Sarah observava a casa dos Miller enquanto estacionava o carro. A velha residência parecia diferente de qualquer outra naquela rua suburbana. A fachada descascada e a vegetação descontrolada ao redor tornavam o local uma lembrança palpável de um tempo congelado, onde a tragédia se recusava a ser esquecida. Havia uma aura de abandono que quase fazia o ar parecer mais denso.
Mendes saiu do carro ao seu lado, sua postura séria. Ele deu uma olhada rápida ao redor antes de falar.
— Desde a morte do pai, ninguém mais viveu aqui. Está vazia há quase três décadas. Mas parece que a escuridão nunca deixou o lugar.
Sarah não disse nada, apenas assentiu enquanto os dois caminhavam em direção à porta da frente. O silêncio da vizinhança era opressor, como se os próprios vizinhos evitassem olhar para aquele lugar. Ao aproximarem-se da porta, ela notou o brilho opaco de uma placa antiga de “Propriedade Privada”, agora corroída pela ferrugem.
— Você acredita mesmo que algo... sobrenatural aconteceu aqui? — Sarah perguntou, tentando esconder o ceticismo em sua voz. Ela nunca fora uma pessoa de acreditar no inexplicável. Sempre havia uma lógica por trás das coisas, mesmo que não fosse óbvia de imediato.
Mendes coçou a barba, pensativo.
— Não sou de acreditar nessas coisas, mas esse caso... sempre teve algo que não se encaixava. Nem os peritos da época souberam explicar certas coisas. E depois dessa carta, não tenho mais tanta certeza.
Ele empurrou a porta, que rangeu pesadamente, como se há muito tempo não fosse usada. A sala de estar se abriu diante deles, iluminada apenas pela luz difusa que atravessava as cortinas empoeiradas. O ar estava parado, quase sufocante, como se ninguém o tivesse respirado por anos.
— Vamos começar pela cozinha. Foi onde o corpo do pai foi encontrado — disse Mendes, seguindo na frente.
Enquanto caminhavam pelos corredores estreitos, Sarah olhava ao redor, tentando imaginar a vida que aquela família levava antes da tragédia. Fotos emolduradas ainda pendiam nas paredes; uma delas mostrava Evan, sorridente, abraçando a mãe. A imagem lhe trouxe uma sensação desconfortável. Como algo tão comum poderia ter sido palco de tanto horror?
Na cozinha, o cheiro de mofo era mais forte. O ambiente, desorganizado e com vestígios de uma vida interrompida, parecia congelado no tempo. Na mesa de jantar, ainda havia pratos empilhados, com restos de poeira e teias de aranha acumuladas ao longo dos anos.
— Foi aqui que ele escreveu a carta. — Mendes apontou para uma cadeira próxima à janela, agora coberta por uma leve camada de pó.
Sarah ficou em silêncio, tentando imaginar o que passava pela cabeça daquele homem enquanto escrevia suas últimas palavras. Desespero, culpa, terror?
Ela se abaixou para inspecionar o chão e, de repente, sentiu um arrepio na nuca. Uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada. Ergueu-se rapidamente e olhou em volta, mas não havia nada além de paredes vazias e sombras imóveis.
— Sentiu isso? — Sarah perguntou em um sussurro involuntário.
— Como se o ar estivesse mais pesado? — Mendes assentiu, olhando ao redor. — Sim. Da última vez que estive aqui, senti a mesma coisa.
Antes que pudessem dizer mais, um som ecoou pelo corredor, um leve estalo, como se algo tivesse se movido.
— O que foi isso? — Sarah perguntou, sentindo seu coração acelerar. Ela estava pronta para culpar o vento ou a velha estrutura da casa, mas algo em seus instintos a fazia duvidar dessas explicações simples.
Mendes sacou a lanterna do cinto e seguiu em direção ao som, indicando que ela o seguisse. Eles caminharam até o andar de cima, onde ficavam os quartos. Cada degrau rangia sob seus pés, tornando o silêncio ainda mais perturbador. Quando chegaram ao topo da escada, Sarah viu uma porta entreaberta no final do corredor. Uma luz suave e fria parecia escapar por entre a fresta.
— Esse era o quarto de Evan — Mendes disse em voz baixa.
Sarah se aproximou da porta devagar, como se cada passo estivesse sendo calculado por uma parte do seu cérebro que instintivamente tentava protegê-la. Ela empurrou a porta com cuidado, e o quarto se revelou. A decoração infantil contrastava com o ar sombrio do lugar. Bonecos espalhados no chão, um pôster de dinossauros na parede, e, sobre a cama, um cobertor azul desbotado, ainda dobrado como se esperasse seu dono.
Mas algo mais chamava a atenção.
No centro do quarto, em meio aos brinquedos, havia uma pequena caixa de madeira. Não parecia ter estado ali por muito tempo, pois estava livre de poeira, como se tivesse sido colocada recentemente. Sarah e Mendes trocaram olhares antes de se aproximarem.
Ela se ajoelhou e abriu a caixa com cuidado. Dentro, havia recortes de jornais sobre o caso de Evan, fotos antigas da família e, no fundo, algo que parecia uma fita de vídeo.
— Isso não estava no relatório original — disse Mendes, claramente surpreso.
Sarah pegou a fita, seus dedos tremendo levemente. Ao olhar para ela, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Gravado à mão no rótulo estava o nome de Evan, seguido por uma data: 1995.
— Precisamos ver o que tem aqui — Sarah sussurrou, sua voz cheia de uma inquietação crescente.
— Sim — respondeu Mendes, com a voz igualmente tensa. — Talvez isso nos diga o que realmente aconteceu com Evan naquela casa.
Mas enquanto saíam do quarto, ambos sentiram que não estavam mais sozinhos. Como se algo, ou alguém, os estivesse observando...
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Bianca Souza
eu seria a primeira a sair correndo
2025-03-06
0
Cecilia geralda Geralda ramos
que medo é o fantasma /Gosh/
2025-02-17
0
~£lo~ 🏳️🌈😘💅
Nessa hr eu já estaria dentro do carro
2024-11-02
0