O dia no hospital passou de forma inesperadamente leve, com Gusta cuidando de Niel de uma maneira quase paternal — ou melhor, como se estivesse cuidando de uma criança.
— Você tem que comer tudo isso, Niel — disse Gusta, colocando uma bandeja de comida à frente dele.
Niel olhou para a bandeja e fez uma careta. — Eu não gosto de sopa de legumes.
Gusta cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha. — Não interessa se você gosta ou não. É saudável, e você precisa se recuperar.
Niel suspirou, mas acabou pegando a colher, embora com visível descontentamento. Ele deu uma colherada e depois fez uma expressão exagerada de nojo, como se a sopa fosse a coisa mais horrível que já tinha provado.
— Para de fazer drama — disse Gusta, segurando o riso.
Depois de terminar a comida (a muito custo), Niel tentou levantar-se da cama, mas Gusta foi rápido em impedir.
— Aonde você pensa que vai? — perguntou ele, colocando uma mão no ombro de Niel para empurrá-lo de volta à cama.
— Quero andar um pouco, já estou cansado de ficar deitado — respondeu Niel, revirando os olhos.
— Nada disso, você ainda está se recuperando — disse Gusta, com um tom firme. — Se quiser andar, vou pegar uma cadeira de rodas pra você.
— Uma cadeira de rodas? Eu não sou inválido! — retrucou Niel, indignado.
— Não, mas é teimoso — respondeu Gusta, com um sorriso de canto.
Apesar das reclamações, Niel acabou cedendo. Gusta voltou com uma cadeira de rodas e ajudou Niel a se sentar.
— Agora sim, vamos passear pelo hospital como dois velhinhos — brincou Gusta, empurrando a cadeira enquanto Niel fazia cara de poucos amigos.
— Eu pareço tão doente assim? — perguntou Niel, fingindo estar ofendido.
— Não, mas é divertido te provocar — respondeu Gusta, rindo.
Eles passaram o dia assim, entre brincadeiras e provocações, com Gusta cuidando de Niel com uma dedicação quase exagerada. Apesar de algumas reclamações, Niel não pôde evitar se sentir confortável com a atenção.
No final do dia, enquanto Niel estava deitado novamente, ele olhou para Gusta e disse, com um pequeno sorriso:
— Você é irritantemente bom nisso.
— No quê? — perguntou Gusta, arrumando os travesseiros de Niel.
— Em me tratar como se eu fosse uma criança mimada — respondeu ele, rindo levemente.
Gusta deu um sorriso satisfeito.
— Alguém tem que cuidar de você, Niel. E parece que eu sou o único corajoso o suficiente pra isso.
Niel estava deitado na cama, mexendo no celular, enquanto Gusta arrumava algumas coisas na mesa ao lado. Ele estava inquieto, pensando em como abordar o assunto. Por fim, respirou fundo e decidiu falar:
— Gusta... — começou ele, a voz baixa, quase tímida.
— Hum? — respondeu Gusta, sem desviar a atenção do que estava fazendo.
— Eu... Eu preciso de um favor — disse Niel, mexendo nos lençóis nervosamente.
Gusta olhou para ele, erguendo uma sobrancelha. — O que foi?
Niel hesitou por um momento antes de continuar. — Eu preciso de dinheiro emprestado...
Gusta não respondeu de imediato. Ele pegou o celular, desbloqueou e começou a fazer algo sem dizer uma palavra. Alguns segundos depois, ele olhou para Niel.
— Qual a sua conta?
Niel ficou surpreso pela falta de questionamento. — Você nem quer saber quanto ou pra quê?
Gusta deu de ombros, digitando algo no celular. — Não preciso. Se você está pedindo, deve ser importante.
Ele apertou um botão no celular e disse:
— Pronto. Transferi.
Niel piscou, confuso e um pouco incomodado pela facilidade com que Gusta havia aceitado.
— Você realmente não vai perguntar por que eu preciso do dinheiro?
Gusta riu levemente, sentando-se na beira da cama.
— Niel, se você confia em mim o suficiente para pedir, eu confio em você o suficiente para não perguntar.
Niel ficou em silêncio, processando a resposta. Por um lado, ele se sentia aliviado, mas, por outro, aquilo o fazia se sentir ainda mais pressionado.
— É só que... eu não quero que você ache que estou me aproveitando de você... — murmurou ele, desviando o olhar.
Gusta inclinou-se para frente, segurando o queixo de Niel gentilmente para que ele olhasse em seus olhos.
— Eu nunca vou achar isso. E, mesmo que você estivesse, acho que já deixei claro que eu faço tudo por você porque eu quero, não porque espero algo em troca.
Niel sentiu um nó na garganta. Ele queria agradecer, mas as palavras pareciam insuficientes.
— Obrigado, Gusta... De verdade.
— Não precisa agradecer, Niel. Só promete que, se precisar de qualquer coisa, me avisa.
Gusta entrou no quarto, o rosto sério, mas seus olhos mostravam um misto de preocupação e determinação. Ele se aproximou da cama de Niel, cruzou os braços e suspirou antes de começar a falar.
— Niel, eu preciso te dizer uma coisa — começou ele, com a voz calma, mas firme.
Niel olhou para ele, imediatamente preocupado. — O que foi?
Gusta puxou uma cadeira e sentou ao lado da cama, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto encarava o chão por um momento. Depois, levantou o olhar para Niel.
— Eu preciso sair por um tempo. Tem algo que eu preciso resolver com o meu pai, algo importante.
Niel franziu o cenho, confuso e um pouco alarmado. — Mas é tão sério assim?
Gusta assentiu lentamente. — Sim. É complicado, e prefiro não te envolver nisso.
Niel ficou em silêncio, tentando processar o que estava ouvindo. Ele sentiu um nó no peito, mas tentou disfarçar.
— Quanto tempo você vai ficar fora?
Gusta deu de ombros, evitando o olhar de Niel por um momento. — Não sei ao certo. Talvez algumas horas, talvez até amanhã. Depende de como as coisas se desenrolarem.
Niel abaixou o olhar, apertando o lençol entre os dedos. — Entendi...
Gusta percebeu a inquietação dele e segurou sua mão.
— Ei, olha pra mim. — Ele esperou até Niel levantar os olhos antes de continuar. — Isso não tem nada a ver com você, e eu não tô indo embora de verdade, tá? Eu sempre volto.
Niel respirou fundo, tentando esconder sua insegurança. — Só... toma cuidado, ok?
Gusta sorriu levemente e deu um leve aperto na mão de Niel. — Eu sempre tomo, especialmente porque eu sei que tem alguém aqui esperando por mim.
Ele se levantou e ajeitou o cobertor de Niel antes de pegar suas coisas.
— Descansa, come direito, e não se preocupe. Eu volto antes que você perceba.
E com essas palavras, ele saiu, deixando Niel olhando para a porta fechada, com uma mistura de apreensão e saudade já se formando no peito.
Niel percebeu que as horas haviam passado e Gusta ainda não tinha voltado para o quarto do hospital. Preocupado, pegou o celular e enviou uma mensagem:
— Onde você está?
Poucos minutos depois, Gusta respondeu:
— Resolvendo umas coisas. Já volto.
Niel não conseguiu deixar para lá e ligou para ele. Quando Gusta atendeu, sua voz estava um pouco tensa.
— O que aconteceu? — perguntou Niel diretamente.
Do outro lado da linha, Gusta suspirou profundamente antes de responder:
— Estou brigando com meu pai.
— Por quê? — perguntou Niel, sentindo seu coração apertar.
— Depois daquela briga na escola com Deymon, meu pai me obrigou a fechar um negócio com o pai dele como sinal de desculpas. E, além disso, tive que me desculpar pessoalmente.
Niel ficou em silêncio por um momento, processando o que havia acabado de ouvir. Ele sentiu uma onda de culpa crescer em seu peito, como se todo aquele problema fosse responsabilidade dele.
— Gusta... — começou ele, a voz baixa. — Isso foi por minha causa, não foi?
— Não foi culpa sua — respondeu Gusta rapidamente. — Meu pai só quer manter as aparências. Ele odeia qualquer tipo de desavença pública, e isso não tem nada a ver com você.
Mas Niel sabia que tinha, pelo menos em parte. Ele sabia que, se não estivesse envolvido, talvez aquela situação não tivesse chegado a esse ponto.
— Eu sinto muito — disse Niel, sua voz embargada pela culpa.
— Para com isso — respondeu Gusta, em um tom mais firme. — Não carrega mais peso do que precisa. Isso é entre mim e meu pai, e eu sei como lidar com ele.
Niel queria acreditar nisso, mas a culpa ainda o corroía. Ele segurou o celular com força, respirando fundo.
— Só... volta logo, tá?
— Eu volto assim que puder — respondeu Gusta. — Fica bem, Niel.
Quando a ligação terminou, Niel ficou olhando para o celular, sentindo o peso daquela situação em seu peito. Mesmo que Gusta dissesse que não era sua culpa, ele não conseguia se livrar do sentimento de que, de alguma forma, ele havia causado mais problemas para alguém que só queria ajudá-lo.
CONTINUA....
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Atualizado até capítulo 63
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