Vou te caçar

Minutos após, ela apareceu outra vez na cozinha e os homens saíram assim que se aproximou da mesa. Glória serviu outra tigela de mingau. Havia outra mulher na cozinha, cabelos pretos amarrados em um coque baixo, cerca 40 anos, observou a expressão de alegria e as covinhas nas bochechas que apareceram no rosto da espiã.

— Qual o seu nome? — ela não se conteve de curiosidade.

— Clara Rust — ela respondeu olhando para a tigela — e eu só vou falar isso. Não me pergunte…

— Qual sua idade?

— Vinte cinco — Clara murmurou.

Permaneceu ali na cozinha e respondeu somente às perguntas que lhe convinha. Posteriormente, sua tigela ficou vazia e pôs-se a vagar pela mansão sombria e fria, sua arquitetura combinava com o dono. Suas paredes eram acinzentadas como ferro fundido, não havia quadros de artistas nas paredes do corredor e muito menos na sala que observava. Por que tem uma sala de estar numa casa tão grande se não havia uma televisão na parede vazia? Clara apertou a visão assim que viu uma adega e cristaleira grande acima da cristaleira, uma cabeça de cervo empalhada, seus chifres eram altíssimos.

O olhar do animal morto exalava sofrimento, só pessoas com instinto de caça achariam aquilo glorioso. Clara atravessou a sala e seus pés doloridos tocaram a maciez do tapete de pele de urso.

— Ah! Que horror — ela sussurrou.

Abriu a adega e segurou firmemente uma garrafa de uísque Jack Daniels, retirou o lacre, deixando o lençol que a cobria cair sobre o tapete de pele. Havia outras garrafas com rótulos de outras cores, deu dois goles generosos, sua garganta queimou e logo após seu estômago ficou quente. Clara não gostava de uísque, a bebida de sua preferência era vodca. No mais, ela teria que escolher entre vinho e a única bebida quente que tinha na adega engoliu o líquido novamente pelo gargalo da garrafa. Edward gostava de Jack Daniels, se lembrou, agarrou uma garrafa de rótulo preto e atirou pela grande janela, após atirou a de rótulo vermelho. Se tivesse energéticos, provavelmente se lembraria de Rodryg. Suas lágrimas recorreram no seu rosto furioso, ela se cobriu com o lençol e atravessou a porta de saída, caminhou pelo caminho de terra gelada até chegar na porta de acesso para o aeródromo.

Ian olhava para a destruição das janelas, as garrafas que faltavam não eram valiosas, mas as vidraças. Seria trabalhoso para consertar por apenas um olho, ele a observa na porta de entrada para a pista de pouso.

— Quer outra bolsa de gelo? — Albert falou.

Ele segurava uma fatia de bolo na mão e Ian revirou o olho bom assim que viu o sarcasmo em seu semblante.

— Ah, caralho! — ele indagou assim que pisou em um dos cacos de vidro.

Virou seu pé e examinou a pele ensanguentada, retirou o caco pontiagudo, a mulher estava o destruindo e ficou furioso.

Odiou essa experiência.

Caminhou para a saída sem dar importância para as provocações de Albert, iria lhe agarrar pelos braços e a arrastar escada acima e a prenderia no quarto. Sua desobediência era dispensável, ela iria ser obediente a partir dali.

O portão estava fechado com um cadeado de latão azul, ela segurou firme, puxando para frente, não se entregaria fácil para aquela nova vida, elaboraria seus planos de fuga e, após ter falhado em sua missão, conheceu o fracasso e deduziu que poderia falhar, mas não desistiria. Bebeu mais da garrafa que estava na metade, depois pegaria outra e beberia até perder a consciência. Na sua mente, não tinha nenhum plano de fuga. Ela precisava estudar aquele lugar, saber o que tinha além das cercas, já que ninguém respondia suas dúvidas. Os passos eram grosseiros atrás dela e pela respiração firme da pessoa, supôs ser dele.

O tórax dele a espremeu contra a grande da cerca.

— Mandei você vestir roupas e ir me encontrar, assim que terminasse de comer.

— Merda. Você não manda em. Mim — a voz dela soou embriagada — eu já conheço. O inferno.

— Vamos!

— Você… — Clara se desprendeu do aperto que ele dava em seu pulso ferido — Você não manda em mim.

O seu semblante estava hostil. Clara bebeu da garrafa e olhou de maneira desprezível. Ian nunca havia agredido nenhuma mulher. Mas sentiu vontade de lutar contra a que estava à sua frente, sentindo-se derrotado, se pôs ao seu lado e passou a olhar de forma vazia para a pista de pouso. Ela ofereceu a garrafa de uísque e ele bebeu, sendo obediente.

— Você pode fazer o que quiser comigo, mas eu nunca vou te obedecer, só existe uma pessoa no mundo que pode fazer isso. — Ela o encarou com o olhar sério — o nome dele é Edward Rust, eu tenho certeza de que ele vai deixar seu outro olho roxo, e o Rodrgy vai te nocautear com um chute no seu queixo.

— Deixei você bater em mim, não pense que vou deixar quem quer que sejam esses homens me tocarem — Ian passou a garrafa para ela. — aceite seu destino e seja obediente, senhora Kung, você nunca mais vai acertar um soco em mim, juro que baterei em você.

— Eu não tenho medo de você! — Assim que o gargalo da garrafa tocou-lhe a boca, o líquido escorreu no queixo até a fenda do lençol, que mostrava as curvas dos seus seios. — Qualquer pessoa é inimiga, só não bato em crianças e velhinhos. Odeio quem caça os animais. — Falou-lhe, entregando a garrafa.

— Há, você viu o cervo, sabe, minha querida esposa? — Ele segurou o uísque, já meio alterado.

A abraçou e a empurrou, suas costas tocaram o ferro gelado da cerca, ela poderia tremer o queixo se ele não estivesse tão quente enquanto a abraçava, seus lábios se tocaram e suas línguas úmidas se enrolaram por longos minutos.

— Quero que você corra por essa floresta de pinheiros enquanto te caço como um lobo feroz — falou ele ao se desprender dela. Bebeu dois goles do líquido ardente — vou caçar você, coitado do seu corpo frágil.

— Não sou sua esposa e meu corpo não é frágil — ela murmurou enquanto olhava para o peito desnudo dele, para não exibir suas bochechas rosadas.

Ele sorria alto à medida que a arrastava para o interior da mansão. Clara focava sua visão no seu dorso, a tatuagem que não havia dado importância estava exposta, eram asas angelicais, como de anjo, e ela achou muito atraente por se movimentarem nas suas costas robustas. Ian passou direto pela sala e subiu as escadas. Albert sorriu assim que ambos subiram.

Arnold já havia iniciado sua nova sessão de apostas na cozinha, recolheu todas as notas de cem dólares e a solitária nota de vinte, o jardineiro era um “pão duro”. Cruzou o corredor e logo avistou Albert sentado no sofá, olhando para as duas janelas quebradas.

— Você quer participar da aposta? — A voz suave de Arnold o fez sair de seus pensamentos.

Albert era robusto e bem-formado, enquanto Arnold era mais magro, com poucos músculos e seus cabelos castanhos eram penteados para trás. Os olhos castanhos de Albert se fixaram nos seus e, percebendo a tensão do irmão, deu um leve sorriso.

— Quando você vai ligar pra mamãe? — Albert disse, dando cem dólares para o irmão — eu aposto que ele vai se apaixonar primeiro.

— Eu não vou ligar — Arnold falou pegando a cédula.

— A mamãe não tem culpa — o semblante de Albert ficou rígido — você tem que ligar.

— Ele me espancou e você e ela não fizeram nada. Eu não vou ligar, eu não escolhi ser gay, você também acha que isso é um capricho — falou o mais novo, seu semblante era atônito. — Me deixa em paz.

Arnold saiu da sala e voltou para a cozinha. O irmão mais velho sacudiu a cabeça negativamente.

— E se você soubesse que surrei o papai por sua causa — murmurou Albert.

Voltando sua visão para os estilhaços, ao longe vislumbrava as copas dos pinheiros, o vento frio penetrou a sala. Como Clara, ele desejava sua partida da ilha, odiava aquele lugar frio e sombrio, apertou a jaqueta jeans ao corpo.

“Só o Ian gosta desse lugar horrível, Deus me livre”, pensou, se deitando no sofá.

O homem impetuoso abriu a porta da varanda depois que Clara admitiu odiar o clima frio do inferno. Ian deu um sorriso sarcástico e tomou seu lençol. Estava abraçando suas pernas trêmulas, encarava com o rosto em puro ódio, e ele fitou suas partes íntimas. Ela pegou a garrafa de uísque que se encontrava sobre o móvel de auxílio próximo a cama e jogou na sua direção, quebrando a vidraça da janela após ele se desviar.

— Pode quebrar a casa toda, não ligo — ele remexeu seus ombros largos, fazendo uma expressão infantil.

Em seu interior, Clara sorriu, mas com sua expressão séria, por fora, olhou ao redor, observando o grande quarto. Há instantes atrás, havia sido empurrada para dentro com muita força, estava sentada no meio da grande cama com as pernas encolhidas junto ao corpo. Tremia de frio e Ian havia retirado todo o jogo de cama e preparava bebidas perto de uma mesa próxima à varanda. Tinham duas portas na extremidade do quarto, uma ligava ao vestuário e outra ao banheiro. Ele se aproximou segurando dois copos de uísque com gelo, seu sorriso era malicioso e tinha uma expressão de desejo.

— Você não é nada tímida — falou ao lhe entregar um dos copos — gosto disso e odeio também, não quero você mostrando seu corpo por aí.

— Você não manda em mim.

Ian colocou o copo em um dos móveis que ficavam próximo à cama, abriu a pequena gaveta e retirou um baseado recém-feito, entregou outro para ela.

— Tira essa merda de perto de mim — ela deu um gole no copo de bebida.

— Então, você não fuma — ele jogou o cigarro na gaveta e fechou, logo após acendeu o que segurava, expelindo a fumaça para cima dela. — Me fale sobre seus gostos.

Ela sacudiu a fumaça de seu rosto com a mão, inalou um pouco e se sentiu enjoada. O cheiro forte de folha queimada a deixou zonza, mas ainda por efeito do álcool. Ian buscou os travesseiros do chão, empilhou na cabeceira e se deitou, bebeu do copo e, após puxar um pouco da fumaça do baseado, falou sem soltar a fumaça. Clara revirou os olhos para suas provocações e continuou bebendo.

— Qual o seu nome?

— Não vou te falar — ela terminou a bebida servida.

— Seus dentes da frente são um pouco grandes, você parece um coelho — ele disse, soltando a fumaça nos cabelos dela — vamos tomar banho junto.

— Merda, eu estou com frio.

— Vamos tomar banho, coelhinha — ela falou, a agarrando para próximo de si.

— Me solta — ela o evitou.

Seu suor molhou as costas e logo ficou pegajosa, estava frio no quarto. Clara não acreditava que ele sentia calor, observou colocar o cigarro na boca e soltar a fumaça em seu rosto, puxando novamente e prendendo como um passe de mágica. Ian a beijou, envolvendo em seus braços e o gosto da fumaça era doce. Ela sentiu assim que foi transferida para sua boca, seu pulmão, sua garganta se irritou, tossiu buscando ar e sentiu um pigarro doloroso.

Presumiu que estivesse perecendo sem fôlego.

Ele sorria alegremente do seu sofrimento, a puxou para perto de si e Clara suspirou baixo quando sua respiração normalizou, sentiu vontade de vomitar, sua visão estava turva pelas lágrimas.

— Com o tempo você se acostuma.

— Não gosto de drogas — ela sussurrou.

— Isso não é droga — indagou com a voz de certeza — é totalmente natural.

— Não faça isso de novo — a voz soou fraca.

— Ok. Se você não gosta — Ian segurou os cabelos dela e cheirou, estavam embaraçados, mas os cachos continuavam alinhados — você é tão bonita.

Ele puxou gentilmente a cabeça de Clara para o lado, estava dormindo com um fio de baba no canto da boca, a pressionou novamente ao seu peito, sugou a fumaça do baseado outra vez.

— Coelha preguiçosa — ele murmurou.

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Fatima Vieira

Fatima Vieira

doentio

2024-12-17

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1 missão, lobo mau.
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3 gatilhos
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5 missão, lavagem de dinheiro.
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7 Bowl Cut
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