Russos na Itália

A rotina na minha vida nunca foi exatamente normal, mas naquela manhã, tudo parecia começar no mesmo ritmo frenético de sempre. Acordei cedo, fiz minha corrida matinal e, enquanto o café da manhã ainda estava sendo servido, passei pela sala para revisar alguns relatórios que haviam chegado das clínicas.

Trabalhar com a linha tênue entre o mundo legítimo e o submundo nunca foi simples, mas gostei da estrutura. Clínica organizada, pacientes atendidos, lucros em ordem. Mas, claro, nem tudo era tão simples assim.

Na mesa de reuniões, meu pai já estava analisando algumas informações enquanto tio Cesare e tio Antony, discutiam um problema sobre movimentações suspeitas de alguns russos na Itália.

— Eles estão testando nossa paciência novamente — disse tio Antony, sua voz era carregada de frustração, mas mantendo a calma.

— Testando ou esperando uma brecha para invadir território — respondeu Cesare, com seu tom mais ríspido de experiência que já carregava a anos como consiglier.

— Podem testar o quanto quiserem, mas vão acabar enterrados em algum campo — Antony Cortou, sempre direto ao ponto, enquanto girava o anel no dedo como quem já planejava a próxima execução.

Théo e Enzo, que estavam sentados no canto, observavam atentamente enquanto a conversa seguia. Théo, sempre atento, parecia pronto para qualquer ordem.

— É só dar a palavra, tio Lorenzo. Esses caras não sabem com quem estão pensando — ele comentou, com um sorriso que mesclava seriedade e diversão, Théo é filho da tia Laura e tem o sangue quente do tio Antony.

Nesse momento, a porta se abriu e a secretária entrou com uma pilha de papéis. Era uma mulher bonita, de postura profissional, mas o olhar meio disfarçado de Théo e Enzo me fez revirar os olhos. Ambos seguiram com os olhos enquanto ela entregava os documentos.

— Obrigado, Isabela — eu disse, tentando manter o ambiente sério. Quando ela saiu, os dois estavam parados, trocando olhares cúmplices como dois adolescentes.

— Você quer que eu mande arrumar a coleira ou agir como homens de verdade? — cortei, em tom seco, enquanto eles disfarçavam. Enzo respondeu com um sorriso provocador. — Ela pediu isso com aquele andar, não posso evitar.

— Menos meninos. O foco aqui é o que interessa — Lorenzo interrompeu, lançando um olhar severo para os dois.

A leveza da interação ocorreu tão rapidamente quanto surgiu. O ambiente voltou ao seu tom habitual de seriedade. O que tínhamos em mãos não era brincadeira. A transmissão dos russos representava mais do que uma provocação; era um risco direto à estabilidade do que construímos por décadas.

— Vamos precisar dar um aviso — afirmou meu pai, olhando para Cesare e Antony — Algo que eles não esqueçam.

 — Estou à disposição para garantir que o recado chegue claro e direto — disse Antony, já com aquele sorriso frio que fez qualquer inimigo se arrepender de ter nascido.

— A questão é: quem está trazendo eles aqui? — falei — deve ter uma razão ou razões.

— Concordo, eles não fariam isso sem algum apoio. Precisamos descobrir quem está puxando as cordas antes de mandar alguém para o cemitério.

— Vou trabalhar nisso com os contatos do norte — garantiu Cesare — Tem um nome que precisa ser confirmado antes de agirmos.

O peso do submundo estava ali, em cada palavra dita e em cada decisão tomada. Mas para nós, isso era apenas mais um dia normal.

A noite caiu, e com ela veio a necessidade de espairecer. Entre as reuniões tensas e os problemas com os russos, minha cabeça estava pesada demais para simplesmente voltar para casa.

Então, decida ir até o Savage, uma das boates que servem tanto para encontros casuais entre os associados quanto para negócios discretos.

Era o tipo de lugar onde o entretenimento conversava mais alto, mas, para mim, era só uma distração — uma forma de observar o ambiente e lembrar a todos que os Mansur estavam presentes.

Quando entrei, a música pulsante me atingiu como uma onda. As luzes neon dançavam pelo ambiente, iluminando rostos desconhecidos e conhecidos. O cheiro de perfume caro e álcool se misturava no ar, enquanto os corpos se moviam em sintonia com a batida. Homens conversavam em tons baixos em mesas reservadas, enquanto mulheres se exibiam no centro da pista ou nos balcões.

Caminhei até o bar, cumprimentando alguns rostos familiares com um aceno de cabeça. Enzo e Théo estavam por lá, como eu imaginava. Enzo parecia já ter encontrado companhia para a noite, uma morena de vestido justo que ria alto demais para alguém que realmente estava prestando atenção nele. Théo estava mais discreto, mas os olhos dele dançavam entre as opções possíveis da noite.

— Noah! — Enzo me chamou, erguendo um copo de whisky. — Pensei que você iria passar a noite mergulhado em papelada!

— E perder o show de vocês dois? Não pense. — Sorri de canto e pedi um whisky duplo ao barman.

Enquanto observava o ambiente, uma loira alta passava por mim, os olhos verdes carregados de provocação. O vestido curto e os saltos altíssimos diziam claramente que ela sabia o efeito que causava. Ela sorriu, e eu apenas levantei meu copo em resposta.

Não foi a primeira vez que via algo assim — não seria a última. Essas mulheres eram o entretenimento que muitos procuravam por ali.

Mas para mim? Aquilo não tinha tanto apelo. Os quartos no andar de cima não eram meu destino habitual, e a ideia de perder o controle com uma desconhecida nunca me agradou. Talvez fosse meu lado racional demais, ou uma responsabilidade que carregava sempre pesando nos ombros.

Ainda assim, eu apreciei os momentos em que um visitante realmente me chamava a atenção. Algo fora do comum, alguém que não parecia apenas parte do cenário. Mas essa noite não parecia ser uma dessas.

— Pensativo demais para quem está num lugar assim irmão — Théo comentou, parando ao meu lado com uma cerveja na mão.

— Vocês já se divertiram o suficiente por mim — respondi, dando um gole no meu whisky. — Além disso, alguém tem que manter os olhos abertos.

— Relaxa, Noah. Aqui, a única coisa perigosa é o preço das bebidas — Enzo riu, mas eu sabia que ele estava errado.

Nessa vida, o perigo nunca esteve realmente longe. Mesmo em um ambiente como aquele, sob as luzes e o som alto, sempre havia uma sombra à espreita.

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Comments

Arlete Fernandes

Arlete Fernandes

Pois é vida de mafioso é vida constante de perigo e cilada ficar em alerta constante!

2025-03-02

2

Simone Silva

Simone Silva

parabéns autora pelo seu livro /Heart//Heart//Gift//Rose//Rose//Rose/

2025-02-10

0

Michele De Araujo

Michele De Araujo

O pai do Théo tem o mesmo sangue quente do Anthony

2025-04-03

0

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