A saída de Luthiel do grande salão foi lenta e dolorosa. O silêncio era pesado, quebrado apenas pelos sussurros venenosos e pelos olhares cheios de desprezo que a acompanhavam. Diferente dos outros soldados, que haviam sido coroados e celebrados com flores e canções, Luthiel estava isolada em sua humilhação. Alicia, dentro daquele corpo, sentia o peso das emoções da guardiã, mas também as suas próprias. Nunca, nem mesmo durante os dias sombrios da quimioterapia, quando perdeu seu cabelo, tinha sentido tamanha vergonha.
Cada passo era mais difícil que o anterior, e por mais que tentasse manter a cabeça erguida, o fardo era insuportável. A multidão parecia mais cruel do que qualquer ferida de batalha, e ela sabia que estava sozinha. Os murmúrios a seguiam como sombras:
— Como é que deixou uma mulher liderar por tanto tempo?
Luthiel mantinha o olhar para baixo, mas a humilhação queimava como fogo em suas veias. Alicia se lembrava dessa parte do livro — uma das cenas que mais a havia perturbado como leitora — e agora a vivia, de forma crua e pessoal. Sabia exatamente o que viria a seguir.
Quando finalmente alcançou as grandes portas que a levariam para os corredores e, eventualmente, para os aposentos reais, o momento que ela tanto temia chegou. Assim que pisou na escadaria que levava para a ala nobre, uma figura familiar estava à sua espera.
Caelithor, o elfo amargo, olhos frios e tatuagem no pescoço, que há muito tempo almejava o posto de Comandante, estava de pé, encostado em uma coluna de mármore, os braços cruzados. Seus longos cabelos platinados caíam até os ombros, e a armadura que ele usava era impecável, como se nunca tivesse visto um único dia de batalha. A coroa dourada em sua cabeça. Seus olhos penetrantes encontraram os de Luthiel, e um sorriso cínico e cruel curvou seus lábios.
— Eu sabia que esse dia chegaria — disse ele, com uma voz baixa e cortante, que era ouvida mesmo à distância. — Sempre soube que uma mulher jamais seria capaz de comandar. Agora, as coisas estão no devido lugar.
Luthiel parou por um instante, sentindo o peso das palavras dele, mas Alicia, controlando seus movimentos, tentava reagir, mas não conseguia. Sabia que o desprezo de Caelithor era antigo, e que ele sempre desejou tomar o lugar de Comandante. Ele nunca acreditara que mulheres tinham um lugar no exército, e muito menos que deveriam liderar.
— Veja como o destino é irônico, Luthiel — ele continuou, aproximando-se. — Você que era tão honrada, agora rebaixada a um soldado comum. Um desperdício de talento, se é que algum dia você teve talento para ser mais do que isso.
Ela ergueu a cabeça, ignorando o aperto no peito. Alicia e Luthiel partilhavam o mesmo desprezo por aquele homem, mas Luthiel sabia que qualquer resposta agora seria em vão. Não havia o que provar para alguém como Caelithor. Alicia, porém, discordava.
— O lugar de uma mulher nunca foi no campo de batalha, e agora, finalmente, até o rei percebeu isso — ele disse, sua voz cheia de veneno.
Luthiel não respondeu. Continuou caminhando, ignorando o elfo arrogante, que claramente esperava por alguma reação. Ela não se importava com o que Caelithor acreditava ou com suas provocações. Ele sempre fora um homem vazio, que se alimentava da amargura e da inveja, e Luthiel sabia que sua verdadeira luta estava além daquelas palavras fúteis.
Caelithor, no entanto, não desistiu tão facilmente. Ele se aproximou mais, andando ao lado dela enquanto falava em tom zombeteiro.
— Talvez devesse ter ficado no sul, onde sua insubordinação poderia ter acabado com sua carreira de vez. — Ele sorriu. — Mas suponho que o destino foi generoso ao te trazer de volta, apenas para que eu tomasse o lugar que sempre me pertenceu.
Luthiel parou de andar e virou-se para encará-lo por um momento. O fogo consumindo seu interior, chamas de ódio cruzando seus olhos azuis.
...CAELITHOR...
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Atualizado até capítulo 23
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