POV Emília
Não sei quem sou, só sei que me chamo Emília e no meu documento diz que tenho um pai e uma mãe.
As últimas lembranças que tenho é de acordar em um hospital. Eu estava machucada e pessoas me faziam perguntas que eu não sabia responder.
Eu via rostos que pareciam me reconhecer, mas que eram desconhecidos para mim.
Ouvia várias suposições do que eu tinha, até que eu estava fingindo para chamar atenção ou que eu havia enlouquecido e não podia mais viver em sociedade.
Era absurdo, eu não havia enlouquecido, mas parece que com o tempo essa foi a conclusão, pois me jogaram em uma clínica psiquiátrica.
Passei cinco anos na clínica, lutando para recuperar minhas lembranças e lutando para não enlouquecer de verdade.
Até que um dia, com a ajuda de uma enfermeira que acreditava na minha sanidade, eu fugi daquele lugar.
Esperava que quando chegasse ao mundo exterior tudo se resolvesse, mas acabei encontrando mais problemas. Eu não tinha para onde ir, não tinha um lugar para dormir e nem para me alimentar.
Eu virei uma moradora de rua e o que me fez sobreviver foram os conselhos da enfermeira:
"Nunca aceite nada de estranhos que pedem algo em troca."
"Os loucos são ignorados o tempo todo, às vezes fingir é a sua melhor proteção."
"As ações falam mais do que palavras, as pessoas boas são aquelas que falam menos e fazem mais, e quando encontrar alguém assim, peça ajuda."
Faz um mês que estou nas ruas e por muitos dias não tive o que comer, mas mesmo sofrendo aqui me recuso a voltar para a clínica.
A esperança dentro de mim é que um dia irei encontrar alguém que me ajude a recuperar minhas lembranças.
Seguindo os conselhos da enfermeira, sujei todo meu corpo de lama, e vesti roupas rasgadas e sujas que encontrei nas lixeiras. Fiquei tão irreconhecível que algumas pessoas pensam que eu sou uma idosa.
Na maioria de meu tempo fico observando as pessoas, tentando encontrar alguém que tenha ações que falam mais do que palavras e em outros momentos fico no meu esconderijo, dentro de uma manilha na beira da estrada.
Em um dia, o sol estava muito quente e por isso resolvi ficar em meu esconderijo, o barulho dos carros passando já não me incomodava, até que ouvi o som de freio e uma imagem que nunca imaginei ver, apareceu.
Um carro passou bem por cima do meu esconderijo capotou algumas vezes e parou bem em frente da minha visão.
Fiquei parada vendo a cena, tinha alguém lá. O cheiro de gasolina era intenso e aos poucos pessoas se aglomeravam em volta.
Curiosa, saio do meu esconderijo e me meto no meio das pessoas.
— Se afastem! Vai explodir! — alguém grita e as pessoas correm e me empurram, sou pisoteada e ninguém se importou se eu estava machucada ou não.
Deitada no chão, olhei para aquele carro, vi que tinha alguém lá e senti que ele era igual a mim naquele momento, ninguém se importava com nós dois, ninguém se importava se iríamos nos machucar.
As ações valem mais do que palavras, mas não posso esperar isso de outras pessoas se minhas ações também não falam.
Me levantei e corri para aquele carro, não me importei com os cacos de vidro e com os gritos das pessoas me pedindo para sair dali.
Tudo foi automático e quando percebi já estava tirando aquele homem de lá.
Quando estávamos seguros, finalmente parei e ele, com a cabeça apoiada em meu colo, me olhava, seus olhos castanhos claros me olhavam com intensidade. Era como se ele reconhecesse quem eu era, mesmo que eu estivesse disfarçada.
Lentamente ele pegou o seu smartphone e com as mãos ensanguentadas desbloqueou o celular e me deu.
Assim que peguei, ele desmaiou em meus braços e as labaredas de fogo tomaram conta do carro.
Fiz a ligação, um homem atendeu e eu disse que o dono do smartphone estava muito machucado. O homem do outro lado da linha desligou e em pouco tempo chegou um grupo de pessoas apressadas, pegaram o homem e o levaram embora.
Passou uma semana, e eu estava no meu esconderijo e alguém parou bem em frente a minha manilha.
— Vamos, saia daí mulher, o meu chefe mandou te encontrar.
Fiquei receosa e confusa, mas eu não tinha para onde fugir naquela hora.
Engatinhei para fora da manilha e olhei bem o rosto do homem que estava me esperando. Era um senhor, um pouco calvo, magro, de cabelos negros e usava um bigode espesso embaixo do nariz pontudo e fino.
Ele não me olhou por muito tempo, virou de costas e disse:
— Me acompanhe, ninguém irá implorar para aceitar a melhor oportunidade que alguém como você poderia ganhar.
“Oportunidade?”
O homem caminhou e eu percebi que havia um carro parado próximo dali.
Eu confesso, eu estava muito curiosa, eu estava muito tentada a descobrir qual oportunidade me aguardava.
Meus instintos de sobrevivência me diziam que não, mas minha curiosidade estava me matando.
Me levantei e com cautela o segui, ele abriu a porta de trás do carro e me aguardou. Curiosa, me aproximei e olhei dentro do carro, de repente fui empurrada para dentro e a porta foi fechada.
— Aaaaah! Socorro! Socorro! — gritei, batendo no vidro da porta.
— Então é você, o anjo maltrapilho que me salvou da morte.
Ouvi uma voz ao meu lado e me virei lentamente, até encontrar aqueles olhos castanhos claros que tanto me impressionaram.
“Anjo? Ele me chamou de anjo?”, me perguntei, achando inusitado ele chamar de anjo alguém tão sujo e maltrapilho como eu.
Me ignorando, ele continuou a falar:
— Fui muito enganado na vida e agora, decidi que só vou ser generoso com quem faz por merecer. Aqui, está um contrato que se caso você assinar, eu vou te tirar dessas ruas e te colocar no meu castelo. Todos irão te ver como minha rainha, mas tem um porém, isso será só no papel, não tenho a intenção de me apaixonar.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Rose Gandarillas
Embarcada em mais um sucesso da Wan, enquanto ela faz sua mudança e organiza suas coisas.
Felicidades e prosperidade na nova residência.
2025-03-20
5
Andréa Debossan
E vdd o disfarce foi bom! Mas não pra quem ela salvou que a achou rapidinhoo
2025-03-19
1
Angela Freitas
começado a ler agora 25/03/25
ja estou adorando tudo
2025-03-25
1