Ana havia pedido que Renan mostrasse algumas das comunidades ao redor da cidade, lugares que ele conhecia bem, mas que já não visitava há muito tempo. Mesmo assim, ele havia aceitado o convite, talvez por curiosidade, ou talvez porque, de alguma forma, sentia que precisava de algo novo em meio às sombras de seu passado. O fato de Ana ser uma estranha naquele lugar o ajudava a relaxar, como se fosse mais fácil compartilhar pedaços de sua história com alguém que não conhecia seu passado.
— Você realmente conhece esses caminhos, não é? — perguntou Ana, quebrando o silêncio com um sorriso, enquanto desviava de uma pedra no caminho.
Renan assentiu, mantendo o olhar à frente. Ele não era de falar muito, mas sentiu-se confortável em responder.
— Eu cresci por aqui. Os caminhos não mudam muito — disse ele, olhando para as montanhas ao longe, os olhos capturando uma mistura de nostalgia e frustração.
Ana percebeu o tom dele e, por um momento, hesitou em perguntar mais. Ela não queria invadir a privacidade dele, mas ao mesmo tempo, havia uma curiosidade crescente sobre aquele homem reservado.
— É um lugar bonito. Difícil imaginar alguém deixando isso para trás — comentou ela, como quem não quer nada, mas esperando uma reação.
Renan parou por um segundo, como se estivesse refletindo sobre as palavras dela. De fato, ele havia deixado tudo para trás, e agora, ali estava ele, revisitando memórias que nunca quis encarar novamente.
— Às vezes, não importa o quão bonito um lugar seja, você precisa sair — disse ele, finalmente. — Para descobrir quem você é de verdade.
Ana sorriu levemente, sentindo o peso das palavras dele. Ela sabia bem como era tentar se reencontrar. Estava ali também em busca de respostas, tentando entender mais sobre aquele lugar, mas talvez mais sobre si mesma.
— Eu entendo. Sair para descobrir algo sobre nós mesmos... — Ela olhou para Renan, percebendo que ele carregava muito mais do que mostrava. — Talvez seja por isso que estou aqui também.
Eles continuaram a caminhar, com Ana fazendo perguntas sobre as comunidades ao redor, os pequenos vilarejos que pareciam estar escondidos na paisagem. Renan respondia com calma, explicando a história de cada lugar, mas sem se aprofundar demais em suas próprias experiências.
Conforme o dia avançava, o ritmo entre eles se tornou mais fluido. O silêncio confortável era entremeado por conversas leves, às vezes sobre a cidade, outras sobre as impressões de Ana sobre a região. Havia uma simplicidade nas interações que Renan apreciava, algo que ele não experimentava há muito tempo.
Eles finalmente chegaram a uma antiga fazenda abandonada, um lugar que Renan lembrava bem da infância, mas que agora estava coberto de mato e esquecido pelo tempo.
— Esse lugar... — Ana começou, observando os restos da casa que um dia esteve cheia de vida. — Deve ter muitas histórias, não é?
Renan assentiu, com um olhar distante.
— Muitas — disse ele, sem entrar em detalhes.
Ana olhou para ele, percebendo que havia muito que Renan não dizia, mas ao mesmo tempo, sentia que não precisava forçar. O tempo e o silêncio faziam parte daquela caminhada tanto quanto as palavras trocadas.
Enquanto voltavam para a cidade, o sol já começava a descer no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. O ambiente silencioso e tranquilo os envolvia, e Ana percebeu que algo entre eles havia mudado. Não era algo grandioso, mas uma conexão estava começando a se formar, devagar, sem pressa.
— Obrigada por me mostrar esses lugares — disse Ana, enquanto eles paravam em frente ao bar onde haviam se encontrado pela primeira vez. — Foi... melhor do que eu esperava.
Renan sorriu de leve, algo raro para ele, mas sentiu que Ana conseguia extrair isso dele sem esforço.
— Não foi nada — respondeu ele, sentindo que aquelas palavras eram mais sinceras do que pareciam.
Ana acenou, e por um breve momento, o olhar deles se encontrou de uma maneira diferente. Havia algo ali, mas nenhum dos dois estava pronto para dar nome àquilo. Ainda não.
Renan a observou entrar no bar, e enquanto ela desaparecia pela porta, ele se permitiu um suspiro leve.
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Atualizado até capítulo 29
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