Entre Novos e Velhos Laços

Renan saiu do Bar do Sérgio após mais uma tarde em silêncio, observando as ruas tranquilas de Queluzito. Ele estava prestes a entrar no carro, ainda refletindo sobre o último encontro com Ana, quando seu celular vibrou. Era uma mensagem de André, seu assistente, lembrando-o das pendências em São Paulo. Por um instante, o peso de sua vida dupla o atingiu. As decisões que ele vinha evitando pareciam mais próximas, e manter-se escondido na cidadezinha estava se tornando cada vez mais difícil.

Ele guardou o celular, sentindo a inevitável tensão entre as duas realidades que vinha mantendo: sua vida isolada em Queluzito, e a identidade secreta que ainda sustentava como Lucas Ferreira. O ar ali era diferente, mais leve, mas os vínculos que ele tentava evitar — tanto com a família quanto com Ana — começavam a se apertar em torno dele. Era uma questão de tempo até que esses laços o puxassem de volta.

Com o sol descendo lentamente no horizonte, ele decidiu dar uma volta pela praça da cidade, algo que evitara nas últimas semanas. Havia um evento em andamento, algumas barracas montadas com produtos artesanais e famílias caminhando despreocupadas. Para qualquer outro, aquela cena seria comum, até acolhedora. Mas para Renan, estar entre as pessoas de sua cidade natal trazia um desconforto constante.

Clara estava em uma das barracas, interagindo com os vendedores locais. Ela parecia estar mais à vontade do que da última vez que ele a viu. Renan hesitou em se aproximar, sabendo que o reconhecimento dela ainda não havia acontecido. Ele a vinha acompanhando anonimamente pelas redes sociais, mas agora, vê-la tão de perto, sem que ela soubesse quem ele era, trazia um peso novo à situação.

Antes que ele pudesse decidir o que fazer, uma voz feminina o chamou da outra direção.

— Lucas! — Ana sorriu, se aproximando de forma descontraída. Ela carregava uma sacola com alguns produtos locais. — Você vai me ignorar de novo?

Renan riu discretamente e balançou a cabeça.

— Eu nunca faria isso — disse, de maneira leve, tentando relaxar apesar da presença de Clara logo atrás.

Ana olhou curiosa para o movimento na praça, especialmente em direção às barracas. Seus olhos pousaram brevemente em Clara, sem saber da conexão entre os dois.

— Estava pensando em comprar umas coisas aqui para levar para casa — continuou Ana. — Que tal me ajudar a escolher?

Renan sabia que qualquer distração seria bem-vinda naquele momento, então assentiu e acompanhou Ana pelas barracas, ajudando-a a escolher alguns produtos locais. A conversa fluía naturalmente entre eles, e ele se pegou apreciando a leveza com que ela o puxava para situações cotidianas. Ao mesmo tempo, seus olhos voltavam de vez em quando para Clara, sem que Ana percebesse. Ela ainda não o reconhecera, mas isso era uma questão de tempo.

Enquanto os dois se afastavam das barracas, Ana finalmente quebrou o silêncio que havia se instalado entre eles.

— Você está... mais pensativo hoje — comentou ela, virando-se para ele com uma expressão curiosa. — Tudo bem?

Renan hesitou antes de responder. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria compartilhar mais de si, mas não estava pronto para expor completamente a verdade.

— Só... pensando em algumas coisas do passado — disse ele, de forma vaga.

Ana assentiu, respeitando o espaço dele, como sempre fazia. No entanto, Renan podia sentir que ela estava cada vez mais próxima de romper as barreiras que ele mantinha. A paciência dela começava a desarmá-lo.

— Todos temos fantasmas — disse Ana suavemente, enquanto eles voltavam a caminhar. — Não precisamos lidar com eles sozinhos, sabe?

Renan sorriu de leve. Era a maneira delicada de Ana oferecer apoio, sem forçar. Isso o fazia sentir que talvez, apenas talvez, pudesse confiar nela com o tempo.

Quando eles finalmente se despediram, Renan sentiu que havia algo diferente entre eles. A relação estava evoluindo, mas de forma natural, sem pressa. Ainda assim, sua mente permanecia dividida entre a nova conexão que estava formando com Ana e o peso de sua família, que ainda pairava no ar, especialmente com Clara cada vez mais presente.

Depois de caminhar um pouco mais pela cidade, Renan se dirigiu de volta ao carro, já planejando como manter o controle sobre as múltiplas conexões que estavam se formando. Clara, Ana, Júlia... todos esses laços estavam lentamente se apertando, e ele sabia que não poderia fugir.

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