Niel saiu do colégio em direção ao portão, onde Lia estava esperando por ele, claramente preocupada. Assim que o viu, ela se aproximou apressada.
— Como está o Deymon? — perguntou, quase sem fôlego.
— Ele está bem. Só foi uma ferida na boca — respondeu Niel, tentando soar calmo, mas sua mente ainda estava uma bagunça.
Lia soltou um suspiro de alívio, mas sua expressão continuava tensa. — Você sabe por que eles estavam brigando?
Niel apenas a observou enquanto ela continuava, sua voz cheia de urgência.
— Eu estava conversando com o Deymon, e então o Gusta passou em direção ao carro dele. Foi quando o Deymon disse: "Nossa, ele deve ser bem gostoso na cama". Antes que eu percebesse, o reflexo do Gusta já estava derrubando o Deymon no chão e socando ele. Eu não podia fazer nada, eles estavam brigando sério. Foi então que você chegou.
Niel ficou em silêncio por alguns instantes, refletindo sobre o que acabara de ouvir. No fundo, sentia que, de alguma forma, tudo isso era sua culpa.
— Está tudo bem, Lia. Você não tem culpa de nada — disse, tentando tranquilizá-la. Mas sua mente não parava de repetir: Talvez seja minha culpa.
Ele respirou fundo e perguntou, quase hesitante: — E o Gusta? Onde ele está?
Lia franziu o cenho, olhando para ele com desconfiança. — Por que você quer saber dele? Ele é um perigo para você, Niel. Por acaso você está... acontecendo alguma coisa entre vocês dois?
Niel fechou os olhos por um momento, tentando conter a irritação que estava crescendo dentro dele. Quando respondeu, sua voz saiu mais fria do que pretendia.
— Por que você não para com tantas perguntas, Lia? Você viu ele ou não?
Ela deu um passo para trás, surpresa com o tom de Niel. — Por que você está falando assim comigo? Você não é assim.
Lia respirou fundo e, depois de uma pausa, respondeu, magoada: — Ele saiu com o carro dele para algum lugar, se é isso que você queria saber.
Niel suspirou, sentindo o peso de tudo ao seu redor. — Desculpa, Lia. Eu só... estou cansado de tudo isso. Todas essas coisas.
Lia o observou por um momento, o olhar carregado de decepção. — Você está cansado, mas isso não te dá o direito de descontar suas frustrações nas pessoas que te amam, Niel.
A última frase foi como um golpe direto em Niel, que ficou em silêncio, sem saber o que responder.
— Você sabe o que eu passei com meu pai, que gritava comigo por qualquer coisa. Não faça isso comigo também.
Uma lágrima escorreu pelo rosto de Lia, e ela rapidamente limpou com a mão antes de se afastar. — Tenho que ir. Depois conversamos sobre isso.
Niel ficou parado, observando-a se afastar. O peso das palavras dela caiu sobre ele como uma tonelada. Ele se sentia o epicentro de toda a dor e confusão ao redor das pessoas que se importavam com ele. E, naquele momento, o vazio dentro dele parecia maior do que nunca.
Niel estava sentado no ônibus, observando a cidade passar pela janela. Seus pensamentos estavam confusos, como um novelo de emoções e memórias que ele não conseguia desfazer. Tudo ao redor parecia desconectado, sem sentido. Ele suspirou, afundando-se no banco, enquanto o ônibus avançava lentamente pelo trânsito.
Seus olhos pousaram em uma loja de jogos do outro lado da rua. Por um momento, ele se perdeu na lembrança de como costumava amar passar horas jogando, mergulhando em mundos cheios de aventuras e desafios.
— Eu amava jogar jogos... — murmurou para si mesmo. — Por que isso não tem mais graça?
O ônibus parou no semáforo, e ele viu dois amigos caminhando pela calçada, rindo e brincando como se o mundo ao redor não tivesse problemas. O som da risada deles parecia ecoar em sua mente, como algo distante e inalcançável.
— Eu queria ter alguém assim... — disse, baixinho. — Alguém para rir e brincar comigo. Alguém que me fizesse esquecer de todos os problemas desse mundo.
Enquanto os amigos se afastavam, uma memória surgiu, nítida como se fosse ontem. Ele se lembrou de sua mãe, usando um chapéu de palha, ajoelhada no quintal nos fundos da casa, colhendo batatas. Ele podia ouvir o som suave da risada dela, e, mais do que isso, sua voz doce chamando-o pelo apelido que só ela usava.
— Docinho... venha aqui, me ajuda!
A imagem de seu sorriso brilhante o atingiu como uma onda. Sem perceber, uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto, seguida por outra, até que ele passou a mão para limpá-las.
— Mamãe... — sussurrou, com a voz trêmula. — Estou com tanta saudade da senhora.
Ele olhou para o céu através da janela do ônibus, como se esperasse uma resposta que nunca viria.
— Por que a senhora não volta? É tudo o que eu desejo nesse mundo.
O ônibus começou a se mover novamente, mas Niel permaneceu imóvel, com o coração pesado de saudades e a mente cheia de perguntas que ninguém poderia responder.
Niel desceu do ônibus, os passos lentos e arrastados enquanto seguia o caminho até sua casa. As ruas pareciam intermináveis, cada uma mais vazia que a outra. Ao chegar perto da escadaria que levava ao pequeno quarto onde morava, ele parou. Seus olhos fixaram-se na casa lá no alto, e um aperto esmagador tomou conta de seu peito.
— Como é solitário chegar em casa... e não ter ninguém me esperando... — murmurou para si mesmo, sua voz quebrada pelo peso da tristeza.
Com um suspiro, ele começou a subir as escadas. Cada degrau parecia mais difícil que o anterior, como se o peso das lembranças o puxasse para baixo. Ao se aproximar da porta, uma onda de emoções irrompeu dentro dele, tão forte que ele não conseguiu segurar.
As lágrimas começaram a escorrer sem controle, e logo ele estava soluçando. Ele se agarrou ao parapeito da escada, os dedos apertando com força enquanto se abaixava lentamente. Sentado ali, curvado, ele deixou o choro escapar, cada soluço carregado de dor.
A culpa era insuportável. Ele sabia que seus pais tinham dado tudo por ele, sacrificando sua própria saúde, felicidade e, no caso da sua mãe, a própria vida.
— Foi por minha causa... — sussurrou, entre os soluços.
Ele se lembrou da mãe, trabalhando incansavelmente em dois empregos para garantir que ele tivesse o tratamento necessário. A imagem dela chegando em casa exausta, mas ainda encontrando forças para sorrir para ele, o devastava.
— E ela acabou morta... voltando do trabalho...
O pensamento seguinte foi do pai, carregando o peso das dívidas que nunca poderia pagar. Ele se endividou tanto que perdeu tudo, lutando até o fim para dar a Niel uma chance de viver.
— Eu... eu tirei tudo deles...
A dor dentro dele era como uma tempestade, crescendo e girando, sem saída. Ele se sentia sufocado pelo peso de tudo o que havia acontecido, pela culpa que nunca o abandonava.
Niel ficou ali por um tempo, chorando até sentir que não tinha mais forças para derramar uma única lágrima. A solidão era como uma sombra constante, e ele não sabia como escapar dela. Ele olhou para a porta de sua casa, pequena e vazia, e sussurrou para si mesmo:
— Por que eu ainda estou aqui, se tudo o que faço é causar dor?
Niel entrou em casa, fechando a porta atrás de si com um suspiro pesado. Largou a mochila no chão e caminhou em direção ao banheiro, como se estivesse no piloto automático. Abriu o chuveiro e entrou debaixo da água sem sequer tirar as roupas, deixando apenas os óculos redondos de lado.
A água escorria por sua cabeça, descendo pelo rosto e se misturando com as lágrimas que ele não conseguia mais conter. Ele fechou os olhos, imaginando que aquela água poderia levar embora toda a dor, a culpa e a solidão, como se tudo pudesse simplesmente ir pelo ralo.
Depois de alguns minutos, desligou o chuveiro. Ainda molhado e com as roupas grudadas no corpo, sentou-se no chão do banheiro, encostando-se na parede. Ficou ali, olhando para a luz no teto, perdido em seus pensamentos, enquanto a sensação de vazio parecia consumi-lo cada vez mais.
Foi então que ouviu uma batida na porta. Ele ignorou, pensando que quem quer que fosse, acabaria indo embora. Mas a batida veio novamente, mais insistente.
Niel fechou os olhos, tentando ignorar de novo. Quando a terceira batida ecoou pela casa, ele se levantou, sem energia para brigar, e caminhou até a porta, deixando um rastro de água pelo chão.
Ao abrir a porta, lá estava Gusta, parado com uma expressão que misturava surpresa e preocupação.
— O que aconteceu com você? — perguntou Gusta, observando Niel de cima a baixo, as roupas encharcadas e os olhos vermelhos de tanto chorar.
Niel permaneceu em silêncio, a cabeça baixa, sem saber o que dizer. Ele queria que Gusta fosse embora, mas, ao mesmo tempo, queria que ele ficasse.
Gusta deu alguns passos à frente, se aproximando lentamente, como se temesse assustá-lo. Ele estendeu os braços e puxou Niel para um abraço apertado.
— Apesar de tudo, eu estou aqui — murmurou Gusta, a voz baixa, mas firme. — Sempre estarei, mesmo que o mundo venha a se destruir.
Ao ouvir isso, Niel não conseguiu mais se segurar. Ele começou a chorar novamente, encostando a cabeça no peito de Gusta. As lágrimas quentes escorriam enquanto Gusta o segurava firme, sem dizer mais nada, apenas transmitindo uma sensação de calor e segurança que Niel não sentia há muito tempo.
— Está tudo bem — sussurrou Gusta, passando a mão pelos cabelos molhados de Niel. — Tudo vai passar.
E ali, no abraço de Gusta, Niel sentiu pela primeira vez que, talvez, ele não estivesse tão sozinho quanto pensava.
CONTINUA...
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 63
Comments
yara vitória ~🏴☠️🏳️🌈
cara se o que eu tive entendido estiver certo ela tem sim muita culpa !/Shame/
2025-01-15
1
Bk Ms
por acaso ele esqueceu do gusta
2025-01-07
1
Erica Jesus
ama nada. abandonou ele quando pediu ajuda, não procurou saber por que ele estava faltando às aulas, só sabe criticar
2025-01-25
2