Rio de Janeiro 2022
Maria Eduarda:
O evento da nova coleção da minha marca estava finalmente acontecendo, e o salão estava lotado. Amigos, convidados importantes, clientes e influenciadores — todos estavam ali, e eu deveria estar radiante. Mas, enquanto circulava entre as pessoas, cumprimentando uma por uma, minha mente estava longe de relaxada.
Parei por um segundo, observando Gina e Beto do outro lado do salão. Eles estavam próximos demais, e ela parecia realmente feliz, rindo e jogando o cabelo para trás, de um jeito que eu sabia bem o que significava. Eu não tinha certeza se aquilo me preocupava ou me deixava contente. Sabia do passado de Beto e das suas escolhas, mas também conhecia Gina o suficiente para saber que ela nunca recuava diante de um desafio.
Tentando afastar esse pensamento, voltei a dar atenção aos convidados. Mas, de repente, senti uma presença que fez o estômago dar um nó. Quando olhei para o lado, lá estava Cristal, se aproximando com aquele sorriso largo e radiante, como se fôssemos as melhores amigas do mundo. Como ela ainda tinha coragem? Engoli a seco, forçando um sorriso para não transparecer nada do que estava sentindo.
Ela me envolveu em um abraço apertado, e meu corpo ficou rígido, mas mantive a pose. Cristal começou a falar sem pausa, cheia de entusiasmo.
– Duda! Mulher, que saudade! Nem pra me procurar quando voltei de viagem, né? – ela disse, com um sorriso que me deu vontade de rir de nervoso.
Respirei fundo e soltei um riso forçado.
– Ah, Cristal... muita correria, né? Esse evento não se organizou sozinho, cê sabe – respondi, tentando manter o tom casual, embora a cada palavra dela minha vontade de estar ali desaparecesse.
Cristal então sorriu e, de repente, ergueu a mão esquerda para exibir um anel reluzente.
– E eu casei, amiga! Agora sou uma mulher casada, acredita?
A surpresa me atingiu com força. Ela estava casada? Eu tentava processar a notícia quando, antes que eu pudesse responder, ela virou levemente o corpo e chamou alguém que estava logo atrás.
– Ah, esse aqui é meu marido! Paulo, vem cá!
Meu corpo gelou. Vi Paulo se aproximar com um sorriso cínico nos lábios. Ele parecia confortável demais, e sua expressão despreocupada só aumentava minha tensão. Tentei manter o rosto neutro, fingindo que aquilo não era nada demais. Paulo estendeu a mão para mim, e eu me obriguei a apertá-la.
– É um prazer, Duda, ouvi muito sobre você – ele disse, com uma voz quase casual, mas que eu sabia bem o que escondia.
– Prazer... Paulo – respondi, forçando um sorriso. Meu corpo todo estava rígido, mas eu precisava manter a compostura. Sabia que qualquer deslize seria uma fraqueza que ele usaria contra mim.
Cristal continuou falando sobre o casamento, e eu ouvia sem realmente absorver nada. Eu sentia um aperto crescente no peito, tentando me manter calma, mas a presença de Paulo ali, como se fosse um homem comum, casado com minha antiga amiga, era surreal. Quando ela se afastou por um momento para cumprimentar outro convidado, Paulo se inclinou levemente em minha direção e sussurrou.
– Bela festa, Duda. Tá de parabéns. Espero que a gente se encontre mais vezes – ele disse, com um sorriso malicioso.
Tive que controlar todo o impulso de sair correndo. Fiquei ali, tentando disfarçar o desconforto, até que Cristal voltou e puxou Paulo para uma roda de pessoas. Foi a oportunidade que eu precisava para sair de perto deles.
No instante em que me afastei, procurei Henrique com o olhar, e logo o encontrei conversando com alguns convidados. Sem pensar muito, fui direto até ele, tocando seu ombro para chamar sua atenção.
– Henrique... preciso falar contigo. Vem comigo, agora – sussurrei, com um tom de urgência que ele percebeu na hora.
Ele me olhou com curiosidade, mas não questionou nada e me seguiu. Passamos pelo salão, entrando em um corredor afastado e mais silencioso. Só quando paramos ali, e senti um pouco de privacidade, consegui respirar fundo.
Henrique me olhou com um sorriso divertido, cruzando os braços.
– Tá parecendo que viu fantasma, docinho. Que foi? – ele perguntou, com um tom leve, como se estivesse tentando aliviar a tensão.
Suspirei, passando a mão pelo rosto. Ainda estava tentando assimilar o que tinha acontecido. O som das palavras de Paulo ainda ecoava na minha cabeça, e meu corpo todo estava em alerta.
– Ela apareceu aqui... Cristal. Com o marido – comecei, tentando controlar a respiração. – Ela tá agindo como se nada tivesse acontecido, como se tudo fosse normal entre a gente. E ainda teve a coragem de me apresentar o marido...
Henrique me olhava com atenção, a expressão dele mudando para algo mais sério. Ele sabia que havia um histórico complicado entre mim e Cristal, mas não precisava saber dos detalhes. E eu não pretendia contar.
– E esse cara? Que tipo de sujeito é esse tal de marido dela? – ele perguntou, o tom sério agora, provavelmente percebendo o quanto eu estava afetada.
Balancei a cabeça, tentando afastar o desconforto que Paulo me causava. Eu sabia que ele era perigoso, mas Henrique não podia saber disso.
– Só alguém que... faz parte do passado dela, sabe? Nem sei de onde ela tirou esse homem. Mas isso mexeu comigo, Henrique. Ela ainda teve a cara de pau de agir como se a gente fosse melhores amigas, depois de tudo... – minha voz falhou, e eu percebi que estava a ponto de desmoronar.
Henrique se aproximou e segurou meu rosto entre as mãos, me obrigando a olhar nos olhos dele. A expressão dele era de compreensão, e o toque firme me trouxe uma sensação de segurança que eu precisava naquele momento.
– Olha aqui, docinho... – ele falou, a voz baixa e firme. – Essa mulher e o marido dela não têm poder nenhum sobre você. Não deixa ninguém roubar teu brilho. Esse evento é teu, esse momento é teu. Ela sabe disso, e é por isso que tá tentando te desestabilizar.
Eu sabia que ele tinha razão, mas era difícil desligar a sensação de desconforto e medo que Paulo me causava. Mesmo assim, o jeito como Henrique me olhava, com tanta intensidade, foi acalmando meu coração aos poucos. Ele me fazia sentir segura, como se nada pudesse me alcançar.
– Cê tá certa – murmurei, me sentindo um pouco mais forte. – Eu que mando aqui, né?
Ele sorriu, aproximando o rosto um pouco mais. O olhar dele desceu para minha boca, e senti o calor subir pelo corpo. Era uma proximidade que fazia meu coração acelerar, e eu já não sabia se era medo ou outra coisa.
– Isso aí, docinho. Agora deixa eu ver esse sorriso lindo, que é o que realmente importa – ele disse, com um sorriso provocante.
Ri baixinho, sem conseguir evitar, e nossos olhares ficaram presos. O toque das mãos dele no meu rosto, o jeito como me olhava, tudo fazia o mundo ao nosso redor desaparecer. Eu me perdi no olhar dele, sentindo a tensão aumentar até que nenhum dos dois conseguisse mais resistir.
Os lábios dele encostaram nos meus, e o salão, o evento, a presença de Paulo e Cristal... tudo se apagou. Naquele momento, era só nós dois.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 62
Comments