Capítulo 3

POV Terry

— E o que devo fazer em troca?

Ela pergunta, um pouco receosa. Seus olhos eram puro medo, aquela mulher parecia um animal acuado. Algo que não me comovia, a única coisa que eu queria naquela hora era ver aquele contrato assinado.

— Ela não deve saber ler, Terry. Porque não lê o contrato para ela? — Domingos diz, sentando no banco da frente, ao lado do motorista.

— Me dê o contrato! — digo estendendo a mão.

— Não! — ela diz, protegendo o contrato — Eu sei ler muito bem! É só que… eu não entendo…

— Olha, eu não tenho tempo, assine esse contrato e entenda depois.

— Tome de volta! — ela empurra o contrato para mim e continua — Isso é bem estranho, eu não posso assinar esse contrato.

Olho para Domingos e ele me olha de volta, reviramos nossos olhos e lembramos da nossa aposta. Ele me disse que ela aceitaria de primeira e eu lhe disse que precisaríamos de um plano B.

Mudei minha expressão e franzi minha testa, ela se encolheu mais de medo ao me olhar.

— Eu não tenho tempo, mulher. Assine esse contrato ou eu chamo a polícia, já sei que está sendo procurada.

Ela abriu a boca, assustada. Apenas inventei isso, eu não sabia nada sobre ela. Domingos só havia mencionado essa possibilidade e eu pensei em usar agora.

Ela abaixa a cabeça e nervosa, aperta o tecido imundo de sua saia.

Estávamos perdendo tempo e eu precisava que ela assinasse o contrato agora.

— Eu arrisquei a minha vida para te salvar, isso deveria valer alguma coisa. Eu não pedi nada em troca, mas agora eu peço, não se aproveite da minha vulnerabilidade. Não sou uma criminosa, eu não sou uma louca, eu só queria encontrar respostas, só respostas. Me deixe ir embora.

— Eu não me importo com você… — digo com meu olhar severo — Mas eu tenho tanto dinheiro que não me importo com o quanto que quiser gastar, talvez até para encontrar essas tuas respostas. Desde que não me traia também, não quero fazer mal a você, quero fazer mal a outras pessoas. Só quero te usar no meu plano e depois você pode fazer o que quiser… Só preciso que assine esse contrato, para que algumas coisas fiquem bem claras, você não tem direito a nada da minha fortuna, além do que estou te oferecendo em contrato. E com esse contrato você se compromete a atuar como minha esposa sempre que eu requisitar. Sobre sentimentos, isso não haverá entre nós dois, eu não sou um homem de me apaixonar. Sobre sexo, esse contrato me exime de qualquer obrigação sexual que você possa exigir de seu marido. Vamos! Leia e me diga se menti.

Ela ficou me encarando e eu mantive a minha postura. Disse a maior das verdades, meu coração estava tão escuro de vingança que nada me comovia, nem mesmo histórias tristes. Mas a minha vingança não tinha nada a ver com ela.

Ela leu o contrato e eu esperei.

— Você vai mesmo me ajudar a encontrar minhas lembranças? — ela pergunta, ainda olhando o contrato.

— Não disse que iria te ajudar, mas não vou te impedir de fazer o que quiser.

Ela engoliu em seco e eu lhe dei a caneta. Observei suas mãos trêmulas, enquanto ela assinava o contrato.

Assim que terminou acenei para o motorista dar a partida.

O motorista parou no endereço que combinamos e me ajudou a subir na cadeira de rodas. A garota ficou com os olhos arregalados, enquanto nos olhava.

— O que foi? Descobriu que eu fiquei inválido? Sentirá vergonha de ser apresentada como minha nova esposa?

Ela ficou parada e abaixou a cabeça. Sorri ironicamente da minha própria pergunta e me virei para o motorista e disse:

— Tenho negócios a tratar. Leve a senhora Velasquez para um tratamento de beleza e diga que eu não me importo com o custo para tornarem essa coisa um ser-humano novamente.

Me virei e entramos no hotel, lá comecei a discutir com Domingos, meu braço direito e meu advogado.

Assim que chegamos ao apartamento, me levantei e comecei a me trocar.

— Terry, sabe que o médico disse que não deve se esforçar. Vai acabar ficando paraplégico de verdade.

— Não tenho tempo para descansar, você sabe. Vamos, me conte como foi tudo.

— Certo, eu fiz o que me pediu. Fui até sua ex-mulher, com os papéis do divórcio em mãos, disse a ela que você descobriu a traição e por isso ela não teria direito a nada mais dos seus bens. Ela se recusou, como você previu, então eu disse que você estava com poucos dias de vida, que o acidente causou danos irreversíveis ao seu corpo, que se ela não assinasse, quando você morresse aquele processo de divórcio se tornaria público e todos iriam saber da traição dela, já que tínhamos fotos.

— E ela não demorou para assinar, não foi isso?! O medo de ficar pobre não é tão grande quanto o medo de ficar pobre e ao mesmo tempo todos descobrirem a piranha que ela é.

— É, ela realmente assinou aquilo tudo rápido… Por fim, eu fingi que sentia pena dela, disse que ela estava proibida de levar qualquer coisa de dentro daquela casa e perguntei se ela tinha para onde ir, pois se precisasse de ajuda eu poderia tentar ajudar. Ela estava desesperada e perdida, não sabia mesmo o que fazer. Então eu dei a cartada final, disse a ela que mesmo com a traição Terry pretendia deixar tudo que ele tinha para o irmão, pois ele o perdoou por ele ser sua família. Disse que se ela fosse inteligente, aproveitava que já tinha um relacionamento com o irmão de Terry, para se aproximar dele e não ficar sem nada.

— Humpf! A Falsa não pensou nem um pouco em vir me visitar no hospital, nem para tentar se explicar. Foi logo correndo para os braços do meu irmão. Aqueles dois se merecem mesmo.

— Sim, chefe. E com o seu irmão o jogo foi o contrário, disse que a partir de agora não receberia mais pensão e nem suas contas seriam pagas. Que o proprietário do apartamento lhe deu três dias para sair de lá. Completei dizendo que era para ele não criar esperanças, provavelmente não daria tempo e toda herança iria para sua ex-mulher.

— E ele caiu na sua armadilha sem nem mesmo questionar? Eu realmente estava cercado de pessoas estúpidas.

Me olho no espelho, verificando que estava bem arrumado e logo em seguida volto para a cadeira de rodas.

— Vamos Domingos, está na hora de mostrarmos como aqueles dois são idiotas.

Domingos me ajudou e saímos e parados na porta, em alguns segundos meu motorista apareceu.

Ele correu e abriu a porta e uma mulher saiu de lá, confuso, olhei para ele, eu não estava entendendo nada.

— Onde está a mulher que eu pedi enviasse para um tratamento de beleza? Eu pedi para darem um trato na mulher não para você trazer outra no lugar.

— Senhor, é ela… — o motorista diz, apontando para a mulher linda que saiu do carro.

— Impossível, não tínhamos tempo para tantos procedimentos estéticos.

— Senhor, ela é a mesma mulher que você pegou na rua. Ela já era bonita, só precisava tomar um banho.

Fiquei atordoado e sem saber como fazer, não me importava que aquela mulher fosse bonita ou não, mas não esperava que sua beleza fosse tão impactante.

Ela estava um pouco tímida, mas dava para ver claramente, agora, limpa, seus olhos azuis grandes se destacavam muito mais em seu rosto, seu nariz pontudo lhe dava um ar de graça e jovialida e seus labios carnudos eram extremamente atraentes. Seus cabelos castanhos claros, ondulavam, ornando seu rosto arredondado. Seu corpo tinha curvas acentuadas na cintura, deixando o seu quadril muito mais atraente.

Isso saiu um pouco fora do plano e agora estava desconfiado que poderia ter problemas.

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