A manhã havia chegado com uma calma enganosa. Os raios de sol atravessavam as pesadas cortinas do quarto de Elena. Sentada diante do espelho, Merilda penteava seus cabelos com precisão quase mecânica.
Elena mantinha o rosto impassível, mas sua mente fervilhava. A conversa com Felipe ainda ecoava em sua cabeça. Ela plantara a semente, mas a execução do plano dependia inteiramente da reação de Oscar à mensagem.
— Está quieta hoje, senhorita — comentou Merilda, a voz carregada de formalidade, mas com um toque de desdém velado.
Elena encontrou o olhar da criada pelo reflexo do espelho.
— Apenas refletindo, Merilda. Algumas decisões exigem... concentração.
Merilda ergueu uma sobrancelha, mas não respondeu. Em vez disso, continuou penteando os cabelos da jovem, seus movimentos precisos, quase mecânicos.
Elena sabia que a criada não a suportava. Leal a Magnus, a hostilidade de Merilda ia além, talvez fosse a percepção de que, apesar das dificuldades, Elena ainda tinha algum controle sobre o próprio destino — algo que Merilda parecia desprezar.
Quando a criada terminou, Elena se levantou, ajeitando o vestido azul-claro que escolhera para o dia. Não era uma cor agressiva, mas também não transmitia vulnerabilidade.
— Quero um pouco de privacidade esta manhã. Não preciso de companhia — disse Elena, caminhando em direção à porta.
Merilda inclinou a cabeça ligeiramente, um gesto de insubordinação disfarçada de respeito.
— Como desejar, senhorita.
Assim que Merilda saiu, Elena soltou o ar preso em seus pulmões. Estava sozinha novamente, mas o peso das responsabilidades não diminuía. Ela tinha pouco tempo para organizar seus pensamentos antes do encontro com Oscar.
Ela caminhou até a pequena escrivaninha perto da janela, abriu um pergaminho e começou a escrever.
“Oscar precisa de algo que o motive. Uma motivação clara para aceitar o duelo, mas que também garanta minha vitória, mesmo em caso de derrota.”
Ela rabiscou e apagou palavras, tentando alinhar todas as possibilidades. O casamento seria a chave, mas ela precisava jogar com a ambição de Oscar e as expectativas de Dellon.
— Se Magnus souber disso... — murmurou para si mesma, o temor misturando-se à determinação.
Havia muito em jogo, e qualquer deslize poderia acabar não apenas com seu plano, mas com sua vida.
Quando terminou de escrever, Elena queimou o pergaminho na vela ao lado, observando as chamas consumirem suas palavras. A fumaça subiu lentamente, dissipando-se no ar.
Oscar é o próximo passo. Depois disso, terei que lidar com Alec, e, eventualmente, com Magnus.
Elena fechou os olhos por um momento, reunindo sua coragem. Sua luta estava apenas começando, mas ela estava determinada a vencer, um movimento de cada vez.
Erguendo-se, ela saiu do quarto. A luz do corredor parecia mais brilhante do que antes, mas sabia que era apenas uma ilusão.
A caminho do jardim, onde encontraria Oscar, Elena parou diante de um grande espelho na parede. Sua imagem parecia forte, inabalável; por dentro, a tensão pulsava.
— Calma. Controle. Convicção — sussurrou, como um mantra.
Era hora de começar o próximo movimento. E, no xadrez em que sua vida havia se tornado, cada passo tinha que ser certeiro. Sempre.
***
Elena esperava no jardim. A brisa da manhã trazia consigo o aroma suave das flores. As folhas sussurravam ao vento, mas o silêncio ao redor era denso, quase sufocante. O coração dela batia firme no peito enquanto mantinha a postura ereta, seus olhos fixos na fonte à sua frente.
Ela sabia que cada palavra dita ali poderia mudar o curso de sua vida — e talvez de todo o ducado.
O som de passos no cascalho cortou o ar, e Elena virou-se lentamente. Oscar emergiu das sombras do jardim, seu olhar sombrio fixo nela. Ele usava um manto escuro que escondia parte de sua armadura, mas sua postura rígida e a tensão em seus ombros deixavam claro que ele estava pronto para qualquer confronto.
— Senhorita Elena — saudou ele, a voz carregada de ironia. — Admito que seu chamado me intrigou. Depois de nosso último encontro, achei que tivesse desistido de tentar me convencer de qualquer coisa.
Elena manteve a compostura, esboçando um sorriso controlado.
— Eu nunca desisto, Sir Oscar. E acredito que você, mais do que ninguém, deveria saber disso.
Oscar cruzou os braços, com a descrença evidente em sua expressão.
— Então, o que foi dessa vez? Mais ameaças? Ou vai tentar jogar a culpa em alguém?
Elena respirou fundo, ignorando o tom ácido dele.
— Não vim aqui para ameaçar, nem para transferir culpas. Vim para lhe fazer uma proposta. Algo que pode resolver isso de uma vez por todas.
Os olhos de Oscar se estreitaram.
— Uma proposta? Que tipo de proposta?
Ela deu um passo à frente, a voz baixa, mas firme.
— Um duelo. Entre Alec e você.
Oscar piscou, momentaneamente pego de surpresa.
— Um duelo? E o que você espera alcançar com isso, exatamente?
Elena encontrou o olhar dele, suas palavras cuidadosamente calculadas.
— Simples. Se você vencer, eu me casarei com você, como o duque Dellon deseja. Isso consolidará sua posição, não apenas como cavaleiro, mas como alguém digno do nome de Orinis. Você terá o apoio da minha família, e, mais importante, o respeito de todo o reino.
Oscar permaneceu em silêncio, seus olhos analisando cada movimento dela. Finalmente, ele inclinou a cabeça.
— E se eu perder?
Elena hesitou por um momento, mas depois deu um passo à frente, sua expressão endurecendo.
— Se perder, você e Orinis irão se submeter a mim. Fingiremos manter uma aliança com Magnus, mas, na verdade, vocês se tornarão meus aliados na sombra. Nenhuma decisão será tomada sem minha aprovação. Será uma aliança secreta, mas absolutamente inquebrável.
Oscar riu, mas o som transbordava amargura.
— Então você quer me submeter, é isso? Tornar-me seu peão em troca de nada?
Elena manteve o olhar firme.
— Isso não é pouca coisa, Oscar. É uma chance de sobreviver. Magnus não tem lealdades reais para com Orinis, e você sabe disso. O casamento que ele propôs não foi por sua causa, mas porque Dellon precisa da minha posição para proteger a legitimidade da sua.
O rosto de Oscar se fechou, mas ele não negou.
— Você está blefando, Elena. Magnus jamais permitiria isso.
Ela se aproximou mais, sua voz quase um sussurro.
— Meu pai não tem controle sobre o que acontece em um duelo. Essa é a nossa jogada, e cabe a você decidir se quer aproveitá-la.
Oscar a encarou por um longo momento, o silêncio entre eles era palpável. Finalmente, ele deu um passo para trás, seus olhos analisando-a com uma mistura de raiva e respeito.
— Você é mais astuta do que eu pensava, Elena. Isso até me faz considerar sua proposta. — Ele se virou, como se já estivesse decidido, mas parou antes de sair. — Um aviso, no entanto: se isso for uma armadilha, você irá se arrepender. E se Alec falhar, estarei esperando pelo nosso casamento.
Elena permaneceu imóvel enquanto ele se afastava, os punhos cerrados ao lado do corpo. Assim que ficou sozinha novamente, soltou um suspiro profundo, sentindo o peso do momento desabar sobre ela.
É um risco. Tudo isso é um risco.
Mas, com Oscar aceitando o duelo, ela vislumbrava uma chance. E em um mundo onde cada passo era uma aposta, uma chance era tudo o que ela precisava para sobreviver.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Elda soares
Um aliado. Elena é muito inteligente.
um acordo justo.😀😀😀
2025-01-17
1
Kamila Castro
Foi um bom acordo, agora tudo depende de Alec
2025-01-03
3
Débora Rodrigues
Mas gente, como é que se propõe um duelo onde o outro é que deve lutar? Esse negócio de ser escravo não é fácil. Acho que o Alec não vai gostar disso.
2025-01-22
2