Fui embora da boate com os punhos cerrados e a raiva pulsando sob a pele. Aquilo tinha passado dos limites — um pai usar a própria filha como pagamento de uma dívida? No meu mundo, eu já tinha visto muita coisa suja, mas isso… isso era a escória da escória.
As ruas escuras da cidade passavam borradas pela janela do carro, mas minha mente estava fixa na imagem dela. O olhar de pavor, os olhos claros cheios de lágrimas, o cabelo crespo despenteado emoldurando um rosto que não devia estar ali. Ela parecia tão jovem, tão deslocada naquele cenário podre.
Quando percebi, estava em casa, no meu quarto, mas o sono se recusava a chegar. Virei para um lado. Virei para o outro. A imagem dela me atormentava.
Quem era ela?
Eu não sabia nem o seu nome, e isso me deixava ainda mais inquieto. Só sabia que aquele olhar desesperado tinha marcado algo em mim que eu não conseguia explicar. Uma garota jogada num jogo doentio que ela nem sequer escolheu.
Levantei da cama, passei as mãos pelo rosto e fui até a janela. A cidade brilhava em tons de azul e vermelho, mas aquela luz não me trazia paz.
Que tipo de mundo faz isso com uma pessoa?
Por mais que eu conhecesse os horrores do submundo, aquilo parecia pessoal. Era como se a injustiça tivesse um rosto agora — os olhos dela, o medo dela.
Fechei os olhos e respirei fundo. Ela não merecia estar ali. Nenhuma mulher merecia. E eu não conseguia tirar da cabeça a sensação de que aquilo estava longe de acabar.
Logo, eu estaria frente a frente com ela de novo.
Não sabia como nem por quê, mas sabia.
ALANA:
Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava o telefone. A ficha caiu com aquele som metálico, e por um segundo, pensei que não conseguiria nem falar. A linha fez aquele barulho abafado, e logo a voz conhecida atendeu do outro lado.
— Alô? — Giulia soava desconfiada, o que não era surpresa. Chamadas de orelhão em plena madrugada nunca eram sinal de coisa boa.
— Giulia, sou eu, Alana. — Minha voz saiu fraca, quase um sussurro. — Preciso de ajuda.
Houve uma pausa. Podia imaginar o olhar cauteloso dela, a mente rápida processando o que poderia ter acontecido.
— Onde você está? O que houve?
Engoli em seco. A dor no meu pulso, a lembrança dos homens rindo e me arrastando para aquela boate ainda queimavam na minha pele.
— Não posso explicar agora. Só preciso de um lugar para ficar. Por favor.
Giulia respirou fundo.
— Claro, Lana. Pode vir aqui. Minha casa é sua casa, você sabe disso, meu pai está em missão com o patrão e como sabe eu não tenho mãe né, vem — ela como sempre fazendo piada daquilo..
Fechei os olhos, aliviada, sentindo lágrimas quentes ameaçarem cair. A sorte era algo que nunca me sorriu muito, mas naquele momento, ela me deu uma migalha na forma de uma amiga leal.
— Obrigada. Estou indo agora.
Desliguei o telefone e saí do orelhão, sentindo a noite fria contra o rosto. As ruas estavam desertas, só o som distante de motores e passos apressados preenchia o silêncio. A ficha no orelhão tinha sido a última sorte que me restava — ou talvez a sorte fosse o simples fato de um orelhão ainda existir.
Com a adrenalina correndo, segui até a casa de Giulia. Ela era filha de um soldado, gente simples, gente que não nega ajuda. Quem sabe, se eu tivesse sorte, ela poderia saber de algo. Uma informação, uma pista, qualquer coisa que eu pudesse usar contra meu pai. Contra o homem que me vendeu sem pensar duas vezes.
Talvez ainda houvesse uma chance de virar o jogo.
Talvez.
Giulia me olhou com aquele misto de preocupação e cautela enquanto eu devorava o chá quente que ela tinha me dado. Minhas mãos ainda tremiam, mas o calor do líquido começava a acalmar o frio no peito. Ela se sentou à minha frente, cruzando os braços, os olhos escuros me analisando com cuidado.
— Alana, agora você tem que me contar o que está acontecendo. Quem fez isso com você?
Respirei fundo. A imagem do meu pai, com aquele olhar frio e indiferente, me acertou como um soco. Um ódio seco subiu pela garganta.
— Meu pai me entregou para pagar uma dívida. Me vendeu como se eu fosse um objeto, Giulia. — Minha voz saiu amarga, e vi o rosto dela empalidecer.
— Desgraçado! — Ela cuspiu a palavra, os olhos brilhando de raiva. — Como ele teve coragem?
— A coragem que um covarde tem quando vê a própria vida em risco. Mas eu não vou deixar isso barato. Ele vai pagar, de uma forma ou de outra.
Ela franziu a testa, claramente tentando processar tudo aquilo.
— Você tem um plano?
— Tenho uma ideia. — Meu coração batia rápido enquanto eu formulava as palavras na mente. — Você conhece alguém que pode me levar até a liderança da família Mansur?
Giulia arregalou os olhos.
— Os Mansur? Alana, você sabe o que está dizendo? Se você se meter com eles, não tem volta.
— Eu sei. — Minha voz estava firme, mesmo que uma parte de mim tremesse por dentro. — Eles têm poder, Giulia. Se há alguém que pode esmagar aqueles russos e resolver essa dívida, são eles, meu pai não deveria ter dívidas com russos, isso faz dele um covarde e traidor.
Ela ficou em silêncio por um momento, mordendo o lábio inferior. Então, levantou-se e foi até uma gaveta no canto da sala. Tirou de lá algumas fotos desgastadas e espalhou sobre a mesa. Eram imagens de homens com posturas rígidas, olhares frios e implacáveis.
— Aqui. — Giulia apontou para um deles. — Esse é Lorenzo Mansur. Ele é o cara que você precisa encontrar, ele é o Don, Líder de toda a Itália. — Ela suspirou. — A clínica onde eles fazem negócios e operações discretas fica no centro da cidade. Se você mencionar que tem informações sobre russos operando na Itália, eles vão te ouvir.
— Informações? — Olhei para ela, confusa.
Giulia assentiu, os olhos sombrios.
— Meu pai ouviu boatos de que os russos estão tentando recuperar território. É o tipo de coisa que os Mansur não deixam passar. Se você usar isso, eles vão te receber. Mas, Alana... — Ela segurou minha mão com força. — Depois disso, seu pai não terá chance. Eles vão acabar com ele.
O vazio que senti foi quase reconfortante.
— Ele não merece nada, além disso. — Minhas palavras saíram frias, sem remorso. — Ele me entregou para monstros, Giulia. Qualquer destino que ele tenha será melhor do que ele merece.
Ela me encarou por um momento, buscando qualquer sinal de hesitação no meu rosto. Mas tudo que encontrou foi raiva e uma determinação impiedosa.
— Então vamos lá. — Ela recolheu as fotos, a voz tensa. — Vou te ajudar a encontrar o Don Mansur. Só me promete uma coisa...
— O quê?
— Que, quando isso acabar, você ainda consiga ser você mesma.
Engoli em seco. A Alana que eu conhecia já estava em pedaços. Se algo de mim sobrevivesse a isso, seria um milagre.
— Não prometo nada. — Olhei para ela, os olhos ardendo. — Mas vou lutar para ter, pelo menos, a minha liberdade.
— Certo, posso te levar amanhã, meu pai levará semanas, ele nunca avisa quando volta, só manda dinheiro na conta, já me abandonou, mas ainda me sustenta né — falou e concordei agradecendo pela cama quentinha e assim passamos a noite.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Eva Mineia Pinheiro Maia
gostando muito da estória.
2025-02-11
1
Vaniza Goncalves
ser que é agora que vão se encontrar?? 🤞🏻🤞🏻tomar a
2025-02-10
0
Cleise Moura
O velho escroto agora tá lascado
2025-03-18
0