Os dias em casa foram longos e silenciosos para Niel. O hematoma finalmente começava a desaparecer, a febre já havia sumido há dias, e ele se sentia fisicamente melhor. No entanto, algo ainda pesava em seu peito. Sentado na beira da cama, ele passou os dedos pelo curativo e suspirou fundo, pensando em Gusta.
— Acho que peguei pesado com ele... — murmurou para si mesmo, a voz baixa. — Ele só estava preocupado comigo. Talvez quando eu voltar para a escola, eu deva pedir desculpas por aquele dia.
O som repentino de batidas na porta interrompeu seus pensamentos. Niel se levantou apressado, seu coração disparando. Por um momento, uma fagulha de esperança brilhou em sua mente. *Será que é ele?*
Mas quando abriu a porta, a realidade bateu forte. Três homens altos, vestidos de preto e com expressões assustadoras, estavam parados à sua frente.
— Quem são vocês? — perguntou Niel, o corpo ficando rígido e os dedos agarrando o batente da porta.
Os homens entraram sem cerimônia, ignorando a pergunta e fechando a porta atrás deles. O silêncio pesado no pequeno quarto fazia o ar parecer mais denso. Um dos homens, com uma voz grave e ameaçadora, falou:
— Garoto, você é filho do Sr. Naul?
Niel franziu o cenho, sentindo o estômago revirar. — Sim... Por que estão perguntando sobre meu pai?
O homem à frente deu uma risada baixa e debochada. — Então, finalmente te encontramos. Seu pai deixou uma dívida... e você vai ser o responsável por ela a partir de hoje.
Niel sentiu o chão desaparecer sob seus pés. — Não, não! Eu já estou pagando a dívida! — ele exclamou, tentando manter a calma. — Eu mando dinheiro todos os meses para a conta de vocês!
Outro dos homens riu, o som cruel ecoando pelo cômodo. — Garoto, aquele dinheiro mal cobre os juros que estão acumulando.
— Como assim? — Niel perguntou, a voz falhando, os olhos arregalados de choque. — Vocês estão me roubando!
O homem que liderava o grupo parou de rir no mesmo instante. Com um olhar furioso, ele se aproximou e deu um tapa forte no rosto de Niel, fazendo-o virar o rosto com o impacto.
— Não me chame de ladrão! — o homem rosnou. — Estou apenas cobrando o que é meu por direito.
Niel levou a mão ao rosto, sentindo a pele queimar e as lágrimas começarem a se acumular nos olhos. O homem então se levantou e começou a caminhar até a porta, mas parou para deixar uma última ameaça.
— Quero dois mil todo mês. Incluindo os juros. Se não pagar... você vai sofrer as consequências.
— Senhor, por favor... — Niel implorou, a voz trêmula. — Abaixa um pouco esse valor. Eu não ganho o suficiente pra pagar isso.
O homem riu de novo, um som seco e cruel. — Isso não é problema meu. Se vira pra pagar. Se não... vai ter que pagar de outra forma.
As palavras dele fizeram o sangue de Niel gelar. — Que outra forma? — perguntou com a voz quase inaudível.
O homem sorriu de canto, cruelmente, e respondeu:
— Você vai descobrir... se não pagar o valor exato.
Com isso, os três homens saíram, deixando a porta aberta e um silêncio mortal na casa. Niel ficou ali parado, o rosto ainda ardendo do tapa, lágrimas quentes escorrendo lentamente por suas bochechas.
Ele desabou no meio do quarto, os joelhos fracos demais para suportar seu peso. As palavras do homem ecoavam em sua mente, misturadas com uma voz mais sombria, uma voz interior que o atormentava há algum tempo.
— Tudo isso acaba se você morrer... — murmurou a voz em sua cabeça. — Já está na hora de dar um basta nesse sofrimento.
Por um momento, Niel concordou. O cansaço, a dor, a solidão... tudo parecia insuportável. Ele pensou em como seria fácil desaparecer, escapar desse ciclo sem fim.
Mas então ele olhou ao redor de sua casa, por menor e mais vazia que fosse, e percebeu que ainda existia algo dentro dele que não queria desistir. As lágrimas continuaram caindo, pesadas, enquanto ele se encolhia no chão, soluçando em silêncio.
— Eu só queria uma vida normal... — sussurrou, abraçando os próprios joelhos.
O início da nova semana trouxe um peso ainda maior para Niel. Caminhando em direção ao ponto de ônibus, ele não conseguia parar de pensar em como iria pagar a dívida que agora o pressionava mais do que nunca. O valor era absurdo, mas ele sabia que precisava encontrar uma solução. Enquanto refletia, algo chamou sua atenção: um cartaz preso na vitrine de uma loja de conveniência.
"Estamos contratando. Horário: 13h às 23h. Salário: R$ 2.500,00."
Niel parou imediatamente. Aquilo parecia uma oportunidade perfeita. Ele entrou na loja com determinação, olhando ao redor até avistar um senhor de idade atrás do balcão, atendendo os clientes. Era evidente que ele tinha dificuldade para enxergar, pois se aproximava muito dos produtos ao registrá-los.
Niel esperou pacientemente que ele terminasse de atender todos os clientes. Assim que o último saiu, o senhor olhou para ele e perguntou com um tom direto:
— E você, garoto? Vai comprar alguma coisa?
Niel respirou fundo e respondeu:
— Não, senhor. Eu estou aqui por causa do emprego.
O homem o analisou de cima a baixo, estreitando os olhos.
— Você é muito pequeno para o trabalho. Quantos anos você tem? Parece um adolescente.
Niel, já acostumado com esses comentários, tirou a identidade do bolso e mostrou ao senhor.
— Tenho 19 anos. Pode conferir.
O senhor pegou a identidade e a examinou de perto, confirmando a informação. Ele soltou um suspiro e devolveu o documento.
— Certo. Está contratado. Você começa amanhã.
O sorriso no rosto de Niel era impossível de conter. Ele agradeceu várias vezes antes de sair da loja, o coração batendo forte de alívio e felicidade. Finalmente, algo estava começando a dar certo.
Caminhando até o ponto de ônibus, ele se sentia mais leve do que nos últimos dias. Ao embarcar no ônibus e se sentar em um dos bancos, olhou pela janela e sussurrou para si mesmo:
— Agora é hora de estudar muito. Preciso ser o melhor na universidade para conseguir a faculdade de medicina veterinária.
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios enquanto pensava nos desafios que viriam, mas, pela primeira vez em muito tempo, sentia que poderia enfrentá-los.
— Agora tudo vai dar certo — disse com confiança. — Só preciso me esforçar mais um pouco.
A entrada do colégio estava movimentada como sempre, cheia de alunos correndo para suas aulas ou conversando em pequenos grupos. Niel caminhava calmamente, ainda perdido em seus pensamentos sobre o novo emprego e as dívidas, quando avistou sua amiga Lia ao longe. Ela o viu quase no mesmo instante e, sem hesitar, atravessou a multidão correndo em sua direção.
— Amigoooor! Quanto tempo! Estava morrendo de saudades! — exclamou, praticamente se jogando para abraçá-lo.
Niel revirou os olhos, embora estivesse sorrindo. — Não precisa de tanto drama, Lia. Não estamos em uma cena de filme.
Ela deu um tapa leve no ombro dele e riu. — Não posso expressar meus sentimentos? Você sumiu!
Niel sorriu, mas seu olhar logo se fixou em algo à frente. Lá estava Gusta, parado com os braços cruzados, olhando diretamente para ele. A expressão no rosto de Gusta era indecifrável, e isso só deixava Niel mais inquieto.
Antes que pudesse dizer algo, Gusta se virou e começou a andar, seguido por um grupo de garotos que o cercava como uma espécie de guarda pessoal.
— Quem são aqueles com ele? — Niel perguntou, apontando discretamente para o grupo.
Lia suspirou, abaixando um pouco a voz. — Eles são meio que guarda-costas dele, mas também filhos de outros mafiosos. Pelo que ouvi, os mafiosos têm um "cabeça" que está acima deles, e o Gusta... bom, ele é o futuro cabeça desta cidade.
Niel franziu o cenho, olhando de volta para Gusta. — Ele?
— Sim — confirmou Lia. — E aqueles caras que andam com ele? Pelo que fiquei sabendo, eles estão cursando áreas diferentes para conseguir bolsas de estudo em várias profissões. Minha teoria é que eles estão se preparando para controlar o país no futuro.
Niel bufou, descrente. — Impossível. Estudando aqui? Isso não faz sentido.
Lia o encarou com seriedade. — Aqui é só uma fachada para enganar a sociedade. Eu quero estar bem longe deles, e você deveria fazer o mesmo. Se o Gusta ficar pegando no seu pé, faz tudo o que puder para não acabar como um deles. Eles são criminosos, Niel.
Niel permaneceu em silêncio por um momento, digerindo as palavras dela. Ele sabia que Lia tinha razão em parte, mas algo dentro dele não conseguia ignorar o fato de que, apesar de tudo, Gusta tinha mostrado um lado que não parecia tão cruel quanto Lia pintava.
— Me espera, eu ainda não acabei! — disse Lia, correndo atrás dele quando ele começou a caminhar em direção à entrada.
— Já chega de teorias por hoje, Lia — disse Niel, rindo levemente.
— Por que está rindo? — ela perguntou, franzindo a testa.
Ele olhou para ela com um sorriso sincero. — Estava com saudades das suas teorias, amiga. Ficar em casa sozinho e doente é muito ruim.
Lia sorriu de volta, batendo de leve no braço dele. — Que bom que você voltou, Niel. Agora vamos, antes que o Gusta perceba que estamos falando dele.
Niel riu e balançou a cabeça, mas, no fundo, sabia que Gusta já sabia — como sempre parecia saber de tudo.
CONTINUA...
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Luck-adoro bl❤️🖤🌹
a vc acha que pegou pesado? 😒
2024-12-31
2
Erica Jesus
eu não pedir. o Gusta invadiu o espaço do Niel, abusando psicologicamente desde o início, o coitado não fez nada de errado
2025-01-25
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