0.7

Quando entrei na sala, todos já estavam em seus lugares, e a única cadeira disponível era ao lado de Gusta. Suspirei fundo, tentando ignorar o incômodo, e me sentei. Ele parecia indiferente à minha presença, focado no caderno à sua frente.

Durante a aula, não pude evitar dar algumas olhadas discretas para ele. Gusta tinha uma presença tão forte que era impossível ignorá-lo completamente. Mas quando me peguei encarando por muito tempo, ele se virou de repente, rápido como um raio, e sussurrou:

— Vai ficar me encarando a aula toda? Isso é meio constrangedor, sabia?

Fiquei surpreso com o tom direto e engasguei com a resposta. — Me... me desculpa, eu só queria...

Ele me interrompeu antes que eu pudesse terminar. — Não aceito suas desculpas. — Sua voz era fria, mas carregava algo mais que eu não conseguia identificar. — Me sinto um idiota por ter dormido na mesma cama que você.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se levantou bruscamente, derrubando a cadeira no processo. O som alto fez o professor parar a aula e todos os alunos virarem a cabeça para ver o que estava acontecendo.

— Aconteceu alguma coisa, Gusta? — perguntou o professor, com o tom de voz carregado de curiosidade e impaciência.

— Sim, aconteceu — respondeu Gusta, cruzando os braços. — Quero que esse garoto saia do meu lado.

O calor subiu imediatamente para o meu rosto. O constrangimento era insuportável, mas antes que o professor pudesse pressionar mais, me levantei apressadamente.

— Professor, eu tenho problema de vista. Não consigo enxergar de longe... — menti, tentando evitar mais confusão.

O professor assentiu, aliviado por uma solução simples. — É verdade, esqueci que você usa óculos. Troque de lugar com alguém mais perto.

Andei rapidamente até um aluno na frente, que concordou em trocar de lugar sem questionar. Assim que me sentei, senti todos os olhares da sala sobre mim, o que só aumentou meu constrangimento.

— Olá, eu sou Deymon. — Uma voz simpática ao meu lado interrompeu meus pensamentos. Olhei para o garoto que havia falado e, por um momento, fiquei sem palavras. Ele era lindo, com um sorriso caloroso que parecia iluminar o ambiente.

— Não se preocupe com os olhares. Todos aqui são assim — continuou ele, como se entendesse exatamente o que eu estava sentindo. — Prazer em te conhecer. Qual é o seu nome?

Por um momento, fiquei congelado, como se um deus estivesse ali na minha frente. Finalmente, consegui responder, com a voz ainda trêmula:

— Eu... eu sou Niel.

Deymon riu, um som suave e reconfortante. — Prazer, Niel. Tenho certeza de que seremos mais que amigos.

Niel saiu da sala de aula e caminhou direto para o refeitório. Ao chegar lá, observou a tabela de preços dos lanches e arregalou os olhos.

— Tá tudo caro demais... — murmurou, desanimado.

Ele deu uma olhada ao redor e viu Lia ao longe, acenando animadamente para ele. Sem ter outra opção, seguiu até a mesa dela e se sentou ao lado.

— Não vai comer nada, amigo? — perguntou ela, franzindo a testa.

— Não tô com fome hoje, tô de jejum — respondeu Niel, tentando parecer convincente.

Lia estreitou os olhos, claramente desconfiada. — Você está muito... muito estranho. Primeiro, fica doente, algo raro pra você. Entendo, saúde é complicado. Mas agora isso? Dizendo que não tá com fome depois de sempre me falar que não consegue ficar sem comer depois das aulas?

Ela fez uma pausa dramática. — E pra completar, Gusta tá te evitando depois de toda aquela história. Eu tenho uma teoria...

Niel a interrompeu antes que ela pudesse continuar. — Amiga, por favor, sem teorias hoje. Eu tô bem, só não quero comer.

Antes que Lia pudesse retrucar, Deymon apareceu ao lado da mesa, colocando uma maçã, um suco de caixinha e um hambúrguer bem na frente de Niel.

— Desculpa pela demora — disse ele com um sorriso, sentando-se ao lado de Niel.

Niel ficou confuso, olhando para a comida e depois para Deymon. Lia, por outro lado, arregalou os olhos, claramente encantada.

— Ah, você deve ser amigo do Niel — disse Deymon, estendendo a mão para Lia. — Eu sou Deymon, estamos na mesma sala. Muito bonito seu cabelo, aliás.

Lia passou a mão pelas olheiras e jogou o cabelo para trás, tentando parecer despreocupada. — Obrigada. Você... é solteiro?

— O quê? — perguntou Deymon, surpreso.

— Solteiro. Você é solteiro? — insistiu ela, com um sorriso provocador.

Deymon deu uma risadinha nervosa. — Bom, sim, sou solteiro.

Niel bufou, revirando os olhos. — Lá vai ela de novo.

Ele se levantou, pegando sua mochila. — Cuidado com as teorias dela, Deymon. Boa sorte.

Deymon parecia confuso, mas deu de ombros, enquanto Lia olhava para Niel indignada.

— Niel, o que foi isso? — perguntou ela, mas ele já estava saindo, rindo sozinho enquanto caminhava pelo corredor.

Lia balançou a cabeça, ainda perplexa. — Esse garoto... sempre tão estranho.

Deymon, por sua vez, apenas riu e voltou a comer, achando graça da dinâmica entre os dois amigos.

Enquanto Niel caminhava em direção à saída do refeitório, ainda rindo de sua interação com Lia e Deymon, a porta à sua frente se abriu bruscamente. Lá estava Gusta, entrando com seus amigos, a presença dele tão imponente quanto sempre. O grupo parou ao notar Niel, e Gusta imediatamente o encarou de cima a baixo, os olhos fixos nele como se analisasse cada detalhe.

— Você já almoçou, Niel? — perguntou Gusta, o tom casual, mas carregado de algo que Niel não conseguia identificar.

Surpreso com a pergunta, Niel gaguejou por um momento antes de recuperar o fôlego.

— Não é da sua conta. — Ele estreitou os olhos, tentando soar mais firme do que se sentia. — Por que está curioso? Não foi você quem disse que não queria a minha presença ao seu lado?

Ele deu um passo à frente, encarando Gusta de relance antes de desviar o olhar. — Agora, me dá licença. Eu tenho que ir.

Niel tentou passar por ele, mas antes que pudesse sair completamente, ouviu um dos amigos de Gusta comentar com um tom zombeteiro:

— Nossa, você tomou um fora, hein, Gusta?

O comentário foi o suficiente para congelar o ambiente. Gusta virou lentamente para o amigo, o olhar perigoso e a voz carregada de ameaça.

— Tá querendo morrer?

O amigo arregalou os olhos, levantando as mãos em sinal de rendição. — Me desculpa, cara! Foi só uma brincadeira!

O tom de voz de Gusta fez um arrepio percorrer a espinha de Niel. Sem querer se envolver em mais nenhum tipo de confusão, ele apressou os passos, sentindo o coração disparar enquanto se afastava.

— Isso não vai acabar bem... — murmurou para si mesmo, apertando o passo até desaparecer no corredor, longe da tensão que parecia crescer em torno de Gusta.

Algumas horas depois...

Niel caminhava pelos corredores da escola, tentando organizar seus pensamentos, quando, ao virar um canto, viu algo que o fez congelar no lugar. Lá estava Gusta, encostado na parede com uma garota, os dois claramente se beijando. O coração de Niel deu um salto, como se algo dentro dele tivesse quebrado. Ele não sabia exatamente por que aquilo o afetava tanto, mas o aperto em seu peito era inegável.

Antes que pudesse se virar e sair, Gusta notou sua presença. Os olhos de Gusta encontraram os de Niel, e, no mesmo instante, ele afastou a garota, murmurando algo para ela. Sem esperar para ver mais, Niel virou-se e começou a correr, o coração disparado.

Ele subiu as escadas que levavam ao terraço da escola, abriu a porta com força e se dirigiu até o parapeito, onde ficou olhando para o horizonte, tentando acalmar a mente. O vento frio batia em seu rosto, mas não conseguia esfriar o turbilhão de emoções que sentia.

A porta atrás dele se abriu com um rangido, e ele ouviu a voz familiar de Gusta.

— Eu posso explicar. Ela é só...

Niel levantou a mão para interrompê-lo, sem se virar. — Você não precisa esclarecer nada. É sua vida.

Gusta deu alguns passos à frente, sem tirar os olhos de Niel. — Então por que você correu?

— Eu fiquei nervoso, só isso — respondeu Niel, ainda sem encará-lo. — Não precisa esclarecer nada. Me deixa sozinho.

Gusta parou por um momento, mas então, com a voz firme, disse: — Não. Não vou te deixar sozinho.

Niel finalmente se virou para ele, os olhos marejados de lágrimas. — Por que não?

— Porque... você pretende pular, não é? — disse Gusta, com um tom mais suave, mas cheio de preocupação.

As palavras de Gusta atingiram Niel como um golpe, e ele não conseguiu conter as lágrimas que começaram a escorrer pelo rosto. Antes que pudesse responder, Gusta se aproximou e o puxou para um abraço apertado.

— Está tudo bem. Eu estou aqui — murmurou Gusta, segurando Niel como se ele pudesse desaparecer a qualquer momento.

Niel, ainda chorando, murmurou contra o peito de Gusta. — Então por que você estava beijando ela?

Gusta suspirou, mantendo os braços ao redor dele. — Ela me beijou primeiro. Aí você apareceu...

Niel afastou-se ligeiramente, apenas o suficiente para encará-lo. — Como eu vou acreditar em você depois do que vi?

Gusta olhou diretamente nos olhos de Niel, a expressão séria. — Você só precisa confiar em mim, Niel.

CONTÍNUA....

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Comments

Luck-adoro bl❤️🖤🌹

Luck-adoro bl❤️🖤🌹

oxi como ele soube? esse cara é vidente? (é ironia ok)

2024-12-31

1

Luck-adoro bl❤️🖤🌹

Luck-adoro bl❤️🖤🌹

vixi já vi que algo de errado vem por ai

2024-12-31

1

Bk Ms

Bk Ms

E nem e só uma vês que erram são várias veses

2025-01-06

0

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