0.17

Niel abriu os olhos lentamente, sua visão ajustando-se ao brilho suave da luz do quarto. O som rítmico dos aparelhos ao seu redor era a primeira coisa que ele percebeu, junto com a sensação de algo em seu braço — provavelmente um soro. Ele piscou algumas vezes, tentando entender onde estava, até que notou o teto branco e estéril.

Ele virou a cabeça devagar, ainda sentindo um peso em seu corpo. Do lado esquerdo, viu Gusta, sentado no sofá do quarto. Ele estava dormindo, com a cabeça inclinada para o lado e os braços cruzados, como se tivesse passado a noite inteira ali.

Niel ficou observando Gusta por alguns instantes, sentindo um misto de surpresa e alívio. Apesar de tudo, Gusta estava ali.

Desviando o olhar, ele percebeu algo à sua frente que chamou sua atenção. Uma grande janela de vidro ocupava boa parte da parede do quarto, oferecendo uma vista espetacular da cidade. As luzes dos prédios e das ruas brilhavam como estrelas, criando uma visão quase surreal.

Ele ficou ali, olhando para a cidade, enquanto sua mente começava a processar tudo o que havia acontecido. A dor no peito, a visão de sua família no quintal, e agora, o hospital. Tudo parecia confuso, como se ele estivesse preso entre o passado e o presente.

Seus pensamentos foram interrompidos por um movimento no sofá. Gusta se mexeu, murmurando algo enquanto abria os olhos lentamente. Ele piscou algumas vezes antes de perceber que Niel estava acordado.

— Niel... — disse Gusta, levantando-se rapidamente e indo até a cama. — Você está bem? Como está se sentindo?

Niel tentou sorrir, mas estava exausto. — Eu estou... aqui, acho que isso já é alguma coisa.

Gusta suspirou, aliviado, e segurou a mão de Niel. — Você desmaiou em casa. Eu te trouxe para o hospital. Eles disseram que foi sério.

Niel olhou novamente para a janela, tentando organizar seus pensamentos. Ele ainda estava absorvendo o fato de estar vivo, e agora, com Gusta ao seu lado, sentia uma mistura de gratidão e vulnerabilidade que ele não sabia como expressar.

— Obrigado, Gusta... por não me deixar sozinho — sussurrou Niel, sentindo seus olhos começarem a marejar novamente.

Gusta apertou a mão dele suavemente e respondeu:

— Eu nunca vou te deixar, Niel. Nunca.

Gusta segurou a mão de Niel, observando-o atentamente antes de falar, com a voz calma, mas firme:

— Niel, você precisa descansar. Sua cirurgia foi há poucas semanas, e seu corpo ainda está cicatrizando.

As palavras de Gusta caíram como um raio na mente de Niel. Ele franziu o cenho, confuso, e tentou se sentar, mas uma dor no tórax o fez recuar imediatamente.

— Cirurgia? — perguntou Niel, a voz fraca e trêmula. — Do que você está falando?

Gusta suspirou, puxando uma cadeira para se sentar ao lado da cama. Ele passou a mão pelos cabelos, parecendo preocupado.

— Você desmaiou em casa, lembra? Quando te levei para o hospital, descobriram que o câncer tinha se espalhado mais do que você imaginava. Os médicos disseram que a cirurgia era urgente... então eles operaram.

Niel piscou, tentando processar a informação. Ele olhou para o teto novamente, tentando juntar as peças.

— Quanto tempo... eu fiquei desacordado? — perguntou, com a voz quase num sussurro.

Gusta hesitou por um momento antes de responder.

— Quase três semanas. Você esteve em observação o tempo todo. Os médicos disseram que foi por pouco.

O choque percorreu o corpo de Niel. Ele olhou para o próprio tórax, tocando de leve o local onde agora sabia que havia sido operado. A cicatriz ainda doía, mas não tanto quanto a realidade do que tinha acontecido.

— Eu... quase morri? — perguntou ele, a voz embargada.

Gusta assentiu lentamente, segurando novamente a mão de Niel.

— Sim. Mas você não morreu, e isso é o que importa agora.

Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Niel, uma mistura de alívio e desespero.

— Três semanas... Eu perdi três semanas da minha vida...

— Não pense assim, Niel — disse Gusta, com um tom firme, mas reconfortante. — Você está aqui. E agora tem uma chance de lutar, de se recuperar. Isso é o que importa.

Niel olhou para Gusta, ainda tentando processar tudo.

— Você esteve aqui o tempo todo? — perguntou ele, a voz carregada de emoção.

Gusta deu um pequeno sorriso, apertando a mão de Niel.

— Não saí do seu lado um segundo. Porque eu prometi que nunca vou te deixar, lembra?

Niel olhou ao redor do quarto novamente, notando os detalhes luxuosos: o grande vidro que exibia a cidade, os móveis modernos, e a sensação de conforto incomum para um hospital. Ele respirou fundo, sua mente ainda tentando processar tudo o que havia acontecido.

— Gusta... e o preço disso tudo? A cirurgia, os dias aqui no hospital... — começou ele, com a voz hesitante.

Gusta sorriu de canto, parecendo quase divertido pela pergunta. Ele cruzou os braços e respondeu calmamente:

— Não precisa se preocupar com isso. O hospital é do meu pai. Então, tecnicamente, é meu também.

Niel arregalou os olhos, surpreso. Ele olhou para os detalhes ao redor novamente, finalmente compreendendo o motivo do luxo.

— Esse... é o hospital da sua família? — perguntou ele.

— Sim — respondeu Gusta, dando de ombros. — E esse aqui é o quarto de recuperação que minha família usa quando precisa.

Niel piscou algumas vezes, incrédulo. Ele olhou novamente para o vidro, admirando a vista, antes de murmurar:

— Por isso é tão lindo.

Ele voltou sua atenção para Gusta, sentindo o peso da dívida que achava que tinha.

— Mas eu ainda quero pagar por isso. Cada centavo. A cirurgia, os dias aqui, tudo. Eu não posso aceitar algo tão grande assim de graça.

Gusta levantou uma sobrancelha, aproximando-se de Niel e colocando uma mão gentilmente no ombro dele.

— Niel, escuta. Eu não fiz isso porque você me deve algo. Fiz porque eu amo você.

As palavras de Gusta foram ditas com tanta sinceridade que fizeram Niel engolir em seco. Ele ficou em silêncio, encarando Gusta, como se tentasse absorver o significado completo do que ele acabara de dizer.

— Você... me ama? — perguntou Niel, a voz quase um sussurro.

— Sim, amo — respondeu Gusta, sem hesitação. — E quando você ama alguém, você faz tudo o que está ao seu alcance para cuidar dessa pessoa.

Niel desviou o olhar, lágrimas novamente enchendo seus olhos.

— Eu não sei se mereço isso... — murmurou ele.

Gusta segurou o rosto de Niel com ambas as mãos, fazendo-o olhar diretamente em seus olhos.

— Você merece tudo isso e muito mais, Niel. E eu vou provar isso pra você, todos os dias, até você acreditar.

— Então... se você disse que vai cuidar de tudo, isso significa que eu posso comer qualquer coisa que eu quiser? E você vai pagar?

Gusta riu baixinho, cruzando os braços.

— Sim, pode comer o que quiser.

Niel arqueou uma sobrancelha, como se testasse a promessa.

— E você não vai jogar isso na minha cara depois, né?

Gusta deu um sorriso largo e levantou o dedinho.

— Eu prometo, com o dedinho e tudo.

Niel olhou para ele por um segundo e depois soltou uma risada. Aquele gesto infantil vindo de Gusta parecia tão fora de lugar, mas ao mesmo tempo tão genuíno, que ele não conseguiu segurar.

Gusta ficou visivelmente envergonhado, desviando o olhar enquanto coçava a nuca.

— O que foi? — perguntou Niel, ainda rindo.

Gusta olhou para ele novamente, com um pequeno sorriso, mas o rosto levemente corado.

— Eu nunca tinha visto você sorrir assim antes. É... muito fofo.

Niel parou por um momento, surpreso pela sinceridade de Gusta, e depois abaixou a cabeça, tentando esconder o próprio rubor.

— Para com isso... — murmurou Niel, mas o sorriso ainda estava em seu rosto.

CONTINUA...

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