Clara olhava os picos nevados da sua prisão, os cachorros estavam ao seu lado sentados com os rabos na terra gelada. Seu rosto estava pasmo, choraria se pudesse, mas já havia chorado litros desde que acordou. Sentia os olhos das empregadas sobre suas costas, se agachou e agarrou o cachorro para perto de si, colocando o rosto sobre os pelos úmidos do animal.
— Desde que horas ela está ali? — Ruth perguntou a Glória.
— Cinco horas da manhã, tadinha, já chorou tanto.
— Tadinha? Essa mulher é o demônio — Albert indagou — meu estômago dói.
Ian passou diretamente para a geladeira, pegou uma bolsa de gelo e pressionou sobre o olho, ficou ouvindo às duas mulheres cochicharem, enquanto servia café numa xícara, bebeu observando-as com curiosidade; dois homens entraram e se se serviram das refeições postas a mesa logo estavam sentados próximo à lareira.
— Para o que vocês tanto olham? — ele indagou, revirando o olho bom.
— Clara, está desde às cinco horas adorando os picos das montanhas — foi Glória quem informou.
— Quem?
— Aquela mulher do demônio e punho de ferro — Albert falou com a voz baixa.
Ian se aproximou da janela e viu Clara enrolada em um lençol manchado, parecendo uma múmia desajeitada. Uma veia de raiva pulsou em seu pescoço; ele deixou a bolsa de gelo à mesa e saiu da cozinha com um suspiro dramático.
Clara segurava firmemente o pescoço de Prata enquanto Ian a puxava com força. O tecido sujo caiu no chão. Irritado, ele soltou e cobriu seu corpo com o pano, como se estivesse embrulhando um presente mal-humorado. Em seguida. A espiã afastou suas mãos, ajeitou o tecido sujo, levantou-se e entrou na mansão.
— Sua peste — Ele gritou — mulher, seja obediente, vá colocar uma roupa.
— Você não manda em mim! — ela lhe estendeu o dedo médio entrando na cozinha, sentou-se na cadeira, seu semblante sério virou um sorriso gentil. — Glória, eu quero mingau.
— Tudo bem, vou colocar para você — a cozinheira disse sorrindo.
Clara expressou sua gratidão ao ser servida e começou a mastigar lentamente. Ian adentrou a cozinha, proferiu suas ordens a Glória em voz alta e saiu segurando a tigela de porcelana.
— Acho melhor me seguir — a voz dele ressoou pelo corredor.
Irritada, Clara começou a segui-lo enquanto o homem caminhava rapidamente. Ela o viu encostar-se ao portal do quarto principal. Seus passos firmes faziam barulho no piso de madeira. Ian percebeu que seu nariz estava avermelhado e, assim que se sentou na cama, ouviu um espirro.
— Abre a boca — Imaginou que ela não obedeceria, ficou surpreso após vê-la comer — vista às roupas das sacolas, mulher, vou bater em você. Não teste minha paciência.
— Hum! O que tem na estrada de terra? — falou sem lhe dar ouvidos.
— Uma fonte termal — ele respondeu.
Seu sorriso ficou largo enquanto saboreava a papa. Ian colocou outra colherada na boca dela, e logo não lhe deu permissão para ir ao local. O rosto sorridente logo ficou sério e revirou os olhos.
— Tenho que trabalhar, não posso te levar lá.
— Não preciso da sua proteção — Clara disse após engolir o mingau.
— Desista, seja obediente. — A refeição foi terminada. — Vá se arrumar, vou lhe mostrar a casa.
— Hum!
— Não saia ainda — ele caminhou até o vestuário.
A mulher saiu do quarto principal.
Foi para o seu aposento, se vestiu, prendeu o cabelo, tirou todas as roupas da sacola de compras e colocou toalhas de banho. Calçou chinelos e saiu do quarto. Ian estava à porta, olhando-a com uma expressão indômita.
— Caralho, você é tão desobediente — ele falou, retirando a sacola das mãos dela e atirando-a no quarto. Segurou firme na mão. — Esse é o seu quarto, só saia quando eu mandar.
Clara revirou os olhos, mas logo começou a ser puxada para o interior do corredor.
— Todas essas portas ao lado do seu quarto são dormitórios de hóspedes — ele parou em frente ao quarto principal. — Ninguém vem à ilha, os dormitórios sempre estão vazios. Este é o meu quarto, entre quando quiser. — Ele deu uma piscadela para ela.
— Eu não obrigada — Clara soltou a mão de Ian.
Logo à frente ficavam outras portas e havia uma mesa de pernas alongadas com um vaso de planta. Ele parou em frente, esperando que ela ficasse ao seu lado.
— Aqui é o escritório, você não pode entrar — falou.
Havia mais três portas adiante, uma distante da outra, evitando o corredor extenso, o homem preferiu indicar com o dedo.
— Aquela porta da entrada para a biblioteca, você pode ir lá — mas não pode entrar pela porta de acesso que liga ao escritório — ele gesticulou para a terceira entrada — Não lembro o que tem naquele cômodo… Bem, você nunca deve entrar na última, vamos para o andar de baixo.
Ele saiu arrastando novamente escadas abaixo.
— Merda, eu sei andar sozinha — ela tentou se soltar.
O sorriso dele era silencioso, estava gostando de ser movimenta-la brutalmente, falou sobre a sala de estar, após caminhar pelo corredor mostrou a cozinha. Clara virou os olhos até ficarem brancos.
— Aqui é a ala dos empregados, e desse lado fica a academia — ele abriu a grande porta — gosto de treinar, e os seguranças passam mais tempo aqui, então você não pode vir aqui.
— Por que você não pega a chave e me tranca logo no quarto? Seria mais plausível — Clara entrou na grande ala esportiva e caminhou até o tatame onde dois homens de cabelo social lutavam. Não deu importância para a arquitetura do local, focou sua visão na luta dos dois homens.
— Sua postura é digna de nocaute — ela julgou.
Um deles deu um chute enquanto o outro se protegeu com os antebraços, logo revirou os olhos, entediada.
— Você se protege com esses homens, os dois tão mais enferrujados que as dobradiças dessa casa maldita.
Fez seu percurso de volta, Ian deu um leve sorriso, do corredor a observava subir as escadas, Albert apareceu na porta da cozinha, olhando entediado para ele.
— Mano. Eu quero ir embora logo.
— Vamos daqui a uma semana — se direcionou para a cozinha, o relógio acendeu no seu braço, ele olhou no visor; era uma mensagem de Simon. — Você já quer brincar com meu coelho — disse após ler a mensagem do irmão.
A porta da sala de estar bateu e logo Ian caminhou para fora da cozinha, parando na área externa. Clara andava pela estrada de terra com chinelos slides na cor azul. Em seu braço, tinha uma sacola de compras.
— Essa mulher, vou acabar matando ela — Ian proferiu — Clara Kung, não autorizou sua saída do quarto.
— Merda, meu nome é Clara Rust, vai se foder. Sr. Ian, você não manda em mim — ela gritou da estradinha de terra enquanto estendia seu dedo do meio.
— Senhor Mo. Vou matá-la — ele passou a mão sobre a testa.
— Há, acredito no senhor — o mordomo falou em tom sarcástico.
— Arnold! Vá vigiá-la — ele olhou para um segurança — como está a cerca?
— Seguras, conferimos assim que Mo avisou de sua vinda — um segurança falou.
— Vá, Arnold — gritou Ian.
— Aaah, tudo bem — Arnold bufou, caminhando para fora.
Foi pelo caminho de terra chutando os cascalhos enquanto pensava “babá de cachorro, babá de mulher maluca, meu posto está subindo e nenhum aumento”.
~~
Passou pelo tronco que tropeçou na noite passada e a estrada de terra era muito extensa. Pensou em desistir e voltar o caminho, mas tinha uma fonte termal. Precisava tomar um banho e retirar o frio extremo de seu corpo. Tinha água quente no banheiro, mas a temperatura cessava rápido.
“Clara Kung, vai se foder, seu pervertido”. Ela meditou enquanto colocava as mãos nos bolsos.
Pássaros estavam cantando na floresta de pinheiros, e Clara parou assustada assim que ouviu um barulho desconhecido vindo dos arbustos à sua frente, ficou paralisada olhando, se fosse um lobo, ela correria para dentro da floresta, havia premeditado. Gold apareceu ofegante e atrás da cachorra apareceu Prata segurando uma cobra pela boca.
— Vocês dois estavam caçando, ah! Era de se esperar, vocês são filhos daquele maluco — ela murmurou.
A cachorra saiu correndo à sua frente, e Prata encontrava-se realizado, colocou a cobra aos pés de Clara, que tinha uma expressão de nojo.
— Obrigada, querido, mas eu já comi.
Se pôs a seguir o animal que sabia o caminho para a fonte, revirou os olhos e apertou a mão contra a barriga assim que ouviu o cachorro dilacerar a serpente morta.
À frente tinha fumaça ou neblina, não sabia diferenciar. Gold estava deitada em uma grande pedra lisa. Clara mirou a visão para a grande lagoa, imaginou que seria uma pequena fonte, mas aquilo ali era um sonho. Se agachou, sem demora, desprendeu seus cabelos, tirou todas as roupas e colocou na sacola.
A borda da lagoa era cercada por tijolinhos vermelhos e tinha uma escada ao fundo feita deles. Em algumas partes, faltavam abordar, havia caído com o passar do tempo. Clara caminhou até o último degrau e pelas águas cristalinas nadavam cardumes coloridos, eram carpas grandes e outras espécies de peixe. Com curiosidade, atravessou a neblina fina, a margem do outro lado mostrava flores silvestres, mergulhou, fitou as bolas de ar que vinham de fendas no fundo, a água estava quente e prazerosa. Ela subiu novamente à superfície e depois afundou, nadou para a escada de tijolos.
Olhou para o jovem que vinha ao seu encontro, Arnold passou para a direção em que Gold estava e entrou para a floresta.
— Se acontecer algo, é só gritar — ele falou.
~~
Seu corpo flutuava na água enquanto olhava o seu azulado, sua barriga emitia um barulho, estava faminta, nadou de costa até a pedra lisa, ficou por alguns instantes observando o solado das botas de Arnold, o ronco dele era baixo.
— Belo vigia — ela murmurou.
As botas se mexeram para a outra direção e o ronco ficou mais alto. Clara sorriu baixo e voltou a nada, indo de margem a margem, mesmo que estivesse faminta, ela não iria sair da água, estava muito frio.
Voltou para a pedra e Gold deu um salto em cima do homem que estava dormindo e correu para a floresta.
— Ah, cachorra desgraçada — ele xingou.
— Hahahah, qual o seu nome? — Clara perguntou, segurava os blocos de tijolos da borda da lagoa — estou com fome, mas não quero sair daqui.
— Meu nome é Arnold — ele se levantou, indo para a floresta enquanto arrumava o boné na cabeça.
Instantes após ele aparecer, sua camisa estava cheia de algo e despejou no chão, revelou morangos, amoras e sua camisa manchada. Clara viu o celular preso ao cós das calças, estendeu a mão pegando dois morangos grandes.
— Por que você anda com o celular se aqui não tem sinal? — Ela lavou o morango na água quente e deu uma mordida.
— Ian, que deu pra mim — ele falou puxando o celular — dá pra mandar imagens e mensagens pros relógio.
Logo idealizou roubá-lo e mandar mensagem no PIN da agência, se lembrasse o código decorado, 11 anos trabalhando e nunca consegui decorar o pin de resgate; poderia realizar todas as variedades de missões, mas usar meios hackers como Nóz e Rodryg se tornava uma missão impossível, com o aparelho em posse poderia pensar nos dígitos. Sem embargo, seu plano foi por águas abaixo quanto foi falado que só funcionava com a digital, iria arrancar os dedos do garoto, foi o que planejou, pegou algumas amoras nas mãos, as lavou, logo foi comendo de uma a uma.
— Hum… Você pode mandar uma mensagem pra mim — ela se ergueu usando os tijolos como apoio e jogou seu corpo para frente, mostrando seus seios para o homem.
— Não tente me seduzir, eu não quero morrer — ele falou, virando o rosto — Senhora Kung, o sinal só é transmitido para o relógio.
— Se você me chamar de senhora Kung de novo, eu vou bater em você — falou entrando para água.
As frutas saciaram sua fome, continuou a nadar de um lado para o outro, sua mente estava voltando aos eixos, começou a cogitar seu plano de fuga, tinha os picos da monta, a cerca deveria ser uma fazenda afastada isolada propositalmente; não havia sinal e tudo ficava muito escuro tão nublado que não se via as estrelas ou a lua, deduziu que estivesse no Canadá, afundou na água, precisava saber o modelo do avião que a havia trazido a ilha emergiu e foi ao encontro do seu vigia.
Segurou os blocos e o encarava com o rosto molhado.
— É! Arnold, qual o modelo do avião, do maluco?
— Não entendo de avião, mas é um jatinho por quê? — ele falou olhando para o celular.
— Vou roubá-lo, pra fugir daqui.
— Você não pode falar sobre seu plano de fuga — ele falou sorrindo.
— Se você contar pra ele, vou cortar seus dedos e digitar no celular enquanto você agoniza de dor — ela o ameaçou nadando para longe.
Arnold cortou sua risada e ficou com o rosto atônito. A voz dela soou sincera e logo ele ficou encarando os dedos com as mãos trêmulas, sorrindo alto. Clara gritou:
— Foi uma piada.
— Suas piadas são sem graça, iguais às do Sr. Ian — Arnold gritou.
…
Em suas costas batiam os raios sem nenhum calor, o seu cochilo durava três horas. Arnold havia ido até à mansão e voltado para o pé a árvore que usava como encosto, Prata e Gold nadavam na lagoa, seu estômago deu outro aviso baixo Clara virou se para o céu avermelhado que demonstrava o sol poente; retirou o roupão de cima do corpo, levantou-se e foi em direção a Arnold, que se encontrava dormindo com um boné em frente ao rosto.
— Ei, Arnold, eu estou com fome.
Ele retirou o chapéu do rosto e ficou estagnado olhando para o corpo dela, logo virou-se querendo enfiar o rosto na terra preta à sua frente.
— Droga, mulher maluca, vai vestir suas roupas — ele falou, colocando o boné na cabeça.
— Mas você é gay. — Clara desceu a pedra e ficou próxima a ele — colha mais morangos.
— Como você sabe que eu sou gay? — ele murmurou.
— Hahaha, você gritou tão alto, acho que todo mundo na mansão escutou.
— Não, tem mais morangos, colhi todos — ele mudou de assunto.
Clara voltou e ficou em pé acima da pedra.
— Então, tire uma foto minha e mande para o Sr. Ian, diga que eu vou andar por aí assim se ele não me trouxer comida e uma garrafa de uísque.
— Você quer que ele me mate — Arnold murmurou — não posso tirar fotos suas.
— Então mande a mensagem.
Clara voltou para a toalha estendida ao chão segundo as explicações de Arnold a mensagem demoraria trinta minutos para ser entregues, fez um cálculo em mente, havia demorado cerca de 20 minutos, andando na estrada de chão; esperou 10 minutos contando mentalmente de um a sessenta repetidas vezes, no fim da sua contagem se ergueu e começou a fazer o percurso de volta para a mansão.
…
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Fatima Vieira
ela é muito doida
2024-12-17
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