Um frio percorreu minha espinha. O nervosismo voltou a aflorar, minhas mãos ficaram suadas. Os outros começaram a descer as escadas, os vestidos esvoaçantes e os trajes elegantes se misturando em um espetáculo de cores e brilhos. As portas do salão principal foram abertas, e o burburinho dos convidados chegou até nós.
— Seremos os últimos — Noah explicou, seus olhos escuros capturando os meus. — Você está pronta?
Engoli em seco, olhando para a imensidão do salão abaixo. Cada fibra do meu ser estava em alerta. Então, inspirei fundo e assenti.
— Sim.
Ele apertou minha cintura gentilmente e sorriu.
— Vamos mostrar ao mundo que ninguém brinca com os Mansur.
Ao seu lado, eu sabia que poderia enfrentar qualquer coisa.
Da janela do segundo andar, minhas mãos apertaram instintivamente o parapeito frio quando os vi chegando. Meu pai, com sua pose impecável de homem respeitável, usava um terno escuro e caminhava com a confiança de quem acredita ser invencível. Ao seu lado, minha mãe ostentava um vestido vermelho de seda, seus cabelos perfeitamente arrumados e um sorriso falso, mas que disfarçava bem a infelicidade que sempre esteve presa em seus olhos. E então vi minha irmã. Seu rosto inocente e despreocupado trouxe uma onda de memórias dolorosas, lembranças amargas daquele dia em que fui arrancada de casa e agredida por aqueles que deveriam me proteger.
Uma náusea subiu pela minha garganta, quente e sufocante. Senti meu estômago se revirar, o peso das lembranças esmagando meu peito. Minha visão começou a se turvar.
— Alana? — A voz de Noah era baixa, mas carregada de preocupação.
Virei o rosto para ele, incapaz de dizer uma palavra. Ele não precisou de explicações. Em um movimento rápido e gentil, passou o braço por minha cintura, me guiando até o banheiro mais próximo.
Apoiei-me na pia de mármore frio, tentando respirar fundo. Noah ficou ao meu lado, uma presença firme e protetora. Suas mãos pousaram em meus ombros, apertando levemente, como se tentasse me transmitir sua força através do toque.
— Está tudo bem — ele murmurou. — Estou aqui.
Foi então que ouvimos o som do microfone se ajustando no salão. A voz de Lorenzo Mansur ecoou pela mansão, firme e imponente:
— Boa noite a todos! Em nome da família Mansur, quero agradecer a presença de cada um dos nossos aliados, amigos e parceiros. Esta é uma noite de celebração, uma noite que marca não apenas nossas conquistas, mas o início de uma nova era.
As palavras de Lorenzo ressoaram com poder e promessa.
— Hoje, brindamos aos grandes lucros, às alianças fortalecidas e às vitórias conquistadas com honra e determinação. Cada um de vocês é parte desta história, parte da força que nos mantém unidos e invencíveis.
Houve uma pausa. Podia-se sentir o peso das palavras pairando no ar.
— Esta noite será inesquecível — Lorenzo continuou. — E, para torná-la ainda mais especial, quero anunciar uma nova união, um noivado que simboliza o futuro da nossa família. O noivado do meu filho e sucessor, Noah Mansur!
Meus olhos se arregalaram. Senti Noah se endireitar ao meu lado, a tensão se manifestando em seus músculos. Ele me olhou, sua expressão suave, mas resoluta.
— Está pronta? — ele perguntou, a voz baixa.
Engoli em seco, o coração martelando contra minhas costelas. Eu não estava pronta. Mas a verdade era que nunca estaria. Era agora ou nunca.
— Sim — sussurrei.
Ele esticou o braço, os dedos firmes e quentes, uma âncora em meio à tempestade de nervosismo e medo.
— Vem comigo.
Agarrei o braço dele e juntos caminhamos até o topo da escadaria. As luzes brilhantes do salão dançavam abaixo, refletindo nos rostos dos convidados. Quando aparecemos no alto da escada, o salão mergulhou em um silêncio quase ensurdecedor.
Senti os olhares de todos se fixarem em nós.
Meus olhos procuraram instintivamente os deles. Meu pai. Sua expressão congelada em um misto de choque e pavor. As pupilas dilatadas, o rosto pálido, os lábios ligeiramente entreabertos. Ele não conseguiu disfarçar o nervosismo, e naquele instante, a máscara de controle e poder escorregou de seu rosto.
Uma onda de satisfação amarga percorreu meu peito. Por tantos anos ele me fez sentir pequena, insignificante, como se minha existência não importasse. Agora, eu era a peça-chave em um jogo que ele não conseguia controlar.
Apertei o braço de Noah com mais força, e ele respondeu com um leve apertar de dedos, como se dissesse: Você está no comando agora.
Respirei fundo, ergui o queixo e dei o primeiro passo escada abaixo.
Os passos me pareceram eternos enquanto descia a escadaria ao lado de Noah. Cada olhar preso em nós, cada sussurro que ecoava pelo salão, parecia aumentar o peso dos meus pés. A sensação de estar exposta e vulnerável era esmagadora, mas o braço firme de Noah era meu único ponto de equilíbrio.
Ao alcançarmos o último degrau, a figura imponente de Lorenzo Mansur se destacou à frente. Seu terno impecável, a postura ereta e o olhar afiado transmitiam uma autoridade inquestionável. Quando seu rosto se abriu em um sorriso caloroso, uma onda de alívio percorreu meu corpo.
— Sejam todos testemunhas — Lorenzo anunciou, a voz firme e ressonante — da nova união que se forma sob o nome dos Mansur.
Ele estendeu a mão, e eu a segurei com um tremor quase imperceptível. Lorenzo olhou diretamente nos meus olhos, e sua voz suavizou-se apenas o suficiente para que eu sentisse a sinceridade por trás de suas palavras.
— Seja bem-vinda à família, minha nora. Sob este teto, você é uma protegida Mansur. Ninguém ousará tocar em você.
Um murmúrio de aprovação se espalhou entre os convidados. O peso de ser uma protegida Mansur era imenso, mas pela primeira vez, senti que não estava sozinha. A promessa implícita naquela declaração reverberou pelo salão e ecoou dentro de mim.
Lorenzo então virou o olhar para meu pai, que tentava manter a compostura, mas o suor que despontava em sua testa o denunciava.
— Senhor Duarte, aguardo você no meu escritório para tratarmos dos últimos detalhes.
Meu pai engoliu em seco, os olhos desviando por um segundo. A confiança que ele sempre exibia em público parecia se esvair lentamente, como areia por entre os dedos.
— Aproveitem a festa! — Lorenzo anunciou, com um sorriso calculado. — Esta será uma noite para ser lembrada.
Com essas palavras, ele nos deu espaço para seguirmos adiante, a música voltando a tocar e os convidados se dispersando lentamente. Noah ainda segurava minha mão, mas quando olhei para ele, vi o lampejo de um sorriso satisfeito em seus lábios.
Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas naquele momento, senti uma certeza estranha: estava mais segura aqui, entre os Mansur, do que jamais estive ao lado dos meus próprios pais.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Cleise Moura
Para com esse negócio de desmaiar seja forte e vai em frente Alana
2025-03-18
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Cleise Moura
Pronto o velho desgraçado se cagou de nervoso e medo 😡😱
2025-03-18
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Arlete Fernandes
Pra ver como são as coisas agora uma protegida dos Mansur!
2025-03-03
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