O silêncio no banheiro parecia mais pesado do que nunca, quebrado apenas pela respiração acelerada de Niel. Ele estava encostado na porta, com Gusta a centímetros de distância, a presença imponente dele tomando todo o espaço ao redor. O olhar de Gusta era intenso, quase predatório, e fazia o coração de Niel bater tão rápido que ele temia que fosse ouvido.
— Por favor, me deixa ir embora — Niel pediu, a voz quase falhando enquanto seus olhos encontravam os de Gusta, que brilhavam com algo entre diversão e malícia.
Gusta soltou um sorriso torto, um canto da boca levantando de forma provocativa. — Vou ser direto, garoto... você faz meu tipo. — Aquelas palavras caíram como uma sentença no ar.
Niel engoliu em seco, o calor subindo por seu rosto, mas ele não conseguia desviar o olhar.
— Durante a aula, você não conseguiu esconder — Gusta continuou, a voz baixa e arrastada, como se saboreasse cada palavra. — Me encarando como se eu fosse comida. Me olhando com os olhos de um leão faminto.
Antes que Niel pudesse negar, Gusta se aproximou ainda mais, suas mãos firmes segurando o pescoço de Niel, não com força, mas com uma autoridade que o deixou paralisado. O toque era quente, quase queimava, e a proximidade fez com que Niel sentisse a respiração de Gusta contra sua pele.
— Eu imaginei que essa universidade seria um tédio — Gusta murmurou, os lábios tão próximos do pescoço de Niel que ele podia sentir cada palavra ressoar contra sua pele. — Mas acho que estou enganado. Parece que encontrei alguém interessante para passar o tempo.
Aquelas palavras carregavam um peso perigoso, como uma promessa que Niel não sabia se queria aceitar ou recusar. Ele tentou falar, mas sua voz não saiu. Estava preso entre o medo e a atração irresistível que emanava de Gusta.
O sorriso de Gusta se alargou, e ele recuou um pouco, apenas o suficiente para observar o rosto de Niel, que estava completamente vermelho, o olhar perdido entre o desconcerto e a confusão.
— Então, o que vai ser? — Gusta perguntou, a voz baixa, quase um desafio.
Niel, ainda vermelho de constrangimento, tentou empurrar Gusta, mas foi como empurrar uma parede. O corpo dele era firme, inabalável, como se nem tivesse sentido o impacto. Niel bufou, o rosto ardendo de frustração e vergonha.
— Você por acaso é uma barra de ferro? — disparou, cruzando os braços, irritado.
Gusta soltou uma risada baixa, divertida, o que só deixou Niel mais nervoso. Então, em um ato de puro instinto, ele ergueu a perna e acertou um chute certeiro nas partes baixas de Gusta.
O impacto fez Gusta soltar um grunhido, curvando-se levemente para frente. Aproveitando a brecha, Niel passou rápido por ele e correu em direção à porta.
— Isso é pra você aprender! — gritou, já segurando a maçaneta.
Antes de sair, ele olhou para trás, mostrando a língua e fazendo uma careta debochada. Então disparou corredor afora, o coração ainda martelando no peito, mas agora com uma pitada de orgulho pela escapada.
Do lado de dentro, Gusta se apoiou na pia, respirando fundo enquanto se endireitava. Apesar do golpe, um sorriso torto se formou em seus lábios.
— Nossa... depois de bater aqui embaixo, ele ainda reage e faz graça. — Ele riu baixinho, ajeitando o casaco enquanto olhava para a porta por onde Niel tinha saído. — Esse garoto é mais interessante do que eu pensava.
O refeitório estava cheio, o som de vozes e risadas ecoando pelo grande salão. Niel entrou apressado, ainda ofegante e com as bochechas coradas pela corrida. Ele avistou Lia sentada em uma das mesas e foi direto até ela, praticamente jogando a mochila no chão ao seu lado.
— Amiga, tem um babaca sem noção querendo... — começou, ainda tentando recuperar o fôlego.
Lia ergueu as sobrancelhas, já intrigada. — Como assim tem alguém afim de você? Logo você? — disse, com um tom de surpresa exagerado que fez Niel revirar os olhos.
— Não é isso! — tentou interromper, mas ela continuou.
— Apesar de você ser fofo... — Ela o olhou de cima a baixo, analisando como se estivesse confirmando algo. — E bem menor que eu. E olha que eu só tenho 1,55.
Niel bufou, cruzando os braços, enquanto tentava disfarçar a vergonha. — Não é isso, Lia! Ele não tá "afim" de mim, tá? Ele é um completo idiota que não sabe respeitar o espaço dos outros!
Lia apoiou o queixo nas mãos, um sorriso malicioso se formando. — Hum, claro... — disse, arrastando as palavras. — Mas ele é bonito, não é? Porque, pelo jeito que você está todo vermelho, tenho minhas dúvidas sobre quem não está respeitando o espaço de quem.
— Não começa! — Niel exclamou, pegando um pão do prato dela para abafar o desconforto. — Você não tem ideia do que aconteceu.
— Então me conta logo, baixinho — respondeu Lia, rindo. — Quem é esse cara que deixou você tão nervoso?
Niel apontou discretamente para a entrada do refeitório, onde Gusta acabava de entrar com aquele andar confiante e despreocupado que parecia atrair todos os olhares ao redor.
— É aquele garoto ali... — murmurou, tentando manter a voz baixa.
Lia virou-se para olhar e, ao reconhecer quem era, ficou boquiaberta.
— Como assim, é ele? — Ela se inclinou na direção de Niel, o tom repleto de incredulidade. — Você realmente não sabe quem ele é?
Niel franziu a testa, já se arrependendo de ter falado. — Não, eu não sei! Quem ele é, afinal?
Lia se aproximou ainda mais, quase sussurrando. — Ele é o garoto da máfia.
As palavras dela bateram como um trovão na mente de Niel. Ele sentiu o estômago revirar, o medo começando a se enraizar enquanto olhava de relance para Gusta. O garoto parecia calmo, mas carregava uma aura perigosa que agora fazia ainda mais sentido.
Antes que pudesse reagir, Gusta começou a caminhar em direção à mesa deles. Cada passo parecia ecoar na mente de Niel como um alerta. Quando ele parou ao lado de Niel, sua presença era tão avassaladora que o garoto sentiu o corpo inteiro congelar.
— Então, você está aqui — Gusta disse, a voz carregada de uma calma assustadora. Ele abriu um sorriso que parecia mais uma ameaça velada. — Sabe, eu realmente não esperava aquele chute. Acho que vou ter que devolver na mesma moeda.
Niel engoliu em seco, o coração disparado no peito. Ele tentou manter a compostura, mas era impossível não levar aquilo como uma ameaça direta.
Gusta se sentou casualmente ao lado dele, como se fosse algo natural, e cruzou os braços, encarando-o com um olhar que era impossível de decifrar.
— Por que você está tão pálido? — perguntou, o tom carregado de ironia. — Parece que acabou de ver um fantasma.
Niel finalmente ergueu os olhos, encontrando os de Gusta, que estavam cheios de uma confiança desafiadora.
— Acho que sim... — murmurou, tentando manter a voz firme. — Você.
Gusta arqueou uma sobrancelha, mas Niel continuou antes que ele pudesse falar algo.
— Por que está me seguindo? Eu já pedi desculpas! Por favor, só... me deixa em paz.
Por um momento, o sorriso de Gusta desapareceu, e ele apenas encarou Niel em silêncio. Mas então, como se estivesse se divertindo com a situação, ele inclinou a cabeça e abriu novamente aquele sorriso enigmático.
— Não vou te deixar em paz, garoto. Você é muito interessante para isso.
E com essas palavras, ele se levantou, ajeitando o casaco com calma antes de se afastar, deixando Niel em um estado de confusão total. Lia observava tudo com os olhos arregalados, completamente sem palavras.
— Você tem noção no que acabou de se meter? — ela sussurrou, olhando para Niel como se ele fosse uma bomba prestes a explodir.
Niel abaixou a cabeça, os cotovelos apoiados na mesa, e soltou um suspiro pesado.
— Lia, o que eu faço? — perguntou, a voz carregada de desespero. — Ele é da máfia! Como eu fui me meter nessa? Eu não queria nada disso, só pedi para ele me deixar em paz, e agora... agora ele acha que eu sou interessante!
Lia, que já estava mexendo no celular, deu uma risadinha nervosa.
— Niel, eu realmente adoraria ajudar, mas... estamos falando do filho de uma máfia inteira. Não dá pra me meter nisso, tá? Eu não quero acabar sumindo misteriosamente.
Ele ergueu o olhar para ela, indignado. — Você está falando sério? Você vai me deixar sozinho nisso?
Ela deu de ombros, se levantando com a bolsa já no ombro. — Olha, você vai se sair bem. Você sempre dá um jeito, mesmo sendo meio desajeitado. E, além disso, ele claramente tem algum interesse em você. Então, quem sabe isso não vira algo bom?
— Algo bom?! — Niel exclamou, incrédulo. — Ele é perigoso! Ele me ameaçou! Lia, por favor, não vai embora!
Ela olhou para ele com um sorriso meio culpado, já se afastando.
— Desculpa, Niel, mas eu tenho um compromisso agora. Boa sorte!
E antes que ele pudesse protestar, ela já estava atravessando o refeitório, deixando-o sozinho à mesa.
Niel passou as mãos pelo rosto, frustrado. — Estou ferrado. Completamente ferrado.
Ele olhou ao redor, sentindo como se todos estivessem observando, embora ninguém realmente prestasse atenção. Na verdade, a única coisa que ele conseguia pensar era na expressão de Gusta e na forma casual como ele havia ameaçado "devolver o chute".
— Como eu vou sair dessa? — murmurou para si mesmo, sentindo o peso de uma confusão que só parecia começar.
Continua...
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Nossa que grande amiga hein?!
2025-02-20
1
Erica Jesus
eu terminava a amizade
2025-01-25
2
Erica Jesus
ácido puro🤬🤬
2025-01-25
1