Capítulo 18

...ELIZA...

Eliza caminhava pela rua, imersa em seus pensamentos e alheia ao festival que acontecia ao seu redor. Os olhares das pessoas não se demoravam nela, e talvez fosse melhor assim. Ela era apenas uma novata na Ordem, e ninguém ali imaginava o peso que carregava, muito menos o que se escondia por trás daqueles olhos vermelhos que sempre pareciam brilhantes, como se estivessem à beira de chorar ou de revelar algo que ninguém mais poderia ver. Sua túnica vermelha esvoaçava ao vento, marcando seu caminho pelas ruas, e suas botas, gastas e manchadas pelas expedições, ressoavam sobre o chão de pedra enquanto ela se apressava.

"O mestre vai me matar se souber!" A ideia ecoava na mente de Eliza repetidamente, cada vez mais insistente. Ela segurava com força um manto de seda enrolado, os dedos trêmulos pelo nervosismo. Dentro do manto, escondia algo que ninguém mais sabia que ela havia encontrado. Algo que, ao contrário do que qualquer um na Ordem esperaria dela, ela não havia reportado a ninguém.

Um ovo. Um grande ovo negro, encontrado em uma das cavernas durante suas expedições solitárias ao norte. Era impossível dizer de que criatura poderia ser, ou até mesmo se era de alguma criatura conhecida. Eliza lembrava-se de ter hesitado ao vê-lo pela primeira vez, a superfície negra e brilhante quase hipnotizando-a. Ela sabia que deveria ter avisado aos magos mais experientes assim que o encontrou, deveria ter relatado a descoberta. Mas, ao invés disso, algo em seu interior a fez ficar quieta, como se uma força invisível a tivesse impedido.

Agora, ela se sentia completamente insegura. “O que eu fiz?” A pergunta rodopiava em sua mente, criando uma tempestade de ansiedade que parecia aumentar a cada passo que ela dava pelas ruas inclinadas da capital. Sempre foi assim, não foi? Os outros magos sempre a desprezaram. Diziam que seu dom era fraco, incontrolável, como se ela fosse uma farsa entre eles. Suas habilidades com a magia eram rudimentares na melhor das hipóteses, e incompletas na maioria das vezes. Não era de se surpreender que nunca havia sido levada a sério.

Agora, ela tinha em mãos algo que poderia mudar tudo. Algo que talvez nem devesse existir, ou pior... algo que poderia ser a chave para sua destruição. “Por que eu não contei a ninguém?” Ela mesma não sabia a resposta. O ovo tinha uma energia estranha, que a atraía e ao mesmo tempo a fazia se sentir vulnerável. Mas não podia mais voltar atrás. Se contasse agora, já seria tarde demais, e as consequências seriam desastrosas.

Os pés de Eliza doíam. As ruas da capital eram sempre inclinadas, e cada passo parecia mais difícil do que o anterior. Seus músculos protestavam, mas ela não tinha escolha. Precisava manter o ovo escondido até descobrir o que fazer com ele.

Ela respirou fundo, cansada, o ar quente do festival enchendo seus pulmões. As barracas ao redor estavam cheias de pessoas comemorando, rindo, completamente alheias às suas preocupações. O cheiro de comida, doces e especiarias dançava no ar, mas Eliza não tinha estômago para aquilo. Tudo o que queria era um momento de paz, um breve descanso para aliviar a tensão que corroía seu peito.

Foi quando avistou uma pequena barraca que vendia água de coco. “Perfeito”, pensou, e se aproximou com passos rápidos. O peso do manto de seda enrolado em seus braços parecia aumentar a cada segundo, e ela precisava se livrar daquilo, nem que fosse apenas por um momento. Sentiu o suor escorrer pela sua testa, misturado com a poeira das ruas, e suspirou de alívio ao chegar à barraca.

— Uma água de coco, por favor — pediu, a voz levemente rouca pelo cansaço.

O vendedor acenou com a cabeça e se virou para pegar o pedido, enquanto Eliza, sem pensar muito, colocou o manto de seda ao lado, sobre uma mesa improvisada. “Apenas por um segundo”, disse a si mesma. “Só preciso de um momento de descanso”.

O frescor da água de coco em seus lábios foi um alívio imediato, e por um breve instante, ela permitiu que seus pensamentos desacelerassem. Talvez pudesse encontrar uma solução para seu dilema mais tarde, talvez houvesse tempo... mas, por enquanto, aquele pequeno gole de água parecia ser a única coisa que fazia sentido.

No entanto, seu momento de paz foi interrompido de forma abrupta. Foi sutil no começo — uma sensação de que algo estava errado. Eliza olhou para o lado e percebeu que o manto de seda não estava mais onde o havia deixado. O pânico subiu rapidamente por seu corpo, congelando-a no lugar.

— Não... — murmurou, os olhos arregalados em horror.

Ela girou a cabeça, olhando freneticamente ao redor. **Tarde demais**. Uma sombra havia se aproximado sorrateiramente, aproveitando-se de sua distração, e levado o manto. Levado o ovo. A única coisa que ela sabia que poderia mudar o rumo de sua vida — para melhor ou pior — havia desaparecido.

O pânico a engoliu, e sua mente acelerou em várias direções. “Quem pegou? Como isso aconteceu tão rápido? O que faço agora?” O medo era palpável, e seus dedos tremeram enquanto ela tentava raciocinar. Se alguém descobrisse o que estava escondido dentro daquele manto, as consequências seriam inimagináveis.

Sem perder mais tempo, Eliza largou o copo de água de coco e se lançou em uma corrida pela multidão. As pessoas ao redor a encaravam enquanto ela passava, mas ela não se importava. A única coisa que importava era encontrar quem quer que tivesse levado o ovo. Apressada, seus pés doíam ainda mais, e o cansaço pesava em suas pernas, mas a urgência era maior.

Enquanto corria, Eliza lutava para controlar seus pensamentos. “O que vou fazer se não encontrar? Quem poderia ter pego?” Ela não podia falhar agora. Não podia perder o único objeto que talvez fosse a chave para sua redenção — ou sua destruição.

Ela empurrou seu caminho por entre a multidão, o coração disparado no peito, os olhos varrendo cada canto da rua em busca da menor pista. “Por favor, esteja por perto”, ela implorou internamente, esperando que a sombra não tivesse ido longe.

Finalmente, avistou uma figura à distância, segurando o manto de seda de forma casual, como se fosse um simples pano. O coração de Eliza deu um salto de esperança misturado com medo.

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