O sol estava começando a se pôr, lançando uma luz dourada sobre a paisagem. Luthiel, ainda se acostumando com seu novo corpo e o ambiente ao seu redor, seguia ao lado de Sylas enquanto ele a conduzia através dos jardins do castelo. O caminho estava adornado com flores exóticas e árvores imensas, cujas folhas dançavam suavemente com a brisa. O cheiro de flores misturado ao frescor do crepúsculo criou um ambiente sereno, mas Luthiel parecia absorvida em pensamentos profundos.
Ela olhou ao redor, tentando absorver a grandeza do lugar e ao mesmo tempo tentando entender seu lugar naquele novo mundo. A caminhada estava tranquila, e o som dos pássaros e do vento nas folhas era quase meditativo. No entanto, a inquietação de Luthiel não se dissipava.
— Sylas, — ela começou, com um tom pensativo, — não sei em que data estamos. Não tenho ideia do tempo que passei no mar ou quanto tempo se passou desde o meu desaparecimento.
Sylas olhou para ela com uma expressão de surpresa e preocupação. A suavidade em seu olhar não disfarçava a tensão que ele sentia ao abordar o assunto.
— Estamos no mês de Ardael, no ano 317 do reinado do rei Tal. — Ele explicou, sua voz carregada de um tom explicativo. — Desde que você desapareceu, o rei reforçou suas investidas no norte. Ele acredita que a ameaça provém daquela região, devido à presença de muitos monstros e orcs. O rei tem se concentrado em proteger o reino dessa ameaça iminente.
Luthiel ouviu com atenção, sua mente trabalhando para conectar as informações. Sylas continuou:
— Então, você decidiu ir para o sul, contrariando a vontade do rei. Reuniu seus homens mais fiéis e partiu para o sul. — Ele pausou, seu tom carregado de uma mistura de curiosidade e preocupação. — O que a fez tomar essa decisão? O rei está muito desgostoso com sua desobediência. Ele acreditava que você estava indo contra os interesses do reino.
Luthiel abaixou a cabeça, sentindo o peso da responsabilidade e a complexidade da situação. Ela se lembrou da trama que conhecia tão bem. Na história, Luthiel havia decidido ir ao sul porque sentia que o rei estava sendo enganado. Ela acreditava que a verdadeira ameaça não estava no norte, mas sim no sul, onde descobriu uma torre mágica escondida por brumas. Era uma ameaça que ninguém acreditava até que fosse tarde demais.
No entanto, Luthiel não revelou essa verdade a Sylas. Em vez disso, ela olhou para ele com um olhar grave e, após uma breve pausa, respondeu com uma sinceridade profunda.
— Eu fui ao sul porque meu coração me guiou. Cada fibra do meu ser acreditava que o verdadeiro perigo estava ali. — Ela explicou, sua voz firme e decidida. — Mesmo que o rei estivesse focado no norte, eu senti que o Inimigo estava mais vivo e mais poderoso do que nunca. Meu instinto me levou a seguir esse caminho.
Sylas a observava atentamente, tentando decifrar a verdade por trás das palavras dela. Ele sabia que Luthiel era uma guerreira de convicções firmes, mas o que ele não sabia era a magnitude da ameaça que ela havia encontrado. A falta de detalhes apenas aumentava a preocupação em seus olhos.
Enquanto Sylas absorvia a resposta de Luthiel, Alicia, agora completamente imersa na experiência da história de Luthiel, sentiu uma profunda tristeza ao lembrar de como, na trama original, a protagonista lutou para convencer os outros da verdade. Quando Luthiel retornou e tentou alertar todos sobre a ameaça, ninguém acreditou. Até mesmo Sylas, que deveria ser o mais próximo a ela, duvidou de suas palavras.
Alicia se recordou das descrições do livro sobre o desespero e a frustração de Luthiel. A guardiã lutou contra uma sensação de impotência ao ver suas advertências ignoradas e, como resultado, acabou pagando o preço de um sacrifício imenso. Essa parte da história sempre a tocou profundamente, e ver Sylas agora, tão envolvido em sua própria dor e preocupações, apenas aumentava a intensidade de suas emoções.
Ela olhou para Sylas, pensativa. O fato de que o amor e a lealdade de Sylas não foram suficientes para mudar o curso dos eventos a entristeceu. Ela sabia que, em muitas maneiras, a história de Luthiel e Sylas era uma das sombras na narrativa principal, uma que não se alinhava com os desfechos mais gloriosos dos protagonistas.
Eles continuaram sua caminhada pelo jardim, mas a atmosfera ao redor parecia carregada de uma tensão silenciosa. Alicia, agora totalmente imersa na mente e no coração de Luthiel, estava ciente das profundezas da angústia que a personagem enfrentava. Ela se lembrou das descrições vívidas do livro sobre o desespero e a frustração de Luthiel. A guardiã lutou contra uma sensação de impotência ao ver suas advertências ignoradas, e seu sacrifício imenso deixou uma marca indelével na narrativa.
Enquanto caminhavam, Alicia sentia a dor e a complexidade da situação através de Luthiel. Ela observou Sylas, cujos pensamentos também estavam claramente pesados com a situação.
Finalmente, Sylas olhou para baixo, os ombros caídos e uma expressão de preocupação profunda em seu rosto. A quietude do jardim parecia amplificar a gravidade do momento. Ele sabia que, independentemente das intenções de Luthiel, as consequências de suas ações eram graves.
— Luthiel, — Sylas começou, sua voz carregada de um tom sombrio, — seja qual for a razão pela qual você foi para o sul, vidas foram perdidas. E a sua também quase foi. O rei não vai ver isso com bons olhos. Ele acredita que sua insubordinação pode ter causado mais danos do que benefícios.
Ele fez uma pausa, passando uma mão pelo rosto, como se tentasse encontrar as palavras certas para expressar a complexidade da situação.
— Eu... — Sylas continuou, a voz falhando um pouco, — espero que a punição não seja tão dura quanto poderia ser. Eu sei que você teve suas razões, mesmo que eu não as compreenda completamente. O rei pode não ver isso da mesma maneira, mas eu acredito que suas intenções foram guiadas por um desejo sincero de proteger o reino.
Luthiel ouviu as palavras de Sylas, sentindo o peso de suas consequências. Ela sabia que suas ações haviam causado dor e perplexidade, e a ideia de enfrentar a fúria do rei e as possíveis repercussões fazia com que um nó apertasse seu estômago. As memórias de sua jornada, suas descobertas e a luta contra o Inimigo estavam frescas em sua mente, e agora, ela precisava lidar com as repercussões de suas decisões.
Ela respirou fundo, tentando recobrar a compostura.
— Talvez você não entenda agora, mas eu irei fazer de tudo pelo bem do reino. — Luthiel falou com um tom resoluto, tentando transmitir a sinceridade de seu compromisso.
Ela se aproximou de Sylas, segurando sua mão com uma força inesperada. Seus olhos encontraram os dele.
— Pelo seu bem... Pelo meu bem... — Luthiel continuou, sua voz suave e sincera. — Vou fazer de tudo para mudar o curso da história.
Com um gesto inesperado, Luthiel inclinou-se e beijou a mão de Sylas. O contato foi suave, mas cheio de significado, como se fosse uma promessa silenciosa.
Sylas ficou momentaneamente atônito, sua expressão um misto de confusão e surpresa. Ele olhou para Luthiel, tentando compreender o significado por trás daquele gesto inesperado.
— Luthiel... — Sylas começou, a voz um pouco tremula. — O que... o que isso significa?
A pergunta saiu de seus lábios sem pensar, um reflexo da confusão e da emoção que ele estava tentando processar. Seu coração não pode deixar de ficar acelerado e Luthiel sabia disso.
— O que digo não entendes agora, mas quem sabe, um dia, você saberá.
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Atualizado até capítulo 23
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