O ar nos estábulos era carregado com o cheiro de palha e couro, familiar e quase reconfortante para Alec. Ele estava de pé ao lado de seu cavalo, ajustando as rédeas com movimentos precisos e rápidos. As mãos, no entanto, tremiam levemente, traindo a tempestade de emoções que ele se esforçava para controlar.
Ela me desafiou de novo.
Ele apertou as rédeas com mais força do que o necessário, sentindo a frustração borbulhar como lava sob sua pele. O embate com Elena no jardim ainda queimava em sua mente, cada palavra dela ecoando como uma afronta. Ela sabia demais, suspeitava demais.
Mas o que o incomodava ainda mais era o fato de que, de alguma forma, ela conseguira virar o jogo contra ele, forçando-o a abandonar os planos com os quais vinha trabalhando há semanas.
Alec respirou fundo, tentando dissipar a sensação de calor que começava a se espalhar em seu peito. Ele não podia se permitir perder o controle ali, não agora. Se a maldição começasse a agir, seria impossível continuar com seus próximos passos.
— Vai sair sem permissão, é?
A voz grave de Magnus cortou o ar, congelando Alec no lugar. Ele ergueu os olhos devagar, encontrando o duque parado na entrada dos estábulos, com os braços cruzados e uma expressão perigosa no rosto.
— Não sabia que precisava de permissão para respirar — respondeu Alec, a voz carregada de falsa calma enquanto seus dedos afrouxaram as rédeas.
Magnus deu alguns passos à frente, a luz que entrava pelas frestas do estábulo jogando sombras no rosto dele.
— Não estou de humor para sarcasmos. Explique-se.
Alec inclinou a cabeça, fingindo indiferença, mesmo quando sentiu a marca em seu pescoço latejar de leve, como se reagisse à presença de Magnus.
— Estava apenas me preparando para sair em uma missão de reconhecimento. Achei que o duque gostaria de saber o que Sir Oscar pretende agora que saiu daqui furioso.
Magnus estreitou os olhos, avaliando cada palavra dita.
— E decidiu fazer isso sem consultar sua senhora?
Alec segurou o impulso de revirar os olhos.
— Senhorita Elena não mostrou interesse em me impedir, então deduzi que não haveria problemas.
O nome dela parecia inflamar algo no olhar de Magnus, mas ele manteve a expressão controlada.
— Se está tentando jogar Elena contra mim, sugiro que tome cuidado. Sei exatamente quem você é e o que pretende.
Alec deu um passo à frente, aproximando-se do cavalo como se estivesse mais preocupado com o animal do que com Magnus.
— E o que eu sou, exatamente? — perguntou, com um sorriso que não chegava aos olhos.
Magnus não respondeu de imediato. Em vez disso, ele avançou mais alguns passos, parando perto o suficiente para que Alec sentisse o peso da presença dele.
— Um traidor em potencial — disse, a voz baixa e cortante. — Mas lembre-se, Alec, você ainda está sob meu controle. Você é apenas um brinquedo bonito que eu dei para Elena quebrar.
A marca no pescoço de Alec pulsou com mais intensidade, como se confirmasse as palavras de Magnus. Ele apertou os dentes, lutando contra a vontade de levar uma mão até o local.
— Claro que estou — respondeu, com um sorriso forçado. — Mas o senhor sabe que, por isso, sou incapaz de traí-lo.
Magnus soltou um som curto, algo entre uma risada e um grunhido de desprezo.
— Cuide bem das suas palavras, Alec. E saiba que eu sei muito mais do que você imagina.
Com isso, o duque se virou e saiu, a capa esvoaçando atrás dele. Alec ficou ali, parado, enquanto a tensão lentamente deixava seus ombros. Ele segurou o pescoço, sentindo o calor da marca diminuir aos poucos.
Preciso me apressar. Se Magnus suspeitar mais do que já suspeita, tudo estará perdido.
Ele montou no cavalo com rapidez, seus pensamentos focados em como contornar o obstáculo que Magnus representava sem deixar Elena escapar de sua mira. Afinal, a queda do duque dependia tanto dela quanto dele próprio.
***
Alec galopava pela trilha sinuosa que levava à saída do ducado, o som dos cascos de seu cavalo ecoando em meio à paisagem silenciosa. A respiração do animal era pesada, mas constante, e o ritmo do galope refletia a urgência que ele sentia no peito. Cada passo o afastava do controle sufocante de Magnus e da inocência fingida de Elena.
Preciso de espaço para pensar, para agir.
Ele segurava as rédeas com força, o olhar fixo no caminho à frente. O peso da marca em seu pescoço era uma constante, um lembrete de sua posição como um peão na intrincada rede de poder de Ilhéus. Mas ele não era apenas um peão, não por muito tempo.
O plano precisava avançar, e para isso ele tinha que se mexer antes que Magnus ou Elena o prendessem com ordens diretas. Sua mente fervilhava com possibilidades e estratégias, mas a verdade era que ele precisava de aliados. Não daqueles que se curvavam ao duque ou que eram facilmente manipulados por um sorriso doce de Elena. Precisava de pessoas que compartilhassem do ódio que queimava em seu peito — forte e visceral.
Sua jornada o levaria a uma pequena vila na fronteira entre Ilhéus e Orinis, onde rumores sobre descontentamento contra Magnus começavam a crescer. Um homem em especial havia chamado sua atenção: Galen, um antigo cavaleiro que havia sido banido por desobedecer diretamente ao duque. Galen tinha a força e a influência necessárias para se tornar uma peça fundamental no tabuleiro de Alec.
Enquanto o vento frio cortava seu rosto, Alec sentiu o peso da maldição dentro de si se agitar. O calor familiar começou a subir em sua pele, e ele cerrou os dentes, tentando controlar a raiva que crescia em seu peito.
— Não agora — murmurou para si mesmo, segurando o impulso de socar qualquer coisa à sua frente.
Ele precisava de clareza, não de uma explosão emocional que o deixaria vulnerável.
Magnus pensa que me controla. Elena acha que pode me moldar. Mas ambos verão que não sou tão fácil de manipular.
O céu começou a escurecer enquanto ele seguia em direção à vila. Suas mãos ainda seguravam firmemente as rédeas, mas agora havia uma determinação fria em seus olhos. Ele sabia que estava apostando alto ao sair sem aviso, mas também sabia que, sem aliados e sem movimentos ousados, ele seria engolido por Magnus ou preso no jogo moral de Elena.
Ele não deixaria nenhum dos dois vencer. Não antes que ele conseguisse o que queria: a ruína de Magnus e a completa libertação de suas correntes, mesmo que isso significasse destruir o mundo ao seu redor no processo.
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Atualizado até capítulo 142
Comments
Débora Rodrigues
A imagem e fama ruim da antiga Elena estão pesando muito agora. Tadinha da nova Elena/Isadora, vai cortar um dobrado até alcançar o coração do Alec.
2025-01-22
2
Marsane
Me desculpem quem achou a Elena inteligente, mas até agora não vi isso…
2025-01-30
1
Marsane
Me digam que lá na frente melhora por favor; pois até aqui só senti frustração com o personagem Elena, muito burra, sem esperteza, sem sagacidade, sem saber o que fazer, mudando tudo com atitudes impensadas, se revelando, se entregando o tempo todo!!!!! Amo estórias de renascimento, reencarnação por que , como eles já sabem o que aconteceu e/ou vai acontecer, se preparam, planejam, estudam táticas, procuram aliados, bloqueiam muitas pessoas ruins, enfim, ainda não vi isso na Elena e por isso estou sem vontade de prosseguir a leitura… naaam me falta paciência pra ela
2025-01-30
5