Já era tarde da noite quando Alec empurrou as portas duplas de uma taberna ordinária, situada na pequena vila na fronteira entre Ilhéus e Orinis. O cheiro repugnante de vômito e bebida o atingiu em cheio, fazendo seu rosto se contorcer em uma careta de nojo.
A taberna era um lugar imundo, com o ar pesado de odores nauseantes. As paredes de madeira estavam manchadas e cobertas por uma camada de sujeira que parecia se acumular há anos. O chão, escuro e pegajoso, rangia sob seus pés, com marcas de copos derramados e restos de comida apodrecendo. Mesas desarrumadas estavam espalhadas pelo salão, algumas com bancos quebrados, outras com manchas de lama e bebida.
O som abafado de risadas descontroladas e copos se chocando preenchia o ambiente, misturando-se ao zumbido das moscas que rondavam as velas trêmulas espalhadas pelo local. Alec estreitou os olhos enquanto varria o salão com o olhar. As figuras à sua frente eram indistintas sob a iluminação precária, mas ele sabia exatamente quem estava procurando.
Galen.
O antigo cavaleiro. Um homem alto, corpulento, marcado por uma cicatriz grotesca que atravessava todo o pescoço. Era a única pista concreta que Alec possuía sobre ele.
Com passos firmes, Alec se aproximou do balcão. O taberneiro, um homem robusto com olhos semicerrados e um avental sujo de gordura, olhou para ele com desconfiança.
— Posso ajudá-lo? — resmungou o homem, enxugando um copo já imundo com um pano ainda mais sujo.
Alec inclinou-se levemente para frente, mantendo a voz baixa:
— Estou procurando por alguém. Um homem chamado Galen. Alto, forte, com uma cicatriz no pescoço.
O taberneiro hesitou, um breve lampejo de reconhecimento passando por seus olhos antes de se voltarem para um canto escuro da taberna. Alec seguiu o olhar.
Ali, sentado sozinho em uma mesa no canto mais afastado, estava um homem de ombros largos e postura relaxada. O capuz da capa escura que usava escondia parte de seu rosto, mas a luz vacilante de uma vela próxima revelou o suficiente: uma cicatriz grotesca cortando o pescoço, descendo até desaparecer sob o tecido da roupa.
Alec caminhou na direção dele, sentindo os olhares furtivos de outros frequentadores o acompanharem. Quando chegou à mesa, Galen ergueu os olhos. Eles eram de um castanho profundo, frios e avaliadores, como se já soubessem o motivo da visita.
— Alec. — A voz de Galen era rouca, quase gutural, talvez um resquício da cicatriz. Ele não parecia surpreso.
Alec estreitou os olhos, puxando uma cadeira para se sentar.
— Parece que já sabe quem eu sou. Isso economiza tempo.
Galen soltou uma risada baixa, mas sem humor.
— Não é todo dia que um dos cães do duque me procura em um buraco como este. O que Magnus quer agora?
Alec manteve a calma, mas sua expressão endureceu com o insulto.
— Não estou aqui por Magnus. Estou aqui por você.
Galen arqueou uma sobrancelha, sua curiosidade claramente despertada.
— Isso é novo. Fale, garoto. Estou ouvindo.
Alec cruzou os braços sobre a mesa, inclinando-se para frente. Sua voz saiu fria e direta quando disse:
— Sei que você abandonou a Ordem por causa de Magnus. Sei o que aconteceu com você. E sei que você ainda quer vingança.
Os olhos de Galen brilharam com algo entre interesse e desconfiança.
— Continue.
Alec sorriu de lado, frio como uma lâmina prestes a cortar.
— Preciso de sua ajuda para derrubar Magnus. Juntos, podemos acabar com ele.
O silêncio que se seguiu foi cortante. O taberneiro e os outros clientes pareciam distantes, como se o mundo ao redor tivesse parado. Então, Galen sorriu, mas o gesto não alcançou seus olhos.
— Você é corajoso, garoto. Mas coragem não é o suficiente para sobreviver ao que está propondo.
Alec não recuou. Sua voz soou como uma promessa:
— Não estou pedindo para sobreviver. Estou pedindo para vencer.
Galen ficou em silêncio por alguns segundos, avaliando as palavras de Alec. Então, soltou uma risada curta e seca. Levantou a caneca, como se brindasse com o ar.
— Bem, então... vamos ver do que você é feito.
Ele tomou um longo gole antes de pousar a caneca sobre a mesa com força, o som reverberando na taberna abafada. Seus olhos percorreram Alec, avaliando-o com atenção, como se tentasse pesar cada palavra dita e cada intenção oculta.
— Você é diferente do que imaginei — murmurou Galen, os dedos tocando a cicatriz que atravessava seu pescoço, num gesto quase involuntário. — Quando ouvi falar de você, pensei que seria apenas mais um peão leal. Mas parece que tem veneno na língua.
Alec manteve o olhar fixo no homem à sua frente, o tom de voz carregado de determinação.
— Magnus não controla mais meus passos. Se isso é veneno para você, então deve se preparar para o gosto mais amargo que já experimentou.
Galen inclinou-se para frente, apoiando os antebraços na mesa.
— Você fala com convicção, garoto. Mas me diga... por que eu deveria confiar em você? Você pode muito bem estar aqui a mando dele, para me testar ou me caçar.
Alec sorriu de canto, frio.
— Se Magnus soubesse que estou aqui, acha que ainda estaríamos conversando? Ele teria mandado seus cães para arrastar você de volta, vivo ou morto.
Galen estreitou os olhos, mas não respondeu de imediato. Ele pegou a caneca novamente, brincando com ela entre os dedos, antes de erguer uma sobrancelha.
— Digamos que eu acredite em você. O que exatamente espera de mim?
Alec inclinou-se para frente, sua expressão endurecendo.
— Preciso de informações. Você conhece Magnus melhor do que qualquer um. Seus segredos, seus aliados, suas fraquezas. Quero tudo o que puder me dar.
Galen riu, uma risada baixa e amarga.
— Magnus não tem fraquezas. O homem é um monstro.
— Todo monstro sangra, Galen. — Alec rebateu, a voz gélida. — Eu só preciso encontrar a maneira certa de fazê-lo.
O ex-cavaleiro ficou em silêncio por um momento, como se ponderasse sobre a proposta. Então, ergueu a caneca mais uma vez, bebendo o restante do líquido. Ele limpou a boca com as costas da mão e deu de ombros.
— Você é ousado, garoto. Isso pode ser útil... ou pode te matar.
Alec não recuou.
— A decisão é sua. Vai continuar escondido, esperando que Magnus esqueça de você, ou vai finalmente fazer algo para acabar com ele?
Galen encarou Alec, a intensidade do olhar aumentando. Finalmente, ele sorriu, um sorriso tenso e cheio de significado.
— Certo, garoto. Eu topo. Mas se isso der errado... — Ele apontou para Alec com o dedo, o tom ameaçador. — Não espere que eu te ajude a sair vivo.
Alec inclinou a cabeça, um brilho quase desafiador nos olhos.
— Não preciso que me salve, Galen. Só preciso que esteja disposto a lutar.
Os dois homens se encararam por um momento, um silêncio tenso pairando no ar. Então, Galen estendeu a mão por sobre a mesa. Alec a apertou, um pacto silencioso sendo selado entre eles.
Enquanto os dois se levantavam, a atmosfera da taberna parecia mudar. O murmúrio dos outros clientes parecia mais distante, como se a decisão que acabavam de tomar carregasse um peso maior do que qualquer um ali pudesse compreender.
— Então, por onde começamos? — perguntou Galen, ajeitando o capuz.
Alec deu um passo à frente, os olhos fixos na porta de saída.
— Começamos encontrando as rachaduras na armadura de Magnus. E depois, abrimos caminho até o coração.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Débora Rodrigues
Na sua vingança, o Alec podia só focar no Magnus e poupar a Elena.
2025-01-22
3
Andréa Silva
Gostei do Galen /Proud/
2025-01-09
3
Kamila Castro
gostei do capítulo
2025-01-02
2