O Véu da Mentira

O vento soprou mais forte à medida que a noite se aproximava, balançando as folhas das árvores ao redor de Renan. Ele ainda estava sentado na praça, perdido em pensamentos, quando se deu conta de que, apesar de todas as suas tentativas de manter as aparências, o cerco estava se fechando. As mentiras que havia cultivado, desde seu retorno a Queluzito, pareciam estar desmoronando. E ele, por mais que fosse meticuloso e controlado, começava a sentir que o controle estava escapando de suas mãos.

Ana, ao seu lado, percebeu o silêncio pesado que pairava entre eles. Ela sempre foi sensível às emoções das pessoas, mesmo quando não expressas diretamente. Embora não soubesse o que se passava exatamente, sabia que algo profundo afligia Renan.

— Lucas... — Ana o chamou suavemente, interrompendo seus pensamentos. — Se precisar de alguém para conversar, estou aqui.

Renan forçou um sorriso. Por mais genuína que fosse a oferta dela, ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria encarar o que vinha evitando por tanto tempo. Mas revelar sua verdadeira identidade a Ana, nesse momento, não era uma opção. Ele a respeitava e, talvez, até estivesse começando a desenvolver uma conexão com ela, mas não podia permitir que seu segredo viesse à tona de forma tão abrupta.

— Obrigado, Ana — respondeu ele, com uma calma ensaiada. — Mas tem certas coisas que só eu posso resolver.

Ana assentiu, compreendendo o limite que ele estabelecia, mas sentindo que havia algo mais. O tempo passava, e ela notava que Lucas, ou quem quer que fosse, carregava um fardo que não estava disposto a compartilhar. Apesar de ser uma pessoa paciente, ela sabia que havia algo que o mantinha preso ao passado, algo que ele lutava para enterrar, mas que claramente ainda o consumia.

— Certo... — disse Ana, levantando-se lentamente do banco. — Mas se mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

Ela se despediu com um sorriso suave, deixando Renan sozinho com seus pensamentos. O vazio que ela deixou para trás só amplificou o conflito interno que ele já sentia. O tempo estava se esgotando. Ele sabia disso.

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Na manhã seguinte, Júlia acordou determinada. Algo dentro dela, uma intuição forte, a empurrava para descobrir a verdade sobre Lucas. Desde o festival, ela vinha sentindo que ele não era quem dizia ser. A frieza e o distanciamento, as respostas vagas e a forma como ele parecia evitá-la, tudo apontava para um mistério maior.

Decidida, ela pegou o telefone e fez algo que vinha adiando: ligou para Mariana, sua colega de trabalho. Mariana era uma programadora brilhante, alguém com quem ela podia contar para ajudá-la a investigar mais a fundo, sem levantar suspeitas. Elas conversaram rapidamente, e Júlia a convidou para um café naquela tarde.

Horas depois, sentadas em uma cafeteria no centro da cidade, Júlia explicou o que vinha se passando. Mariana, sempre cética, escutou com atenção, sem interromper.

— Então, você acha que esse "Lucas" está mentindo sobre quem ele é? — perguntou Mariana, um tanto intrigada, mas cautelosa.

— Não é só isso — Júlia respondeu, balançando a cabeça. — Eu sinto que o conheço. Mas ele insiste em manter distância, e isso me incomoda. Tem algo estranho nele.

Mariana, sendo mais racional, pensou por um momento antes de responder.

— Bom, você sabe que eu posso procurar informações. Se ele está mentindo sobre o nome, ou qualquer outra coisa, há formas de descobrir.

Júlia hesitou. Não era exatamente isso que ela queria, mas sabia que Mariana estava certa. Ela precisava de respostas, e se Lucas não iria fornecê-las diretamente, talvez fosse hora de tomar as rédeas da situação.

— Faça isso — disse Júlia, finalmente. — Se houver algo, eu preciso saber.

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Enquanto isso, Renan estava em seu quarto, na pousada, refletindo sobre o que fazer a seguir. Seu disfarce começava a pesar, e ele sabia que estava cada vez mais perto de ser descoberto. Ele tinha que fazer uma escolha: revelar a verdade por vontade própria ou ser exposto de maneira humilhante.

Pegando o telefone, ele discou o número de André.

— Preciso que prepare um plano de saída... Pode ser que eu tenha que deixar a cidade mais cedo do que o esperado — disse Renan, com a voz calma, mas carregada de preocupação.

André, sempre eficiente e discreto, confirmou que iria cuidar de tudo. Renan sabia que essa poderia ser sua última chance de manter o controle sobre a narrativa da sua própria vida. Mas ao desligar o telefone, ele se pegou refletindo sobre Júlia, Ana e sua Família. Fugir agora significaria abandonar a oportunidade de resolver tudo de uma vez por todas — e, talvez, de tentar reconquistar algo que ele havia perdido muito tempo atrás.

Renan encarou o espelho, questionando-se se estava preparado para finalmente derrubar o véu de mentiras que havia construído ao longo de tantos anos. O retorno a Queluzito, que ele pensou ser temporário, estava se tornando uma encruzilhada. A questão agora era: ele estava pronto para encarar a verdade?

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Comments

Isabel Garcia

Isabel Garcia

Renan, vc é forte, inteligente e covardia não combina com vc. Não deixe que te humilhe novamente

2024-09-26

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