Capítulo 11

O silêncio pesava no ar, e Alicia podia sentir o peso crescente da situação. Luthiel havia sido moldada como uma personagem forte, destemida e leal. Mas naquele momento, em meio à tensão entre o rei e a corte, ela se perguntava o que a verdadeira Luthiel teria feito. A resposta estava ali, nas páginas que Alicia conhecia bem: Luthiel era tudo isso, mas também era humilde, disposta a reconhecer suas falhas.

Ao lado dela, o príncipe Rían deu um passo à frente, seu rosto tomado por uma mistura de preocupação e frustração.

— Pai, com todo respeito... — Rían começou, sua voz firme, mas contendo um tom suplicante. — Luthiel sempre foi leal à coroa. Ela arriscou sua vida em nome deste reino tantas vezes! Não podemos julgá-la por uma decisão feita em campo, sem conhecer todas as circunstâncias.

O rei, sentado em seu trono, voltou seus olhos severos para o filho. Sua paciência, que já era escassa, estava se esgotando rapidamente.

— Você ousa desafiar minha decisão? — A voz do rei era baixa, mas carregava um perigo palpável. — Ela não obedeceu minhas ordens. E agora, estamos pagando o preço com as vidas perdidas no sul. Não se trata apenas de lealdade, Rían. Trata-se de disciplina.

— Disciplina?! — Rían interrompeu, sua indignação aumentando. — O que você chama de disciplina é punição cega! Luthiel não agiu por egoísmo ou ambição. Ela fez o que acreditava ser certo para proteger o reino, algo que você sempre nos ensinou a valorizar!

O rei se levantou do trono de repente, a capa real esvoaçando atrás dele enquanto se aproximava de Rían. Os dois ficaram frente a frente, e a tensão entre eles parecia quase insuportável. Alicia, dentro do corpo de Luthiel, sentia o coração disparar.

Ela precisava agir.

Enquanto os dois homens discutiam, Alicia começou a pensar com mais clareza. A Luthiel do livro não deixaria essa situação escalar. Ela não se esconderia atrás de sua honra; ela enfrentaria seus erros de frente. E mais do que qualquer outra coisa, Luthiel acreditava na justiça do rei, na justiça de sua coroa. Mesmo que essa justiça fosse dura, ela confiaria no julgamento dele.

Com um suspiro profundo, Alicia decidiu o que faria.

Ela se deixou cair de joelhos, sem hesitação, suas mãos caindo pesadamente no chão de pedra. O salão ficou em silêncio novamente, todos os olhos se voltando para a figura ajoelhada da guardiã. O clangor da armadura reverberou pelo salão como um eco distante.

— Vossa Majestade... — A voz de Luthiel soou baixa, mas forte. — Eu peço perdão.

O rei e o príncipe pararam de discutir por um momento, ambos virando-se para olhar para ela. Alicia, no corpo de Luthiel, manteve a cabeça baixa, humilhada diante do trono.

— Sei que falhei com o reino. Falhei com os homens que confiaram em mim e, mais do que tudo, falhei com Vossa Majestade. — A cada palavra, o peso da culpa parecia se intensificar. — Tomei decisões que custaram vidas. Decisões que não consigo desfazer. E agora, estou aqui, diante de Vossa justiça.

Ela respirou fundo, sentindo o suor frio em sua pele, mas continuou.

— Não tenho desculpas, apenas o arrependimento profundo. — Luthiel ergueu os olhos, sua voz quase um sussurro. — Se Vossa Majestade acreditar que mereço punição, eu aceito. Aceito o julgamento e as consequências por minhas falhas. Mas peço, não por mim, mas pelos homens que se foram... que sua misericórdia os proteja.

O salão estava tão silencioso que se podia ouvir a respiração contida da multidão. Rían, com o rosto tomado por uma mistura de raiva e incredulidade, deu um passo em direção a ela.

— Luthiel, levante-se! — Rían gritou, a frustração e o desespero em sua voz eram inegáveis. — Você não precisa fazer isso!

Mas antes que pudesse continuar, o rei ergueu a mão, cortando as palavras do príncipe com um gesto brusco.

— Cale-se, Rían! — O rei rugiu, sua voz ecoando pelo salão. — Essa não é sua batalha!

Rían olhou para o pai, seus olhos brilhando de raiva, mas ele sabia que não podia desafiá-lo mais do que já havia feito. Ele se afastou, as mãos cerradas ao lado do corpo, sem conseguir fazer mais nada. Alicia podia sentir a tensão entre eles, mas manteve-se firme em sua postura humilde, de joelhos diante do rei.

O rei, agora diante de Luthiel, a encarava de cima. Seu rosto era uma máscara de severidade, mas algo em seu olhar parecia mais contemplativo, como se a súplica dela tivesse penetrado sua armadura de autoridade. Ele respirou profundamente, seus ombros ainda rígidos.

— Levante-se, Guardiã — ordenou ele, a voz mais controlada, mas ainda dura. — Sua humilhação não mudará o que você fez.

Luthiel hesitou, mas obedeceu. A armadura rangeu novamente enquanto ela se levantava, seus olhos voltando ao rei.

— Esta corte verá sua decisão... — O rei olhou para a multidão em volta, como se já estivesse planejando sua sentença. — Mas saiba disso, Luthiel: ninguém está acima da ordem. Mesmo aqueles que servem com o coração mais puro devem seguir o comando.

Luthiel manteve-se em silêncio, com o peso das palavras ecoando em seu peito. Ela sabia que o julgamento viria, mas estava disposta a aceitar, não por orgulho, mas por dever.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!