0.11

Gusta se levantou da mesa e foi direto para a cama, jogando-se nela com um suspiro pesado. Enquanto isso, Niel juntava as embalagens e ia levando tudo para o lixo. Ao voltar, ele parou ao lado de Gusta, que permanecia deitado, olhando para o teto.

— Você não vai para casa? — perguntou Niel, quebrando o silêncio.

— Quem sabe, um dia, eu tenha a minha própria residência... — respondeu Gusta, com um tom enigmático.

Intrigado, Niel se sentou na beira da cama, olhando para ele. — Como assim?

Gusta suspirou profundamente antes de responder. — Meu pai...

Niel inclinou-se ligeiramente. — O que tem seu pai?

— É complicado. Ele quer que eu me torne o número um do país, assim como meu avô foi no passado. Meu pai não conseguiu alcançar o que chamam de "a chave do país", então ele espera que eu faça isso.

— A chave do país? — Niel franziu o cenho, confuso.

— Sim. É algo... complicado de explicar — disse Gusta, com um tom amargo. — Meu pai e os sócios dele estão criando toda uma estrutura para isso. Eu me sinto um fantoche no meio de tudo.

Niel ficou em silêncio por um momento, tentando digerir o que tinha acabado de ouvir. — Então a Lia estava certa...

Gusta ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Como assim? Ela já sabia?

— Na verdade, ela disse que era uma teoria — explicou Niel. — Ela comentou que seus amigos estavam com você para ajudar a concluir esse plano do seu pai. Isso está correto?

Gusta suspirou novamente, desviando o olhar. — Sim. Meu pai é o líder da maior organização, e os filhos dos outros líderes estão ao meu redor para garantir que tudo aconteça como ele planejou.

Niel o encarou com seriedade, hesitando antes de fazer a próxima pergunta. — E se seu pai não gostar que você está andando comigo?

Gusta virou-se para ele, o olhar mais intenso. — Por que está perguntando isso?

— Nada, só... curiosidade — respondeu Niel, desviando o olhar.

Gusta se inclinou ligeiramente, observando-o. — Mesmo que ele não aceite, vou continuar lutando por nós.

As palavras fizeram o coração de Niel disparar. Ele virou-se para Gusta, a voz baixa e hesitante:

— Até onde você iria... por mim?

Gusta se sentou, ficando na mesma altura que Niel. Ele colocou uma mão no rosto de Niel, segurando-o com firmeza, mas com delicadeza.

— Até o fim do mundo — disse Gusta, olhando profundamente nos olhos dele. — Eu prometo.

Gusta puxou Niel para um abraço apertado, sua respiração calma contrastando com o dia cheio de emoções. — Vamos dormir agora. Estou cansado — murmurou ele, com a voz baixa e levemente rouca.

Niel sorriu, ainda um pouco desconcertado. — Tá bom. Mas só dormir, ok?

— Vou tentar — respondeu Gusta, com um sorriso de canto, que fez Niel desviar o olhar levemente envergonhado.

Antes de se ajeitar na cama, Niel pegou o frasco de remédios ao lado e tomou uma dose. O movimento não passou despercebido por Gusta, que imediatamente franziu a testa.

— Pra que esse remédio? Achei que você já estava melhor.

— Não se preocupa. Foi o médico que mandou eu tomar — respondeu Niel, tentando soar casual, mas evitando o olhar de Gusta.

Gusta estreitou os olhos, claramente desconfiado. — Mas você está bem, certo?

Niel forçou um sorriso, querendo acabar com aquela conversa. — Sim, eu estou bem. Não se preocupe comigo.

Gusta ficou em silêncio por alguns segundos, mas acabou suspirando e assentindo. — Se você está dizendo, eu vou confiar em você.

Ele se aproximou mais de Niel, que já estava deitado, e o abraçou novamente, encostando a cabeça no ombro dele. Niel sentiu o calor de Gusta ao seu lado e tentou relaxar, mas sua mente não parava.

Olhando para o teto, ele pensou consigo mesmo: Será que devo contar a ele toda a verdade?

Por um momento, a ideia parecia tentadora. Talvez dividir o peso de tudo com alguém fosse um alívio. Mas então ele pensou na situação complicada de Gusta, nos problemas com o pai e na pressão que ele já enfrentava.

— Acho melhor não — murmurou para si mesmo, tão baixo que Gusta não ouviu.

Gusta, sem perceber os pensamentos que passavam pela mente de Niel, apertou o abraço um pouco mais e murmurou, quase sonolento: — Boa noite, Niel.

— Boa noite, Gusta — respondeu Niel, embora soubesse que seu coração e mente não teriam descanso tão cedo.

Pela manhã, Niel abriu os olhos devagar, sentindo a luz do sol que entrava pela janela. Ele se esticou, ainda meio sonolento, mas logo percebeu a ausência de Gusta ao seu lado na cama. Isso o fez despertar completamente.

Sentando-se, ele olhou ao redor, tentando entender o que havia acontecido. Foi então que notou a mesa próxima com algumas comidas cuidadosamente arrumadas. Levantou-se devagar e caminhou até lá. Ao lado dos alimentos, havia um bilhete dobrado. Ele o pegou e leu em silêncio:

"Tive que sair mais cedo, problemas familiares. Espero que entenda. Trouxe um café da manhã, se alimente direito antes de ir para a universidade. — Assinado, Gusta ♥."

Niel soltou um suspiro e um sorriso pequeno escapou de seus lábios. Ele passou os dedos pelo papel, sentindo o coração aquecer um pouco.

— Nossa, não precisava de tudo isso... — murmurou para si mesmo, ainda segurando o bilhete.

Ele se sentou na cadeira, olhando para a comida por um momento antes de começar a comer.

Niel deu um sorriso ao ver o que Gusta havia preparado para ele. Enquanto descia as escadas para sair de casa, ele parou ao avistar Gusta. Ele estava encostado em seu carro, segurando um cigarro e perdido em pensamentos, a fumaça subindo lentamente ao redor dele.

— Bom dia — disse Niel, se aproximando com um sorriso.

Gusta virou-se, olhando para ele, e respondeu:

— Bom dia. Desculpa não estar lá quando você acordou. Tive que resolver algumas coisas pessoais.

— Não tem problema — respondeu Niel, balançando a cabeça. — Primeiro sua família e sua vida.

Gusta ficou em silêncio por um momento, olhando para o bairro ao redor. Sua expressão parecia distante, quase melancólica.

— Esse lugar... — começou ele, como se estivesse pensando alto. — Mora muita gente que passa necessidade, não é?

Niel olhou para ele, depois para o bairro, antes de responder:

— Sim. Aqui é uma área cedida pela prefeitura para quem não tinha onde morar. Mas por que a pergunta?

Gusta pareceu voltar à realidade e deu de ombros. — Nada. Só estava pensando alto.

Ele apagou o cigarro e abriu a porta do carro. — Vamos, vou te levar hoje para a universidade.

— Sério mesmo? — perguntou Niel, surpreso e animado. — Esse é o seu carro? Que massa!

Os dois entraram no veículo, e Gusta começou a dirigir. Durante o caminho, o silêncio no carro foi quebrado por uma pergunta inesperada.

— Qual é o seu maior sonho? — perguntou Gusta, sem tirar os olhos da estrada.

Niel ficou pensativo por alguns segundos antes de responder:

— Eu nunca parei para ter um sonho. Na real, só quero trabalhar para viver, só isso.

Gusta franziu o cenho, claramente não satisfeito com a resposta.

— Como assim você não tem um sonho? — perguntou ele, incrédulo. — Você é um dos melhores alunos da universidade. Pode conseguir qualquer bolsa de estudo e só sonha em ser alguém normal?

— Eu não acho problema nenhum em ser alguém normal — respondeu Niel calmamente. — Cada pessoa tem um sonho, e esse é o meu. Quem sabe no futuro eu tenha outro. E o seu, qual é?

Gusta respirou fundo antes de responder:

— Meu sonho é ser tão grande que ninguém tenha o controle sobre mim.

Niel ficou surpreso com a resposta. — Qual é o sentido de ser grande?

— Assim, ninguém mais me usaria como um fantoche, brincando com os meus sentimentos — respondeu Gusta, com a voz mais séria do que antes.

Niel olhou para ele, tentando entender o peso daquelas palavras. — Então é por isso que você continua seguindo os planos do seu pai?

— Sim. — Gusta disse, após um breve silêncio. — Eu faria qualquer coisa para chegar lá.

— Até machucar as pessoas à sua volta para alcançar isso? — perguntou Niel, encarando-o.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Gusta não respondeu, mas o aperto em seu maxilar dizia mais do que ele admitiria em palavras.

— Ok, você não quer responder — concluiu Niel, desviando o olhar para a janela. — Entendi a resposta.

Continua...

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yara vitória ~🏴‍☠️🏳️‍🌈

yara vitória ~🏴‍☠️🏳️‍🌈

"até onde eu não sei mas sei que sem você eu não volto"/Awkward/

2025-01-15

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