Deu errado.

    A luz do sol entrava pela janela, atravessando a cortina fina e aquecendo o meu rosto. Abri os olhos devagar, sentindo meu corpo pesado depois da noite agitada. Giulia já estava acordada, mexendo em algo no celular, mas seus olhos logo se voltaram para mim com um misto de preocupação e apoio silencioso.

— Dormiu bem? — ela perguntou, forçando um sorriso.

— O melhor que pude, respondi, forçando outro de volta.

O cheiro de café fresco invadiu o quarto. Me levantei e segui até a pequena cozinha. Giulia me entregou uma xícara e sentamos lado a lado à mesa. Por um momento, saboreei o café quente, tentando encontrar uma coragem extra dentro de mim.

— Tem certeza disso, Alana? — a voz dela estava baixa, quase um sussurro.

— Tenho. Não tem mais volta, Giulia.

Ela suspirou, olhando para a mesa, mas não insistiu. Amigas de verdade sabiam quando era hora de apoiar e não questionar.

Depois de nos arrumarmos, saímos de casa. O ar frio da manhã bateu no meu rosto, mas meu corpo estava quente de nervosismo e determinação. Andamos em silêncio até a clínica. Cada passo parecia um martelar dentro do meu peito, mas minhas pernas não fraquejavam. Eu não ia me acovardar agora.

Quando chegamos em frente à recepção, Giulia apertou meu braço.

— Vou embora logo depois. Isso aqui é perigoso demais para mim.

— Eu sei, respondi, apertando de volta.

A mulher na recepção olhou para nós por cima dos óculos, com um desdém que parecia reservado para garotas que claramente não pertenciam ali. Ela examinou meu jeans surrado e a jaqueta desgastada antes de perguntar:

— O que vocês querem?

Engoli em seco e respirei fundo. Minha voz saiu firme:

— Preciso falar com Lorenzo Mansur.

A mulher arqueou uma sobrancelha, a descrença estampada em cada linha do rosto.

— Você e mais quantas garotas? — ela debochou.

Antes que eu pudesse responder, um dos seguranças altos e vestidos de preto se aproximou. Seus olhos eram severos, medindo minhas intenções.

— Por que quer falar com ele? — a voz grave ressoou em meus ossos.

— Tenho informações sobre os russos.

A tensão no ar mudou instantaneamente. O olhar do segurança se estreitou, avaliando cada palavra dita. Ele assentiu uma única vez e apontou para um corredor lateral.

— Entrem. Agora.

Giulia segurou meu braço com força, os olhos arregalados de medo.

— Alana, o que você está fazendo? Eles não vão me deixar sair!

Me virei para ela e segurei seu rosto com as duas mãos.

— Agora é tarde para voltar atrás, Giulia. Se você quiser ficar fora disso, corre enquanto ainda pode. Mas eu preciso fazer isso.

Ela mordeu o lábio, lágrimas nos olhos, mas acenou em silêncio. Soltei meu toque e segui em frente, sentindo a porta se fechar atrás de nós com um som definitivo, mesmo assim soltando ela o segurança a mandou entrar também.

Meu coração pulsava tão forte que eu podia ouvi-lo nos ouvidos. Era agora ou nunca.

A porta se fechou atrás de mim, e por um instante, o mundo pareceu ficar em silêncio. Meu coração batia tão forte que eu podia senti-lo na garganta. Aquele salão estava cheio de homens perigosos — os verdadeiros donos do submundo italiano — e eu sabia que cada palavra que saísse da minha boca poderia ser a diferença entre sobreviver ou desaparecer para sempre.

Eu inspirei fundo e ergui o queixo. Coragem, Alana, eu pensei. Não tinha mais volta.

Meus olhos encontraram Lorenzo Mansur primeiro, o patriarca, com um olhar calculista que parecia enxergar através da minha pele. Depois, Cesare, com sua frieza controlada. Antony, o executor, me analisava como se calculasse o peso da minha alma. Theo e Enzo, os primos, pareciam quase relaxados, mas seus olhares não perdiam nada.

E então havia ele. Noah.

Os olhos dele me prenderam. Eram intensos, curiosos, mas com uma dureza por trás. Cabelos escuros, barba por fazer e aquele olhar que parecia atravessar minhas defesas. Era o mesmo homem da noite anterior, o mesmo que hesitou por um instante antes de me deixar para trás... e que agora parecia tão surpreendido quanto eu por estarmos de frente um para o outro novamente.

Depois do que disse fui empurrada suavemente para fora da sala de reuniões com Noah logo atrás de mim. Meu cérebro ainda processava as palavras de Lorenzo: “Você ficará sob a vigilância de Noah.” Ótimo. Agora eu tinha uma sombra. Uma sombra alta, forte e de olhar penetrante.

Me virei para Noah com um misto de irritação e incredulidade.

— Então é isso? Vou acabar presa assim mesmo?

Ele bufou, um canto da boca se levantando num sorriso sarcástico.

— Protegida, não presa. Você devia diferenciar isso.

Fiquei em silêncio, mordendo a língua. Minhas opções eram limitadas e, no fundo, eu sabia que essa era a escolha mais segura.

Chegamos à recepção, onde Giulia nos esperava com o rosto apreensivo. Enzo apareceu ao lado dela, o olhar se acendendo com um brilho malicioso assim que a viu. Ele sorriu de lado, o tipo de sorriso que parece guardar segredos e promessas.

— A amiga nova vem comigo. Garantirei que ela esteja confortável. — A voz dele era calma, mas carregada de uma confiança que parecia inabalável.

Giulia cruzou os braços, franzindo o cenho.

— Posso ir sozinha, obrigada.

Enzo riu baixo, inclinando-se ligeiramente para ela.

— Claro que pode. Mas onde está a diversão nisso?

Giulia desviou o olhar, as bochechas ganhando um leve tom rosado. Ele percebeu e deu um passo para o lado, oferecendo o braço.

— Vem, prometo que não mordo. A menos que você peça.

— Arrogante, ela murmurou, mas aceitou o braço dele.

Fomos até um apartamento, uma grande cobertura era tudo lindo e chique e quanto os dois se afastavam pelo corredor, pude ouvir a voz dele dizer algo baixinho e a risada dela logo em seguida. Um flerte descarado, mas Giulia parecia estar se divertindo. Pelo menos um de nós estava.

Noah suspirou e apontou para o sofá de couro escuro.

— Senta. A gente precisa conversar.

Me joguei no sofá, cruzando os braços. Ele sentou ao meu lado, mantendo uma distância respeitosa. Seus olhos escuros me encararam com intensidade.

— Olha, Alana, você não está presa aqui. O que estamos fazendo é te proteger. Lá fora, você é um alvo fácil para os russos. Aqui, ninguém vai te alcançar.

Respirei fundo, tentando absorver aquilo.

— Difícil confiar em proteção quando o perigo é tão constante.

Ele assentiu lentamente.

— Eu entendo. Mas essa é a nossa vida.

Olhei para ele, curiosa.

— E por que você escolheu essa vida?

Ele riu, mas o som tinha um toque amargo.

— A gente não escolhe a família onde nasce. Mas a lealdade é uma escolha. E eu escolhi ficar.

Ficamos em silêncio por um momento. Resolvi ser sincera:

— Minha família me traiu.

— E por isso você está aqui. Para consertar isso do seu jeito.

Assenti, encarando minhas mãos.

— É. Eu só queria ser livre. Fazer psicologia, ter uma vida normal.

— Acha que isso ainda é possível? — A voz dele saiu mais suave.

— Não sei. Talvez... depois que tudo isso acabar.

Ele me olhou por um momento mais longo, como se quisesse decifrar algo em mim.

— Vou fazer o que puder para você ter essa chance.

Uma promessa? Ou apenas palavras vazias? Não importava. Por algum motivo, vinda dele, aquilo me trouxe uma ponta de esperança.

— Obrigada, Noah.

— Não precisa agradecer. Só não me deixe arrependido de te proteger.

Sorri de leve.

— Sem promessas.

Ele riu, um som genuíno dessa vez, e por um momento o peso daquela realidade pareceu um pouco mais leve.

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Comments

elenice ferreira

elenice ferreira

Não, quem tem 17, é a irmã do Noah! ela tem 19 anos.

2025-02-11

0

Ely Ana Canto

Ely Ana Canto

ela mentiu a idade ,ela só tem 17 afff

2025-02-09

1

Vanda Farias de Oliveira

Vanda Farias de Oliveira

Estou gostando muito dessa estória

2025-02-26

0

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