Gusta se levantou da mesa e foi direto para a cama, jogando-se nela com um suspiro pesado. Enquanto isso, Niel juntava as embalagens e ia levando tudo para o lixo. Ao voltar, ele parou ao lado de Gusta, que permanecia deitado, olhando para o teto.
— Você não vai para casa? — perguntou Niel, quebrando o silêncio.
— Quem sabe, um dia, eu tenha a minha própria residência... — respondeu Gusta, com um tom enigmático.
Intrigado, Niel se sentou na beira da cama, olhando para ele. — Como assim?
Gusta suspirou profundamente antes de responder. — Meu pai...
Niel inclinou-se ligeiramente. — O que tem seu pai?
— É complicado. Ele quer que eu me torne o número um do país, assim como meu avô foi no passado. Meu pai não conseguiu alcançar o que chamam de "a chave do país", então ele espera que eu faça isso.
— A chave do país? — Niel franziu o cenho, confuso.
— Sim. É algo... complicado de explicar — disse Gusta, com um tom amargo. — Meu pai e os sócios dele estão criando toda uma estrutura para isso. Eu me sinto um fantoche no meio de tudo.
Niel ficou em silêncio por um momento, tentando digerir o que tinha acabado de ouvir. — Então a Lia estava certa...
Gusta ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Como assim? Ela já sabia?
— Na verdade, ela disse que era uma teoria — explicou Niel. — Ela comentou que seus amigos estavam com você para ajudar a concluir esse plano do seu pai. Isso está correto?
Gusta suspirou novamente, desviando o olhar. — Sim. Meu pai é o líder da maior organização, e os filhos dos outros líderes estão ao meu redor para garantir que tudo aconteça como ele planejou.
Niel o encarou com seriedade, hesitando antes de fazer a próxima pergunta. — E se seu pai não gostar que você está andando comigo?
Gusta virou-se para ele, o olhar mais intenso. — Por que está perguntando isso?
— Nada, só... curiosidade — respondeu Niel, desviando o olhar.
Gusta se inclinou ligeiramente, observando-o. — Mesmo que ele não aceite, vou continuar lutando por nós.
As palavras fizeram o coração de Niel disparar. Ele virou-se para Gusta, a voz baixa e hesitante:
— Até onde você iria... por mim?
Gusta se sentou, ficando na mesma altura que Niel. Ele colocou uma mão no rosto de Niel, segurando-o com firmeza, mas com delicadeza.
— Até o fim do mundo — disse Gusta, olhando profundamente nos olhos dele. — Eu prometo.
Gusta puxou Niel para um abraço apertado, sua respiração calma contrastando com o dia cheio de emoções. — Vamos dormir agora. Estou cansado — murmurou ele, com a voz baixa e levemente rouca.
Niel sorriu, ainda um pouco desconcertado. — Tá bom. Mas só dormir, ok?
— Vou tentar — respondeu Gusta, com um sorriso de canto, que fez Niel desviar o olhar levemente envergonhado.
Antes de se ajeitar na cama, Niel pegou o frasco de remédios ao lado e tomou uma dose. O movimento não passou despercebido por Gusta, que imediatamente franziu a testa.
— Pra que esse remédio? Achei que você já estava melhor.
— Não se preocupa. Foi o médico que mandou eu tomar — respondeu Niel, tentando soar casual, mas evitando o olhar de Gusta.
Gusta estreitou os olhos, claramente desconfiado. — Mas você está bem, certo?
Niel forçou um sorriso, querendo acabar com aquela conversa. — Sim, eu estou bem. Não se preocupe comigo.
Gusta ficou em silêncio por alguns segundos, mas acabou suspirando e assentindo. — Se você está dizendo, eu vou confiar em você.
Ele se aproximou mais de Niel, que já estava deitado, e o abraçou novamente, encostando a cabeça no ombro dele. Niel sentiu o calor de Gusta ao seu lado e tentou relaxar, mas sua mente não parava.
Olhando para o teto, ele pensou consigo mesmo: Será que devo contar a ele toda a verdade?
Por um momento, a ideia parecia tentadora. Talvez dividir o peso de tudo com alguém fosse um alívio. Mas então ele pensou na situação complicada de Gusta, nos problemas com o pai e na pressão que ele já enfrentava.
— Acho melhor não — murmurou para si mesmo, tão baixo que Gusta não ouviu.
Gusta, sem perceber os pensamentos que passavam pela mente de Niel, apertou o abraço um pouco mais e murmurou, quase sonolento: — Boa noite, Niel.
— Boa noite, Gusta — respondeu Niel, embora soubesse que seu coração e mente não teriam descanso tão cedo.
Pela manhã, Niel abriu os olhos devagar, sentindo a luz do sol que entrava pela janela. Ele se esticou, ainda meio sonolento, mas logo percebeu a ausência de Gusta ao seu lado na cama. Isso o fez despertar completamente.
Sentando-se, ele olhou ao redor, tentando entender o que havia acontecido. Foi então que notou a mesa próxima com algumas comidas cuidadosamente arrumadas. Levantou-se devagar e caminhou até lá. Ao lado dos alimentos, havia um bilhete dobrado. Ele o pegou e leu em silêncio:
"Tive que sair mais cedo, problemas familiares. Espero que entenda. Trouxe um café da manhã, se alimente direito antes de ir para a universidade. — Assinado, Gusta ♥."
Niel soltou um suspiro e um sorriso pequeno escapou de seus lábios. Ele passou os dedos pelo papel, sentindo o coração aquecer um pouco.
— Nossa, não precisava de tudo isso... — murmurou para si mesmo, ainda segurando o bilhete.
Ele se sentou na cadeira, olhando para a comida por um momento antes de começar a comer.
Niel deu um sorriso ao ver o que Gusta havia preparado para ele. Enquanto descia as escadas para sair de casa, ele parou ao avistar Gusta. Ele estava encostado em seu carro, segurando um cigarro e perdido em pensamentos, a fumaça subindo lentamente ao redor dele.
— Bom dia — disse Niel, se aproximando com um sorriso.
Gusta virou-se, olhando para ele, e respondeu:
— Bom dia. Desculpa não estar lá quando você acordou. Tive que resolver algumas coisas pessoais.
— Não tem problema — respondeu Niel, balançando a cabeça. — Primeiro sua família e sua vida.
Gusta ficou em silêncio por um momento, olhando para o bairro ao redor. Sua expressão parecia distante, quase melancólica.
— Esse lugar... — começou ele, como se estivesse pensando alto. — Mora muita gente que passa necessidade, não é?
Niel olhou para ele, depois para o bairro, antes de responder:
— Sim. Aqui é uma área cedida pela prefeitura para quem não tinha onde morar. Mas por que a pergunta?
Gusta pareceu voltar à realidade e deu de ombros. — Nada. Só estava pensando alto.
Ele apagou o cigarro e abriu a porta do carro. — Vamos, vou te levar hoje para a universidade.
— Sério mesmo? — perguntou Niel, surpreso e animado. — Esse é o seu carro? Que massa!
Os dois entraram no veículo, e Gusta começou a dirigir. Durante o caminho, o silêncio no carro foi quebrado por uma pergunta inesperada.
— Qual é o seu maior sonho? — perguntou Gusta, sem tirar os olhos da estrada.
Niel ficou pensativo por alguns segundos antes de responder:
— Eu nunca parei para ter um sonho. Na real, só quero trabalhar para viver, só isso.
Gusta franziu o cenho, claramente não satisfeito com a resposta.
— Como assim você não tem um sonho? — perguntou ele, incrédulo. — Você é um dos melhores alunos da universidade. Pode conseguir qualquer bolsa de estudo e só sonha em ser alguém normal?
— Eu não acho problema nenhum em ser alguém normal — respondeu Niel calmamente. — Cada pessoa tem um sonho, e esse é o meu. Quem sabe no futuro eu tenha outro. E o seu, qual é?
Gusta respirou fundo antes de responder:
— Meu sonho é ser tão grande que ninguém tenha o controle sobre mim.
Niel ficou surpreso com a resposta. — Qual é o sentido de ser grande?
— Assim, ninguém mais me usaria como um fantoche, brincando com os meus sentimentos — respondeu Gusta, com a voz mais séria do que antes.
Niel olhou para ele, tentando entender o peso daquelas palavras. — Então é por isso que você continua seguindo os planos do seu pai?
— Sim. — Gusta disse, após um breve silêncio. — Eu faria qualquer coisa para chegar lá.
— Até machucar as pessoas à sua volta para alcançar isso? — perguntou Niel, encarando-o.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Gusta não respondeu, mas o aperto em seu maxilar dizia mais do que ele admitiria em palavras.
— Ok, você não quer responder — concluiu Niel, desviando o olhar para a janela. — Entendi a resposta.
Continua...
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Atualizado até capítulo 63
Comments
yara vitória ~🏴☠️🏳️🌈
"até onde eu não sei mas sei que sem você eu não volto"/Awkward/
2025-01-15
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