Confronto

A força dela se manifesta em cada palavra, em cada olhar firme. É impressionante. Assustador também. Há uma conexão ali, uma linha invisível que se estende entre nós e me puxa para mais perto, mesmo quando meu instinto me diz para recuar. O jeito como ela se mantém firme, mesmo após tudo o que passou, me encanta e me inquieta na mesma proporção.

Sacudo a cabeça para espantar esses pensamentos e chamo Enzo, que surge com um sorriso preguiçoso no rosto.

— Precisamos ir. A boate e a festa nos esperam.

— Que festa? — A voz de Alana soa curiosa, mas há uma rigidez ali, uma pontada de desconfiança.

Antes que eu pudesse responder, Enzo abre a boca e solta:

— Uma festa para escolher a futura esposa do Noah.

— Cala a boca, Enzo. — Minha voz sai afiada, mas ele apenas ri, completamente alheio à tensão que acabou de criar.

Olho para Alana. Seu maxilar está travado, os olhos se estreitam por um segundo, e uma sombra de incômodo passa pelo rosto dela. Ela se recompõe rápido, mas não o suficiente para esconder de mim.

— Ótimo. Então vou sair para dançar com a Giulia. — Ela cruza os braços, desafiadora.

Dou um passo à frente, me forçando a manter a voz firme e controlada.

— Não. Você não vai a lugar nenhum. É perigoso demais. O soldado que está com você tem ordens para impedir qualquer tentativa de fuga ou distração.

— Então estou presa mesmo. — As palavras dela são farpas afiadas, mirando direto em mim.

Sinto o peso do desagrado dela, mas preciso ignorar. É para a segurança dela, mesmo que isso me coloque como o vilão da história.

Enzo assobia baixo e me cutuca.

— Foi impressão minha ou rolou alguma coisa entre vocês? Porque ela parece bem irritada... Será que rolou ciúmes?

— Não enche, Enzo. — Minha resposta é curta e seca, sem espaço para explicações.

Ele levanta as mãos, ainda rindo.

— Tá bom, tá bom. Já entendi.

Nos dirigimos até a saída, deixando para trás uma Alana de braços cruzados e olhar furioso. Eu não queria deixar as coisas assim, mas não havia escolha. Mantê-la segura era minha prioridade. Tudo o mais teria que esperar.

Na Boate

As luzes piscam, a música vibra, mas minha mente continua na sala que deixamos para trás. Enzo percebe e dá uma risada curta.

— Você tá mesmo ferrado, primo.

— Concentra no que viemos fazer aqui. — Minha voz é cortante. Não estou no clima para piadas.

Encontramos Théo perto da entrada dos fundos. Ele acena com a cabeça, os olhos focados e sérios.

— O gerente e o dono estão lá dentro. Estão suspeitos demais, Noah. Tem algo grande acontecendo aqui.

Assinto, com os músculos tensos.

— Descobriremos o que é.

Enquanto nos preparamos para a abordagem, minha mente dá um último deslize. Uma imagem de Alana, com aqueles olhos carregados de força e raiva. Ela é uma tempestade. E eu não sei se quero fugir dela ou ser consumido por completo.

As portas pesadas da sala se abriram com um rangido, e entramos com passos firmes: eu à frente, Enzo logo atrás com aquele ar casual e mortal ao mesmo tempo, e Théo fechando a formação com o olhar sério e focado. A luz fraca iluminava o gerente e o dono da boate sentados em cadeiras de couro barato. O suor escorria pelas testas deles, e as mãos tremiam sobre as mesas.

— Boa noite, senhores. — Minha voz saiu fria, calculada. — Temos algumas perguntas simples. Respostas honestas serão muito apreciadas.

O gerente, um homem magro de cabelos ralos, mexeu-se na cadeira, engolindo em seco. O dono, um sujeito atarracado com uma cicatriz na sobrancelha, olhava para todos os lados, como se procurasse uma saída invisível.

Enzo deu uma risada baixa e perigosa.

— Parece que vocês estão um pouco nervosos. Por quê? Estamos só conversando... por enquanto.

O gerente cogitou responder, mas a voz falhou. Ele tossiu e finalmente conseguiu dizer:

— N-nós não sabemos de nada. Só... só administramos a boate.

— Não sabem de nada? — Théo repetiu, inclinando-se sobre a mesa, os olhos estreitos como os de um predador prestes a atacar.

— Então por que os russos andam frequentando o lugar? Ou melhor, a dívida que foi paga com aquela moça que levei daqui era com russos por quê? Vocês têm uma política de portas abertas para nossos inimigos agora?

Quando falei da moça que levei Enzo deu um sorriso, a vantagem em ser o próximo na sucessão é que não tenho que dar satisfações.

O dono abriu a boca, fechou, depois tentou de novo.

— É... é só negócio! Eles pagam bem, e... e nós não sabíamos que havia algum problema, e a dívida era com armas, não temos nada a ver com aquela garota...

Minha paciência estava se esgotando. Cruzei os braços, deixando o silêncio pesar no ar.

— Vocês não sabiam? Estão mesmo tentando nos fazer de idiotas? — Minha voz saiu baixa, mas carregada de ameaça. — Última chance. Quem são os russos que vêm aqui? O que estão planejando?

O gerente começou a suar mais ainda, os olhos arregalados de pânico. Sua boca se abriu e fechou como a de um peixe fora d'água.

— Eu juro, nós... nós não sabemos detalhes... só... só que eles estavam esperando um carregamento. Algo grande. Amanhã à noite...

Enzo bufou, descrente, e bateu com a mão na mesa, fazendo os dois pularem nas cadeiras.

— Vocês estão brincando com fogo e acham que vão sair ilesos? — Ele fez um gesto para o soldado que estava na porta. — Chega de conversa. Levem esses dois para o galpão. Vamos ver se lá eles se lembram de mais alguma coisa.

O soldado assentiu, aproximando-se com uma expressão impassível. Ele agarrou o gerente pelo colarinho, quase o levantando da cadeira. O homem começou a tremer incontrolavelmente.

— N-não! Espera! Posso contar mais! — ele implorou, mas era tarde demais.

O dono tentou se levantar, mas outro soldado o segurou pelos ombros e o empurrou para frente.

— Vocês não entendem... não podem nos levar lá... por favor!

Os olhos dos dois estavam cheios de pavor agora, a certeza de um destino pior que a morte estampada em cada linha de seus rostos.

Eu dei um passo para o lado, abrindo caminho para que os soldados os arrastassem porta afora.

— O galpão é o lugar onde as mentiras morrem e a verdade vem à tona. Vocês deveriam ter escolhido melhor suas alianças.

Eles gritaram e se debateram, mas era inútil. No galpão, ninguém fugia. No galpão, ninguém saía ileso.

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Comments

Vaniza Goncalves

Vaniza Goncalves

kkkk eu tô perdida mal se viram e já rolando ciumes

2025-02-10

1

Vaniza Goncalves

Vaniza Goncalves

já percebi que Enzo é do tipo que mata brincando

2025-02-11

1

Simone Silva

Simone Silva

parabéns autora pelo seu livro /Heart//Heart//Gift//Rose//Rose//Rose//Rose/

2025-02-10

0

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