encontro

20h03, comunicação pelo relógio.

O trânsito estava lento, os grandes edifícios iluminados não colaboravam para que seus pensamentos ficassem tranquilos, era culpa da dose de vodca, ela pensava olhando pela janela.

O subordinado da agência estava disfarçado de taxista e o carro de táxi era real, não era um veículo de luxo. A espiã não poderia esperar muito, o hotel onde estava hospedada já tinha suas qualificações.

“Você não vai acreditar, estávamos certos, o relógio é uma espécie de comunicador, Simon digitou algo agora a pouco e o Sr. Ian também”, Nóz gritou eufórico no comunicador.

Ela revirou os olhos, poderia jurar que seus ouvidos sangraram.

“Você vai roubar o relógio. Esse relógio pode ser um achado incrível”.

— Um dia, você ainda vai me deixar surda.

Não havia nenhum insulto em sua fala. Clara estava com seu coração acelerado e o hacker continuou informando o que assistia nas câmeras de segurança.

— Bem, ele está querendo ir embora porque eu já estou super atrasada, essa droga de trânsito — ela murmurou.

O “taxista” esboçava um semblante amedrontado, o carro foi estacionado antes de chegar no destino. Clara encarou os olhos do agente disfarçado refletidos no espelho retrovisor.

— Senhorita, eu sinto muito, o pneu do meu carro acabou de furar — disse o sujeito em tom choroso. — Não irei cobrar essa corrida — tentou parecer brincalhão.

— Está brincando com a minha cara — ela gritou no interior do carro, em tom furioso.

— Se você descer agora, passando quatro edifícios depois da esquina, fica o hotel. — Melancólico, ele apontava a direção.

Clara desceu apressada, os sapatos estavam desconfortáveis, fazia frio, poderia chover para agravar sua situação, ela premeditava, não dava a mínima, só sentia vontade de girar o corpo e voltar andando para o hotel. Existiam pressentimentos ruins desde o início.

“Oito e quinze, você está bem atrasada”. A voz de Nóz ressoou em seus ouvidos, seus pés já estavam doendo e não queria ter a voz ofegante no meio de uma conversa casual com o alvo.

“Que merda de URNOS, uma agência cheia de fundos… Ah! Como pode deixar uma agente correr de saltos nas ruas de Los Angeles?”, pensou, iniciando uma corrida leve.

A arma tranquilizante roçava em suas coxas, presa ao coldre, encontrava-se odiando aquilo, com certeza estava lhe ferindo.

“Clara, a gente tentou alugar o carro, mas as locadoras estavam fechadas.” Nóz falou.

“Que chato, né? Você andará… quer dizer, correr um pouco”. A risada dele era acompanhada de engasgos, pois comia algo.

— Está se divertindo, né, seu viadinho? — perguntou sorrindo, pessoas na rua olhavam ela falar sozinha. — Você é um péssimo humano, eu deveria ter vindo com o Rodryg!

Não teve tempo para admirar a noite e nem queria admirar uma noite fria como aquela, suas mãos estavam geladas, apertando a bolsa Channel “Double flap”, preta.

“Isso me mágoa”, fungou Nóz do outro lado do comunicador.

“Droga!”, ele exclamou alto, fazendo-a parar de correr.

Ela já estava na frente do hotel.

— O que aconteceu?

“Quase que ele foi embora, Simon não deixou”, suspirou Nóz do outro lado do comunicador.

O barulho dele se sentando no sofá de couro ecoou no comunicador. Assistir às missões do esconderijo era como estar assistindo a um filme de ação, seus gritos histéricos sempre deixavam a agente perto de perder sua postura em disfarce.

— Estou entrando. — Ela sussurrou, não falaria mais no comunicador depois do aviso.

“Quando me ver, ele vai embora”, ela premeditou.

O hall de entrada era extenso, as cortinas nas janelas poderiam valer muito dígitos, nas paredes amareladas, quadros de artistas famosos. Clara logo identificou como falsos, mas não impedia de admirar o luxuoso salão; logicamente digno de um hotel cinco estrelas. Os funcionários estavam bem vestidos e pessoas cofraternizavam na ala de espera. O relógio acima da cabeça da moça da recepção marcava oito e vinte, o tempo havia expirado.

Ela deu seu nome de disfarce, Violet Wood. Enquanto fazia uma expressão rígida, a moça ficou tão encantada observando as bochechas de Clara coradas pelo cansaço, que nem deu importância.

Logo após, ela estava adentrando no restaurante, acompanhada por um homem da sua altura. Clara usava saltos, o que a deixava com incríveis, um metro e oitenta: sua altura habitual era de um e setenta e nove.

— Desculpe, eu gostaria de fazer um primeiro pedido — disse ela sorrindo gentilmente.

— O senhor Kung já esperou demais — o homem disse sem cerimônia.

Clara queria esmurrá-lo ali mesmo, com todas aquelas pessoas olhando, sem lhe dar ouvidos, caminhou sozinha para o bar do restaurante, o homem caminhava a passos pesados, aquilo chama a atenção das outras pessoas para si.

— Senhorita, o senhor Kung, vai embora.

— Boa noite, por favor, prepare um Martíni de Tito's Handmade e mande servir na mesa que me sentar — falou ela, ignorando os pedidos do homem que trabalhava para o alvo.

— Senhorita, o senhor Kung detesta atrasos…

— Merda, se você não percebeu, eu já estou atrasada e ele irá embora de qualquer forma. — falou ela grosseiramente.

“Espero que não”, falou Nóz nervoso no comunicador.

O homem pousou a mão no rosto, balançando a cabeça negativamente.

— Senhor, você está me envergonhando — seus olhos pretos cintilaram e o homem recuou.— Com licença.

Afastou-se do homem boquiaberto e se dirigiu à mesa onde o alvo estava. Visivelmente irritado, segurava um copo de uísque quase vazio. Clara detestava missões que envolviam encontros com homens ricos; as roupas extravagantes e a necessidade de parecer ignorante e ingênua, a incomodava profundamente. Ela parou por alguns segundos, observando Simon nos olhos. O homem, com uma expressão de espanto, se levantou e a fitou da cabeça aos pés. A espiã fez o mesmo, notando seus cabelos loiros penteados para trás e seus olhos azuis com raios amarelos ao redor das pupilas: um olhar penetrante. Seu corpo era meio robusto, mas magro. Clara ergueu a sobrancelha com um semblante sério. Simon não disse nada.

“O que aconteceu, você encantou o irmão errado?”, Nóz murmurou.

“Parece que ele me conhecia ou algo assim”. Clara pensou, voltando a caminhar na direção do homem que era seu verdadeiro encontro.

Ian permanecia sentado desajeitadamente à mesa, nela estavam postos alguns petiscos e ele não parecia estar ali, tinha os pensamento em outro lugar.

Clara ficou alguns instantes parada até que ele a notasse, “eu me curvo, gaguejo ou choramingo”, pensou.

O homem encarou com um olhar sério. Talvez fosse efeito do baseado que havia fumado mais cedo, pois alguém que se parecia com sua mãe estava à sua frente. A pele bronzeada brilhava diante de seus olhos, e suas vestes eram exorbitantes. Sua fúria se reprimiu, e um nó se formou em sua garganta — Acaso, choraria se fosse uma criança.

— Boa noite, me perdoe pelo atraso, aconteceram muitas coisas e eu me atrasei — a gente se justificou — ah! Se você for embora, agora entenderei.

— Você está muito atrasada — foi tudo que ele conseguiu falar, em tom rigoroso.

Clara logo exibiu uma veia na testa, passou por tantos empecilhos, seu coração acelerou rápido no peito, Nóz sussurrou a contagem dos seus batimentos.

“Acalme-se”, ele mais do que ninguém sabia como ela odiava ouvir o óbvio.

— Sente-se! — Ian ordenou sorrindo.

— O quê! — ela gritou fora de controle.

O silêncio ensurdecedor logo apareceu, todos estavam olhando para ela ali em pé, havia acabado de gritar, isso nunca acontecera, só acontecia quando esmurrava alguém.

“Pelo amor de Deus, se controlar, seus batimentos tão chegando a cento e trinta”, a voz murmurou em seu ouvido.

Clara colocou a mão sobre a boca, estava com o semblante avermelhado, em ira.

Ian Kung sorriu.

— Violet, você não sabe controlar muito bem suas emoções? — perguntou Ian sorrindo, existia sarcasmo em seu rosto.

— Só, não estou acostumada a receber ordens de estranhos — Clara se sentou.

Simon olhou a foto de Violet duas vezes e, em todas as ocasiões, encontrava-se bêbado, quando a viu pessoalmente, se sentiu enganado. “Ela parece com a mamãe, estava tão bêbado que nem percebi”. Enquanto circulava a borda do copo de uísque, com o dedo, no seu semblante existia tristeza.

“Acho que o Simon ficou a fim de você, se percebeu, passe a mão no cabelo!”, comentou Nóz.

— Não gritarei com você novamente, então não me dê ordens — ela falou, passando mechas de cabelos para trás.

— Você se atrasa e ainda quer ter a razão? — Ian jogou o corpo para frente, encarando nos olhos.

Definitivamente, a mulher em sua frente não tinha a índole igual à de sua mãe, contemplou o rosto rígido sem nenhum sorriso, percebeu que falava a verdade: gritaria outra vez.

Os olhos de Ian fizeram Clara desviar o olhar e suas penas gelaram. Estava frio no interior do restaurante, suas mãos suavam, mas pareciam quentes e acometidas de um nervosismo incomum.

Uma garçonete apareceu e serviu o martíni e disse: “Seu drink, srta. Wood” Violeta agradeceu com uma voz angelical. A moça foi sua salvação, trazendo-a de volta à realidade.

— Achei que iríamos comer? — ele perguntou, olhando para a taça de martíni.

Direcionou a visão para a hipocrisia dele, o copo de uísque vazio disposto na mesa, o respondeu com indiferença:

— Na verdade, o drink eu pedi achando que você iria embora.

Ian a observou tomar a taça em dois goles, ela se aproximou da mesa e esticou a mão para apanhar o cardápio.

— Já fiz os pedidos — ele disse, se acomodando corretamente à mesa.

Um garçom logo apareceu servindo as entradas, outro homem serviu bebida para os dois, vinho tinto. Clara cerrou os olhos tentando ler o nome do garçom no pequeno broche preso ao seu peito, apresentava-se escrito Edward Evans, ela sorriu da coincidência repentina. O nome atual e o sobrenome antigo do irmão era apresentado na etiqueta, Edward Rust acharia fascinante. Ela observou os canapés de camarões fatiados perfeitamente alinhados à sua frente.

“Esse homem quer me matar”. Clara pensou, direcionando seu olhar singelo para Ian, que comia lentamente seus canapés.

Ela puxou o cardápio e leu de forma ágil os nomes dos pratos.

— Gostaria de pedir algo? — o garçom perguntou.

— Sou alérgica a camarão — fitou Ian nos olhos — gostaria de caprese no palito, parece bom.

— Oh, sim. Com licença, — garçom se curvou e retirou o pedido da mesa.

— Não sabia que era alérgica — Ian se justificou.

— Considerando que você não sabe nada sobre mim, eu o perdoo — a espiã ergueu a sobrancelha, bebeu o vinho da taça, se sentindo vitoriosa, ele estava com expressão tristonha.

Ian limpou as mãos no guardanapo de tecido e passou novamente o menu para ela.

— Acho que você vai precisar trocar o prato principal, é um risoto de camarão — com um sorriso malicioso, ele completou — quase matei minha futura esposa.

Os dois espiões se engasgaram simultaneamente, Nóz tossia alto, no outro lado da comunicação. Clara pegou o guardanapo e cobriu a boca, limpando o vinho que escorreu no queixo. Seu batom carmim longo ficou borrado, seus olhos lacrimejaram e uma das lentes de contato saiu do lugar, sumindo para sempre.

“Futura esposa. Espera, por que você engasgou também?”, o parceiro a questionou.

— Fiquei surpresa — Clara respondeu em voz alta.

“Você não pode me responder!”, ele gritou.

— Eu sempre causei isso nas pessoas, estou acostumado — falou Ian, remexendo as mãos — você está usando lentes de contato?

Clara se curvou, agarrou a bolsa e começou a procurar um estojo de maquiagem. Seus cabelos muito brilhantes cobriram sua expressão de espanto. No momento em que encontrou, conferiu os olhos, uma das lentes havia sumido e seu batom estava borrado.

“O que está acontecendo hoje”, Nóz murmurou em seu ouvido.

A espiã sabia o que estava acontecendo, não havia bebido um gole de vodca da sorte da maneira correta, ela limpou o canto dos lábios com o guardanapo e retirou a lente, corrigiu-se no assento e encarou Ian nos olhos.

— Estava usando, acho que perdi uma dela — ela respondeu rapidamente e depois apertou os lábios.

Seus olhos verdes cintilaram e seu semblante estava envergonhado.

— Seus olhos são bonitos.

A voz grave de Ian fez Clara desviar o olhar, deixando-a ainda mais nervosa. O garçom serviu duas entradas de caprese. Ian falou calmamente com o funcionário, que se retirou após receber a troca de pedidos. Clara não conseguia pensar em mais nada além de seu deslize, que comprometeu sua maquiagem e expôs seus olhos verdes; no entanto, seu rosto permanecia sereno. Logo, deixou seus pensamentos de lado, pois precisava continuar sua missão. Já haviam se passado trinta minutos e ele ainda não havia ido embora.

Toda a situação mudou de rumo. Ele lhe dirigia perguntas que eram respondidas suavemente, às vezes escapando de questões mais pessoais. Parecia mais um interrogatório. Ian Kung sorria a cada expressão que a espiã mostrava. Ele a questionou sobre o atraso, e Clara contou toda sua trajetória de desastres, de Londres para Los Angeles. Seu sotaque britânico ajudava a omitir os fatos.

“(C), acho que o Sr. Ian gostou de você”, Nóz suspirou.

Pousando a taça de vinho vazia, ela concordou em pensamento, e era óbvio, o homem sorria gentilmente, e já haviam se passado vários minutos.

“Também gostei dele”, ela matutou entornado sua terceira taça de vinho.

— Foi meio constrangedor, nunca mais quero ver aquela vovó, ela era muito forte — sorrindo, ela terminou de falar sobre sua mala surrupiada.

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Fatima Vieira

Fatima Vieira

aiaiai

2024-12-17

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1 missão, lobo mau.
2 lobo algemado
3 gatilhos
4 férias
5 missão, lavagem de dinheiro.
6 Los Angeles
7 Bowl Cut
8 encontro
9 Girassóis
10 Garotinha Punk
11 infortúnio do agente "C"
12 infortúnio do agente "C"-part2
13 Um tédio
14 Gritos
15 Prata
16 Gold
17 Vou te caçar
18 sistema inoperante
19 Colha morangos
20 Três desejos
21 Ressaca
22 Onde está seu irmão?
23 Vislumbres
24 Simon e Ian
25 Edward e Rod
26 Sexo a parte
27 O significado disso
28 Garoto da pizza
29 Arnold
30 Sr. Kung
31 Dias anteriores
32 Sonho
33 Edward Rust
34 Laudo
35 Baby Tommy
36 cachorrinhos
37 Recado “D”
38 Seu passado
39 mensageiro
40 Simon, seria sua fuga?
41 Alucinando
42 "Agente C"
43 Adversário digno
44 chuva de ovos
45 Bolo decorado com morango
46 Sobrevivência
47 Fale algo
48 Redenção
49 Mônica Jones
50 Ratos barulhentos
51 Anel de grama
52 Jhulliene medrosa
53 injeção de sobrevivência
54 banho frio
55 Dor aguda
56 Suas notas
57 Noite quente
58 Abraço de urso
59 Filha do Derrick
60 Daphne Kung
61 Fotográfias
62 Mensagem única
63 Imprestável
64 Christian, o ruivo
65 Morto
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67 Pense nela
68 Amigos
69 Detive
70 Garotinho inocente
71 Obediente
72 Filhotes de Lobo
73 Última chance
74 Agradecimentos.
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