Capítulo 8: Confirmação Brutal

A vida na prisão era uma guerra silenciosa que estourava a qualquer momento, sem aviso. Nenhuma briga ali era apenas um acidente. Cada empurrão, cada soco, cada facada improvisada era carregada de rancor acumulado, de disputas por território, de pequenas vinganças que queimavam dentro das detentas. E eu, tentando sobreviver em silêncio, sabia que mais cedo ou mais tarde seria arrastada para o meio de uma dessas tempestades.

Era uma manhã abafada quando a confusão começou no pátio. Duas mulheres se agarraram pelo cabelo, rolando pelo chão enquanto outras detentas se aproximavam para assistir o espetáculo. Guardas como Inês e Guimarães observavam à distância, mais interessadas em assistir do que em intervir.

Serpente estava ao meu lado, os braços cruzados, um cigarro pendendo de seus lábios. O sorriso no rosto dela era quase divertido — para ela, essas brigas eram uma distração útil.

— Vai apostar em quem? — ela me perguntou, soprando a fumaça para o lado.

Eu dei de ombros, mantendo meus olhos fixos na briga. Qualquer desatenção podia ser fatal ali dentro. Você nunca sabia quando alguém decidiria que era a sua vez de sangrar.

De repente, o caos se espalhou. Uma das mulheres, furiosa e fora de controle, veio na minha direção. Ela me empurrou com toda a força, e antes que eu pudesse reagir, bati com tudo na parede de concreto.

A dor explodiu nas minhas costelas e na barriga. Meu corpo pareceu se desligar por um segundo, e então a tontura familiar voltou, multiplicada. Eu me encolhi, tentando proteger o ventre instintivamente, mas a dor era insuportável. Ouvi risos ao meu redor e vozes distantes.

— A princesa caiu. Alguém ajuda ela, ou deixa pra pisar depois? — alguém zombou.

Tudo ficou escuro.

Acordei na enfermaria, a luz fria do teto ofuscando minha visão. Meu corpo doía em cada canto. A dor na barriga era um lembrete terrível do que poderia ter acontecido, e o pavor crescia dentro de mim. Eu sabia, antes mesmo de ouvir as palavras, que algo havia mudado.

A enfermeira Cecília estava ao lado da maca, seu rosto carregando a indiferença de quem já viu todo tipo de sofrimento e não se importa mais. Ela segurava uma prancheta e mastigava chiclete enquanto me olhava de cima a baixo.

— Você tá grávida. Uns dois meses, talvez mais. — disse ela, como se estivesse anunciando o tempo de uma chuva qualquer.

As palavras dela foram uma facada em meu peito. Por um instante, o mundo ao meu redor parou. As vozes distantes, o som dos passos no corredor, o barulho dos portões ao longe — tudo se apagou.

— Não... Não pode ser. — murmurei, a voz fraca.

A enfermeira deu de ombros, como se isso não fosse problema dela.

— Pode, sim. Agora se vira, princesa. Aqui não é lugar pra ser mãe.

As palavras da enfermeira ecoaram na minha mente. Eu estava grávida. Era real. Não era um pesadelo ou um delírio provocado pelo cansaço. Dentro de mim, uma nova vida estava crescendo.

O desespero e o medo vieram primeiro, esmagadores. Eu não queria estar grávida. Não ali. Não na prisão. Como proteger uma criança em um lugar onde até respirar era um risco? Como garantir que ela não seria arrancada de mim no momento em que nascesse?

Mas então, uma outra emoção surgiu, fraca e inesperada: esperança. Contra toda a lógica, eu senti uma pequena chama se acender dentro de mim. Aquela criança era a última coisa boa que restava do meu passado.

E, pela primeira vez desde que fui jogada naquele inferno, eu senti que tinha algo pelo que lutar.

De volta à cela, eu me encolhi no canto, protegendo a barriga com as mãos. Eu precisava esconder essa verdade de todas elas. Se Rosa, Janaína, ou qualquer outra detenta soubesse, usariam isso contra mim. Na prisão, uma gravidez era uma fraqueza perigosa.

As dores ainda latejavam pelo corpo, mas não havia tempo para lamentações. Eu não podia demonstrar medo ou dor. Ali, qualquer sinal de fraqueza era uma sentença.

Rosa não perdeu a chance de me provocar quando voltei.

— Olha só, a princesa voltou da enfermaria! E aí, o que foi? Tá com dor de barriga, é?

Eu a ignorei, me deitando devagar. O peso da verdade ainda apertava meu peito, mas agora era diferente. Eu não estava mais sozinha.

Na escuridão da cela, as lágrimas finalmente vieram. Eu chorei em silêncio, o rosto escondido contra o colchão imundo. Não chorei de tristeza, mas de alívio — e de medo. Eu sabia que a luta seria mais dura agora, mas, pela primeira vez, eu tinha um motivo real para sobreviver. Meu bebê.

Naquele momento, sem nem perceber, eu escolhi o nome dela: Laila. Era a única coisa que fazia sentido. Laila um nome árabe que significa “noite”, e foi na noite mais sombria da minha vida que ela foi concebida. Agora, ela seria minha luz na escuridão.

Eu não sabia como proteger Laila naquele lugar. Mas sabia que não podia mais desistir. Não por mim. Por ela.

Nos dias seguintes, Serpente começou a me observar ainda mais de perto. Ela não perguntou nada diretamente, mas eu sabia que ela sentia que algo havia mudado em mim. Havia um entendimento silencioso entre nós. Serpente não se importava se eu estava grávida. O que importava era se eu ainda poderia ser útil.

Certa noite, ela me chamou até o corredor e me entregou um maço de cigarros.

— Você tá diferente, princesa. Mas não se engane: a gente ainda tem trabalho a fazer.

— Não vou falhar. — respondi, sem hesitação. Porque agora, eu tinha um propósito maior.

Serpente sorriu de canto, satisfeita.

— Bom. Porque aqui, princesa, só os fortes sobrevivem. E você vai precisar ser mais forte do que nunca.

Deitada na cela naquela noite, minha mão descansando sobre a barriga, eu aceitei a verdade que havia evitado até agora: eu estava grávida, e precisaria lutar com tudo que tinha para sobreviver.

Mas agora, eu não lutaria mais apenas por mim. Eu lutaria por Laila. E se a prisão tentasse me quebrar novamente, descobririam que não podem destruir uma mulher que tem algo pelo que lutar.

Eu sobreviveria. E, quando chegasse o momento, eu sairia dali com minha filha nos braços.

Capítulos
1 Avisos
2 Prólogo
3 Capítulo 1: O começo do Fim
4 Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5 Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6 Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7 Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8 Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9 Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10 Capítulo 8: Confirmação Brutal
11 Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12 Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13 Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14 Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15 Capítulo 13: Mudanças no Poder
16 Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17 Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18 Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19 Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20 Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21 Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22 Capítulo 20: O Último Trimestre
23 Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24 Capítulo 21: A Filha Arrancada
25 Capítulo 22: A Tortura Final
26 Capítulo 23: A Escuridão
27 Capítulo 24: O Grande Confronto
28 Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29 Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30 Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31 Capítulo 28: O Controle Total
32 Capítulo 29: A História de Rato
33 Capítulo 30: Laila e o Futuro
34 Capítulo 31: A Revolta e Queda
35 Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36 Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37 Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38 Capítulo 34: As Sombras se Movem
39 Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40 Capítulo 36: O Preço da Dívida
41 Capítulo 37: O Novo Diretor
42 Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43 Capítulo 39: O Estopim do Caos
44 Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45 Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46 Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47 Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
48 Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49 Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50 Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51 Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52 Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53 Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
54 Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55 Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56 Capítulo 52: Confronto com o Passado
57 Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58 Capítulo 54: O Declínio do Diretor
59 Capítulo 55: A Grande Batalha
60 Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61 Capítulo 57: A Carta e a Despedida
62 Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
63 Capítulo 59: A Última Palavra
64 Epílogo: Liberdade
65 Nota de Agradecimento aos Leitores
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Avisos
2
Prólogo
3
Capítulo 1: O começo do Fim
4
Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5
Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6
Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7
Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8
Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9
Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10
Capítulo 8: Confirmação Brutal
11
Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12
Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13
Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14
Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15
Capítulo 13: Mudanças no Poder
16
Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17
Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18
Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19
Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20
Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21
Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22
Capítulo 20: O Último Trimestre
23
Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24
Capítulo 21: A Filha Arrancada
25
Capítulo 22: A Tortura Final
26
Capítulo 23: A Escuridão
27
Capítulo 24: O Grande Confronto
28
Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29
Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30
Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31
Capítulo 28: O Controle Total
32
Capítulo 29: A História de Rato
33
Capítulo 30: Laila e o Futuro
34
Capítulo 31: A Revolta e Queda
35
Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36
Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37
Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38
Capítulo 34: As Sombras se Movem
39
Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40
Capítulo 36: O Preço da Dívida
41
Capítulo 37: O Novo Diretor
42
Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43
Capítulo 39: O Estopim do Caos
44
Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45
Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46
Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47
Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
48
Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49
Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50
Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51
Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52
Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53
Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
54
Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55
Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56
Capítulo 52: Confronto com o Passado
57
Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58
Capítulo 54: O Declínio do Diretor
59
Capítulo 55: A Grande Batalha
60
Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61
Capítulo 57: A Carta e a Despedida
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Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
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Capítulo 59: A Última Palavra
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Epílogo: Liberdade
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