O ar da noite em Queluzito trazia uma brisa suave, e as luzes da praça principal cintilavam com uma mistura de cores e sons. O festival estava no auge. Famílias caminhavam juntas, crianças corriam de um lado para o outro, e as barracas de comida estavam cercadas por risadas e conversas animadas. Em meio a esse cenário festivo, os irmãos de Renan estavam reunidos ao redor de uma das mesas perto do coreto, afastados da agitação principal, mas ainda envolvidos no clima do evento.
Clara sentou-se de frente para seus irmãos, com um copo de suco na mão, observando a movimentação ao redor. Ela parecia inquieta, o tipo de inquietação que a fazia gesticular e falar mais rápido, como se o movimento exterior pudesse conter o que ela realmente queria dizer.
— Este festival sempre me faz lembrar do Renan, não importa o quanto eu tente evitar — comentou Clara, mexendo no copo de suco. Sua voz era baixa, mas carregada de algo que os outros irmãos reconheceram imediatamente.
Davi, sentado ao lado dela, olhou para a multidão, aparentemente distraído, mas Clara sabia que ele estava ouvindo. Helena, ao lado de Matheus, suspirou levemente, sempre assumindo o papel de mediadora quando as discussões começavam a girar em torno do irmão ausente.
— É estranho pensar que já faz tanto tempo — disse Helena, olhando para as luzes do coreto enquanto uma música tradicional tocava ao fundo. — Parece que foi ontem que ele estava aqui, reclamando da comida da barraca de pastel.
Matheus, como sempre, era o mais pragmático. Ele inclinou-se para trás na cadeira, cruzando os braços. Seu olhar estava fixo nas pessoas que passavam, mas sua mente estava claramente em outro lugar.
— Eu entendo, mas talvez seja hora de deixarmos isso pra lá, Clara — ele disse, com a voz calma, mas firme. — O Renan escolheu o caminho dele. Não dá para ficar preso nisso pra sempre.
Clara virou-se para ele, com uma expressão de leve frustração.
— Não é só isso, Matheus. Ele era nosso irmão, sabe? E ele simplesmente... desapareceu. Como podemos agir como se ele não existisse? — O tom dela era mais intenso agora, mas ainda com uma nota de tristeza.
Davi finalmente interveio, sem tirar os olhos da multidão.
— Acho que todos sentimos isso, Clara. Mas o que a gente pode fazer? A vida continua. Não adianta ficar pensando no que poderia ter sido. O Renan seguiu a vida dele, e nós seguimos a nossa.
Helena, sempre conciliadora, colocou a mão no ombro de Clara.
— Nós todos sentimos a falta dele, Clara. Cada um de nós. Mas o Caio tem razão. A gente não pode se prender ao passado para sempre. A vida não para — disse ela, a voz cheia de compreensão.
O silêncio pairou sobre o grupo por um momento, enquanto os sons do festival ao redor continuavam. Era como se a vida estivesse seguindo adiante para todos, exceto para eles. O assunto de Renan sempre deixava uma marca em suas conversas, mas ninguém sabia ao certo como resolvê-lo.
Clara abaixou a cabeça, frustrada. Não era só saudade; era o mistério. O que o havia levado embora? Por que ele nunca fez contato? Essa incerteza a corroía por dentro, enquanto os outros irmãos pareciam mais dispostos a aceitar o desaparecimento.
— Não consigo evitar pensar que... talvez ele tenha uma boa razão para isso — disse Clara, finalmente. — E se ele voltar? E se... ele estiver esperando o momento certo?
Matheus soltou uma risada seca, mas não de deboche, mais de descrença.
— Se ele quisesse voltar, já teria feito isso — comentou ele, balançando a cabeça. — Você precisa parar de esperar por algo que não vai acontecer.
Helena lançou um olhar de advertência para Matheus, mas não disse nada. Ela sabia que ele tinha seu jeito de lidar com as coisas, sempre direto, sempre prático. Mas Clara precisava de algo mais.
Davi, que até então estava em silêncio, sorriu de leve.
— Eu não sou tão pessimista quanto o Matheus — disse ele, lançando um olhar rápido para o irmão. — Mas também não fico esperando um retorno milagroso. Se o Renan quiser voltar, ele vai encontrar o caminho. E quando ele fizer isso, estaremos aqui. É só isso que a gente pode fazer.
Clara olhou para ele, como se ponderasse aquelas palavras. Ela sabia que Davi era o mais leve dos irmãos, mas ele também era o que mais entendia como deixar as coisas fluírem. A simplicidade de sua abordagem a confortava de alguma forma.
O som da música do coreto mudou, e Clara se levantou, tentando mudar o rumo da conversa.
— Bom, vamos deixar isso para outro dia, então — disse ela, com um meio sorriso. — Ainda temos o festival, e eu prometi que ia ganhar um prêmio na barraca de argolas.
Os outros irmãos riram, a tensão se dissipando. Eles sabiam que aquele assunto voltaria, mas por ora, estavam prontos para deixá-lo de lado. À medida que se levantavam e seguiam juntos para as barracas de jogos, um senso de normalidade voltou ao grupo, mesmo que fosse temporário.
Enquanto se afastavam, Clara olhou de relance para a multidão, como se esperasse, em algum nível, ver Renan ali, observando-os de longe. Ela sabia que era improvável, mas parte de si não conseguia abandonar a esperança de que ele estivesse mais perto do que imaginavam.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Maria Nice Grudgen
Vamos ver o desenrolar desse mistério.
2024-10-11
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