Quando chegamos à mansão, a movimentação para a festa já estava a todo vapor. Luzes decoravam o jardim, garçons passavam apressados carregando bandejas com bebidas caras, e o som da música começava a se espalhar pelo ar.
Antes mesmo de dar o primeiro passo para dentro, ouvi a voz firme do meu pai.
— Noah, venha até meu escritório imediatamente.
Senti uma onda de tensão percorrer meu corpo. O tom dele não deixava espaço para perguntas. Lancei um olhar para Enzo, que apenas assentiu, seguindo seu caminho até o salão.
Segui meu pai em silêncio. Seu escritório era um templo de ordem e poder: móveis de madeira escura, paredes forradas de estantes com livros antigos e uma janela ampla que dava vista para a entrada da mansão.
Assim que fechou a porta, ele se virou, seus olhos escuros me analisando com uma seriedade quase palpável.
— Eu fiz uma investigação sobre a menina, Alana. Ela está falando a verdade. — Ele fez uma pausa, deixando as palavras afundarem. — A família Duarte pagará com sangue e isso incluiria ela se não fosse a mesma quem tivesse nos contado tudo, como a Rússia está atrás dela quero saber de você até onde está disposto a se envolver.
Meu coração bateu mais forte. Já esperava por isso, mas ouvir a sentença de morte assim, tão fria e definitiva, mexeu comigo.
— Sua mãe e sua irmã serão provavelmente mandadas embora antes que o acerto de contas aconteça. — Ele cruzou os braços, o olhar afiado como lâmina. — Agora, me diga: de onde você conhece essa garota e se ela vai ir junto com as duas?
Engoli em seco. A pergunta me fez sentir como um garoto pego fazendo algo errado. Minhas mãos suaram ligeiramente, e uma irritação familiar subiu pela minha espinha.
— Eu a encontrei ontem à noite, na boate. Ela estava em apuros. — Respondi, tentando manter a voz firme e controlada.
Lorenzo arqueou uma sobrancelha, claramente não satisfeito com a minha explicação simplista. Mas, para minha surpresa, ele mudou de assunto com a mesma frieza de sempre.
— Há outra questão a ser considerada. — Ele se aproximou, cada palavra cuidadosamente escolhida. — Se você se casar com Alana, os portos e cassinos dos Duarte serão nossos. Seria um movimento lucrativo para os negócios.
As palavras me atingiram como um soco no estômago. Casamento? Eu pisquei, processando a ideia absurda.
— Eu não pensei nisso. — Minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia.
Ele não parecia surpreso com a minha negação, apenas soltou um suspiro pesado e me lançou um olhar calculista.
— Pense, Noah. Não há espaço para impulsos ou emoções aqui. É apenas uma jogada de xadrez — ele falou, já sabia que para nós a maioria dos casamentos eram negócios em que todos se ferravam no final completamente, rendidos e apaixonados, eram contratos somente na teoria.
Antes que eu pudesse responder, uma batida suave interrompeu a conversa. A porta se abriu ligeiramente e a cabeça de minha mãe surgiu.
— Está tudo pronto para a festa, Lorenzo. Noah, vá se arrumar.
Assenti, sentindo um peso nas costas.
— Vou tomar banho e já desço.
Saí do escritório sem olhar para trás, com a mente fervilhando. A ideia de Alana, a traição dos Duarte, a possibilidade de casamento por conveniência… Tudo se misturava em um nó apertado no meu peito.
Eu precisava de um banho frio para organizar meus pensamentos — e talvez para lavar a sensação incômoda de que, pela primeira vez, não tinha o controle total.
A música vibrava pela mansão, as luzes dançavam em tons dourados e rubros, refletindo em taças de champanhe e olhos ávidos. A festa estava no auge, e tudo ao redor parecia um jogo de aparências. Sorrisos ensaiados, vestidos caros e olhares que calculavam alianças tão friamente quanto meu pai em uma negociação.
Desci as escadas ao lado de Enzo e Theo, todos vestidos impecavelmente em ternos escuros. A atmosfera estava carregada de expectativa e tensão disfarçada sob o véu do luxo. Meus olhos varreram o salão, e foi aí que vi Rafa. Vestida em um vestido preto justo, os cabelos soltos e ondulados caindo pelos ombros, ela parecia alheia aos olhares famintos que a seguiam.
O sangue ferveu nas minhas veias.
Homens jovens e mais velhos, todos disputando um vislumbre, um sorriso, uma chance. Cada um deles me irritava mais do que o anterior. Apertei os punhos, caminhando até ela.
Assim que me aproximei, os homens se afastaram, como cães farejando perigo. Rafa me olhou com uma sobrancelha arqueada, claramente percebendo minha irritação.
— Você não precisa me vigiar como um cão de guarda, Noah. — Ela bufou, mas sorriu, divertida.
— Não estou te vigiando. Estou afastando abutres. — Respondi seco, os olhos ainda analisando o entorno.
Deixei Rafa com Enzo, que se aproximou para distraí-la com alguma piada, e continuei caminhando pelo salão. As jovens estavam ali, estrategicamente posicionadas, como peças de um tabuleiro. Algumas tinham rostos tão infantis que me dava ânsia pensar que estavam sendo oferecidas como futuras esposas. Outras tinham o olhar cheio de malícia, meninas que eu sabia que andavam com muitos caras da nossa rede, sempre em busca de poder e status.
Mas nenhuma delas despertava meu interesse.
— Noah! — Uma voz aguda chamou. Me virei e vi Lívia Santoro, uma das candidatas mais insistentes. Ela ajeitou os cabelos e sorriu, um sorriso que parecia um convite óbvio. — Gostaria de me acompanhar para uma bebida?
— Já estou servido. — Minha resposta foi curta, e o sorriso dela murchou antes de se virar para outro alvo.
A festa rolava em uma mistura caótica de risadas, conversas em tom baixo e cantadas. Algumas eram descaradas demais, outras tentavam se esconder sob falsa inocência. Discussões sobre negócios corriam soltas nos cantos do salão. Conversas sobre acordos com portos, rotas de tráfico, problemas com os russos — tudo misturado ao tilintar de copos e ao som abafado de jazz.
A cada palavra, meu tédio aumentava. Minha mente não estava ali. Estava presa em outro lugar… ou melhor, com outra pessoa.
Alana.
Tentei afastar a imagem dela, mas falhei miseravelmente. O jeito que seu olhar carregava aquela força inabalável, mesmo em meio ao medo. Seus cabelos escuros e crespos, seus olhos claros como tempestades contidas. Um contraste que grudou na minha mente e me assombrava mais do que qualquer ameaça dos russos.
Vi Ayla, Rafa e Belinda em um canto, rindo de alguma coisa que Theo disse. Permaneci por perto, protegendo-as sem perceberem.
Meu olhar vagava, mas minha mente só queria uma coisa: sair dali. Ir até aquele apartamento era loucura, mas a ideia de ficar aqui, sorrindo e fingindo interesse nessa festa.
Eu precisava ver Alana. Saber se estava bem, se ainda tinha aquele brilho de desafio no seu olhar.
Um garçom passou por mim e me ofereceu uma bebida, peguei e logo me afastei.
— Preciso de ar. — Murmurei para mim mesmo, já saindo pela porta
Com a festa rolando eu me meteria em falatórios...
Mas eu já estava louco mesmo.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Rayla Maura
mais capítulos, amando o livro
2025-02-19
0
marlene cardoso dos santos
cada capítulo fica melhor
2025-03-25
0
Rosaria TagoYokota
alana mexeu com o noah
2025-02-28
1