Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso

Os dias se arrastavam como uma corrente pesada, cada um mais cansativo que o anterior. Esperança e frustração se misturavam dentro de mim, e a linha entre elas ficava cada vez mais tênue. Quando Esther e o Dr. Montenegro conseguiram marcar uma nova audiência, uma centelha de esperança reacendeu em mim — pequena, mas suficiente para que eu continuasse lutando.

Essa audiência era crucial. Se tudo desse certo, haveria uma chance de reabrir meu caso e, talvez, ver uma luz no fim desse pesadelo. Eu sabia que o sistema era podre, mas mesmo assim, me agarrei à esperança com todas as forças que restavam.

Na manhã do grande dia, fui chamada para a sala de visitas, onde Esther e Montenegro esperavam por mim. O advogado parecia desconfortável, os dedos tamborilando na mesa de metal. Esther segurava a mesma expressão determinada de sempre, mas havia algo quebrado nos olhos dela — um brilho de decepção que me preparou para o que eu já temia.

— A audiência foi cancelada. De novo. — Montenegro anunciou, a voz pesada de frustração.

Por um momento, eu não senti nada. Era como se a informação não tivesse atravessado minha mente, como se eu fosse feita de pedra. Então, a raiva veio, rápida e cruel. O chão parecia sumir sob meus pés.

— Por quê? — perguntei, a voz baixa e fria. — Por que diabos cancelaram de novo?

Montenegro deu de ombros, derrotado.

— Burocracia. Alegaram mais uma vez “problemas administrativos”.

Esther pegou minha mão por cima da mesa, mas eu a puxei de volta. Minha esperança havia desaparecido completamente.

— Eu não vou fazer isso de novo. — murmurei, quase para mim mesma. — Acabou. Eu não vou mais esperar.

Minha garganta queimava com a mistura de raiva e desespero. Toda vez que eu começava a acreditar que a liberdade era possível, o sistema me mostrava que a prisão era a única certeza.

— Você não pode desistir agora, Suraya. — Esther insistiu, mas suas palavras soavam distantes, como se não tivessem peso algum.

De volta à cela, Marília percebeu de imediato que algo havia dado errado. Ela se aproximou silenciosamente e se sentou ao meu lado no colchão. Não disse nada a princípio, apenas dividiu o silêncio comigo.

— Cancelaram de novo. — soltei, sem olhar para ela.

Marília suspirou, mas não parecia surpresa.

— Você precisa continuar, Suraya. — disse, com um tom gentil. — Você é forte demais para deixar eles te quebrar.

Eu soltei uma risada curta, amarga.

— Forte? Não parece.

Ela tocou minha mão, e algo em mim relaxou. Eu não queria precisar de ninguém, mas a presença de Marília era um consolo inesperado. Por um momento, não me senti tão sozinha.

Nos dias seguintes, passamos mais tempo juntas. Cada conversa, cada olhar trocado, aprofundava o laço entre nós. Havia algo ali que me assustava e confortava ao mesmo tempo — um vínculo que eu nunca quis, mas que agora parecia inevitável. Mesmo em um lugar tão escuro, a conexão humana ainda era possível.

Era tarde da noite quando acordei com um ruído estranho no corredor. Levantei-me silenciosamente e olhei através das grades da cela. No corredor mal iluminado, três figuras caminhavam devagar, como sombras deslizando pelo escuro. Duas guardas que eu nunca tinha visto acompanhavam a terceira mulher, que estava com o rosto coberto. Mesmo assim, eu soube imediatamente quem era: Serpente.

O choque correu pelo meu corpo. Ela não estava vestida com o uniforme das detentas, parecia alguém que pertencia a outro mundo. A mulher que eu via ali não era uma prisioneira — era alguém livre, poderosa.

O sangue pulsava em meus ouvidos. O que estava acontecendo? Por que Serpente sairia assim? E para onde ela estava indo?

Bati de leve na parede ao lado, acordando Marília. Ela se mexeu preguiçosamente, até que minha urgência a despertou completamente. Sentei-me no colchão, tentando manter a voz baixa.

— Você viu? Quem eram aquelas mulheres?

Marília sorriu, preguiçosa, como alguém que sabia mais do que deveria.

— Te conto se você me ajudar com uma coisa pequena.

Eu a encarei, frustrada. O que Marília sabia? E por que agora queria negociar?

— O que você quer? — perguntei, irritada.

— Me ajuda a me livrar da Sheila.

Sheila, a guarda corrupta, havia transformado Marília em sua propriedade pessoal. Ela a usava para favores sexuais e como mula para entregar drogas, e a situação estava cada vez mais insuportável para Marília. Eu sabia que Marília precisava sair desse ciclo, mas ajudar significava me envolver em mais riscos do que eu queria.

Por um momento, hesitei. Mas o olhar de Marília estava cheio de desespero. Eu não podia mais vê-la ser humilhada daquele jeito.

— Tá. Eu ajudo. — cedi, mais por não suportar vê-la naquela situação do que pelo que ela prometia me contar.

Marília sorriu, satisfeita, e se inclinou para mais perto.

— A mulher atrás da máscara era Serpente. — sussurrou. — Ela sai uma vez por mês.

Franzi o cenho.

— Sai? Como assim? Pra onde?

Marília riu baixinho, como se eu fosse ingênua por não saber.

— Ela vai para as ruas. Quando chegam carregamentos de navios com drogas, é ela quem supervisiona tudo. O que entra aqui e o que vai circular lá fora, passa pelas mãos dela.

O ar pareceu desaparecer dos meus pulmões.

— Quer dizer que... Serpente não estava ali apenas cumprindo uma sentença. Ela estava controlando tudo.

Marília assentiu.

— Todo mundo sabe disso, pelo menos os que estão aqui há mais tempo. Serpente não tá aqui só pela pena de morte que vivem adiando. Ela tá presa pra evitar um escândalo maior lá fora.

As peças começaram a se encaixar. Serpente não era apenas uma criminosa comum — ela era a mente por trás da maior organização de tráfico do país. Sua prisão era uma farsa, um esconderijo para que pudesse operar nas sombras sem levantar suspeitas.

A Serpente era o coração do submundo, e mesmo dentro da prisão, ela ainda tinha controle sobre tudo.

Voltei para a minha cama com a mente girando. A revelação sobre Serpente e suas operações mudava tudo. Minha aliança com ela agora parecia ainda mais perigosa.

E se um dia ela decidisse que eu não era mais útil? E se as pessoas lá fora que queriam me apagar fizessem uma oferta irresistível para Serpente? Afinal, ela já havia deixado claro que não me eliminou por consideração a alguém — mas quem?

Laila chutou suavemente na minha barriga, e eu passei a mão pela pele esticada. Precisava sobreviver, por ela. Mas agora, mais do que nunca, sabia que precisava andar com cuidado.

Dentro dessas paredes, nada era o que parecia. E a maior ameaça não era a prisão em si, mas as pessoas que eu considerava minhas aliadas.

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Comments

Simone Teles

Simone Teles

eu acho que quem protege ela é Heitor

2025-02-03

0

♡Pyetra♡

♡Pyetra♡

Eles estão fazendo pq querem, já tô achando q foi eles q mandou o marido dela

2024-12-28

1

Ver todos
Capítulos
1 Avisos
2 Prólogo
3 Capítulo 1: O começo do Fim
4 Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5 Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6 Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7 Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8 Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9 Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10 Capítulo 8: Confirmação Brutal
11 Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12 Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13 Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14 Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15 Capítulo 13: Mudanças no Poder
16 Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17 Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18 Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19 Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20 Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21 Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22 Capítulo 20: O Último Trimestre
23 Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24 Capítulo 21: A Filha Arrancada
25 Capítulo 22: A Tortura Final
26 Capítulo 23: A Escuridão
27 Capítulo 24: O Grande Confronto
28 Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29 Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30 Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31 Capítulo 28: O Controle Total
32 Capítulo 29: A História de Rato
33 Capítulo 30: Laila e o Futuro
34 Capítulo 31: A Revolta e Queda
35 Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36 Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37 Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38 Capítulo 34: As Sombras se Movem
39 Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40 Capítulo 36: O Preço da Dívida
41 Capítulo 37: O Novo Diretor
42 Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43 Capítulo 39: O Estopim do Caos
44 Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45 Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46 Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47 Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
48 Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49 Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50 Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51 Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52 Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53 Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
54 Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55 Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56 Capítulo 52: Confronto com o Passado
57 Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58 Capítulo 54: O Declínio do Diretor
59 Capítulo 55: A Grande Batalha
60 Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61 Capítulo 57: A Carta e a Despedida
62 Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
63 Capítulo 59: A Última Palavra
64 Epílogo: Liberdade
65 Nota de Agradecimento aos Leitores
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Atualizado até capítulo 65

1
Avisos
2
Prólogo
3
Capítulo 1: O começo do Fim
4
Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5
Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6
Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7
Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8
Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9
Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10
Capítulo 8: Confirmação Brutal
11
Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12
Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13
Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
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Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
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Capítulo 13: Mudanças no Poder
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Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17
Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
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Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19
Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
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Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21
Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22
Capítulo 20: O Último Trimestre
23
Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24
Capítulo 21: A Filha Arrancada
25
Capítulo 22: A Tortura Final
26
Capítulo 23: A Escuridão
27
Capítulo 24: O Grande Confronto
28
Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29
Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30
Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31
Capítulo 28: O Controle Total
32
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33
Capítulo 30: Laila e o Futuro
34
Capítulo 31: A Revolta e Queda
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Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36
Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37
Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38
Capítulo 34: As Sombras se Movem
39
Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
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Capítulo 36: O Preço da Dívida
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Capítulo 37: O Novo Diretor
42
Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
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Capítulo 39: O Estopim do Caos
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Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
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Capítulo 47: A Negociação das Sombras
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Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
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Capítulo 50: O Ataque na Sombra
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Capítulo 51: A Reabertura do Caso
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Capítulo 52: Confronto com o Passado
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Capítulo 57: A Carta e a Despedida
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