Niel estava deitado ao lado de Deymon, o quarto mergulhado em silêncio. Ele olhava para o teto, tentando processar tudo o que tinha acabado de acontecer. Aos poucos, a adrenalina deu lugar a uma onda de confusão e arrependimento. Ele sentiu o peito apertar, e sua respiração começou a ficar mais pesada.
Deymon, percebendo a mudança, virou-se para ele.
— Niel, você está bem? — perguntou, com a voz calma.
Niel não respondeu de imediato. Ele se sentou na cama, passando as mãos pelo cabelo enquanto tentava organizar seus pensamentos. Mas nada fazia sentido. Tudo parecia uma grande loucura.
— Isso foi um erro... — murmurou ele, mais para si mesmo do que para Deymon.
— Um erro? — repetiu Deymon, confuso. Ele se sentou ao lado de Niel, tentando alcançar o olhar dele. — Do que você está falando?
Niel levantou-se abruptamente, começando a andar pelo quarto de um lado para o outro.
— Eu não deveria ter feito isso! — exclamou ele, a voz tremendo de nervosismo. — Eu... eu estava confuso, perdido, e você apareceu, e eu...
— Ei, calma. Foi consensual, não foi? — disse Deymon, tentando manter a calma enquanto via Niel começar a surtar.
— Isso não é sobre consentimento! — Niel gritou, interrompendo-o. Ele virou-se para Deymon, com lágrimas começando a se formar em seus olhos. — Eu te usei! Eu só queria... esquecer o que estava sentindo, e você estava lá!
Deymon ficou em silêncio por um momento, surpreso com a intensidade de Niel.
— Eu não me importo, Niel. De verdade, se isso te ajudou, então...
— NÃO! — Niel o interrompeu novamente. — Você deveria se importar! Isso não é justo com você!
Ele apontou para a porta, com as mãos tremendo.
— Vai embora. Agora. Por favor.
Deymon hesitou, claramente magoado, mas levantou-se lentamente, vestindo suas roupas.
— Niel, a gente pode conversar sobre isso...
— Não quero conversar! — disse Niel, sua voz falhando enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. — Só vai embora.
Deymon olhou para ele por um momento, tentando entender a dor que ele estava sentindo, mas percebeu que insistir só pioraria a situação. Ele balançou a cabeça em silêncio, pegou suas coisas e foi em direção à porta.
Antes de sair, ele olhou para Niel mais uma vez.
— Se você precisar de mim, sabe onde me encontrar.
Deymon saiu, fechando a porta atrás de si, deixando Niel sozinho no quarto. Assim que a porta se fechou, Niel caiu de joelhos no chão, os soluços finalmente escapando enquanto ele se abraçava, tentando lidar com a tempestade emocional dentro de si.
"O que eu fiz? Por que eu sou assim?" pensou ele, perdido em sua própria culpa e confusão.
Niel ficou ajoelhado no chão do quarto, os soluços ainda sacudindo seu corpo. Ele sentiu um peso enorme em seu peito, uma mistura de culpa, arrependimento e confusão. De repente, uma dor aguda começou a se espalhar pelo lado de seu tórax, exatamente onde o câncer havia retornado.
Ele levou a mão ao local, tentando massageá-lo, mas a dor só aumentava, como se estivesse sendo rasgado por dentro.
— Ah... — gemeu ele, franzindo o rosto enquanto caía de lado no chão.
A dor se intensificava a cada segundo, irradiando para suas costas e dificultando sua respiração. Niel começou a chorar, tentando suportar, mas os gemidos de dor saíam incontrolavelmente.
— Por favor... não agora... — murmurou ele, ofegante, tentando se levantar, mas suas pernas fraquejaram e ele caiu novamente no chão.
Cada movimento parecia piorar a dor, e Niel começou a respirar de forma rápida e irregular. Ele tentou alcançar seu celular, mas estava fora do seu alcance.
— Alguém... me ajuda... — sussurrou ele, as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto sentia o corpo perdendo forças.
Enquanto a dor se intensificava, Niel sentiu seu corpo enfraquecer ainda mais. Ele estava quase perdendo a consciência quando ouviu o som de passos apressados no corredor e a porta do quarto sendo aberta.
Sua visão estava embaçada, mas ele conseguiu distinguir uma figura entrando com uma sacola em mãos. Assim que a pessoa viu Niel caído no chão, soltou a sacola, fazendo os itens se espalharem pelo chão, e correu em sua direção.
— Niel! — gritou a pessoa, ajoelhando-se ao lado dele.
Ele sentiu mãos segurando-o com cuidado, tentando levantá-lo levemente.
— Niel, fala comigo! O que está acontecendo? Onde dói?
A voz parecia distante, como se viesse de outro lugar. Niel tentou falar, mas sua boca não conseguia formar palavras.
— Tó... tórax... — ele conseguiu sussurrar, antes de sua visão escurecer completamente e ele desmaiar nos braços daquela pessoa, deixando apenas o som abafado de sua respiração irregular como sinal de vida.
Niel abriu os olhos devagar, sua visão embaçada ajustando-se lentamente à luz suave ao seu redor. Ele sentiu uma brisa fresca e ouviu o som reconfortante de risadas e conversas ao longe. Quando finalmente conseguiu focar, ele viu algo que o deixou completamente confuso.
Ali, no quintal, estavam seus pais. Sua mãe usava o mesmo chapéu de palha que ele lembrava, plantando verduras no pequeno canteiro, enquanto seu pai a ajudava, rindo de algo que ela dizia. Ele olhou mais adiante e viu sua avó sentada na cadeira favorita dela, com um sorriso tranquilo, observando tudo.
Niel ficou em silêncio, olhando ao redor. O céu era limpo, o sol brilhava suavemente, e o som dos pássaros cantando preenchia o ar. Era como um sonho.
— O que está acontecendo...? — murmurou ele, ainda deitado na grama.
Ele se levantou devagar, sentindo seu coração acelerar. Era o mesmo quintal de sua infância, com todos os detalhes que ele achava que havia esquecido. Até o cheiro do lugar parecia o mesmo.
— Isso é... real? — perguntou para si mesmo, começando a caminhar em direção aos seus pais e sua avó.
Ele parou no meio do caminho, sentindo um nó na garganta. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.
— Mamãe... papai... vovó... — ele sussurrou, a voz embargada pela emoção.
Sua mãe virou-se para ele, sorrindo calorosamente, como se nada tivesse acontecido.
— Docinho, venha nos ajudar! Essas verduras não vão se plantar sozinhas — disse ela, com a voz doce que ele não ouvia há anos.
Niel ficou paralisado. Docinho. Era o apelido que ela usava para ele quando criança. Ele deu alguns passos hesitantes, mas parou novamente.
— Isso não pode ser real... — murmurou, olhando ao redor com olhos arregalados.
Ele se tocou no peito, onde a dor do câncer deveria estar, mas não sentiu nada. Então uma ideia o atingiu como um raio.
— Eu morri? — perguntou em voz alta, quase como se esperasse uma resposta.
Mas, olhando ao redor, ele percebeu que tudo estava exatamente como era quando ele tinha 11 anos. Não apenas o lugar, mas o clima, os sons, a paz.
— Eu... voltei no tempo? — ele murmurou, sua mente girando enquanto tentava compreender o que estava acontecendo.
Niel continuou parado, observando sua mãe no jardim. Ele deu alguns passos, hesitante, até se aproximar dela. A cada passo, a emoção crescia em seu peito. Quando finalmente chegou perto, sua mãe levantou o olhar e sorriu calorosamente.
— Docinho, você está tão quieto hoje. Sente-se aqui comigo um pouco — disse ela, limpando as mãos na saia e apontando para a grama ao lado dela.
Niel obedeceu, sentando-se ao lado da mãe. O som do vento passando pelas árvores e o calor suave do sol tornavam o momento ainda mais mágico.
— Mamãe... você pode me contar uma história? — pediu ele, sem saber ao certo por que fez essa pergunta, mas sentindo que precisava ouvir a voz dela mais uma vez.
A mãe dele riu baixinho, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Claro, meu docinho. Vou te contar a história do pássaro ferido — disse ela, com a voz doce e cheia de carinho.
Ela olhou para o horizonte por um momento antes de começar:
— Era uma vez um pequeno pássaro que caiu do ninho durante uma tempestade. Ele ficou sozinho e machucado, sem saber como voltar para casa. Muitos animais passaram por ele, mas ninguém parou para ajudá-lo. Ele chorou, achando que estava destinado a ficar sozinho para sempre.
Niel ouvia atentamente, suas lágrimas começando a se formar novamente.
— Mas então — continuou sua mãe — uma borboleta pousou ao lado do pássaro. Ela era pequena e não tinha forças para levantá-lo ou carregá-lo de volta ao ninho, mas ficou ali com ele, batendo suas asas suavemente para afastar o frio da noite.
Ela olhou para Niel e sorriu, os olhos brilhando.
— O pássaro percebeu que, mesmo não sendo forte, a borboleta estava fazendo tudo o que podia para ajudá-lo. E, naquele momento, ele se sentiu amado. Com o tempo, suas asas sararam, e ele voou de volta ao ninho, mas nunca esqueceu da borboleta que ficou com ele nos momentos mais difíceis.
Niel enxugou os olhos, tentando segurar o choro.
— Você entende o que essa história significa, docinho? — perguntou ela.
Niel balançou a cabeça, e sua mãe colocou a mão no rosto dele, acariciando-o com delicadeza.
— Não importa o quão perdido ou ferido você se sinta, sempre haverá alguém que ficará ao seu lado, mesmo que seja só para afastar o frio. Esse alguém não precisa ser perfeito, apenas precisa se importar com você de verdade.
Antes que Niel pudesse responder, seu pai se aproximou, sentando-se ao lado deles. Ele colocou a mão no ombro de Niel e disse:
— Sua mãe tem razão. E um dia, meu filho, você vai encontrar alguém que realmente vai te amar. Assim como eu amo sua mãe e ela me ama.
Niel olhou para os dois, sentindo o coração cheio de uma emoção que ele não conseguia explicar.
— Mas e se eu nunca encontrar alguém assim? — perguntou ele, quase num sussurro.
O pai sorriu, apertando o ombro de Niel levemente.
— Você vai encontrar. E sabe como eu sei? Porque você é especial, meu garoto. E pessoas especiais sempre atraem amor verdadeiro.
Niel ficou em silêncio, deixando as palavras dos pais ecoarem em sua mente. E ele falou para si mesmo- Gusta.
CONTINUA...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 63
Comments