O som da televisão estava alto e passava “A freira”. Rodrgy estava cobrindo o rosto com as mãos, Nóz dançava ouvindo música em fones de ouvido, Edward olhava para o televisor.
— A Clara disse que iríamos ver desenhos — Rodryg disse, tirando a mão do rosto.
— Você ainda acredita nela — Edward disse de boca cheia.
A mulher apareceu segurando uma marmita de macarrão com queijo e sentou no meio dos dois, e o sofá preto ficou apertado. Assim que Nóz sentou, seu corpo encontrava-se suado. Ele retirou a camisa social e um dos fones, bebeu um gole da taça de vinho e, após, pegou um pedaço da pizza no centro da mesa. Rodryg se espremeu junto ao corpo de Clara assim que Nóz se encostou nele.
O homem deu uma risada alta para o garoto, encostou a cabeça no sofá, procurando descansar.
— Quero ir pra casa — Rodryg disse, colocando a cabeça no ombro dela.
— Sábado é dia de pizza — Clara pegou uma fatia de pizza e colocou na marmita de macarrão, enfiou uma garfada de macarrão na boca e fez uma careta — Hum! Que delícia, abri a boca, Rod.
O irmão obedeceu, foi enfiada uma generosa garfada de comida. O semblante enjoado apareceu, Rodryg engoliu e logo em seguida buscou o copo de suco de laranja na mesa de centro.
— Que horrível — falou após beber o refresco.
— Edward, a Chris cozinha a pior comida do mundo — Clara falou após mastigar.
— Pelo menos alguém se arrisca na cozinha, você não sabe fritar um ovo. — Ele disse com um sorriso sarcástico.
~~
Suas lágrimas desciam. A luz do novo dia se aprofundava no quarto, ela o empurrou de maneira suave para o lado e Ian a agarrou mais forte, porém ainda estava dormindo. Em seguida, afrouxou o aperto. Clara observou o corpo dele por alguns instantes antes de fechar a porta, seus cabelos pretos caíam sobre a testa formando uma franja delicada no rosto cheio de hematomas.
Desceu as escadas e observou a mulher que havia tombado ao chão assim que se chocaram. A mulher ficou rígida à sua presença. Clara continuou sua caminhada pelo corredor, ouviu algumas risadas, envolta em um lençol fino, caminhou pelo corredor, cruzou a grande porta da cozinha, os homens a encaram em silêncio, um senhor de meia-idade trajado de terno preto se elevou e ficou rígido à sua frente.
— Você é o senhor Mo. — perguntou Clara.
— Sim, — ele não olhava na direção dela, a olhava para cima da cabeça.
— Onde eu estou?
— Na mansão dos Kung 's — ele disse prontamente.
— Em qual país? — ela disse com a voz rígida, deduziu que ele não falaria.
— Não estamos em nenhum país.
— Olha no meu rosto, seu velho — Clara gritou — pra não estar em nenhum país, é preciso estar em outro planeta.
— Mas não estamos em nenhum país — Albert disse sorrindo.
— Você ainda vai ter o que merece — Clara, o ameaçou.
O homem sorriu alto e largou as cartas de baralho que segurava a mão. Caminhou em direção a Clara, os olhos verdes se moviam junto aos passos do homem, aparentava ser mais baixo que Ian seus cabelos castanhos estavam cortados em corte militar e ele tinha um leve cicatriz abaixo no queixo que se estendia até a bochecha; diferente dos outros com corte de cabelo baixou ele não usava terno, estava usando uma jaqueta, jeans, camisa branca, calças jeans de lavagem clara e calçava Air force preto, ela observava seus pés rente aos dela.
— Você não pode ameaçar as pessoas, alguém pode te matar…
Seu corpo se curvou e seu rosto branco ficou avermelhado. Clara o chutou para a direção na qual os homens jogavam cartas. Caminhou até ele, se agachou e colocou o cabelo atrás da orelha. Albert buscou ar engasgado com saliva.
— Nunca mais puxe meu cabelo.
Todos na cozinha ficaram estagnados.
Assim, ela deixou Albert caído no assoalho da cozinha. Cruzou a porta e a varanda, com o lençol arrastando no chão úmido. Avistou os picos de duas montanhas, e seu rosto se contorceu de terror. O cachorro da noite anterior se sacudiu e começou a ir em sua direção. Ela caminhou pelo extenso jardim e logo parou ao lado de uma grande árvore solitária de pinheiro, reconhecendo de imediato que era um ‘pinus cembra’. À frente, havia uma floresta cheia deles.
Olhou na direção em que havia corrido na noite passada e viu um grande aeródromo, sem aviões, apenas com galpões altíssimos de ferro. O cachorro, agora mais próximo, balançava o toco de rabo de forma quase cômica, como se estivesse apenas querendo brincar. Apesar da tensão. Clara não pôde deixar de achar engraçado o contraste entre o terror da situação e a atitude amigável do cão.
Voltou sua visão para os picos das montanhas.
Neve.
Ali era o inferno.
Passaria férias no inferno, como dissera para o seu irmão.
O rosnado alto chamou sua atenção e fitou o cachorro ao seu lado. O animal olhou para a direção do som, ela fez o mesmo. Em sua frente, havia outro rottweiler, esse era parrudo, faltava um pedaço do focinho e da orelha direita caminhava lentamente ao seu rumo, rosnava ferozmente com sinais de um iminente ataque.
— Não corre! — Ian, gritou e pôs-se a correr.
E igualmente as mulheres na porta da cozinha gritaram.
Clara se abaixou na altura do cachorro. Prata ficou à sua frente e farejou seu focinho e a cachorra recuou.
— Gold, stop! — Ian exclamou, segurando sua pelagem.
O animal correu em direção à mulher abaixada. Clara arregalou os olhos, sem demora o homem desvencilhou-se, o cachorro saltou em cima de seu corpo, fazendo-a cair. Gold lambeu seu rosto em sequências, ela sentiu o cheiro de ração, sua boca encheu-se de baba do animal. Ela cuspiu enquanto afastava o cão gorducho.
— Ah, que nojo!
— Que bruxaria, você fez? — indagou ele, puxando a cachorra.
Seus seios balançaram ao levantar o tronco, Ian direcionou o olhar para a entrada da cozinha e todos que estavam assistindo correram para dentro da mansão. Ele se agachou e escondeu sua nudez com um lençol, seus olhos estavam cheios de raiva enquanto lhe entregava uma escova de dentes e se levantava. Clara pegou o objeto e se ergueu, afastando as mãos dele do seus corpo.
Caminhou até a cachorra e enfiou a escova de dentes na boca do animal, que começou a mastigá-la, segurando entre as patas.
— Essa era minha escova — ele falou, seguindo-a para dentro da mansão.
— Vai se foder — Clara indagou, entrando na cozinha.
O homem que a pouco sorria estava com o rosto enfurecido, ela, se sentando à cadeira, deu um sorriso sarcástico para Albert, ele queria matá-la, seu olhar dizia com clareza, o coitado não conhecia as regras dos irmãos Rust's, a mulher o havia perdoado.
À sua frente, encostada no lavabo, a mulher que havia mostrado a saída lhe olhava com o rosto avermelhado. Clara abaixou a visão para o seu colo, o pano que não camuflava seu corpo.
— Qual é o seu nome? — Clara perguntou.
— Glória Rubens, sou a cozinheira — ela sussurrou envergonhada.
— Glória, eu estou com fome.
Ian passou, chamou a atenção de todos os homens que estavam na cozinha e, no fim, todos acabaram o seguindo, devido ao seu olhar furioso.
Não havia comida posta à mesa, mas tinha uma panela de mingau de aveia. A cozinheira pousou em sua frente uma tigela de porcelana e ao lado colocou uma colher.
O gosto era doce, o aroma de canela acompanhou o sabor adocicado.
— Isso é ótimo, obrigada! — Após falar, comeu saboreando cada parte.
— Vem comigo! — Ian falou ao entrar novamente na cozinha.
— Não está vendo que eu estou comendo — ela colocou outra colherada de mingau na boca e engoliu — e você não manda em mim.
Ele não era paciente, e suas ordens eram um estorvo. Ian agarrou a tigela e saiu da cozinha.
— Não dê comida para ela. Glória — ele ordenou à cozinheira.
— Que merda! — Clara murmurou e começou a segui-lo.
Subiu todos os degraus imaginando o que aconteceria se ela enfiasse a colher no meio da garganta dele, ainda estava em missão, não podia matá-lo, talvez depois que pegasse as malditas notas fiscais, iria embora dali, tinha certeza. Passou pela porta, tirando a tigela das mãos dele. Sentou-se na cama e esperou um comando que não obedeceria.
— Você é a senhora Kung agora, use roupas e não saia por aí mostrando o seu corpo. — Ian gesticulava com as mãos.
— Senhora Kung? — Clara o fitou com os olhos indiferentes.
— Sim! — ele apontou para o seu dedo anelar.
Ele usava uma aliança de ouro. Clara olhou para a mão que segurava a colher, havia outra aliança de ouro com pedras brilhantes.
— Que merda é essa?
Se pondo de pé, tentou retirar a aliança ao passa-la pela primeira juntura dedo, sentiu um choque franco que logo aumentou e forçou seu coração e o órgão ficou acelerado. Poderia ter uma parada cardíaca com aquilo.
— Se você a tirar, seu braço vai explodir, talvez seu coração pare — ele orientou.
— Seu maluco!
— Assim que terminar de comer, vista-se, vou mostrar a casa e os lugares a que você não pode ir.
A porta bateu, após sua exigência. “Não vou sair daqui, foda-se com suas ordens. Sr. Ian”, ela enfiou a colher no mingau e sentou-se na cama, comendo de forma trivial.
(…)
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 74
Comments