Os dias passaram como uma correnteza forte, carregando-me com eles. Era como se o destino estivesse apressado, ansioso para que tudo se concretizasse. Cada dia mais próxima do altar, cada dia mais próxima de uma vida que, por vezes, parecia irreal demais para ser minha. Mas era. E eu precisava acreditar nisso.
A mansão estava em um frenesi constante de preparativos. Giulia era uma presença constante ao meu lado, seu entusiasmo contagiante preenchia qualquer vazio que eu ainda carregava no coração. Ela estava cada vez mais próxima de Enzo, e eu via nos olhos dela a mesma chama de esperança que, aos poucos, começava a se acender em mim.
Enquanto isso, as ligações do Russo continuavam, insistentes como um pesadelo que se recusa a ir embora. O telefone vibrava, o número familiar brilhando na tela, mas eu não atendia. Não daria a ele a satisfação de ouvir minha voz, de me lembrar de uma vida que não queria ter. Decidi que era melhor permanecer no complexo por um tempo. Aqui, pelo menos, eu me sentia protegida.
No grande salão da mansão, uma equipe de decoradores e organizadores se movimentava com precisão e graça. As flores eram um mar de tons creme e dourado, elegantes e sutis. O aroma de rosas frescas misturava-se com o cheiro do bolo que havia acabado de chegar. Cada detalhe fora planejado com uma perfeição quase opressiva. Tudo precisava ser impecável para o casamento do futuro Don.
Meu vestido estava pendurado diante de mim: um longo e justo modelo de renda delicada que abraçava cada curva com perfeição. As mangas longas e transparentes desciam até os pulsos, e uma discreta cauda arrastava-se suavemente pelo chão. Era um vestido desenhado para ser uma combinação de força e suavidade, exatamente como eu me sentia.
Giulia e Ayla entraram no quarto com sorrisos radiantes.
— Está quase na hora! — Giulia exclamou, os olhos brilhando.
— Você está deslumbrante, Alana! — Ayla completou, rodopiando pelo quarto com a leveza de uma pluma.
A animação delas era um bálsamo para a ansiedade que pulsava sob minha pele. O riso delas enchia o ambiente, afastando as sombras persistentes dos meus pensamentos.
A mansão estava pronta, decorada para ser não apenas um lar, mas um símbolo de uma nova vida. Cada cômodo parecia ter saído de uma revista de luxo. Lustres de cristal pendiam do teto, refletindo a luz em pequenos arco-íris. Os móveis eram impecavelmente escolhidos, um equilíbrio perfeito entre tradição e modernidade. Era grandiosa demais para ser chamada de casa. Era uma fortaleza, uma declaração de poder e proteção.
E era minha. Nossa.
Pensei na casa do meu pai. Naquele lugar frio, onde os corredores pareciam eternamente vazios e as paredes sempre me lembravam de que eu não era mais que uma peça em um tabuleiro. Lá, nunca houve luxo ou aconchego, apenas a lembrança constante de que meu destino estava selado, de que eu existia para cumprir um único propósito.
Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo o peso de todas as lembranças amargas. Mas quando os abri, encarei meu reflexo no espelho. Os cachos negros perfeitamente arrumados, o vestido justo destacando a mulher que eu havia me tornado.
— Não — sussurrei para mim mesma. — Eu não sou mais aquela garota.
Uma batida suave na porta interrompeu meus pensamentos. A cerimonialista apareceu, o sorriso gentil nos lábios.
— Está na hora, Alana.
Eu sorri, sentindo uma onda de coragem me inundar. Não era um sorriso de obrigação ou de medo. Era um sorriso de uma mulher que finalmente escolhera seu próprio destino.
— Vamos, então.
O corredor parecia infinito, decorado com flores creme e douradas que se erguiam em arranjos majestosos. Luzes suaves iluminavam o caminho, lançando um brilho etéreo em cada pétala, em cada detalhe. Meu coração batia forte, uma melodia descompassada que apenas eu podia ouvir. A renda do vestido roçava suavemente minhas pernas a cada passo, e meus dedos tremiam ligeiramente sob o peso de todas as emoções acumuladas até aquele momento.
Ao me aproximar do início do corredor, meus olhos encontraram uma figura imponente e familiar. Lorenzo Mansur estava ali, esperando por mim. Os cabelos tão escuros perfeitamente alinhados, o olhar firme e, ao mesmo tempo, acolhedor. Ele estendeu o braço com uma solenidade que quase me fez chorar. Era mais do que um gesto; era uma aceitação silenciosa, uma promessa de que eu pertencia àquela família agora.
— Estou pronta — murmurei, tentando conter a emoção.
Ele inclinou-se ligeiramente, os olhos brilhando de orgulho e seriedade.
— Você é mais forte do que pensa, Alana — sussurrou ele. — E hoje, começa uma nova era. Para todos nós.
Aceitei seu braço, sentindo um calor reconfortante percorrer meu corpo. Juntos, começamos a caminhar. A melodia suave do piano encheu o ar com os primeiros acordes de "Clair de Lune". A música envolvia tudo em uma aura de sonho, e eu me permiti mergulhar nela, deixando cada nota embalar meu coração.
Quando chegamos ao altar, meus olhos buscaram instintivamente Noah. Ele estava ali, parado com uma postura que emanava força e elegância, mas seus olhos contavam outra história — uma história de alívio, carinho e amor genuíno. Ao me ver, um sorriso iluminou seu rosto, dissolvendo qualquer resquício de dúvida que ainda pudesse existir em mim.
Lorenzo entregou minha mão à dele, e o peso daquela transição fez meu coração se apertar de emoção. Noah segurou meus dedos com firmeza, como se quisesse garantir que nunca mais me deixaria ir.
A cerimônia seguiu com a gravidade que aquele momento exigia. As palavras do celebrante eram solenes e carregadas de significado, falando de união, de lealdade, de promessas que transcendiam o tempo. Cada palavra parecia esculpir o nosso futuro em pedra.
Quando chegou o momento em que Noah assumiria oficialmente o comando da organização, o silêncio na sala tornou-se palpável. Com uma voz firme e decidida, ele declarou:
— Hoje, não apenas assumo o comando desta organização, mas faço isso ao lado da mulher que escolhi para ser minha companheira. Alana é parte de mim, parte desta família. Qualquer toque nela é um toque em toda a organização. Qualquer ameaça a ela será tratada como uma ameaça a mim.
Um murmúrio de respeito percorreu a sala. Noah apertou minha mão com mais força, e eu senti o peso daquela promessa, mas também a proteção incondicional que ela trazia.
O celebrante então anunciou:
— Pode beijar a noiva.
Ele se aproximou lentamente, o mundo ao nosso redor desfocando até sobrar apenas nós dois. Seus lábios tocaram os meus com uma ternura inesperada, mas logo o beijo se aprofundou, carregado de promessas silenciosas, de amor e de uma paixão que parecia selar nossos destinos para sempre. Quando nos afastamos, uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha, mas não era de tristeza — era de alívio, de felicidade, de pertencimento.
Aplausos explodiram ao nosso redor, mas o som parecia distante. Tudo o que importava estava ali, naquele momento, entre nós.
Ele encostou a testa na minha e sussurrou:
— Você é minha rainha agora. E sempre será protegida como tal.
Senti meu coração se encher de uma alegria que nunca havia conhecido. Pela primeira vez, eu não estava sozinha. Eu era amada, desejada, e parte de algo muito maior do que eu poderia imaginar.
Com Noah ao meu lado, segui para o começo do resto da minha vida.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
MARIA LUZINETE DIAS SILVA
Ela tem que ser sincera com Nohan, tem que falar das ameaças que tem recebido
Cadê os pais dela?
E a bruxa que a esfaqueou?
2025-02-28
4
MARIA LUZINETE DIAS SILVA
Me emocionei com esse capítulo
Toda mulher merecia ter um Nohan na vida.
Parabéns autora, cada capítulo melhor do que o outro.
2025-02-28
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Arlete Fernandes
Ele sempre honesto e sentimental com ela cuidando e zelando ela que fofo demais!! Adorei o casamento deles!!
2025-03-04
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