0.19

Niel ficou segurando o celular por alguns minutos, encarando a tela como se esperasse que Gusta enviasse outra mensagem. Mas o silêncio do aparelho parecia ecoar a culpa que ele sentia. Ele jogou a cabeça para trás, olhando para o teto do quarto, enquanto pensamentos tumultuados preenchiam sua mente.

"Se eu não estivesse na vida dele, ele não teria que lidar com essas coisas. Talvez fosse mais fácil pra ele sem mim."

Ele balançou a cabeça, tentando afastar a ideia, mas ela continuava voltando. Ele sabia que Gusta era forte e independente, mas a ideia de que estava tornando a vida dele mais difícil o corroía por dentro.

Levantando-se com dificuldade, Niel caminhou até a janela do quarto. A vista da cidade parecia infinita, mas isso não ajudava a aliviar o peso em seu coração.

"Gusta está lidando com tanta coisa, e eu só adiciono mais problemas."

Ele suspirou profundamente, fechando os olhos por um momento.

"Eu só queria ser alguém que pudesse ajudá-lo, não alguém que ele precise proteger o tempo todo."

O som de passos no corredor chamou sua atenção, mas, quando a porta não se abriu, ele voltou a encarar a cidade. A culpa e a preocupação continuavam martelando sua mente, mas, ao mesmo tempo, ele sabia que Gusta estava lá por ele, mesmo nos momentos mais difíceis.

"Eu só preciso ser melhor. Preciso encontrar uma forma de ser mais forte, para que ele não precise carregar tudo sozinho."

Com esse pensamento, Niel se sentou na cadeira perto da janela, esperando que Gusta voltasse.

Os dias passaram lentamente, e o vazio no quarto do hospital começou a pesar mais do que Niel podia suportar. Gusta não havia voltado desde aquela ligação, e, embora ele tentasse convencer a si mesmo de que Gusta tinha motivos importantes para sua ausência, a sensação de abandono crescia dentro dele.

A cada novo amanhecer, Niel esperava ouvir o som da porta se abrindo e ver Gusta entrando com aquele sorriso descontraído, fazendo algum comentário para quebrar o clima tenso. Mas tudo que ele ouvia eram os sons dos enfermeiros e o bip constante dos aparelhos.

Ele pegava o celular várias vezes por dia, checando as mensagens, mas nada novo aparecia. Ele tentou ligar uma vez, depois outra, mas cada chamada ia direto para a caixa postal.

Na terceira noite sem notícias, Niel estava sentado na cama, encarando a cidade iluminada pela grande janela. Ele não conseguia dormir. O silêncio do quarto parecia amplificar o vazio em seu peito.

"Por que ele não voltou? Será que aconteceu alguma coisa? Ou será que ele só desistiu de mim?"

O pensamento o atingiu como um soco, e lágrimas começaram a escorrer silenciosamente pelo seu rosto. Ele apertou o celular em suas mãos, resistindo à vontade de ligar mais uma vez.

No quarto dia, a enfermeira entrou com um sorriso habitual e disse:

— Bom dia, Niel. Como está hoje?

Ele apenas deu de ombros, evitando o olhar dela.

— Ainda nada do seu amigo? — ela perguntou, tentando parecer casual.

Niel balançou a cabeça em silêncio, a garganta apertada.

— Tenho certeza de que ele tem uma boa razão — disse ela gentilmente, antes de sair.

Mas as palavras não ajudaram. Niel começou a se perguntar se realmente havia algo de errado com ele. Será que ele tinha feito algo que afastou Gusta?

"Eu disse algo? Fiz algo? Por que ele não atende minhas ligações? Por que ele me deixou aqui sozinho?"

O peso da solidão era esmagador, e Niel começou a sentir que o tempo estava parado, cada minuto mais longo e doloroso do que o anterior. Ele segurava o celular com força, olhando para a tela vazia, com o desejo desesperado de uma mensagem, uma explicação, qualquer coisa que o tirasse daquele estado de incerteza.

Depois de dias de silêncio e solidão, a porta do quarto de Niel finalmente se abriu. Ele olhou para cima e viu Gusta entrando, com uma expressão séria, mas visivelmente cansada. Antes que Gusta pudesse dizer qualquer coisa, Niel já estava de pé, o olhar fixo nele, misturando raiva, alívio e tristeza.

— Niel... — começou Gusta, fechando a porta atrás de si. — Me desculpa por ter sumido esses dias. Eu tive que viajar para outro país pra resolver algumas coisas do meu pai. Eu queria te avisar, mas...

Antes que ele pudesse terminar, Niel o interrompeu.

— Avisar? Você queria me avisar? — sua voz tremia, e lágrimas já começavam a escorrer pelo seu rosto. — Você desapareceu, Gusta! Você sumiu por dias, e eu não sabia se você estava bem, se estava vivo!

Gusta deu um passo à frente, mas Niel recuou, erguendo uma mão para impedir que ele se aproximasse.

— Você sabe como eu fiquei? — continuou Niel, agora chorando abertamente. — Preso aqui, sozinho, sem saber o que fazer. Eu te liguei, mandei mensagens, e você simplesmente me ignorou!

Gusta tentou falar, mas Niel não deixou.

— Você disse que nunca ia me deixar, que sempre estaria aqui pra mim! — gritou ele, a voz embargada de dor. — Mas no primeiro momento em que eu realmente preciso de você, você desaparece!

Gusta franziu a testa, claramente se sentindo culpado, mas permaneceu em silêncio, deixando Niel desabafar.

— Eu não sou nada sem você, Gusta! — Niel continuou, sua voz quebrando. — Eu fico aqui, pensando, me perguntando o que eu fiz de errado. Será que eu sou tão insuportável assim? Será que eu não sou bom o suficiente pra você?

Ele se deixou cair na cama, cobrindo o rosto com as mãos enquanto soluçava.

— Eu sei que sou um peso, que sou fraco e quebrado, mas você prometeu... você prometeu que não ia me deixar.

Gusta se aproximou devagar, sentando-se ao lado dele. Ele colocou a mão no ombro de Niel, mas Niel não olhou para ele.

— Niel... — começou Gusta, sua voz baixa e cheia de arrependimento. — Eu nunca quis te magoar. Eu odeio que você se sinta assim, e eu sei que deveria ter te avisado.

Niel levantou a cabeça, seus olhos vermelhos e inchados.

— Então por que não avisou? Por que simplesmente sumiu?

Gusta suspirou, passando a mão pelos cabelos.

— Meu pai me colocou numa situação complicada. Eu não tive escolha, e foi tudo muito rápido. Mas eu errei, Niel. Eu deveria ter encontrado uma maneira de te avisar.

Niel balançou a cabeça, ainda chorando.

— Eu só queria saber que você se importa, Gusta. Que eu importo pra você.

Gusta segurou o rosto de Niel com as mãos, olhando diretamente em seus olhos.

— Você importa mais do que qualquer coisa, Niel. Eu sei que errei, mas eu estou aqui agora. Eu nunca vou te deixar, e vou fazer o que for preciso pra você acreditar nisso.

Niel se jogou nos braços de Gusta, chorando ainda mais forte enquanto ele o segurava firmemente.

— Eu só... não quero ficar sozinho de novo — sussurrou Niel.

— Você nunca vai ficar sozinho — respondeu Gusta, com convicção. — Eu te amo, Niel. E eu vou te provar isso todos os dias, se for preciso.

Eles ficaram ali por um longo tempo, Niel deixando sua dor sair enquanto Gusta o segurava, determinado a nunca mais deixá-lo se sentir assim.

Naquela noite, enquanto Gusta permanecia no quarto do hospital, sentado no pequeno sofá ao lado da cama de Niel, os dois conversavam em um tom mais leve. A tensão dos últimos dias parecia ter diminuído, mas ainda havia um peso no ar.

— Gusta... — disse Niel, quebrando o silêncio, olhando para o teto.

— O que foi? — respondeu Gusta, erguendo uma sobrancelha, mas mantendo um sorriso calmo.

— O médico disse que eu já posso ir para casa amanhã. Estou oficialmente liberado.

Gusta inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Isso é ótimo, Niel. Finalmente você vai poder descansar de verdade.

Niel deu um sorriso pequeno, mas logo olhou para ele com um olhar mais sério.

— Mas você vai comigo, né? Eu não quero ficar sozinho.

Gusta riu levemente e balançou a cabeça. — Claro que vou. Você acha mesmo que eu ia te deixar?

Niel deu um suspiro de alívio e sorriu.

— Obrigado.

Na manhã seguinte, Gusta estava de pé antes mesmo de Niel acordar, organizando as coisas dele no hospital. Quando Niel abriu os olhos, viu Gusta colocando suas roupas em uma pequena mala.

— Bom dia, dorminhoco — disse Gusta, olhando por cima do ombro.

— Bom dia... — respondeu Niel, ainda com a voz sonolenta.

— Vamos logo, se troque. Vou levar você pra casa.

Depois de um café da manhã simples e as orientações finais do médico, Gusta ajudou Niel a sair do hospital. Ele abriu a porta do carro e ajudou Niel a se sentar confortavelmente antes de colocar a mala no porta-malas.

— Pronto? — perguntou Gusta, ligando o carro.

— Pronto — respondeu Niel, com um pequeno sorriso.

O trajeto foi silencioso, mas confortável. Gusta lançava olhares rápidos para Niel de vez em quando, apenas para se certificar de que ele estava bem. Quando chegaram à casa de Niel, Gusta abriu a porta do carro e o ajudou a descer.

— Você não precisa fazer isso tudo, sabe? — disse Niel, levemente envergonhado.

— Claro que preciso. Você ainda está se recuperando — respondeu Gusta, com um sorriso despreocupado.

Ao entrar na casa, Gusta olhou ao redor e soltou um suspiro.

— Está tudo igual desde a última vez que estive aqui.

Niel riu baixinho. — É claro. Eu não tive tempo nem forças pra mudar nada.

— Bom, agora que você está em casa, vou garantir que você descanse de verdade.

— Você vai ficar? — perguntou Niel, um pouco surpreso.

— Claro que vou — respondeu Gusta, já se jogando no sofá. — Alguém precisa cuidar de você, não é?

Niel balançou a cabeça, mas não conseguiu esconder o sorriso. Mesmo em meio a tantas dificuldades, ele sentia uma pequena paz ao saber que Gusta estava ao seu lado.

Continua...

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