiu convencê-lo?
Alec assentiu, apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos.
— Convencer não foi difícil. Galen já odeia Magnus o suficiente para se unir a qualquer causa que o enfraqueça. Ele já estava reunindo aliados nas vilas ao redor, discretamente, é claro. Mas agora preciso que ele esteja pronto para algo maior.
— Isso é bem a sua cara. — Felipe o encarou com apreensão. Um lampejo atravessou seus olhos, como se ele se recordasse de algo muito importante. — A propósito, sua senhorita me procurou recentemente — disse, de repente, com o tom casual de quem sabia que estava prestes a provocar uma reação.
Alec virou-se para ele, estreitando os olhos.
— Elena?
Felipe assentiu, apoiando o queixo na mão em um gesto exagerado.
— Ela me pediu para enviar uma mensagem a Oscar. Algo bem enigmático, mas, você me conhece, sou curioso… Fiquei me perguntando o que ela está tramando.
O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pelo farfalhar de pergaminhos ao vento. Alec se levantou, numa tentativa de processar melhor a informação. De pé, a lembrança de sua conversa com Elena no estábulo surgia com cada vez mais clareza em sua mente.
Ele cruzou os braços, os olhos fixos em Felipe, e, após um breve silêncio, finalmente falou:
— Um duelo.
Felipe piscou, levantando uma sobrancelha com surpresa.
— Duelo? Com quem?
Alec olhou-o com um leve sorriso nos lábios.
— Quem mais além de mim contra Oscar?
Felipe deixou escapar uma risada baixa, como se algo estivesse começando a se esclarecer.
— Isso explica as entrelinhas, suponho. Mas você parece incrivelmente confiante para alguém que talvez tenha acabado de deduzir isso.
Alec bufou, passando uma mão pelos cabelos longos e negros.
— Ela quer o usar para alcançar algo. Não sei o quê, mas o duelo é o foco. E se ela acha que vai me manipular, está muito enganada.
— Parece que a senhorita Elena sabe como mexer com você — comentou Felipe, com um sorriso divertido nos lábios.
— Não comece — repreendeu Alec com uma voz baixa e cortante. — Minha intenção é usar este duelo como uma fachada para algo muito maior. Precisamos desviar a atenção de todos, inclusive dela.
Felipe soltou uma risada baixa, os olhos brilhando com crescente interesse enquanto pegava um pergaminho para começar a escrever.
A luz tremeluzente de uma lamparina lançava sombras dançantes nas paredes, intensificando o ar conspiratório que se formava ao redor deles. Alec manteve o olhar fixo no amigo, aguardando suas próximas palavras.
— Você realmente sabe como tornar as coisas mais interessantes. Então, qual é o plano, mestre estrategista?
Alec sentou-se novamente à mesa, os dedos tamborilando na superfície de madeira desgastada.
— Galen está reunindo aliados nas vilas próximas. Até agora, ele conseguiu manter tudo em segredo, mas precisamos acelerar o passo. O duelo será a distração perfeita. Enquanto todos os olhos estiverem na arena, Galen e seus homens atacarão.
Felipe parou de escrever, encarando Alec com atenção.
— Um ataque direto? Isso não parece o seu estilo.
— Não é sobre um ataque direto — corrigiu. — É sobre causar o máximo de caos possível. Queremos enfraquecer a posição de Magnus e espalhar alguns espiões no ducado. Precisamos de olhos e ouvidos por toda parte, e essa é a nossa chance.
Felipe inclinou-se para trás, o sorriso diminuindo enquanto absorvia as palavras.
— Você quer usar o duelo como cortina de fumaça para uma invasão? Você sabe que, se Magnus descobrir, não haverá onde se esconder.
— Eu sei — disse Alec, os olhos fixos nos de Felipe. — Mas é agora ou nunca. Cada dia que Magnus mantém controle é mais um dia de sofrimento para quem vive sob o punho dele.
Felipe ficou em silêncio por um momento, estudando o rosto de Alec. Depois, soltou um suspiro teatral.
— Sempre tão heroico, mesmo quando está tramando algo tão terrível.
— Eu não sou herói, Felipe — retrucou Alec, secamente. — E você sabe disso.
Felipe sorriu de canto, mas havia um brilho de respeito em seus olhos.
— Certo, então me diga o que exatamente quer que eu diga a Galen.
Alec se recostou na cadeira, com uma expressão sombria.
— Diga que apareceu a oportunidade que estávamos esperando. Quero que ele reúna os homens e esteja pronto para agir no dia do duelo. Vamos plantar a semente do colapso de Magnus, mas precisamos ser rápidos e precisos.
Felipe pegou um pergaminho e começou a anotar os detalhes.
— Você sabe que eu adoro um bom caos, Alec, mas isso é arriscado até para os seus padrões.
— Confie em mim, Felipe. Vale o risco.
Felipe deu de ombros, mas sua expressão era de quem já havia comprado a ideia.
— Sabe, Alec, às vezes eu acho que você gosta de caminhar na corda bamba.
— E você gosta de me acompanhar — rebateu, um leve sorriso surgindo no canto dos lábios.
Felipe riu, pegando outro pergaminho.
— Está certo, vou enviar a mensagem para Galen. Mas só porque adoro ver como você transforma tragédias em oportunidades.
— Quero uma resposta em até duas semanas, não mais que isso — disse, levantando-se novamente e caminhando até a janela estreita do aposento.
A noite lá fora era densa, as estrelas escondidas por uma camada espessa de nuvens. Alec observou a escuridão, os punhos cerrados ao lado do corpo.
— Se Magnus pensa que tem tudo sob controle, está muito enganado — murmurou ele. — Esse duelo não vai apenas decidir minha liberdade para agir melhor em prol da minha vingança. Vai ser o início do fim.
Felipe, ainda sentado, lançou-lhe um olhar curioso antes de voltar sua atenção ao feitiço de envio.
— Como desejar, meu cavaleiro sombrio.
Alec não respondeu, sua mente já à frente, imaginando cada movimento que precisaria fazer para transformar sua visão em realidade. O duelo era só o começo, Mas era tudo o que ele precisava.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Débora Rodrigues
No fim das contas, o Alec gostou e muito da ideia do duelo. Quem diria? /Facepalm/
2025-01-22
1
Débora Rodrigues
Qual será a origem da amizade desses dois?
2025-01-22
1
Kamila Castro
Esse Felipe também gosta de um caos
2025-01-04
2