0.14

Assim que Gusta entrou na casa carregando Niel, ele o colocou gentilmente no sofá. Observando o rosto de Niel, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, Gusta suspirou e perguntou:

— Por que você está chorando de novo? Toda vez que venho te ver, você está chorando.

O tom de Gusta era mais de preocupação do que de crítica, mas Niel, já abalado emocionalmente, interpretou de outra maneira. Ele desviou o olhar, sentindo o peso das palavras como uma acusação.

— Eu... eu sinto muito... — murmurou Niel, com a voz trêmula. — Eu não queria que você me visse assim. É que... eu sou assim. Um problema.

Ele se abraçou, como se tentasse proteger a si mesmo, e continuou:

— Desculpa se eu te incomodo. Talvez fosse melhor se você parasse de vir aqui.

Gusta arregalou os olhos, surpreso pela reação de Niel. Ele se ajoelhou na frente dele, segurando suas mãos.

— Ei, calma. Não foi isso que eu quis dizer. Eu não estou brigando com você — disse Gusta, tentando soar mais suave.

— Mas é verdade, não é? — Niel respondeu, com lágrimas começando a escorrer de novo. — Eu só complico sua vida. Eu sou um peso.

— Niel, para com isso — Gusta disse, mais firme agora, segurando o rosto dele com ambas as mãos para que ele olhasse nos seus olhos. — Você não é um peso. Eu me preocupo com você. Eu só quero te ajudar.

Niel balançou a cabeça, ainda perdido em seus pensamentos negativos. — Eu não sei o que faria sem você. Se você fosse embora... eu acho que não suportaria.

Gusta ficou em silêncio por um momento, entendendo o quanto Niel estava dependente emocionalmente dele.

— Eu não vou a lugar nenhum, Niel — prometeu Gusta, segurando-o mais firme. — Mas você precisa começar a confiar em si mesmo, não só em mim. Eu quero te ajudar, mas você também precisa se ajudar.

Gusta manteve as mãos no rosto de Niel, observando os olhos dele com atenção. Ele sabia que as palavras não seriam suficientes para quebrar aquele ciclo de pensamentos negativos.

— Niel, olha pra mim — disse Gusta, com a voz firme, mas gentil. — Você precisa acreditar em mim quando eu digo que não vou te abandonar.

Niel respirou fundo, mas ainda parecia hesitante. — Mas... e se você se cansar? E se eu for demais?

— Você não é demais, Niel. E, honestamente, eu não sou o tipo de pessoa que fica por obrigação — respondeu Gusta, com um pequeno sorriso. — Se eu estou aqui, é porque quero estar.

Niel desviou o olhar, ainda incerto, mas Gusta não permitiu que ele se afastasse emocionalmente.

— Eu quero que você me prometa uma coisa — disse Gusta.

— O quê? — perguntou Niel, quase temendo a resposta.

— Que você vai começar a acreditar que é mais do que suficiente. Que você é importante, mesmo que não acredite nisso agora — disse Gusta, mantendo o olhar firme.

Niel ficou em silêncio, sentindo o peso daquelas palavras. Ele queria acreditar, mas o medo de se decepcionar ou ser abandonado era maior.

— Eu... eu não sei se consigo prometer isso — confessou, quase num sussurro.

Gusta respirou fundo, passando a mão pelos cabelos de Niel. — Tudo bem. Então comece devagar. Só tente, um dia de cada vez.

Niel assentiu lentamente, mas Gusta percebeu que ele ainda estava fragilizado. Então, sem dizer mais nada, Gusta se levantou e foi até a cozinha.

— O que você está fazendo? — perguntou Niel, confuso, observando-o.

— Vou preparar alguma coisa pra gente comer. Você precisa se distrair um pouco — respondeu Gusta, enquanto abria os armários e começava a procurar algo simples para preparar.

Niel ficou sentado, observando Gusta com uma mistura de curiosidade e alívio. Ele ainda se sentia pesado, mas, por um momento, a presença de Gusta parecia aliviar parte da carga.

Enquanto Gusta cozinhava, ele falou casualmente:

— Você sabe que não pode carregar o mundo nas costas, né?

— Eu sei... mas às vezes parece que o mundo não me dá escolha — respondeu Niel, olhando para o chão.

— O mundo é um idiota, então ignore ele. Faça as coisas no seu tempo — disse Gusta, com um sorriso de canto.

A simplicidade da frase fez Niel soltar uma risada curta, quase involuntária.

— Você é muito direto, sabia?

— E você pensa demais — respondeu Gusta, rindo também.

Niel se levantou lentamente do sofá e foi até onde Gusta estava, mexendo na panela na cozinha. Ele parou ao lado dele, com os braços cruzados, observando-o por um momento antes de tomar coragem.

— Você está tão concentrado — disse Niel, com um tom levemente provocador, enquanto se aproximava mais.

Gusta virou-se para ele, levantando uma sobrancelha. — E você? Está melhor?

Em vez de responder diretamente, Niel colocou as mãos no balcão ao lado de Gusta, inclinando-se levemente, o rosto mais próximo do dele.

— Você sabe que eu posso te ajudar a relaxar... — murmurou Niel, o tom sugerindo algo mais.

Gusta piscou, claramente surpreso, e deu um passo para trás. — O que você está fazendo, Niel?

— Eu sei que você gosta disso — respondeu Niel, com um sorriso nervoso, enquanto tentava se aproximar novamente. — É o que você quer, não é?

Gusta levantou as mãos, segurando Niel pelos ombros para mantê-lo afastado, mas sem machucá-lo. Ele olhou diretamente nos olhos dele, o tom firme, mas sem agressividade.

— Niel, para. Você está confundindo as coisas.

— Mas... você gosta disso, não gosta? É isso que todo mundo quer de mim, não é? — disse Niel, com a voz trêmula, tentando esconder o desespero por trás de suas palavras.

Gusta balançou a cabeça, mantendo a calma. — Não. Eu gosto de você. Não pelo sexo, não por nada disso. Eu gosto de quem você é.

Niel ficou imóvel por um momento, as palavras de Gusta o atingindo profundamente. Ele desviou o olhar, envergonhado, e deu um passo para trás.

— Eu só... eu achei que era isso que você esperava... — murmurou Niel, quase num sussurro.

Gusta soltou os ombros de Niel e suspirou, aproximando-se com mais cuidado. Ele colocou a mão no rosto de Niel, fazendo com que ele o olhasse novamente.

— Eu espero que você confie em mim. Que você saiba que não precisa fazer isso pra que eu fique ao seu lado — disse Gusta, com sinceridade.

Niel sentiu os olhos encherem de lágrimas, mas tentou segurar. Ele assentiu levemente, ainda confuso e com vergonha de sua própria atitude.

— Eu sinto muito... — disse Niel, baixando a cabeça.

— Não precisa pedir desculpa. Só quero que você entenda que, comigo, você pode ser você mesmo. Nada mais. Isso já é suficiente pra mim — respondeu Gusta, com um pequeno sorriso, enquanto passava a mão pelos cabelos de Niel.

O silêncio que se seguiu foi cheio de significado. Niel sentia o peso de suas inseguranças, mas também percebeu, talvez pela primeira vez, que Gusta realmente se importava com ele de uma forma que ia além do superficial.

Depois de alguns minutos, Gusta terminou de preparar a comida e serviu Niel na pequena mesa da cozinha. Ele colocou o prato na frente dele e sentou-se ao lado, observando enquanto Niel começava a comer.

— E aí? Está bom? — perguntou Gusta, com um pequeno sorriso, tentando aliviar o clima.

Niel assentiu levemente, mastigando devagar. — Sim, está muito bom.

Gusta ficou em silêncio por alguns segundos, mas não conseguiu segurar a curiosidade por muito tempo.

— Niel, o que aconteceu hoje? Quero dizer, você estava... perdido quando eu te encontrei.

Niel parou de mastigar por um momento, olhando para o prato à sua frente. Ele pensou em responder, mas acabou apenas balançando a cabeça.

— Não quero falar sobre isso agora — murmurou, desviando o olhar.

Gusta inclinou-se levemente, tentando alcançar o olhar de Niel. — Tá tudo bem, eu só quero te ajudar. Você sabe que pode me contar qualquer coisa, né?

— Eu sei, mas... não agora, tá? — respondeu Niel, com a voz um pouco mais firme, mas ainda carregada de tristeza.

Gusta percebeu que insistir não adiantaria, então recostou-se na cadeira e suspirou.

— Tudo bem, não vou forçar. Mas saiba que eu estou aqui, ok?

Niel levantou os olhos brevemente, encontrando o olhar sincero de Gusta, antes de voltar a olhar para o prato.

— Obrigado — respondeu ele, com um pequeno sorriso que parecia forçado, mas Gusta sabia que era o melhor que conseguiria naquele momento.

O silêncio voltou a preencher o ambiente, mas dessa vez era um silêncio menos tenso. Gusta ficou ali, ao lado de Niel, respeitando o espaço dele, enquanto o garoto terminava a comida. Por mais que quisesse ajudar, ele entendia que Niel precisava do seu tempo.

Continua....

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Comments

yara vitória ~🏴‍☠️🏳️‍🌈

yara vitória ~🏴‍☠️🏳️‍🌈

cara não estou entendendo o primeiro capitulo não esta batendo com resto da historia !?

2025-01-15

1

Luck-adoro bl❤️🖤🌹

Luck-adoro bl❤️🖤🌹

diz isso o cara que falou que brinca com os ratos pra dps acabar com eles 😒

2024-12-31

1

Luck-adoro bl❤️🖤🌹

Luck-adoro bl❤️🖤🌹

coitado dele vei, o menino foi usado tanto que pegou até trauma já 😢😢😢

2024-12-31

1

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