Capítulo 14

Alicia não aguentava mais. As palavras de Caelithor eram como veneno, e por mais que soubesse que Luthiel, no livro, tinha permanecido quieta durante as provocações, algo dentro dela explodiu. As emoções transbordaram, a raiva que vinha sendo acumulada desde o salão, e antes que pudesse racionalizar, ela reagiu.

De repente, Luthiel avançou com uma velocidade que surpreendeu até mesmo Alicia. Seus dedos firmes agarraram o elfo pelo colarinho, e em um movimento rápido, ela o empurrou contra a parede de pedra. O impacto ecoou pelo corredor, e os olhos de Caelithor se arregalaram com surpresa. Alicia não sabia que Luthiel tinha tamanha força, mas ali estava ela, segurando o elfo arrogante como se ele fosse nada mais do que um peso leve.

A coroa de prata em sua cabeça brilhava fracamente à luz das tochas, um símbolo da humilhação que ela acabara de sofrer. Mas naquele momento, Alicia não sentia vergonha — sentia fúria. Ela estreitou os olhos, o rosto de Luthiel tão próximo do de Caelithor que ele podia sentir sua respiração.

— Você é um fraco — disse ela entre os dentes, a voz baixa, carregada de desprezo. — Um covarde, que só encontra satisfação em atormentar os outros, porque no fundo, você sabe que nunca será mais do que isso.

Caelithor, sempre tão controlado e cheio de desprezo, riu, embora a tensão em seus olhos traísse o desconforto que sentia com a força inesperada de Luthiel. Ele tentou falar, mas antes que pudesse pronunciar mais uma palavra venenosa, Luthiel o empurrou de novo contra a parede, desta vez mais forte, o que fez a cabeça dele bater contra a pedra com um som seco.

Os olhos de Caelithor agora estavam arregalados de medo, e ele tentou se desvencilhar, mas a força de Luthiel o mantinha preso.

— Se você é um homem de verdade — Luthiel continuou, a voz firme e mortalmente calma — então aceite um duelo comigo. Mostre que tem mais do que apenas palavras, Caelithor. Prove que você é digno de ser chamado de guerreiro, porque até agora, tudo que você fez foi se esconder atrás de sua língua afiada e do seu orgulho vazio.

Caelithor ficou em silêncio, o rosto de sua arrogância desfeita por um instante. Alicia podia sentir a tensão no corpo de Luthiel, mas havia algo mais, algo dentro dela que era estranho e poderoso. Ela sabia que essa não era a reação original de Luthiel na história, mas não conseguia se controlar. Era como se a própria raiva de Alicia, suas frustrações pessoais, estivessem emergindo através da personagem.

— O que foi, Caelithor? — provocou ela, apertando ainda mais o colarinho dele. — Não é tão corajoso quando alguém finalmente o confronta, não é? Ou será que você só é forte quando se trata de humilhar uma mulher?

O elfo tentou recuperar o controle, mas estava claro que ele não esperava por aquilo. Ele abriu a boca para dizer algo, mas sua voz falhou.

— Luthiel — ele murmurou, tentando forçar um sorriso arrogante — isso é ridículo. Um duelo entre nós? Você acabou de ser rebaixada, e ainda quer falar de honra? Além disso, um duelo entre nós dois... seria minha honra contra a sua vergonha. E você já perdeu isso hoje, não foi?

Luthiel empurrou-o novamente, desta vez soltando-o, mas seu olhar ainda era penetrante, cheio de uma fúria controlada que Caelithor não conseguia ignorar.

— Um duelo — repetiu ela, sua voz dura. — A menos que você prefira continuar fugindo de mim, como sempre fez.

Caelithor finalmente endireitou-se, tentando recuperar a compostura, mas o medo em seus olhos o traía. Ele deu um passo para trás, ajustando a armadura, e olhou para ela, um sorriso amargo surgindo em seus lábios.

— Um duelo então — disse ele, a voz forçada. — Mas não agora. Há outras questões a serem resolvidas antes que possamos... lidar com isso. E quem sabe? Talvez você não dure o suficiente para que esse duelo ocorra.

Com isso, ele se virou bruscamente, afastando-se com passos rápidos. Alicia, ainda sentindo o coração de Luthiel batendo forte em seu peito, permaneceu onde estava, observando-o desaparecer pelos corredores.

Ela não sabia se aquilo havia sido um erro ou um triunfo, mas uma coisa era certa: algo dentro dela havia mudado. Algo dentro de Luthiel tinha mudado.

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