Após o fim da missão, clara se dirigiu para casa da senhora dona da pousada, tomou banho, pôs um conjunto de moletom preto; arrumou os cabelos pretos ondulados, os deixando lisos, seus olhos verdes ficaram pretos com ajuda das lentes de contato e suas maçãs do rosto estavam saltadas por prótese de silicone muito realista.
Ela fez uma última chamada no comunicador, pegou a mala de viagem e saiu do quarto sem deixar rastros para trás.
Queria ver Abigail uma última vez, passando pelo jardim onde se via todos os chalés, pode ouvir a gritaria na entrada da pousada, passou correndo pela grande porta de vidro, logo avistou os repórteres com microfone, câmera e celulares apontados para pobre Abigail que gritava em italiano “vão embora daqui”.
Os repórteres enlouquecidos pela notícia perguntavam “você é a proprietária?”, “Há quanto tempo o Serial killer estava hospedado aqui?”.
A senhora e um homem, negro alto, tentavam fechar as portas da bolsada. Clara olhou para o tornozelo, lembrando-se da pistola, seria conveniente usá-la para afastar os repórteres, pensou em mostrar o distintivo como aviso.
“Não, se eu usar a arma, vou assustar Abigail”. Concretizou.
No fundo, era isso que queria, mas ter sua identidade exposta não era uma opção. O (Agente C) que a Internet amava era um homem impetuoso e heroico, sua identidade foi exposta em 2001, expô-lo novamente seria uma tragédia já que agora ele encontrava-se possuindo outra identidade e gênero.
Clara expeliu o ar dos pulmões e lembrou-se dos treinamentos sobre pressão, abandonou sua mala, caminhou até o alvoroço e encarou os repórteres com olhar sério.
— Por favor, senhores, sejam decentes! Vocês estão invadindo uma propriedade privada e isso é crime! — Indagou com um olhar autoritário.
Os repórteres invadiram o hall de entrada empurrando Abigail e o homem, com suas câmaras e microfones empunhados como armas, na direção da mulher.
A testa começou a suar e os braços pareciam pesados ao lado do corpo, recuou na esperança de fugir, a máscara hospitalar preta que cobria parte do seu rosto, estavam sufocando e logo foi arrancada em desespero; as câmeras ficaram enormes a cada vez que as pessoas se aproximava. A espiã escorregou sobre o tapete caindo por cima da mala, seus olhos estavam prestes a enchesse de lágrimas.
Havia só um medo em sua mente, apesar das missões perigosas que experienciou: seu medo de câmeras era um trauma do passado.
A lembrança do passado apareceu em sua mente enquanto ofegava em busca de ar.
O dia era frio e tenebroso, a despedida dos pais ao partirem para a missão havia sido muito calorosa, ela sempre odiou o frio, Thomas sempre a abraçava apertado, os seus olhos eram azuis piscina, o corpo robusto que poderia a proteger de qualquer impacto. Desde que havia sido adotada, achava que o pai era um gigante, mas sua mãe brincava dizendo ser um príncipe encantado, pois os seus cabelos eram loiros.
A pequena viu os seus pais partirem e sem retorno. Um dia depois, a notícia no noticiário, o ataque terrorista da Al-Qaeda, que deixou mais de 6 mil mortos e os seus pais estavam entre eles. A agência organizou a retirada dos dois irmãos antes que os repórteres chegassem, no entanto, o país estava em alvoroço, demorou mais que o previsto, os agentes chegaram tardiamente. A entrada da casa havia sido interditada por todas as emissoras de notícia.
— Liam, coloca um casaco com capuz na Evellyn, vamos evitar a exposição — indagou uma agente que usava balaclava.
Os seus olhos eram verdes como os de Clara, caminhou até a janela olhando para fora.
— O papai e a mamãe morreram — a pequena disse olhando para a agente.
— Querida, depois falamos disso, precisamos tirar vocês daqui.
— Evellyn, eles se foram, pare de perguntar. — Liam gritou estressado, jogando o moletom azul de seu pai para a irmã, que começou a chorar — para de chorar, você sabe que o chorão sou eu.
— Mas você não vai mais ser meu irmão.
— Por que você está falando isso? — a questionou, segurando em seus braços.
Ela só tinha sete anos, seus olhos eram tão inseguros, Evellyn apertou o moletom com as mãos minúsculas encarando o irmão. Liam estava com onze anos, o que acarretou em um dúvida. Eles não poderiam se virar sozinhos e o pensamento da pequena era de ser entregue para o orfanato novamente.
— Eu sei o que você está pensando, para de pensar nisso, OK! Você, minha irmãzinha, foda-se. — Liam gritou.
Ela concordou com a cabeça, a agente abriu a porta segurando na mão de Liam, quatro grandalhões com roupas militares se mostraram segurando armas AK-47. Assim que o portão da casa abriu, as câmeras começaram com os flashes consecutivos. O irmão abaixou a cabeça de Evellyn, a protegendo dos disparos. Enquanto eles passavam entre a multidão, os homens grandalhões observavam cada pessoa minuciosamente.
— Aqui exclusivamente para o canal BBC, esses são os filhos do Agente C, Thomas Evans e da Agente A, Mia Evans. Eles eram membros da organização secreta URNOS, AQUI, FILME-OS! — a repórter gritou para o operador de câmera.
— Saiam do meio, seus abutres — a agente de olhos verdes gritou.
A mulher robusta empurrava a multidão enfurecida enquanto os homens protegiam as crianças. A Van estava a poucos metros, os repórteres e curiosos não davam passagem, com suas perguntas eloquentes e enfurecidas. Um dos grandalhões introduziu o cano do fuzil nas costelas de um dos repórteres que apontou o microfone na direção de Liam.
— Ele é maluco, quer matar a gente — um outro preferiu.
a multidão ficou ainda mais histéricas. Evellyn ergueu a cabeça, olhando em direção aos repórteres.
— Não para, garota, continue! — o grandalhão que estava atrás deu a ordem.
O descuido foi iminente. Um dos operadores de câmera se lançou sobre a agente, que soltou a mão de Liam. Os repórteres começaram a puxar os casacos das duas crianças. Nenhum dos agentes podia atirar, pois, as armas eram apenas para intimida-lo. Os jornalistas, no entanto, não se intimidaram e continuaram a assediar as crianças. Liam tentava proteger o rosto da irmã, mas os flashes eram incessantes. Ela estava paralisada de medo, com o rosto pálido e os olhos arregalados. A agente se livrou do peso do operador de câmera, avançou contra os jornalistas com chutes e empurrões.
Um dos grandalhões começou a atirar, dispersando os jornalistas. A van pôde se aproximar imediatamente e, minutos depois, todos estavam seguros no interior do veículo.
— Porra! — berrou a agente de olhos verdes, observou por alguns segundos as crianças se abraçando. — Vocês terão que trocar de nome.
Clara deslizou a mão sobre a coxa direita para alcançar a Colt presa ao tornozelo. Abigail gritou em italiano, logo ela pôde recobrar os sentidos, se pôs de pé e encarou os repórteres mais uma vez.
— O quê vocês querem da minha Nona — sem pensar, ela proferiu as palavras com seu italiano mediano.
Abigail se pôs ao lado de Clara, lhe dando auxílio na mentira. Os repórteres tiraram fotos enquanto iniciavam suas perguntas frenéticas. A dona da pousada passou mal após ouvir que o assassino em série havia matado mais de vinte pessoas. Seu neto, um homem negro de porte alto e cabeça raspada, lhe afastou dos noticiaristas.
— Diga-nos de modo claro. O que sabe sobre o ocorrido — ordenou uma repórter com o microfone apontado para o rosto de Clara.
Que sorriu gentilmente. Era da BBC, ela odiava repórteres: queria agredi-los por algumas horas.
— Ele só era um hóspede igual a todos os outros que estão aqui, como a minha avó iria adivinhar que era um assassino — respondeu indiferente, tomando o microfone da repórter — agora deem o fora daqui.
— Temos fontes que dizem que o (Agente C) estava hospedado aqui, você pode nos dizer as características dele? — disse outro repórter, segurando um bloco de notas.
— Eu lá sei disso! — Clara respondeu, remexeu as mãos com desdém.
— Como Oliver estava disfarçado? — outro gritou.
— Ele estava de cabelos tingidos de preto, responde todas as perguntas — indagou ela sorrindo. — Está ao vivo? — ela perguntou para a repórter da BBC, que logo em seguida balançou a cabeça. — Eu te amo, Ed. — Clara jogou o microfone para a mulher — vão embora! — Seu tom era de ameaça.
Logo os jornalistas saíram da pousada. Clara caminhou até a sala de espera, o homem agitava uma revista em frente ao rosto de Abigail.
— De onde tiraram que isso ajuda alguém a respirar melhor — Abigail resmungou, se encostando no encosto do sofá de couro. — Anthony, não consigo respirar.
— Vovó, você está mais branca, igual às páginas da revista — falou Anthony.
— Me desculpe por dizer ser sua neta, eu só queria ajudar — Clara disse.
— Obrigado, querida, não sei o que faria, eles iriam destruir a minha pousada — Abigail disse gentilmente — você entrou pelos fundos da pousada?
— Oh! Sim, eu vi as portas abertos — ela falou sem encarar Abigail — ah! Eu preciso ir — Clara correu e agarrou sua mala.
— Desistiu de pernoitar, desculpe por ser uma péssima anfitriã.
— Tudo bem, tenham uma boa noite! — Clara proferiu sem olhar para trás e saiu da pousada arrastando a mala.
— Volte outra vez, ficarei muito agradecida — Abigail gritou empurrando o neto que ainda sacudia a revista em frente ao seu rosto.
A Clara sentiu o rosto arder ao dizer adeus. E, à medida que se afastava, imaginava que nunca mais veria a senhora de cabelos alvos.
O Cadillac “morreu” dois quarteirões antes do hotel onde seus parceiros estavam hospedados. Clara desceu enfurecida, bateu a porta do carro e deu dois chutes na lataria. Com a mala ao seu lado, pensou em atear fogo no carro, uma ideia sugerida pelo “diabinho” em seu ombro.
Afastou os pensamentos intrusivos e caminhou por alguns minutos até chegar ao hotel. De baixa categoria, se tivesse uma estrela já seria uma honra para os proprietários. A fachada decadente, com a pintura verde-menta desbotada pelo tempo e vidraças rachadas, dava um ar de abandono, não fosse pelas luzes acesas.
Uma mulher de cabelos pretos a observava passar pelo hall de entrada com um olhar curioso. Sem dar importância. Clara, cobriu o rosto coberto pelo capuz do moletom, imaginava estar solitária no mundo.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Fatima Vieira
tem repórter q não tem respeito
2024-12-16
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