O corredor escuro parecia mais longo do que o normal enquanto Elena seguia em direção à sala onde Felipe costumava trabalhar, na torre mais alta do ducado. Suas mãos estavam cruzadas em frente ao corpo, uma postura calculada para parecer calma, mas seus dedos entrelaçados contavam outra história. Ela precisava que tudo saísse como planejado.
Felipe era um homem complicado — não porque fosse difícil de lidar, mas porque ela sabia demais sobre ele. Ele não era apenas um mago sob o comando de Magnus, como todos acreditavam; ele era também o único aliado verdadeiro de Alec, ajudando-o a orquestrar boa parte dos planos que vinham colocando sua própria posição em risco.
Elena parou em frente à porta entreaberta, ouvindo a melodia de sua voz suave enquanto Felipe murmurava palavras arcanas, provavelmente conjurando algum feitiço.
Cuidado, Elena. Uma palavra errada, e ele vai contar tudo para Alec.
Ela empurrou a porta com delicadeza, entrando com uma expressão controlada. Felipe estava inclinado sobre uma mesa coberta de pergaminhos e ferramentas mágicas, os olhos castanhos brilhando à luz de uma vela. Ele ergueu o olhar, e um sorriso irônico curvou seus lábios.
— Senhorita Elena, que surpresa. Não costuma me visitar a essa hora.
Elena fechou a porta atrás de si, mantendo a voz firme.
— Não costumo precisar, mas agora é diferente.
Felipe arqueou uma sobrancelha, interessado. Ele era um homem magro, com feições afiadas e uma inteligência que transparecia em cada gesto.
— Diferente? — perguntou, fingindo inocência enquanto se recostava em sua cadeira.
Ela deu alguns passos à frente, parando a uma distância segura. Não confiava em Felipe, mas precisava dele.
— Preciso que envie uma mensagem para o ducado de Orinis — disse, observando a reação dele com atenção.
O sorriso de Felipe se alargou, mas havia algo afiado nele agora.
— Uma mensagem para o duque Dellon? Isso é curioso.
Elena ignorou o tom provocador e continuou:
— Não para ele. Para Sir Oscar. É algo delicado, e preciso que seja feito sem chamar atenção.
Ele inclinou a cabeça, claramente intrigado.
— Que mensagem?
Ela se aproximou um pouco mais, baixando a voz.
— Quero que diga o seguinte: “A decisão não está em minhas mãos. Seu pai deve saber disso. Meu desejo é encontrar uma solução em privado. Venha sozinho.”
Felipe piscou lentamente, absorvendo as palavras. Ele não fazia ideia do verdadeiro significado da mensagem, e Elena sabia disso. As palavras pareciam vagas o suficiente para que ele não desconfiasse de nada.
— Um convite para um encontro privado? — perguntou, com um tom que beirava a zombaria. — Parece mais desesperado do que esperava de você.
Elena o encarou com frieza.
— Apenas faça o que estou pedindo, Felipe. E rápido.
Ele inclinou a cabeça, o sorriso nunca deixando seu rosto.
— Claro, senhorita. Como desejar.
Ela sabia que ele não a desafiaria diretamente, não enquanto Magnus tivesse controle sobre Alec. Mas isso não significava que Felipe não compartilharia a mensagem com o cavaleiro assim que tivesse a chance.
Deixe que compartilhe. Alec vai pensar que é algo inofensivo — ou parte de um plano meu para irritá-lo.
Felipe começou a recitar as palavras para preparar o feitiço de envio, enquanto Elena recuava lentamente para a porta. Seu coração estava acelerado, mas ela manteve a expressão neutra. Quando um brilho mágico arroxeado começou a envolver as mãos de Felipe, ela soube que a mensagem estava sendo entregue.
Assim que saiu da sala, Elena respirou fundo.
Agora só preciso esperar que Oscar entenda o verdadeiro significado. E, quando ele aceitar, tudo estará em minhas mãos novamente.
Com passos rápidos, ela começou a planejar o próximo movimento. O encontro com Oscar seria decisivo. E, com Alec envolvido, ela sabia que o jogo se tornaria ainda mais perigoso.
***
O céu estava pintado em tons de púrpura e dourado quando Elena saiu da ala principal, suas mãos segurando as saias do vestido enquanto se dirigia ao jardim.
As flores estavam silenciosas, quase cúmplices do peso que carregava. Oscar receberia a mensagem, ela tinha certeza disso. Mas a antecipação trazia consigo uma preocupação esmagadora: o quanto Magnus já sabia?
Ela parou perto de uma fonte, a água cristalina refletindo sua expressão tensa. A sombra de Merilda parecia sempre presente, mesmo que a criada não estivesse ali agora. Magnus sabia, ou ao menos desconfiava, de algo?
Enquanto mergulhava em seus pensamentos, ouviu passos leves. Elena ergueu o olhar a tempo de ver uma figura emergir das sombras. Era Felipe.
— Não esperava vê-la aqui, tão tarde — disse ele, a voz carregada de algo que não era apenas curiosidade.
Elena se obrigou a sorrir, sua postura rígida contrastando com a leveza que tentava demonstrar.
— E eu não esperava que você me procurasse depois de cumprir um pedido.
Felipe deu mais alguns passos, aproximando-se o suficiente para que o brilho mágico ainda sutil em suas mãos fosse visível.
— Eu só queria avisar que a mensagem foi entregue como você desejava.
Ela estreitou os olhos, tentando sondar qualquer intenção oculta em suas palavras.
— Foi?
— Oh, foi. Mas devo dizer que é curioso como palavras tão simples podem ser interpretadas de formas tão... interessantes — respondeu ele, inclinando a cabeça de leve, como se estivesse esperando que ela se traísse.
Elena manteve o tom frio.
— Interpretações não me interessam, apenas resultados.
Felipe sorriu, mas havia algo sombrio em seus olhos agora.
— Claro, claro. Apenas me pergunto se Alec ficaria tão... tranquilo quanto você ao saber que há algo acontecendo com Oscar.
O coração dela acelerou, mas seu rosto permaneceu impassível.
— Alec é um servo leal, como você. Tenho certeza de que ele não se preocupa com assuntos que não são da conta dele.
Felipe soltou uma risada baixa, mas não respondeu imediatamente. Ele deu mais alguns passos, inclinando-se para olhar a fonte.
— É interessante como a lealdade pode ser uma coisa tão volátil. Não acha, senhorita? — Ela cerrou os dentes, mas não respondeu. Felipe se ergueu novamente, parecendo satisfeito com o silêncio dela. — De qualquer forma, espero que consiga o que deseja com Oscar. Mas tome cuidado. Palavras podem ser armas, mas também podem ser correntes.
Ele fez uma reverência teatral e se afastou, deixando-a sozinha.
Elena apertou os punhos, a raiva e o medo se misturando em seu peito. Felipe estava blefando, testando-a. Mas até onde ele sabia? E o quanto Alec confiava nele para compartilhar segredos?
Ela se voltou para a fonte, observando seu reflexo.
Oscar. Alec. Magnus. Felipe. Todos eram peças nesse jogo doentio. Mas ela também era uma delas, e não iria permitir que a subestimassem.
Elena se afastou da fonte, determinada a enfrentar o que viesse. Se Magnus soubesse de algo, enfrentaria as consequências. Se Alec tentasse sabotar seu plano, ela encontraria outra forma. E se Oscar ousasse recusar sua proposta, bem, ela ainda tinha cartas na manga.
— Que comece o próximo ato — murmurou para si mesma, desaparecendo entre as sombras do entardecer.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Sheyla Cristina
gente eu até agora ñ tô entendendo em nada
2025-01-24
2
Débora Rodrigues
O pior é que a Elena não tem nenhum aliado para ajudá-la nesse jogo.
2025-01-22
2
Souza França
que horror, lutar sozinha é angustiante!😬
2025-01-03
3