Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa

A chuva fina caía sobre o pátio de concreto, deixando o chão escorregadio e o ar mais pesado. Dentro da prisão de Santa Helena, o tempo sempre parecia parado, como se nada de bom pudesse florescer ali. Mas, nos bastidores, as coisas nunca paravam. A movimentação de drogas, cigarros e outros itens proibidos seguia com a precisão de uma engrenagem bem ajustada. Tudo tinha um preço, e nada circulava sem passar pelas mãos certas.

E agora, Serpente decidiu que era a minha vez de participar diretamente de uma transação importante.

— Tá na hora de você se provar de verdade. — Serpente murmurou naquela manhã, o cigarro apagado pendendo de seus lábios. — As guardas tão esperando a entrega. Você vai levar as coisas e negociar o que pedirem. Simples assim.

Não havia nada simples em lidar com guardas corruptos em um lugar onde cada decisão podia ser fatal. Mas, se eu quisesse sobreviver, precisava aceitar.

A entrega aconteceria naquela mesma tarde, durante o período em que as guardas mais corruptas faziam a ronda. A transação era basicamente uma troca de drogas por favores — cigarros, comida, e proteção especial em certas alas. Serpente escolheu a dedo quem participaria do processo, e para minha surpresa, eu era a responsável por organizar e liderar a operação.

Com uma mochila suja nas costas, cheia de pacotes cuidadosamente embalados, caminhei até um dos pontos de encontro combinados: um vestiário vazio, na Ala Central. Sabia que aquilo era um teste. Serpente queria ver até onde eu estava disposta a ir para fazer parte do jogo.

Na chegada, encontrei Guimarães e outra guarda chamada Sheila. Ambas já estavam acostumadas com esse tipo de troca e não pareciam muito preocupadas com minha presença. Nosso acordo foi direto e frio: as drogas seriam trocadas por pacotes de cigarros e alguns itens alimentícios que só os guardas podiam trazer de fora. Nada de emoções, apenas negócios.

Mas, assim que comecei a descarregar a mochila, ouvi o som inconfundível de botas pesadas no corredor. Meu estômago se revirou.

— Puta merda. — murmurei.

Valquíria entrou no vestiário como uma tempestade, seu olhar se fixando imediatamente em mim. O ar ficou denso e insuportável.

— E o que temos aqui? — Valquíria disse, cruzando os braços e olhando para a mochila aberta no chão.

Valquíria não era estúpida. Ela sabia exatamente o que estava acontecendo e tinha o poder para destruir toda a operação. As guardas Sheila e Guimarães ficaram imóveis, esperando para ver como eu lidaria com a situação. Se eu falhasse ali, estaria morta — e muito mais rápido do que imaginava.

— Então é isso que a princesa faz agora? Leva pacotinho pra bandida grande? — Valquíria provocou, chutando levemente a mochila. Seu sorriso era uma promessa de desastre.

Eu sabia que não podia mostrar medo. Tinha que pensar rápido.

— Todo mundo tem que sobreviver, Valquíria. Você sabe como é. — Minha voz saiu firme, embora eu pudesse sentir meu coração disparado no peito.

Ela se aproximou lentamente, o olhar fixo nos meus olhos. Era uma predadora, farejando fraqueza.

— E o que eu ganho se deixar passar essa gracinha? — Valquíria perguntou com um sorriso irônico. Ela queria pagamento. Mas eu sabia que dinheiro não era suficiente para ela. Valquíria queria algo mais pessoal.

Então, antes que pudesse pensar duas vezes, arrisquei tudo:

— Se eu fosse você, cuidaria melhor do seu marido. — murmurei.

Valquíria congelou, e por um breve momento, sua máscara escorregou. Ela não esperava que eu soubesse sobre sua vida pessoal — sobre o marido que estava envolvido em um caso extraconjugal. Serpente tinha me passado essa informação dias antes, mas eu não esperava usá-la tão cedo.

— Como você sabe disso? — Valquíria sussurrou, sua expressão agora mais perigosa.

— Eu sei mais do que você imagina. — retruquei. — E eu posso manter minha boca fechada... ou não. A escolha é sua.

Foi um risco. Um risco enorme. Mas, no final, Valquíria recuou. Seu rosto era uma máscara de fúria, mas ela sabia que não poderia expor a situação sem se incriminar também.

— Você acabou de comprar um pouco de tempo, princesa. Não desperdiça. — disse ela por fim, antes de se virar e sair do vestiário.

Após o confronto com Valquíria, o nervosismo ainda me consumia, mas não havia tempo para respirar. Assim que voltei para a Ala Norte, uma briga violenta estourou no pátio.

Duas gangues rivais haviam começado uma disputa por território e favores. Garrafas improvisadas quebravam, cacos de vidro espalhavam-se pelo chão, e socos eram trocados sem piedade. O barulho dos gritos enchia o ar.

Eu vi Marília ser jogada no meio da confusão, e por um instante, meu instinto foi protegê-la. Corri em sua direção, desviando de corpos que se chocavam e detentas que caíam no chão.

— Marília! Sai daí! — gritei, tentando chegar até ela.

Antes que eu pudesse alcançá-la, uma guarda disparou seu cassetete contra o chão, criando um estrondo que ecoou por todo o pátio.

— Todo mundo no chão, agora! — gritou Inês, uma das guardas que acompanhava Valquíria. Ela correu para separar as gangues, batendo nas detentas sem piedade.

Valquíria entrou logo atrás, sorrindo como se estivesse se divertindo. Ela desferiu golpes rápidos com o cassetete, derrubando qualquer uma que não obedecesse.

Eu me abaixei no chão, puxando Marília comigo para evitar que ela fosse espancada.

— Tá tudo bem? — perguntei, ofegante.

Marília assentiu, mas seus olhos estavam arregalados de medo.

Mais tarde, quando voltamos para a cela, Marília se aproximou de mim, seus olhos ainda carregando as marcas do medo. Pela primeira vez, ela parecia disposta a confiar em alguém.

— Eu preciso falar uma coisa. — Marília sussurrou, como se confessar aquilo fosse a última coisa que queria.

— O que é?

Ela hesitou, mas finalmente falou:

— Tenho um relacionamento com Sheila, a guarda.

Eu a encarei, surpresa. Era um segredo perigoso, e Marília sabia disso. Relacionamentos forçados entre guardas e detentas eram comuns, mas raramente alguém falava sobre isso em voz alta.

— Por quê? — perguntei, tentando entender.

Marília deu de ombros, os olhos cheios de dor.

— Ela me dá drogas. Sem elas, eu não aguento aqui dentro.

Meu peito apertou, mas não havia espaço para julgamentos. Eu sabia o que era precisar sobreviver, não importa o preço.

— Você quer sair disso? — perguntei.

Ela me olhou, como se não tivesse certeza se eu estava falando sério. Mas no fundo, havia uma faísca de esperança.

— Quero. Mas como?

Eu não tinha uma resposta naquele momento, mas sabia que, de alguma forma, precisaria protegê-la.

 

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Irá

Irá

Nossa até que em fim alguém vai ficar amiga dlea ou não?

2024-12-27

2

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Capítulos
1 Avisos
2 Prólogo
3 Capítulo 1: O começo do Fim
4 Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5 Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6 Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7 Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8 Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9 Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10 Capítulo 8: Confirmação Brutal
11 Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12 Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13 Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14 Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15 Capítulo 13: Mudanças no Poder
16 Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17 Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18 Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19 Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20 Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21 Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22 Capítulo 20: O Último Trimestre
23 Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24 Capítulo 21: A Filha Arrancada
25 Capítulo 22: A Tortura Final
26 Capítulo 23: A Escuridão
27 Capítulo 24: O Grande Confronto
28 Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29 Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30 Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31 Capítulo 28: O Controle Total
32 Capítulo 29: A História de Rato
33 Capítulo 30: Laila e o Futuro
34 Capítulo 31: A Revolta e Queda
35 Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36 Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37 Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38 Capítulo 34: As Sombras se Movem
39 Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40 Capítulo 36: O Preço da Dívida
41 Capítulo 37: O Novo Diretor
42 Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43 Capítulo 39: O Estopim do Caos
44 Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45 Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46 Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47 Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
48 Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49 Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50 Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51 Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52 Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53 Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
54 Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55 Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56 Capítulo 52: Confronto com o Passado
57 Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58 Capítulo 54: O Declínio do Diretor
59 Capítulo 55: A Grande Batalha
60 Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61 Capítulo 57: A Carta e a Despedida
62 Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
63 Capítulo 59: A Última Palavra
64 Epílogo: Liberdade
65 Nota de Agradecimento aos Leitores
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Avisos
2
Prólogo
3
Capítulo 1: O começo do Fim
4
Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5
Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6
Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7
Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8
Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9
Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10
Capítulo 8: Confirmação Brutal
11
Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12
Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13
Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
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Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
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Capítulo 13: Mudanças no Poder
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Capítulo 14: O Preço das Dívidas
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Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
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Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
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Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
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Capítulo 24: O Grande Confronto
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Capítulo 25: O que tem lá Fora?
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Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30
Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
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Capítulo 28: O Controle Total
32
Capítulo 29: A História de Rato
33
Capítulo 30: Laila e o Futuro
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Capítulo 31: A Revolta e Queda
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Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
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Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37
Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
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Capítulo 34: As Sombras se Movem
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Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
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Capítulo 36: O Preço da Dívida
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Capítulo 37: O Novo Diretor
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Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
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Capítulo 39: O Estopim do Caos
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