Caminhos entrelaçados

A noite estava calma em Queluzito, o som distante dos grilos preenchia o silêncio. Renan caminhava lentamente pelas ruas estreitas da cidade, como se estivesse tentando controlar a tempestade de pensamentos que o perseguia desde o reencontro com Júlia. Ele sabia que aquele momento tinha o potencial de trazer de volta as dores do passado, mas, por mais que ele tentasse se manter frio e controlado, algo dentro de si parecia vacilar.

Enquanto caminhava pelas calçadas irregulares, seu celular vibrou. Uma mensagem de André, seu assistente, o atualizava sobre os negócios que deixara temporariamente para trás em São Paulo. Mesmo com todo o poder e sucesso que construíra ao longo dos anos, agora, naquele momento, tudo parecia insignificante comparado ao turbilhão emocional que enfrentava. Renan guardou o celular no bolso, os negócios poderiam esperar. Havia algo mais importante se desenrolando ali — algo que ele não podia ignorar.

Ao chegar na praça onde havia visto Júlia pela última vez, ele parou por um instante, observando as luzes amarelas fracas que iluminavam o coreto. O espaço parecia intocado pelo tempo, como se estivesse congelado na mesma época em que ele partiu, carregando consigo as mágoas que acumulou ao longo da juventude.

Mas agora, o passado voltava a assombrá-lo.

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Júlia, por sua vez, estava em seu apartamento, tentando encontrar algum sentido para o que acontecera naquela tarde. A presença daquele estranho, frio e distante, ainda reverberava em seus pensamentos. Algo nele a perturbava de uma maneira que ela não conseguia explicar.

Ela se sentou à mesa da cozinha, abrindo o laptop para revisar alguns e-mails de trabalho, mas sua mente não conseguia se concentrar. Seus olhos vagavam pela tela, sem realmente processar as palavras. Tudo o que ela conseguia pensar era naquele homem. Renan?. Seria possível que aquele estranho fosse o garoto que ela conheceu tantos anos atrás?

Júlia havia passado anos afastada de Queluzito, tentando construir uma nova vida, tentando esquecer os erros do passado, mas algo sempre a puxava de volta. Ela nunca imaginou que, ao retornar, também poderia encontrar fantasmas que havia deixado para trás.

Fechando o laptop com um suspiro frustrado, ela se levantou e olhou pela janela. As luzes da cidade eram fracas, e a escuridão tomava conta das ruas. O que realmente aconteceu com Renan? Ela se perguntava. Desde que ele desapareceu, nunca mais soube nada sobre ele. Seria aquele homem ele, depois de todos esses anos? A ideia parecia impossível, mas ao mesmo tempo, cada detalhe de seu comportamento sugeria uma verdade que ela não queria enfrentar.

Sem conseguir se livrar daquela dúvida, Júlia tomou uma decisão. Precisava confrontar o passado. E a única maneira de fazer isso era encontrá-lo novamente, descobrir a verdade.

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No dia seguinte, o sol se erguia lentamente sobre Queluzito, e a cidade voltava ao seu ritmo tranquilo. Renan caminhava mais uma vez pelas ruas da cidade, mas dessa vez com um objetivo em mente. Ele sabia que não poderia evitar Júlia para sempre. Eles estavam em um jogo silencioso de emoções e história não resolvida, e a única maneira de lidar com aquilo era encarar a situação de frente — mesmo que isso significasse reviver as dores que ele passou tanto tempo tentando esquecer.

Enquanto ele se aproximava de uma das pequenas padarias locais, avistou Júlia mais à frente. Ela estava distraída, mexendo no celular, provavelmente sem perceber sua presença. Por um breve instante, Renan considerou seguir em outra direção, evitar o confronto. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele desejava o contrário. Ele sabia que não poderia continuar vivendo naquele limbo entre o presente e o passado. Era hora de confrontar o que os separava.

Respirando fundo, ele caminhou em direção a ela, seus passos silenciosos, mas decididos. Quando finalmente ficou a poucos metros, Júlia levantou o olhar, e seus olhos se encontraram novamente. Dessa vez, não havia como evitar.

— Você. — A voz dela saiu antes que ela pudesse se controlar, uma mistura de surpresa e determinação.

Renan parou, mantendo sua expressão controlada, sua postura firme.

— Eu? — Ele respondeu com um tom de desdém, mantendo a frieza que o protegera por tanto tempo.

Júlia não hesitou desta vez. Havia algo que ela precisava saber, e não iria embora sem uma resposta.

— Não faça isso. — Ela deu um passo à frente, sua voz firme. — Quem é você de verdade?

O silêncio que se seguiu foi pesado, e Renan sentiu que aquele momento era crucial. Ele poderia manter a fachada, continuar jogando o jogo da indiferença, ou poderia finalmente abrir a porta para o passado que ambos estavam evitando.

Por um instante, ele considerou a última opção. Revelar-se, deixar as mágoas e as palavras não ditas escaparem. Mas, ao invés disso, ele escolheu o caminho que havia se tornado tão familiar para ele ao longo dos anos: o controle.

— Não sei do que está falando — respondeu ele, com um leve sorriso frio. — Acho que você está confundindo as coisas. Às vezes, as pessoas veem o que querem ver.

As palavras de Renan foram calculadas, mas o olhar em seus olhos traiu algo mais profundo. Júlia, no entanto, não se deixou abater.

— Não tente me enganar. — Ela cruzou os braços, seu olhar desafiador. — Eu te conheço de algum lugar, eu sei. Não é apenas uma coincidência.

Renan encarou-a por um longo momento, a tensão entre eles quase palpável. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, a verdade viria à tona. Mas, naquele momento, ele ainda não estava disposto a deixar suas defesas caírem.

— Você acha que me conhece, mas talvez esteja enganada — disse ele, com a voz fria, mas controlada. — Não sou a pessoa que você pensa que eu sou.

Júlia ficou em silêncio, os olhos ainda presos nele, buscando por respostas que ele se recusava a dar. A frustração crescia dentro dela, mas também algo mais: a sensação de que, por trás daquela fachada, havia muito mais do que ele estava disposto a revelar.

Finalmente, Renan deu um passo para trás, encerrando a conversa de forma abrupta.

— Talvez seja melhor você esquecer isso — disse ele, virando-se para ir embora.

Júlia permaneceu onde estava, os olhos seguindo-o enquanto ele se afastava. Havia algo nele, algo que ela precisava descobrir. E, de alguma forma, ela sabia que aquele não seria o último encontro.

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