Capítulo 18

POV Terry

Após passar a tarde com minha nova obsessão, fui para a empresa encontrar Domingos. Sentia que deveria trabalhar, confesso que sou um pouco compulsivo, quanto ao trabalho. O que eu faço, por muito tempo foi o que mais me fascinou na vida, agora eu sentia que tinha um fascínio novo.

Assim que cheguei, fui cumprimentado pela minha secretária Sandra, lhe pedi que enviasse os compromissos que perdi nesses dias que deixei o trabalho um pouco de lado. E após entrar na minha sala, Domingos já estava lá.

— Você está muito agitado nestes dias, não estou tendo tempo nem de tomar um vinho em paz sem meu celular apitar com uma mensagem sua.

— Você é bem pago para isto. — digo sucintamente, já abrindo a tela do meu laptop e conferindo minha caixa de e-mails.

— Ok, chefe! Estou aqui, o que precisa agora? Deixe-me adivinhar, tem a ver com a linda Emília.

Olho para Domingos por cima teu da tela do laptop, seu sarcasmo às vezes me irrita, não nos tratamos como chefe e funcionário, nos tratamos como parceiros de negócios e amigos.

— Sim, tem a ver com Emília mesmo. Dei o seu número para ela e quero que fique a disposição dela.

Domingos ficou me olhando calado, pasmo com o meu pedido. Ou talvez, não posso chamar de pedido e sim, convocação.

— É sério isso? Agora quer que eu seja babá da sua nova esposa?

— Não será babá e sim, mais como um assessor. Acredito que suas habilidades a ajudarão em algumas coisas que ela precisa e… acredito que você a ajudará a se divertir um pouco.

—  E isso não é ser uma babá? Explique melhor, pois não sei em quê minhas habilidades podem divertir uma garota.

— Ah, bem… acho que irá se divertir também. Sabe, Domingos, eu tenho descoberto que Emília não é exatamente quem imaginávamos. Ela tem um requinte, tem uma perspicácia e sua inocência é devido a uma espécie de amnésia. Ela é uma caixinha de surpresas, onde a cada dia me mostra coisas diferentes e interessantes. Sabia que ela fala francês fluente? 

— Como? Nem eu falo francês. Como uma garota que encontramos na rua coberta de sujeira fala francês?

— Sim, ela fala melhor que eu e com naturalidade. Na verdade, só aprendi francês porque fiz alguns negócios na França e também, devido a essa vivência com nativos, foi que percebi que a sua fluência é nativa.

— Isso está interessante. — Domingos diz, se levantando e pensativo. Eu sabia que ele iria se interessar, ele adora uma fofoca nova. 

— E sabe o que ela me contou? Que só estava na rua por ter fugido de uma clínica psiquiátrica.

— Ah, agora tudo faz sentido. Agora entendo porque você e ela pareceram um casal perfeito assim que os vi lado a lado. Os dois precisam de um tratamento psicológico.

Revirou meus olhos para ele.

— Muito engraçadinho você, parabéns! — digo com sarcasmo — Eu não acho que Emília tenha problemas psicológicos, ela é mais sã do que nós dois juntos. Porém, ela precisa recuperar suas memórias e descobrir o porquê a colocaram naquela clínica psicológica. Algo me diz que alguém queria se livrar dela e essa pessoa, não pode ser alguém do bem, não consigo imaginar um motivo bom para alguém querer se livrar de Emília.

Domingos ficou me olhando com um sorriso bobo no rosto, o que me fez acenar em negativo e voltar a olhar para a tela do meu laptop.

— Ok. Eu aceito o trabalho. E Priscila? O que vai fazer quanto a ela?

— Bem, estou ficando entediado… 

— Está pensando em desistir?

— Não, eu estou pensando em mudar minhas estratégias e Emília será a peça chave disso. Por isso, estou te colocando a disposição dela, porque não quero que ela se machuque ou se magoe no processo. 

— Wow, Emília fez você esquecer Priscila com um estalar de dedos! Ela é importante, é a chefa do seu coração. Pode deixar, meu amigo. Vou cuidar bem dos interesses da sua anjinha.

Domingos saiu, me deixando pasmo com sua conclusão.

Acenei em negativo e voltei a trabalhar. Queria conseguir fazer o máximo que desse em pouco tempo, pois queria logo voltar para casa.

Não consegui ficar mais de uma hora no escritório e logo já estava indo embora. 

Passei direto pela mesa da minha secretária, quando a ouvi me chamar:

— Senhor Velasquez, senhor Velasquez! 

— Oi Sandra, tem algo importante a dizer?

— Sim, claro! — ela diz, se aproximando. 

— É… o senhor viu que foi convidado para a festa de inauguração do novo empreendimento da Flora Gomes?

— Bem… — fico um pouco pensativo, realmente ignorei o convite.

— Flora disse que faz questão que esteja com ela na inauguração, pois graças a sua ajuda ela conseguiu reerguer sua empresa que estava na falência. A festa será no próximo fim de semana e o convite estava na sua mesa. Como não mencionou nada sobre isso, eu imaginei que não tinha visto.

— Realmente, Sandra. Eu não vi, acho que minha mente anda um pouco aérea. Quantos convites recebi? 

— Você só recebeu um.

— Só um?! — digo, um pouco confuso.

— Sim, eu acho que a senhora Flora não gostava muito da sua ex-esposa.

— Mas ela deve saber que me casei novamente. Eu fiz questão que todos que me conhecem, soubessem.

— Ah, bem… Eu recebi um também, porém não é o mesmo convite para convidados VIPs. Eu posso dar o meu para sua nova esposa.

— Não… se minha esposa não pode ficar ao meu lado o tempo todo na festa, eu não quero. Diga a Flora que agradeço o convite, mas não vou a festa sem minha esposa.

Digo e vou embora. Essa eu não esperava, se eu apresentei a todos Emília é porque quero que seja reconhecida e não ignorada.

Alguns dias se passaram, Priscila não voltou, Bruno continuou na minha casa fazendo trabalhos como jardineiro e manutenções em geral. Ele gosta de curtir festas e garotas, e talvez não esteja feliz com sua nova condição, porém, sabe que se sair da minha casa não vai conseguir se virar sozinho.

Sem Priscila aqui, de repente tudo ficou diferente e até onar ficou melhor de respirar. Emília se ocupou em dar uma lição ao meu irmão, seus métodos eram diferentes do meu. Enquanto eu queria que ele se sentisse humilhado e percebesse que não era nada sem minha influência, Emília queria se divertir com a situação.

Realmente, ela tem me mostrado um lado mais leve da vida, um lado melhor de se viver.

Ontem, ela chegou e pediu que eu a levasse para passear na cadeira de rodas. Achei estranho, mas não neguei. Ela sentou em meu colo e andamos um pouco pelo jardim.

Ela sorriu e se divertiu, até pediu que eu acelerasse mais, pensando que isso aqui é um carro.

Me senti um pouco usado, mas enfim, eu podia dizer não?

Mas eu também confesso que me diverti, e roubei alguns beijos enquanto ela estava distraída.

Confesso que é difícil me segurar, me sinto terrivelmente atraído por ela e não vejo a hora de finalmente termos nossa primeira noite. Mas não vamos pular as etapas, não quero que pense que é só um objeto de desejo.

Finalmente chegou o tal dia da vingança de Emília. Chamamos Bruno ao escritório e eu disse que ela podia tomar a frente, o que ela adorou.

— Terry, me chamou? — Bruno disse, ao entrar.

— Emília tem algo a conversar com você.

— Emília? A sua bonequinha? Olha, Emília, já tive confusões demais com o Terry. Não vem dizer que toquei em você porque tenho tentado estar o mais longe possível, para não me prejudicar.

— É verdade e… eu agradeço por isso. Se você não se afastasse, eu é que me afastaria de você. Não me parece que tem bom caráter.

— Nossa, Terry. Adestrou sua cadelinha bem para tentar me ofender. Não esquece que sou sua família e não esquece de Priscila, essa vadiazinha não é muito diferente da sua ex. No começo fica toda boazinha e depois vai te trair como a outra. O seu problema é que você trata bem demais as mulheres e mulher gosta de homem cafajeste.

— Bruno, tome cuidado com as palavras, ainda estou aqui. — digo em tom ameaçador.

— Oh! Você tem uma personalidade horrível! Nem todas gostam de cafajeste não, tá?! E provavelmente você só teve muitas namoradas porque é mentiroso, porque eu só consigo ver lixo radioativo quando olho pra você.

— Terry, ela está provocando.

— Cale a boca, Bruno. Ela não está errada.

Emília toma a frente e olha bem para o meu irmão, séria, dizendo:

— Eu imaginei que você deve ter enganado muitas garotas inocentes e então, procurei algumas. Acabei descobrindo uma coisa interessante… — ela diz, cruzando os braços, com um ar de autoridade, mas ao mesmo tempo, muito fofa — Podem entrar meninas! Encontrei o cafajeste que enganou vocês!

Nesse momento a porta se abriu e começou a entrar várias mulheres, Bruno nem disfarçou o olhar de culpa, quando se afastou com as mãos para o alto.

— Espere aí, Emília! O que é isso?! O que são essas mulheres raivosas todas essas crianças?

Emília pegou um dos bebês que estávamos colo de uma das mulheres e disse:

— Toma que o filho é teu! Agora, você vai aprender a tomar responsabilidade, porque agora você vai pagar pensão!

— O quê?! Você tá de sacanagem?! — Bruno diz, sem saber o que fazer com o bebê que começou a chorar sem parar.

— Crianças, aquele é o pai de vocês! — Emília diz e vejo pelo menos umas seis crianças correremna direção de Bruno e o cercar, fazendo ele ficar desesperado.

— Papai! Papai! — as crianças gritavam, deixando Bruno tonto e desesperado.

— Mamães, vão lá e cobrem todas as pensões atrasadas! E se ele não assumir a responsabilidade, podem enfiar a porrada nele! Eu ajudo a esconder o corpo se precisar!

Meu Deus, agora isso virou uma confusão que eu não imaginava. Era criança, era mulher gritando e o Bruno no meio desesperado e Emília… a minha travessa Emília, morrendo de rir da situação.

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