08

Rio de Janeiro 2022

terror

O baile de Halloween já estava na boca do povo, mesmo faltando dois dias para o evento. Eu observava de longe a movimentação frenética do pessoal organizando tudo, desde as decorações até o estoque de bebida e droga. Todo mundo queria aproveitar essa chance, não apenas pelo divertimento, mas pelo lucro que essas festas traziam. A zona sul vinha em peso nesses eventos, com uma galera cheia de grana querendo viver a “experiência do morro”, e quem se aproveitava mesmo éramos nós.

Eles chegavam, desciam para o morro e pagavam caro por um pouco de adrenalina, querendo provar de tudo que tinham medo no dia a dia. Eu ria internamente pensando em como a nossa realidade virava entretenimento para eles, mas no final, quem saía ganhando éramos nós. Lucro certo.

Eu tava na minha, observando o cenário, quando avistei o Beto e o Abelha acenando pra eu ir até eles. Sabia que vinha zoação pela frente, mas era melhor encarar logo.

– Aí, Terror, tá pronto pro baile? – Beto perguntou, já com aquele sorriso debochado.

Eu dei de ombros, fingindo desprezo.

– Baile é baile, irmão. Quem tem que tá pronto são os playboy da zona sul, eles que vão sair daqui com o bolso vazio – respondi, mas ele já tinha outro plano.

– Aí, Terror, certeza que você já tá de quatro pela Dudinha né não. – disse ele, rindo com aquele tom provocador.

– E eu lá tenho cara de quem se apaixona por patricinha? – revidei, fingindo desinteresse.

Mas ele continuou, com o tom cada vez mais irritante e debochado.

– Sei não, mano. Desde que a Duda apareceu, você anda meio aéreo. Vai ver tá dando uma de emocionado e não quer contar pra ninguém.

Ele riu, jogando isso na cara como se fosse a piada do ano. Fiquei olhando pra ele por um momento, pensando em como devolver. Porque ele sabia provocar.

– Aí, pelo menos eu sei o que eu quero, Beto. Já você... sei quantos anos já passaram e você ainda não teve coragem de abrir o jogo com aquela tua paixonite, né? – devolvi, observando ele se contorcer de leve, sem perder a pose.

Ele deu de ombros, sem parecer afetado, mas eu percebi que acertei o ponto.

– Pior que não tem segredo não, Terror. Eu só sei escolher melhor quem vale a pena. Não vou lá perder tempo com mina que tá em outra, sacou? – ele rebateu, mas Abelha gargalhava ao lado, curtindo o bate-boca.

O papo seguiu, com ele me zoando e eu devolvendo no mesmo tom. Não que eu fosse do tipo que ligava pra provocação, mas no fundo eu sabia que Beto tinha uma certa razão – não em admitir, claro, mas alguma coisa nessa história toda com Duda mexia comigo. Eu só não ia dar esse gostinho pra ele.

Quando Abelha entrou no assunto de fantasias, mudei de assunto.

– Vocês que ficam se fantasiando, pra quê isso? Parece que tão brincando de Carnaval fora de época – disse, já sabendo que seria motivo de piada.

– Fala sério, Terror. Fantasia é parte do rolê, mano. Todo mundo entra no clima, menos você. Tá com medo de se soltar um pouco? – Abelha alfinetou, e eu dei um sorriso de canto.

– Medo? Quem precisa de fantasia é quem quer se esconder. Eu sou exatamente o que vocês tão vendo, não tem máscara aqui não – respondi, e eles deixaram o assunto morrer, ainda rindo.

**

Chegou o grande dia, e o baile tava lotado. Todo mundo fantasiado, cada um tentando parecer mais louco que o outro. Eu ainda achava aquilo uma bobeira, mas não dava pra negar que o clima era diferente, como se cada um ali se tornasse outro. Olhei ao redor, notando as garotas usando fantasias provocantes, e a galera cheia de energia pra uma noite que prometia ser longa.

Caminhei até o bar, vendo o pessoal se ajeitar e olhar pro palco onde o DJ já tocava. De repente, senti um toque no ombro. Era Camila. Ela tava com uma fantasia que chamava atenção – um vestido colado, maquiagem carregada. Ela sempre fazia questão de se destacar.

– E aí, não vai me chamar pra dançar? – perguntou com aquele sorriso cheio de malícia.

Eu ri, observando ela se aproximar mais.

– Calma, que a noite só começou. Não precisa ter pressa – falei, mas meus olhos estavam focados na entrada.

Algo me dizia que a festa ainda tinha muito pra oferecer.

Foi então que eu a vi. Duda.

Ela entrou acompanhada do Coronel, mas o mundo ao redor pareceu parar. Ela usava uma fantasia de Velma, mas sem os óculos, deixando o cabelo preso e mostrando um decote que valorizava o colo. A blusa laranja justa, a saia curta e as meias que iam até o joelho. Aquele visual mexia com qualquer um, mas para mim, era diferente.

Eu engoli seco, tentando disfarçar a reação, mas era impossível. Ela estava muito, muito gostosa. E parecia que sabia disso. Cada movimento dela era calculado, e o Coronel estava logo ali, mas isso não fazia diferença. Eu queria ir até ela.

Camila ainda estava ao meu lado, mas minha cabeça estava em outro lugar. Eu observava cada detalhe, desde o jeito que ela ajeitava a blusa, até a forma como olhava ao redor. Era como se soubesse que estava dominando o ambiente.

De repente, senti o olhar do Coronel em mim, como se tivesse sacado o que estava passando pela minha cabeça. Ele sempre foi ciumento com a irmã, e eu não podia vacilar. Mas mesmo assim, meus pensamentos estavam divididos. Olhei ao redor, pensando nas opções.

Eu podia ir até Duda, dar um jeito de conversar com ela, mas sabia que não ia passar despercebido. Camila ainda esperava atenção, e a loira que eu tinha visto mais cedo ainda lançava olhares.

A noite tinha se tornado uma confusão de escolhas, e eu, ali, perdido entre a atração e o receio. Sabia que qualquer passo errado podia trazer consequências, mas o desejo era mais forte que qualquer lógica.

Fiquei, então, entre as opções, deixando o desejo e a incerteza tomarem conta de mim, sem saber como a noite terminaria.

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