O primeiro a sair do avião foi o homem sorridente, e logo Arnold, que estava ao lado do mordomo, ficou desanimado. Brendo saiu estalando as costas e após o copiloto, por último, saiu Ian sem exibir o rosto da mulher em seus braços. O mordomo ficou próximo a ele, esperando suas ordens.
— Bom dia, senhor. Como foi a viagem? — Mo falou entusiasmado. Havia três herdeiros, Kung, e Ian era o seu preferido.
Percebeu que seus olhos eram os mesmos da época de sua infância, tinham felicidade por conseguir algo novo e seu pôr inteiro.
— Senhor Mo. Venha, me acompanhe — Indagou Ian, sorrindo gentilmente.
Os dois caminharam pela pista do aeródromo. As temperaturas na ilha variavam entre 6 e 12 graus Celsius, e estava fazendo 6 graus Celsius. Ele não se incomodava com o frio, o clima era perfeito para apaziguar suas dores de cabeça, pelos seus planos passaria duas semanas em seu refúgio; atormentaria a vida da mulher em seus braços até o dia da sua partida. Atravessaram a grade de proteção por uma porta de acesso, Prata o Rottweiler apareceu abanando o toquinho de rabo com curiosidade.
— Ei, garoto, você está cuidando bem da sua parceira — Ian falou em tom brincalhão — veja, encontrei uma mamãe para você — deu uma piscadela para o cão.
O cachorro se sacudiu animado, instantes depois Ian estava subindo a escadaria para o segundo andar. Mo seguiu para a cozinha ao ouvir o pedido do seu senhor, que queria ficar um pouco sozinho com a sua “convidada especial”.
— Então? — Ruth questionou assim que Mo. Entrou na cozinha.
Ela e Glória tinham os semblantes animados. Na porta que ligava o jardim, apareceu Arnold falando alto com o homem sorridente. Ele era seu irmão mais velho, Albert. Brendo entrou na cozinha, contemplou a grande mesa quadrada, havia bolo, pães, uma cesta de frutas e sucos naturais. Aos seus olhos, era impossível decidir o que comer, logo se sentou e apanhou um pedaço de bolo.
As mulheres estavam na frente de Mo. Esperando respostas.
— Ela é uma convidada especial — ele falou — quando ela acordar, vai ter gritos pela casa.
— O quê! — as duas gritaram em simultâneo.
— Passa pra cá — o jardineiro falou, estendendo a mão para Arnold.
— Filho da puta! — Arnold gritou, entregando o bolo de dinheiro.
O jardineiro segurou o montante contando as notas, o copiloto entrou se acomodando ao lado do jovem esfomeado, e igualmente o irmão de Arnold fizera. Ian apareceu na porta da cozinha, ele vestia um conjunto de moletom e seus pés estavam descalços, o seu cabelo estava bagunçado para o lado.
— O que vocês estão fazendo — ele olhou sério.
— Nada — todos falaram em uníssono.
O jardineiro passava metade do dinheiro para Mo.
— Senhor Mo. Venha comigo.
De imediato, o mordomo acompanhou-o pelo corredor extenso, não sabia o que o rapaz pensava, mas pela forma como apertava algo nos bolsos da camisa de moletom, não era nada conveniente.
Subiram as escadas a passos suaves, logo no topo, Ian caminhou rápido e alcançou a maçaneta prateada e abriu a porta.
— O que você verá, ira ser um tanto perturbador — Ian o avisou.
Mo ergueu a sobrancelha e colocou seus óculos, não queria enxergar o desconhecido com a visão turva. Assim que se infiltrou no quarto, observou a mulher despida em cima da cama e desviou o olhar.
— Isso não é algo possível.
— Ela tem olhos verdes — disse Ian, se sentando na cama, no mesmo instante a cobriu com o lençol fino — achei que era obra daquele porco, mas ela só queria roubar algo. Tentou atirar em mim com uma arma tranquilizante, o Simon é um idiota — falou sorrindo. — Bom, agora não vou precisar ir naqueles encontros malditos.
Ele tirou a camisa e se deitou ao lado de Clara, se aninhando ao rosto dela.
— O senhor Simon observou a semelhança.
— Ficou tão surpreso quanto você — Ian a puxou para mais perto de si — ela está parecendo uma boneca de porcelana gelada, acho que o Albert colocou muito clorofórmio na toalha — ele afundou o rosto nos cabelos dela. — Quero uma furadeira, correntes e algemas.
— Parece algo impossível! — Mo falou sem dar ouvidos para os pedidos do seu senhor. — Parece sua mãe.
Ian revirou os olhos ao erguer a cabeça.
— Mas ela não é, você vai ver quando estiver acordada — virou-se de bruços, inquieto. — Traga o que lhe pedi, quero dormir.
— Você tem certeza de que quer fazer isso, com uma pessoa igual à sua mãe? — Mo o questionou com uma voz autoritária.
— Grr. Já falei que ela não é igual à minha mãe.
Logo após o mordomo retirar-se, ele sacudiu a cabeça negativamente enquanto fechava a porta atrás de si. Ian tinha um tio monstruoso e ele havia ensinado coisas horrorosas para o sobrinho, aquilo era fruto da sua companhia.
Mo. Apareceu na cozinha e Glória lhe encarou com o semblante sério. Pegou uma mala de ferramentas na despensa, uma chave que ficava presa solitária em um gancho ao lado de outras chaves e saiu da cozinha.
O relógio da parede marcava sete da noite, todos jantavam em silêncio. Ian comia o mais rápido que conseguia, seus olhos estavam vermelhos. Ruth o questionou sobre o ferimento no rosto, e a respondeu com simples um sorriso no rosto.
— Foi a convidada especial — foi Albert quem disse.
Ninguém acreditou, mas o nariz dele está arroxeado como prova; Ian pegou uma garrafa de água e saiu da cozinha.
A mansão estava do mesmo jeito e observou cada detalhe enquanto caminhava para o andar de cima. A brisa gélida que vinha das janelas lhe causou algo provocativo e se lembrou da mulher dormindo no andar de cima.
— Aqui estão as coisas que o senhor pediu. — Mo entregou-lhe uma maleta e as correntes fizeram barulho ao serem entregues. — Não vou participar disso.
— Poxa? Mestre, achei que você iria querer me ver fodendo lá em cima — Ian falou em tom brincalhão, o mordomo ficou boquiaberto. — Estou brincando, Senhor Mo.
— Suas piadas, não têm graça, senhor Ian — o mordomo falou, seguindo para a cozinha.
— Você era bem divertido quando tinha minha idade.
— O Senhor vai entender quando chegar a minha idade — o mordomo gritou.
Deixou a garrafa de água ao pé da escada e subiu, enquanto as correntes chacoalhavam em sua mão, produzindo ruídos baixos. Ian entrou no quarto. Clara estava em outra posição, com a mão próxima ao rosto e uma expressão chorosa. Ele a admirou por um instante, em seguida, observou seus olhos. Organizou a furadeira e os ganchos que ele não havia pedido, mas o mordomo entendia muito bem o que iria acontecer com os elos. Fez quatro perfurações rápidas, quinze centímetros acima da cabeça dela. Logo, uma das correntes e os ganchos estavam presos conforme o esperado. Prendeu as mãos dela aos grilhões, passou outra peça de ferro entre as mãos algemadas, fechou o cadeado e colocou as chaves no móvel de noite.
…
Se encontrava presa em seu sonho, mas jurava ser uma punição divina. Havia falecido e Deus está dando uma última chance de provar algo bom antes de descer para o inferno. Sua mãe estava em sua frente como um espectro de alma, sua franja ficou bagunçada pelo vento quente e suas bochechas estavam vermelhas. A toalha de piquenique estava presa com tijolos de concreto, o lodo do bloco era nítido aos seus olhos, igual à imagem de sua mãe.
Seus cabelos pretos, longos até a cintura, balançavam com a brisa fresca, vestia seu vestido preferido na cor verde musgo, ele dava destaque aos seus olhos azuis-escuros e eles brilhavam de felicidade em tom involuntário. Clara tentou abraçá-la.
E a imagem ficou turva.
— Mamãe, Evellyn me deu um soco — Liam gritou.
— “tava”, brincando de espião — Evellyn disse, se justificando — Você, chorão Liam.
“Oh! Merda”, ela praguejou em pensamento assim que observou sua imagem. A menina tinha os cabelos curtos à altura do pescoço e vestia roupas de menino. Um macacão jeans e blusa amarela em seus pés, haviam sapatos rosas com logo da Barbie e sua boca tinha duas “janelinhas”expressando a falta de dentes da frente.
— Já falei para você não bater em seu irmão. — Assim que a voz suave de sua mãe foi ouvida, ela chorou.
— Você vai ser uma espiã muito briguenta.
Clara virou-se em movimento rápido assim que ouviu a voz do pai, ele ainda era alguns centímetros mais alto. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente e ao sentir seu corpo ser atravessado pelo espectro, ela amaldiçoou o sonho, a imagem dele ficou turva. Clara, o observo agarrar a pequena garota no colo e lhe dar um beijo na bochecha.
Chorava dormindo e a gravata cinza que fora usada para vendar seus olhos estava encharcada. Ian observava, de maneira gentil, as lágrimas que escorriam. Com as mãos ao queixo, arrastou o pano para ter a certeza de que ela ainda estava dormindo.
— O que é pior, seu sonho ou a realidade? — Indagou sem esperar respostas, pois os olhos dela estavam fechados. — Para mim, o sonho é o pior lugar para ficar.
Ian deitou-se sobre o seio desnudo dela e o seu coração batia acelerado, fechou os seus olhos por um curto período. Ele olhou o celular sem sinal que marcava vinte e uma horas. Saiu de cima de Clara e ficou respondendo torpedos antigos. No bolso das calças estava o restante do baseado inacabado, fez o colo da mulher de apoio e colocou o celular em cima. Acendeu o baseado e ficou fitando a escuridão da janela, soltou a fumaça espessa, depois sugou-a do ar. Repetiu esse processo por alguns minutos até restar o final do cigarro de maconha, brincou com os cachos dos cabelos dela até se sentir entediado.
E demorou para sentir esse sentimento.
Seus olhos piscavam lentamente, caminhou cambaleando até a varanda, estava sentindo calor, do lado de fora vislumbrou a escuridão extrema e para ele o tempo passava de maneira lenta. Olhou para o horário no celular, os números lhe deram um leve delírio, mas logo presumiu serem vinte duas horas.
(…)
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Fatima Vieira
eles são irmãos?
2024-12-17
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