Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica

O cheiro de suor, urina e mofo era uma constante na cela e nos corredores do Instituto Santa Helena. Aqui, o tempo era um ciclo interminável de dor e humilhação, onde não existia futuro e cada segundo parecia um peso nas costas. Na segunda manhã, antes mesmo de conseguir dormir de verdade, ouvi as batidas nas grades.

— Todo mundo de pé! Hora de brincar com as fardadas. — Rosa murmurou, bocejando, enquanto Janaína riu com desdém.

Eu ainda estava processando os hematomas da noite anterior quando a porta da cela foi aberta com um estalo metálico. As guardas já esperavam, como abutres famintos prontos para devorar qualquer resquício de dignidade que sobrasse.

— Anda, princesa. Ou prefere que a gente arraste você? — disse Inês, sua voz tão fria quanto seu sorriso. Ao lado dela, Guimarães observava em silêncio, mas seus olhos me diziam tudo: hoje, o inferno seria especialmente cruel.

Fomos alinhadas no corredor junto com outras detentas, e era fácil perceber quem estava há mais tempo ali: seus olhares estavam vazios, a pele marcada por feridas que iam além do corpo. Ninguém falava. Era como se a cada passo, mais um pedaço de quem eram tivesse ficado para trás.

Inês parou à minha frente e me empurrou com o cassetete.

— Você já aprendeu a lição de ontem, ou vai precisar de mais uma aula?

Minha boca abriu por reflexo, mas logo fechei. Não mostrar fraqueza. Essa era a regra, eu precisava aprender rápido. A violência ali era mais do que uma questão de força. Era uma forma de controle. E controle era tudo naquele lugar.

Nos levaram para um pátio aberto. O sol quente batia no concreto rachado, e a poeira se misturava ao suor, criando uma camada pegajosa em nossas peles. As guardas nos posicionaram como se fôssemos animais em fila, e ali eu aprendi uma nova rotina: castigo sob o disfarce de exercício físico.

— Cem agachamentos, vamos! Quero todo mundo no chão. — Guimarães gritou, batendo o cassetete contra a perna.

Eu estava exausta antes mesmo de começar, mas não havia escolha. Cada movimento fazia meus músculos gritarem em protesto, e minhas costelas, ainda doloridas das pancadas da noite anterior, pareciam que iam rachar a qualquer momento.

— Vamos, princesinha! — uma detenta zombou, rindo ao me ver tropeçar na décima repetição.

O chão parecia derreter sob meus pés, mas eu continuei. Agachar, levantar, agachar, levantar. Se eu caísse ali, sabia que a humilhação seria o menor dos meus problemas. As guardas adoravam quebrar quem demonstrava fraqueza.

Depois dos exercícios, nos enfileiraram e nos levaram de volta para dentro. Mas ao invés da cela, fui levada para uma sala separada. "A sala da disciplina", era assim que as outras detentas chamavam. Senti um calafrio atravessar meu corpo. Sabia que o que vinha a seguir não seria nada fácil.

Inês e Guimarães estavam lá, junto com mais duas guardas que eu ainda não conhecia. Elas não tinham pressa; esse era o jogo delas. Eu era só mais uma para quebrar.

— Deixa eu te contar uma coisa, Suraya... — Inês começou, puxando uma cadeira e sentando-se de frente para mim. — Aqui, quem não aprende rápido, sofre. E quem acha que é melhor do que nós... morre. Lentamente.

Eu a encarei sem piscar. Não porque era corajosa, mas porque sabia que o medo era exatamente o que elas queriam ver.

— Princesa, você vai fazer a gente perder tempo? — Guimarães perguntou, enquanto tirava uma toalha do bolso. Senti o estômago revirar.

Eu não sabia o que viria a seguir, mas logo descobri. A toalha foi enrolada ao redor do meu rosto, e antes que eu pudesse reagir, Guimarães despejou um balde de água em cima de mim. O desespero foi imediato. Eu tentava respirar, mas cada suspiro era sufocado pela água. Era como se o próprio ar estivesse se recusando a entrar nos meus pulmões.

— É assim que a gente ensina as princesas. — Inês murmurou, como se estivesse contando um segredo.

Quando finalmente tiraram a toalha, eu ofegava, tentando encher meus pulmões com o ar que parecia tão distante. Elas não riram, não comemoraram. Era apenas mais um dia de trabalho para elas. Mais um rosto para quebrar, mais uma alma para despedaçar.

Horas depois, fui arrastada de volta para a cela. Minhas roupas estavam encharcadas, e a cabeça latejava como se tivesse levado uma marretada. Rosa e Janaína apenas me lançaram olhares rápidos, sem interesse.

— Primeiro dia de disciplina, hein? Parabéns, você sobreviveu. — murmurou Rosa, estalando a língua. — Mas não se empolga. Isso aí é só o início.

Sentei no colchão, as mãos ainda tremendo. O corpo doía em lugares que eu nem sabia que podiam doer. Eu estava desmoronando, e era só o começo.

A sensação de desespero foi tomando conta de mim. Naquele momento, pensei novamente em acabar com tudo. Talvez Janaína estivesse certa: morrer era fácil. Talvez eu devesse acabar com aquilo de uma vez.

Eu fechei os olhos, tentando segurar as lágrimas. "Não chora, não chora."Era um mantra silencioso na minha mente. Lágrimas não ajudariam. Lágrimas só mostrariam fraqueza, e fraqueza ali era uma sentença de morte.

— Ei. — Janaína falou, quebrando o silêncio. — Quer um conselho, princesa? Não tenta ser forte o tempo todo. Isso só vai te destruir mais rápido.

Abri os olhos e a encarei, surpresa com o tom menos hostil. Ela deu uma tragada no cigarro e soltou a fumaça devagar.

— Aqui, todo mundo se quebra uma hora ou outra. A diferença é quem aprende a juntar os pedaços. Você ainda tem uma chance. Se jogar o jogo certo, pode sobreviver.

— Como você sobrevive? — perguntei, a voz rouca.

Ela deu de ombros.

— Eu não sobrevivo. Só estou esperando a vez.

Aquelas palavras ficaram comigo mais do que eu gostaria. Eram como um aviso sombrio: nesse lugar, ninguém vive... só se espera a morte chegar.

Eu estava deitada no colchão quando ouvi Rosa cochichar para Janaína:

— Acha que a princesinha dura quanto tempo?

Janaína deu uma risada curta.

— Não importa quanto tempo ela dure... No fim, todo mundo quebra.

Essas palavras martelaram na minha mente enquanto eu me encolhia no colchão, sentindo a umidade do ar e o frio do concreto. Eu estava sozinha. E pela primeira vez, percebi que o mundo lá fora tinha me abandonado.

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Comments

Odailma

Odailma

Por isso que o detento, qdo retorna, volta pior e se é assassino, volta mais frio e matar , pra ele, é coisa rotineira. Difícil é alguém se redimir….. o sistema carcerário é diabólico.

2025-01-20

3

Silvana Filgueira

Silvana Filgueira

coitada

2025-01-10

1

Amandinha💖

Amandinha💖

gente que loucura

2025-01-02

1

Ver todos
Capítulos
1 Avisos
2 Prólogo
3 Capítulo 1: O começo do Fim
4 Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5 Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6 Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7 Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8 Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9 Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10 Capítulo 8: Confirmação Brutal
11 Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12 Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13 Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14 Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15 Capítulo 13: Mudanças no Poder
16 Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17 Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18 Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19 Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20 Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21 Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22 Capítulo 20: O Último Trimestre
23 Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24 Capítulo 21: A Filha Arrancada
25 Capítulo 22: A Tortura Final
26 Capítulo 23: A Escuridão
27 Capítulo 24: O Grande Confronto
28 Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29 Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30 Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31 Capítulo 28: O Controle Total
32 Capítulo 29: A História de Rato
33 Capítulo 30: Laila e o Futuro
34 Capítulo 31: A Revolta e Queda
35 Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36 Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37 Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38 Capítulo 34: As Sombras se Movem
39 Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40 Capítulo 36: O Preço da Dívida
41 Capítulo 37: O Novo Diretor
42 Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43 Capítulo 39: O Estopim do Caos
44 Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45 Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46 Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47 Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
48 Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
49 Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
50 Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51 Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52 Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
53 Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
54 Capítulo 50: O Ataque na Sombra
55 Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56 Capítulo 52: Confronto com o Passado
57 Capítulo 53: O Encontro com Ayana
58 Capítulo 54: O Declínio do Diretor
59 Capítulo 55: A Grande Batalha
60 Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
61 Capítulo 57: A Carta e a Despedida
62 Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
63 Capítulo 59: A Última Palavra
64 Epílogo: Liberdade
65 Nota de Agradecimento aos Leitores
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Avisos
2
Prólogo
3
Capítulo 1: O começo do Fim
4
Capítulo 2: Primeira Noite na Cela 676
5
Capítulo 3: Tortura e Quebra Psicológica
6
Capítulo 4: Primeiras Lições na Cela
7
Capítulo 5: A Primeira Tentativa de Assassinato
8
Capítulo 6: Primeiras Suspeitas e Conflito Interno
9
Capítulo 7: Aliança com a Serpente
10
Capítulo 8: Confirmação Brutal
11
Capítulo 9: Alianças e Sobrevivência
12
Capítulo 10: O Corpo Cobra seu Preço
13
Capítulo 11: A Chegada de Valquíria
14
Capítulo 12: A Primeira Grande Tarefa
15
Capítulo 13: Mudanças no Poder
16
Capítulo 14: O Preço das Dívidas
17
Capítulo 15: A Manipulação das Guardas
18
Capítulo 16: Dúvidas sobre a Maternidade
19
Capítulo 17: Crescendo na Hierarquia
20
Capítulo 18: A Segunda Tentativa de Reabrir o Caso
21
Capítulo 19: O Jogo da Sobrevivência
22
Capítulo 20: O Último Trimestre
23
Palavra do Autor - Uma Pausa para conversamos
24
Capítulo 21: A Filha Arrancada
25
Capítulo 22: A Tortura Final
26
Capítulo 23: A Escuridão
27
Capítulo 24: O Grande Confronto
28
Capítulo 25: O que tem lá Fora?
29
Capítulo 26: Cada Um paga a sua dívida
30
Capítulo 27: O Passado de Sônia Vidal
31
Capítulo 28: O Controle Total
32
Capítulo 29: A História de Rato
33
Capítulo 30: Laila e o Futuro
34
Capítulo 31: A Revolta e Queda
35
Palavra do Autor: Vamos Conversar Sobre a Nossa Viúva?
36
Capítulo 32: O Retorno da Viúva
37
Capítulo 33: O Retorno da Viúva - Parte II
38
Capítulo 34: As Sombras se Movem
39
Capítulo 35: Lembranças de Belo Monte
40
Capítulo 36: O Preço da Dívida
41
Capítulo 37: O Novo Diretor
42
Capítulo 38: Reflexos de um Sistema Quebrado
43
Capítulo 39: O Estopim do Caos
44
Capítulo 40: Sementes de Rebelião
45
Capítulo 41: A Tempestade Se Aproxima
46
Capítulo 42: A Proposta de Aliança de Rato
47
Capítulo 43: Humilhação e Rebelião Sutil
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Capítulo 44: A Traição e o Assassinato de Marília
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Capítulo 45: O Estopim da Rebelião
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Capítulo 46: O Diretor e a Viúva
51
Capítulo 47: A Negociação das Sombras
52
Capítulo 48: O Monopólio da Viúva
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Capítulo 49: A Infiltração da Ordem
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Capítulo 50: O Ataque na Sombra
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Capítulo 51: A Reabertura do Caso
56
Capítulo 52: Confronto com o Passado
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Capítulo 53: O Encontro com Ayana
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Capítulo 54: O Declínio do Diretor
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Capítulo 55: A Grande Batalha
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Capítulo 56: A Tentativa de Assassinato
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Capítulo 57: A Carta e a Despedida
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Capítulo 58: O Coração de Santa Helena Parte
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Capítulo 59: A Última Palavra
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Epílogo: Liberdade
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Nota de Agradecimento aos Leitores

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